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Madeira verde

por Teresa Power, em 31.01.15

O frio que se tem feito sentir neste inverno obrigou-nos a comprar mais dois metros de lenha, pois durante o fim-de-semana, é preciso manter a lareira acesa durante todo o dia. Contudo, a lenha que comprámos nesta segunda leva não tem a qualidade da primeira: está verde, cheia de água, assobiando na lareira quando tentamos acender o lume. Que difícil que é fazer arder lenha verde! Acendalha após acendalha, fósforo após fósforo, e o fogo não se ateia. Que desilusão! Chegar a casa ao fim do dia e ter de me concentrar na lareira, enquanto tantas outras coisas - e pessoas - precisam da minha atenção, é desesperante!

- Tu consegues, mamã, força! - Animam-me os mais novos, a meu lado, estendendo-me pequenas achas. E depois dizem uma frase muito simpática: - Se cá estivesse o papá, já tinha conseguido!

Mas o pai só chega perto da hora do jantar, e entretanto é preciso aquecer a sala. Finalmente, com o fogo aceso, escutando a água a evaporar-se lentamente da lenha a arder, deixo-me cair ao lado da lareira com a Sara ao colo. E fico a pensar naquela belíssima e épica passagem do profeta Elias: reunindo todo o povo, Elias preparou um altar de pedra, colocou nele a lenha e sobre esta, o animal para o sacrifício. Depois, fez um sulco a toda a volta do altar, derramando nele doze talhas de água, que fizeram transbordar o sulco. Como podia o fogo atear-se sobre um altar encharcado assim?

 

“À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: ‘Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és o Deus, aquele que converte os corações.’ De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco.” (1Rs 18, 36-38)

 

Uma leitora muito querida do blogue enviou-me o mail, falando-me do seu esforço vão em procurar crescer na fé. Já abrira a Bíblia várias vezes, já procurara contar as histórias da Bíblia à filha mais velha, de seis aninhos, e vira-se incapaz de lhe responder às suas mais elementares perguntas infantis. "Não vale a pena!" Dizia-me ela.

Quando nos descobrimos lenha verde, achamos que nunca vamos conseguir "pegar fogo", não importa o quanto nos esforcemos. Mas a boa notícia é que, a Deus, nada é impossível, e a história do profeta Elias prova-o bem! Não foi a qualidade da lenha, muito menos toda a porcaria e toda a lama que a rodeava, que fez atear o fogo, mas tão somente a graça divina, que sempre se sente atraída por tudo o que é fraco, pobre, pequeno e mal cheiroso.

Eu também sou lenha verde, encharcada de pecado, de vaidade, de orgulho, de ignorância, de respeitos humanos. Sozinha, nunca conseguirei atear em mim o fogo do Senhor... No entanto, se eu perseverar em oração, como Elias, se eu me ajoelhar e suplicar ao Senhor que converta o meu coração, que me responda, que faça descer sobre mim o seu fogo, então verei como num instante, tudo será consumido - o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até a própria água do sulco...

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publicado às 06:30

Jacintos selvagens

por Teresa Power, em 30.01.15

Num destes dias, recebi um mail muito simpático do diretor de uma das minhas turmas de Curso Vocacional: todos os professores estavam convidados a participar numa celebração festiva de "padrinhos e madrinhas" dos alunos!  Que celebração seria esta?

Em conjunto com a psicóloga da escola, cada aluno escolhera um professor com quem se sentia mais identificado, mais à vontade, mais em sintonia. Esse professor iria desempenhar junto do aluno o papel de padrinho /madrinha, ajudando-o a crescer como pessoa. No mail, descobri que fora selecionada por um dos alunos para madrinha. Senti-me particularmente honrada!

O dia da "cerimónia de investidura" chegou. Dirigi-me para a escola com muita curiosidade. Em que sala estariam os alunos do Curso Vocacional? O barulho não me deixou enganar.

Entusiasmadíssimos, os alunos saltitavam entre as carteiras, indicando aos professores o seu lugar. Sentei-me na carteira que me foi atribuída, sentindo-me um bocadinho estranha "deste lado" da sala de aula, e esperei. A psicóloga conduzia a actividade, com um sorriso feliz.

- Podemos começar? - Perguntou. Todos estávamos ansiosos!

Ligando o som do computador, a canção dos Delfins "Nasce Selvagem" percorreu a sala. Sempre adorei esta canção pop, e relacioná-la com as fotografias dos meus alunos, que entretanto iam sendo projectadas na tela, causou-me um arrepio. Cada um daqueles meninos cheios de problemas, cada um daqueles meninos com pouca higiene e nenhuma educação era afinal o protagonista de um vídeoclip musical, e de um filme real, a percorrer lentamente a tela cinematográfica da vida.

"Para ti serás alguém nesta viagem..." Cantavam os Delfins. E os meus alunos, em poses divertidas e fotogénicas, sucediam-se na tela, com sorrisos desafiantes, tentando descobrir para quem seriam eles "alguém"...

"Quando alguém nasce, nasce selvagem..." Viamo-los ali, nascidos mas não amados, "selvagens" desde a primeira hora, à espera de um abraço que lhes ensinasse o sentido de pertença...

 

Depois, na tela surgiu projetado o texto que, com a ajuda da psicóloga, eles tinham escrito para nós:

 

"APELO aos Padrinhos- MESTRES DE VIDA

O peso dum passado
A dor do presente
Que nos impedem de viver e ser homens
E voar……
Quem me dá a mão para não me afundar
Para sobreviver
Respirar.
Me acalma os ânimos
Ouve as minhas lágrimas escondidas?

Quem me dá abrigo
Amizade
Me faz rir
Me ensina a multiplicar
A escrever palavras de amor
A RECLAMAR A VIDA

Preciso que não desistam de mim
Me façam sentir com valor
Me ensinem do aço fazer aviões para voar
Me ajudem a ver e cuidar das flores que não vejo
QUE NÂO CONSIGO VER
Há Mestres de OBRAS
INSTRUTORES
EDUCADORES

Nós requeremos mãos de obra , TÉCNICOS ESPECIALIZADOS em vida pois ás vezes somos material perigoso, explosivo, poluente…
PRECISAMOS de Mestres de Vida: Moldadores de Homens
Mestres Mentores que me ajudem a tirar as vendas, abrir a mente e a ALMA

FAÇA-SE OBRA
DO BARRO SE MODELE VIDA
DO METAL SE GEREM ASAS PARA VOAR"

 

 

Cada "afilhado" ofereceu ao "padrinho / madrinha" um bolbo de jacinto, para plantarmos nos nossos jardins e nos recordamos que devemos ajudar a fazer crescer e a fazer florir. Enquanto dava um forte abraço ao meu "afilhado", recordei-me da Palavra do Senhor:

 

"O meu Amado desceu ao seu jardim.

Foi pastorear nos jardins e colher jacintos..."

(Cc 6, 2)

 

São precisas tantas combinações de elementos, para uma flor brotar e crescer! A minha contribuição é certamente limitada, mas nem por isso menos importante...

Senhor, que eu nunca desista de trabalhar nos canteiros que me ofereces para jardinar! Que eu perceba sempre a Tua presença suave, caminhando no teu jardim por entre as tuas flores...

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publicado às 06:25

Vitrais coloridos

por Teresa Power, em 29.01.15

De entre as muitas fotos de férias que a Nathalie (nossa querida jovem leitora a partir do Brasil) me enviou, houve duas que chamaram a minha atenção - as fotos da Catedral de Brasília, dedicada a Nossa Senhora Aparecida:

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A Catedral é toda circular, as paredes são vitrais e não existem sequer colunas a sustentar o magnífico teto! Fiquei absolutamente encantada. Que maravilha! E que sensação deve ser, estar no interior de tão bela Catedral, onde também se encontra a cruz de madeira construída para a primeira missa em Brasília, no mato. 

Cada um destes vitrais pequeninos deixa passar a luz celeste, colorindo-a com a sua própria cor, mas sem com isso lhe retirar o brilho. Antes pelo contrário! Filtrada através de cada vitral, a luz que ilumina o interior da Catedral torna-se ainda mais bela.

Quando Adão e Eva se descobriram pecadores, optaram por se esconder do Senhor e por tapar a sua vergonha:

 

"Então abriram-se os olhos dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e cingiram-se." (Gn 3, 7)

 

Mais tarde, Jesus disse-nos no Evangelho:

 

"Não há nada oculto que não venha a ser descoberto" (Mt 10, 26)

 

Este "vir a ser descoberto", quanto a mim, não significa que a nossa vida tenha de ser exposta num grande "Big Brother" televisivo, mas antes que a nossa vida deve ser exposta ao olhar luminoso do Senhor, sem qualquer receio, sem qualquer hesitação. Tudo, bom e mau, deve ser confiado à misericórdia divina, que tudo perdoa, que tudo corrige, que faz crescer todo o bem. O sacramento do perdão, que obriga ao segredo absoluto da parte do confessor, obriga-nos também à exposição absoluta do nosso pecado diante de Deus, sem "folhas de figueira". Não há caminho mais simples para se deixar atravessar pela luz celeste!

Cada um de nós é um vitral colorido, destinado a deixar passar a luz de Deus, colorindo-a com a sua própria vida, a sua personalidade distinta, as suas boas obras, as suas virtudes e até o seu pecado, desde que entregue à misericórdia divina. Nada do que somos e fazemos, nada mesmo, deve impedir a luz de passar através de nós para iluminar os que se abrigam sob o nosso olhar - os nossos filhos, amigos, vizinhos, colegas.

Quando assim o fizermos, o pequeno vitral que somos, ligado por Deus aos pequenos vitrais de cada um dos nossos irmãos, sustentará a Igreja do Senhor...

 

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publicado às 06:40

A canção da roupa

por Teresa Power, em 28.01.15

A minha máquina de lavar a roupa, recebida neste verão, é extremamente moderna. Para além de ficar iluminada ao ligar-se como um céu estrelado, tem um pormenor que me encanta particularmente: o som de aviso de ter terminado o programa é... uma melodia! A primeira vez que ouvi, pensei que era um toque de telemóvel. Depois percebi que era a máquina nova a cantar, avisando-me de que chegara a hora de estender a roupa. Fiquei maravilhada: em casa de cantores, até as máquinas cantam!

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Esta semana, na minha casa não houve muitas canções: o primeiro a vomitar foi o David. Depois, como devem calcular, seguiram-se os irmãos, um a um, e a casa ficou temporariamente transformada numa enfermaria. Ninguém estava particularmente inspirado para cantar - excepto a máquina da roupa, claro! Acho que ela nunca cantou tanto na sua curta vida! Máquina após máquina, estendal após estendal, a roupa ia-se acumulando no chão, nos cantos da casa, na casa de banho, na garagem. Como alguns meninos ficaram doentes de noite, até os edredons, as carpetes dos quartos e as coberturas dos sofás ficaram sujas! Não era um quadro agradável de enfrentar... Mas a máquina continuava a cantar, anunciando-me o próximo trabalho. E eu não conseguia deixar de sorrir, a cada repetida canção.

 

É muito fácil estar alegre e manter uma canção nos lábios quando a vida corre bem; mas já não é assim tão fácil sorrir ou cantar quando a vida corre mal... É muito fácil ser cristão quando temos saúde, trabalho e dinheiro, os amigos nos ajudam, a igreja é confortável, os cânticos da missa agradáveis, a hora da catequese apropriada, e as necessidades dos que nos rodeiam não são exigentes; mas é muito mais difícil quando à nossa volta tudo parece concorrer para nos roubar o ânimo e nos fazer desesperar. Que fazer então?

A minha máquina da roupa diz-me para cantar quando chega a hora de trabalhar e quando todos em casa estão doentes. Será ela mais cristã do que eu? Bem dizia Jesus:

 

"Se eles se calarem, as pedras cantarão." (Lc 19, 40)

 

Que a nossa vida seja um cântico de louvor ao Senhor, no meio das lágrimas como no meio das gargalhadas...

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publicado às 06:20

Noivos de Caná

por Teresa Power, em 27.01.15

- Meninos, venham cá ver estas fotos no computador!

Passos apressados e pequenos gritinhos. Todos correm para junto de mim.

- Olhem, esta é a Nathalie.

- A Nathalie, do Brasil?

- Sim. A Nathalie, leitora do nosso blogue. Ela escreveu-me a contar as suas férias, pois no Brasil agora é verão. Ela é enfermeira, e finalmente concretizou um dos seus grandes sonhos: entrar na faculdade de medicina!

- Que bom! Parece muito simpática.

- E é!Tenho de contar no blogue, porque muita gente rezou por ela, quando ela fez os exames. Foi muito bonito na altura! Deus fica muito feliz quando rezamos uns pelos outros.

- Eu lembro-me! Nós também rezámos cá em casa!

- Mas o que eu vos queria mostrar mesmo é esta fotografia. Vêem este animal?

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 - Ena! Que giro!

- Que animal tão estranho! O que é?

- A Nathalie diz que é uma capivara. Já tinha ouvido falar, nas telenovelas brasileiras, há muitos anos atrás, quando as via... Mas não fazia ideia de como era uma capivara.

- Penso que é um roedor. Uma espécie de castor!

- Espectacular...

- A vida tem destas coisas: quando é que alguma vez na vida eu iria imaginar que, um dia, iria receber uma fotografia de uma capivara, vinda directamente do Brasil?

- Achas que as Famílias de Caná vão chegar ao Brasil?

- Claro que sim! A Nathalie está noiva. Daqui a um ano, irá casar, e nessa altura, será uma Família de Caná. Mas ela já se esforça por viver as Cinco Pedrinhas na sua vida, e por isso, ela e o seu namorado já são Noivos de Caná.

- Isso é uma ideia gira! Noivos de Caná...

- É uma ideia natural. Na verdade, as Famílias de Caná nasceram ali, naquela festa de casamento, há dois mil anos atrás, quando os noivos de Caná decidiram convidar Maria e o seu Filho Jesus para a sua festa. O seu noivado tornou-se santo! Quanto mais cedo os namorados e os noivos convidarem Jesus e Maria para a sua festa, mais fácil será construirem uma Família de Caná.

 

"Ao terceiro dia, celebrou-se em Caná da Galileia um casamento, e a Mãe de Jesus estava lá. Jesus também foi convidado para o casamento..." (Jo 2, 1-2)

 

Haverá aí no Brasil mais noivos com vontade de fazer esta caminhada de Noivos de Caná? E em Portugal? Haverá sacerdotes interessados em trabalhar com noivos a partir do ideal das Cinco Pedrinhas? Escrevam-me para o mail!

 

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publicado às 06:23

Os cabelos de Deus

por Teresa Power, em 26.01.15

O António estava sentado no banquinho da casa de banho, mentalmente preparado para a aborrecida tarefa que se ia seguir; e eu procurava na caixa o pente mais ajustado para colocar na máquina de cortar cabelo.

- Que aborrecimento, está sem carga! - Desabafei, enquanto ajustava o pente. - António, acho que não te posso cortar hoje o cabelo. O Francisco tinha tanto cabelo que a máquina ficou sem carga depois do corte de ontem.

Enquanto retirava o pente da lâmina, liguei sem querer a máquina, que uma vez sem pente, começou a trabalhar.

- Olha, já dá! - Exclamei. E com a pressa de aproveitar o bocadinho de energia da máquina, encostei a lâmina à cabeça do António e cortei. Só quando vi os cabelos a cair no chão é que me lembrei que acabara de retirar o pente, e portanto, o que fizera na cabeça do António fora semelhante ao acto de barbear alguém. Com um grito, atirei com a máquina para o chão e abracei o meu filho.

- Desculpa, António!

- Porquê? Cortaste-me? Não me dói!

- Não, filho, não te cortei... Cortei o teu cabelo, isso sim, um pouco, bem, um bocadinho demais... Ai o que eu fiz!

Atraídos pelos meus gritos, os irmãos entraram na casa de banho. Olharam para o António com olhos muito abertos, e depois soltaram uma gargalhada:

- Assim é que tu estás na moda, António! - Disse-lhe o Francisco, dando-lhe uma palmada amigável nas costas. Depois murmurou-me ao ouvido: - Tens sorte não me teres feito isto a mim...

Mas o António não pareceu muito afectado com o corte moderno. Dando-me um grande abraço, descansou-me: 

- Não faz mal, mamã. Não fizeste de propósito! E eu ainda sou o António, não sou?

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O perdão instantâneo do António lembrou-me como é simples a vida quando não estamos presos à moda, ao que os outros vão dizer, à ditadura do espelho; mas mostrou-me principalmente como tudo se descomplica quando não duvidamos da bondade do nosso Pai, que nunca fará nada para nos magoar "de propósito". Por fim, também eu consegui dar uma gargalhada.

 

A C. é uma leitora assídua do blogue. Antes do verão passado, a C. também ficou sem cabelo - não apenas num rectângulo bem definido da cabeça, mas na cabeça inteira... Não por descuido, mas por causa da quimioterapia... Quando partilhou um bocadinho da sua jovem vida comigo, através do mail, pediu-me oração. Temos rezado por ela em família todos, todos os dias! Na semana passada, a C. deu-nos uma boa notícia: os tratamentos para o cancro estão a resultar! Em breve, o seu cabelo voltará a crescer.

 

Este post, C., é para ti, em acção de graças contigo, e para todos os leitores que, como tu, estão doentes. Sejamos todos capazes de acreditar na bondade do Senhor, que nos assegurou:

 

"Não se vendem dois passarinhos por uma moeda? E nenhum deles cairá no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais, portanto, pois valeis muito mais do que os passarinhos." (Mt 10, 29-31)

 

No dia em que acreditarmos verdadeiramente na bondade de Deus, que conta os cabelos da nossa cabeça e nos trata pelo nome - nesse dia seremos felizes...

 

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publicado às 06:30

As Cinco Pedrinhas

por Teresa Power, em 25.01.15

Num dia desta semana, recebi um mail de uma leitora do blogue. Conhece-nos desde o verão, e tem uma vontade enorme de crescer na fé e no conhecimento de Deus. Na sua partilha, ela perguntou-me o que são afinal as tão faladas Cinco Pedrinhas...

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 Na coluna lateral deste blogue, onde diz Movimento Famílias de Caná, encontram a resposta. Mas não toda, naturalmente! As Cinco Pedrinhas são sobretudo a vida cristã vivida, experimentada, ousada, neste caminho de santidade na Igreja Católica. Elas não são teoria, mas vida.

E são estas Cinco Pedrinhas que começam a ocupar grande parte do nosso tempo ao fim-de-semana... Temos sido convidados para partilhar a nossa vivência em vários locais, e convidados para orientar retiros Famílias de Caná tanto no norte como no sul do país. Estejam atentos ao blogue, e talvez em breve tenham um retiro na vossa terra! Se assim for, façam como Simão, André, Tiago e João, segundo o Evangelho que hoje escutamos:

 

"Eles deixaram tudo e seguiram Jesus." (Mc 1, 20)

 

Uma das grandes graças do movimento que está a nascer é que os retiros não nos roubam "tempo de família", antes pelo contrário: os retiros incluem sempre a família inteira, e por isso, é em família que viajamos para os mais diversos locais para realizar um retiro. Mas preparar todos estes encontros e retiros exige tempo e, sobretudo, exige oração e vida interior. Não podemos dar o que não temos, e ninguém dá Jesus aos outros sem primeiro se encontrar com Ele. Assim, e porque o meu dia só tem mesmo vinte e quatro horas, a partir de hoje deixarei de escrever um post ao domingo, dia da semana em que as vossas visitas são menos frequentes.

Conto, como sempre, com as vossas orações - ou a vossa lembrança, se preferirem. Desde que comecei a escrever este blogue que me apercebi do poder imenso da vossa oração e do vosso bem-querer... A nossa vida tem crescido em alegria e fé desde que os nossos leitores começaram a rezar por nós ou simplesmente a desejar-nos bem. Continuem, que nós também rezamos por vós todos os dias no terço familiar!

 

 

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publicado às 06:25

Cumprimentos divinos

por Teresa Power, em 24.01.15

- Estive cá a pensar - Diz-me o David com tom sentencioso, aquecendo-se à lareira - E acho que nós devíamos começar sempre a oração com a Avé-Maria, em vez de terminar.

- E porquê, pode-se saber? - Pergunto.

- Ora pensa lá no que estás a rezar: o que é que o anjo disse a Nossa Senhora quando a cumprimentou?

- Bem, disse:

 

"Avé Maria, Cheia de Graça, o Senhor é convosco!" (Lc 1, 28)

 

- Muito bem. E o que é que Isabel disse a Nossa Senhora quando a cumprimentou?

 

- "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre!" (Lc 1, 42)

 

- Muito bem. Então aí está: as palavras da Avé-Maria são as palavras que os anjos e os santos utilizam para cumprimentar Nossa Senhora! É por isso que eu digo que a Avé-Maria devia estar sempre no início, antes da consagração, antes do "obrigado", etc.

E eu digo que o David tem jeito para professor...

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Ajuda-me, Maria, a cumprimentar-te todos os dias, como filha dedicada! Ámen.

 

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publicado às 06:31

Lembra-te

por Teresa Power, em 23.01.15

Hora da oração familiar. No Canto de Oração, cantamos, dançamos, batemos palmas e louvamos o Senhor. Depois, à vez, cada um de nós agradece a Jesus as graças deste dia. Uns agradecem a brincadeira na escola, outros agradecem o teste ter corrido bem, ou a ginástica ter sido divertida. Agradecemos o trabalho apostólico, os mails recebidos, os amigos encontrados. Agradecemos o alimento, a amizade e o amor.

Como esta oração de acção de graças é feita por ordem crescente de idades, a primeira a rezar é a Sara. De joelhos e com as mãos juntas, a Sara diz sempre a mesma coisa:

- "Bigada" Jesus, poque escola, missa, Curia, parque, loja. Ámen!

Nós rimo-nos sempre baixinho desta oração trapalhona. Na verdade, a Sara entretem-se a repetir o que ouve os irmãos dizer. Acontece que não repete apenas uma das suas orações, mas todas, fazendo memória de todas as acções de graças por eles feitas nos últimos meses. Assim, até bem perto do Natal, a Sara agradecia pela praia - que não visita desde outubro; e a partir do Natal, a Sara começou a agradecer pela Curia, onde foi várias vezes durante as férias e onde se deleitou a dar pão aos peixinhos e aos patinhos:DSC00578.JPG

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Também agradece pela loja, isto é, a padaria onde o pai leva os irmãos de manhã cedo a comprar o pão, ao fim-de-semana, e que eles de vez em quando agradecem - a Sara fá-lo diariamente; e pela missa, claro está, mesmo nos dias de escola mais demorada.

 

O que a Sara faz, meus caros amigos, é afinal aquilo que todos somos chamados a fazer: a memória das bênçãos recebidas. A oração da Sara, que nos faz sorrir, faz-nos também recordar os belíssimos tempos de família passados à beira-mar, no longo verão, ou nos parques onde gostamos de brincar. A Sara não nos deixa esquecer! Diz-nos o salmo 77/78:

 

"O que ouvimos e aprendemos,

o que os nossos pais nos contaram,

não o ocultamos aos nossos descendentes,

mas o transmitiremos à geração seguinte:

os feitos gloriosos do Senhor,

o seu poder e as maravilhas que Ele fez.

O Senhor ordenou a nossos pais

que ensinassem a sua lei aos filhos,

para que os seus filhos, quando crescessem,

a transmitissem a seus próprios filhos,

para que pusessem a sua confiança em Deus

e não esquecessem os feitos de Deus..."

 

Estaremos nós suficientemente atentos às bênçãos recebidas? Será que recordamos e fazemos memória agradecida de tudo quanto do Senhor recebemos, ao longo da vida? Diremos vezes suficientes "Obrigado, Senhor"? Contamos aos nossos filhos a longa e bela História da nossa Salvação, registada na Bíblia?

Que a simplicidade da oração da Sara nos ajude a ver para além das nossas dores e das nossas queixas, para além das nossas limitações e do nosso pecado, e a fixar o olhar n'Aquele que nos criou, que nos salvou, e de Quem tudo recebemos...

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publicado às 06:31

A teologia das lágrimas

por Teresa Power, em 22.01.15

Costumo passar grande parte do meu serão, depois de deitar os meninos, ao computador, a trabalhar. O Niall, por seu lado, gosta de ver as notícias, e chama-me por vezes para me contar o que se passa no mundo.

- Repara nestas imagens do sofrimento causado pelo ébola - Disse-me, ontem à noite, enquanto assistia às notícias na BBC - A situação está o pior possível!

- Não tinha dado conta de que está tão grave.

- É natural. Os grandes temas da nossa televisão são o futebol e a crise, e o verdadeiro sofrimento do outro, a verdadeira crise que aflige os nossos irmãos em África e noutras partes do mundo passa-nos ao lado. Um dia dar-nos-emos conta do flagelo que o ébola significou, mas nessa altura já será tarde. Como o genocídio no Ruanda, por exemplo, que só chamou a atenção do mundo depois de ter feito oitocentas mil mortes em cem dias.

- Vivemos tão centrados em nós...

- Pois vivemos. Fazemos muito pouco pelos outros. E sabes porquê? Porque vivemos demasiadamente confortáveis.

- É verdade. Não entenderemos nunca o sofrimento do outro enquanto não experimentarmos um pouco de sofrimento também.

- Esse é uma das maiores bênçãos do sofrimento: amolecer o nosso coração, partir a pedra que temos dentro do peito, e tornar-nos humanos, verdadeiramente irmãos uns dos outros.

- Sim, como diz a Escritura:

 

"Dar-lhes-ei um só coração e infundirei neles um espírito novo. Extrairei do seu corpo o coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne." (Ez 11, 19)

 

Em Manila, diante de 30 000 estudantes reunidos para escutar o Papa Francisco, uma menina de 12 anos chorou ao perguntar ao Papa porque sofrem as crianças. Esta menina vive actualmente numa instituição, mas já tinha procurado comida nos caixotes de lixo e dormido na rua.

As suas lágrimas disseram ao Papa que ela não se esquecera do que era sofrer; que ela experimentava em si mesma a dor do mundo; que o seu coração não era de pedra, mas de carne. Como o Papa depois explicou, as suas lágrimas fizeram teologia:

 

"Certas coisas da vida só podem ser vistas com os olhos limpos pelas lágrimas. Quem não aprender a  chorar, nunca será bom cristão. O mundo de hoje precisa de aprender a chorar, chorar pelos marginalizados, pelos abandonados, mas os que levam uma vida mais ou menos sem necessidades não sabem chorar."

 

Na verdade, precisamos de experimentar um bocadinho de dor para sermos solidários com quem sofre. As pequenas dificuldades de cada dia ou os grandes sofrimentos da vida podem ser bênçãos que o Senhor nos dá para amolecer o nosso coração... Eu preciso de sentir frio em casa para imaginar minimamente o que é ser sem-abrigo, e preciso de reconhecer que sou verdadeira pecadora para entender o que Jesus me ofereceu na Cruz...

 

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publicado às 06:23

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