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Obrigado, meu Deus, porque me criaste!

por Teresa Power, em 03.11.14

- Mamã, quem está nesta foto aqui na parede?

- Sou eu, António. É a mamã, quando a mamã era pequenina.

- Tu já foste pequenina?

- Já, claro!

Silêncio...

- E quem tomava conta de nós quando tu eras pequenina?

- ???????????

 

As crianças não conseguem imaginar que houve um tempo em que elas não existiam. E ainda conseguem menos imaginar que haverá um tempo em que deixarão de existir... A verdade é que elas têm razão: existimos desde sempre no pensamento de Deus, como diz S. Paulo:

 

"Ele nos escolheu, em Cristo, antes da fundação do mundo, para sermos santos..." (Ef 1, 4)

 

E existimos para sempre, não na Terra, mas no Coração do próprio Deus:

 

"Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem o coração do homem pressentiu, isso que Deus preparou para aqueles que O amam." (1Cor 2, 9)

 

Ontem, dia dos Fiéis Defuntos, foi dia de profunda oração na Igreja, e todos fomos convidados a unir os nossos corações aos dos nossos familiares e amigos que existiram antes de nós e continuam a existir no abraço de Deus. Na missa, escutámos:

 

"Job respondeu, dizendo: «Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, ou ficassem gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. Eu mesmo O verei, os meus olhos e não outros O hão-de contemplar!»" (Jb 19, 23-27)

 

Nos túmulos dos nossos familiares já falecidos, junto dos quais muitos celebraram a Eucaristia,  encontramos palavras gravadas a estilete de ferro ou esculpidas na pedra. Nos nossos corações, ecoam palavras também... Que palavras são essas? São palavras que afirmam a nossa fé na ressurreição, como as palavras de Job? Ou são palavras de desespero e tristeza, palavras pagãs de quem está preso ao pó, à terra, à pele que se desprende da carne?

Nos túmulos brancos dos nossos familiares, restam apenas uma pedra e um tributo. Porque a grande verdade é que os seus olhos - e não outros - contemplam já as maravilhas de Deus... 

 

 

O Tomás, acreditamos, contempla a glória do Senhor deste o instante da sua morte. No seu túmulo branco está gravada uma oração de acção de graças. É a mesma oração que rezámos no dia do nosso casamento e no baptismo de cada um dos nossos filhos. É a mesma oração que está gravada nas nossas almas e nas nossas vidas, no mais profundo da nossa família, para sempre. É a oração que Santa Clara rezou momentos antes de morrer:

 

"Obrigado, meu Deus, porque me criaste!"

Túmulo do Tomás.jpg

Ámen!

 

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publicado às 06:33

O Caminho para Casa

por Teresa Power, em 09.10.14

- Mamã, posso ir a casa do Rodrigo?

- Podes, António, quando ele te convidar.

- Mas ele já me convidou! Ele disse para eu ir a casa dele.

- Sim, mas eu nunca falei com a mãe dele, não sei onde ele mora nem nada…

- Ah, mas isso eu sei.

- Ai sabes? Então onde fica a casa do teu amigo? Em que terra, em que rua?

- Ele disse que é virar à esquerda.

- ????????

 

No início de mais um ano de catequese, a nossa grande preocupação enquanto catequistas é precisamente dar a conhecer o caminho para Casa. Talvez sejamos ainda mais vagos do que o António perante uma questão tão essencial: como se vai para Casa? Qual o caminho para o Céu, para o abraço de Deus?

Também os Apóstolos se viram um bocadinho aflitos diante desta pergunta:

 

“Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim.»” (Jo 14, 5-6)

 

A catequese e toda a evangelização que possamos fazer nas nossas casas não tem senão este fim: ensinar o Caminho para Casa. E porque o Caminho é Jesus, dar catequese significa marcar encontro com Jesus! Dando a conhecer Jesus às crianças, aos jovens, às famílias, oferecendo a sua Palavra, para que O escutem, oferecendo os seus sacramentos, para que O acolham, abrimos o Caminho seguro que nos leva ao Céu...

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publicado às 06:21

Sorri!

por Teresa Power, em 03.10.14

Num dia da semana passada, recebemos um telefonema urgente da Visão. Andavam à procura de famílias "Erasmus", ou seja, de casais que se tivessem conhecido através do programa de intercâmbio universitário "Erasmus". Alguém lhes falou no nosso caso, e a Visão não perdeu tempo. Fizemos a entrevista por Skype, com muita dificuldade da nossa parte, pois todos queriam mexer no computador, dizer adeus à Luísa Oliveira, a nossa entrevistadora, falar com ela e interromper constantemente a conversa. Depois enviámos por mail algumas fotos, das que temos publicadas no blogue.

No dia seguinte, novo telefonema: as fotos não tinham qualidade suficiente, pelo que um fotógrafo da Visão iria deslocar-se até nossa casa para nos fotografar. Sentimo-nos verdadeiramente importantes! A Família Power iria fazer um pobre fotógrafo atravessar meio país apenas para nos fotografar! Marcámos a única hora disponível para a fotografia - entre as 18h30, hora de chegada a casa do Niall, e as 19h, hora de saída da Clarinha para a ginástica. Assim, às 18h30 em ponto, uma simpática fotógrafa do Porto estava à nossa porta, e os meninos apressaram-se a lavar a cara e a trocar de roupa, pois a essa hora costumam estar sujos de terra e de leite com chocolate. O Niall chegou quase ao mesmo tempo, e lá fomos nós fazer a fotografia.

Na sala, no jardim, sob a oliveira, no escorrega, com cães e com gatos, sem cães e sem gatos, a fotógrafa lá foi clicando, fazendo foto atrás de foto e conversando animadamente. Mas de repente, o inevitável aconteceu: o António cruzou os braços, fez cara feia e disse: "Eu não tiro mais fotos!" A fotógrafa tentou todas as técnicas maternais de que foi capaz, o Niall fez-lhe cócegas, os manos falaram com ele, mas o António manteve-se irredutível. E uma birra do António não é para qualquer um! Olhei para o relógio e vi o tempo a escoar-se; a Clarinha fez menção de ter de mudar de roupa, que a hora da ginástica é sagrada; pensei na pobre fotógrafa, que viera de longe para fazer o seu trabalho e não ia conseguir. Não tive alternativa: baixinho, falando-lhe ao ouvido para ninguém me ouvir, eu pequei contra todos os meus princípios educativos:

- António, se tu sorrires mais uma vez, eu dou-te uma prenda!

Apanhado de surpresa, completamente aturdido perante tanta generosidade - quando ele sabia bem que o que merecia não era prenda nenhuma - o António fez o seu mais belo sorriso, o sorriso que a Visão guardou e publicou. E quando a fotógrafa saiu, o António veio ter comigo de mão estendida, porque promessa é promessa...

Neste início da catequese, vejo muitos pais com atitudes bastantes semelhantes à do António:

- Se o meu filho faltar não faz a comunhão?

- Quantas vezes tem de vir à catequese para passar?

- O que acontece se ele tiver que estudar e não puder vir?

- Ir à missa conta ou não conta para falta?

Traduzindo:

- O que é preciso fazer para receber um presente?

Bem nos alerta S. Paulo:

 

"Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança." (1Cor 13, 11)

 

Que este começo de ano pastoral nos lance numa nova relação com Deus, e nos ajude a fazer o que sabemos ser correcto, não pelo que daí nos possa advir de lucro ou vantagem, mas por amor...

 

 

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publicado às 06:45

Felizes os pobres

por Teresa Power, em 28.08.14

Os sete primos mais novos brincavam juntos no jardim. Eu estendia a roupa, em silêncio, enquanto escutava as suas conversas. A Lúcia acabava de abrir as duas tendas de brincar e enfiara-se lá dentro com a prima.

- Eu quero uma tenda só para mim - Disse o António.

- Nós somos muitos e precisamos de duas tendas - Respondeu a Lúcia, paciente.

- Mas eu quero uma tenda só para mim - Insistiu o meu filho teimoso.

- Então vem brincar connosco, e assim brincamos todos - Sugeriu a Lúcia, calmamente, enquanto ajudava a Sara e o priminho mais novo a entrar nas tendas.

- JÁ DISSE QUE QUERO A TENDA TODA PARA MIM!

- António, nós não gostamos das tuas birras - Continuou a Lúcia.

Eu também continuei a estender roupa, mas mantinha um ouvido atento para o caso de ter de intervir. Não foi preciso:

- Já sei! - Disse de repente a Lúcia - Anna, vamos brincar aos pobres! Ficamos todos numa só tenda e damos a outra ao António!

- Damos-lhe esta que não tem telhado - Disse a Anna, alinhando.

- EU QUERO A TENDA QUE TEM TELHADO!

- Não, Anna, damos-lhe a que tem telhado, porque os pobres não têm telhado. Às vezes têm de dormir na rua! E vivem em casas muito pequeninas. Traz os nossos bonecos todos para esta tenda pequenina sem telhado, e assim brincamos melhor!

A Lúcia e a Anna ficaram excitadíssimas com a nova brincadeira. E as ideias não paravam de nascer:

- Nós eramos pobres e a nossa mãe tinha morrido na guerra - Continuou a Lúcia. - Anda, vamos brincar! Sara, vem para esta tenda connosco!

O António continuava muito sério. Até que por fim, sozinho na tenda com telhado, perguntou:

- Posso brincar convosco aos pobres? Posso entrar na vossa tenda sem telhado?

E eu continuei a estender roupa, sempre em silêncio, enquanto recordava a Palavra de Jesus sobre a pobreza interior:

 

"Se alguém te tirar a túnica, dá-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a carregar a sua mochila por um quilómetro, leva-a por dois. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado." (Mt 5, 40-42)

 

E a alegria da Lúcia confirmou-me a verdade da Bem-Aventurança:

 

"Felizes os pobres que o são no seu íntimo, porque é deles o Reino dos Céus!" (Mt 5, 3)

 

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publicado às 06:40

Consolar

por Teresa Power, em 20.08.14

A Sara não suporta o choro do António. Sempre que o ouve chorar, a Sara deixa tudo o que está a fazer e corre ao seu encontro, para o abraçar e o beijar à sua maneira. E como o António é capaz de chorar várias vezes ao dia (com lágrimas e tudo, imaginem!), a Sara é capaz de deixar tudo várias vezes ao dia também. Se está, por exemplo, a brincar com lego, e o António chora no jardim, a Sara deixa o lego e corre para o jardim, sempre a dizer: "Ohhhhhhh!" Claro que, à vista de tanto amor, o António seca as lágrimas num instante e retoma a brincadeira, consolado.

 

 

Mas ontem, a capacidade de consolação da Sara ultrapassou tudo...

Estávamos a meio da noite. De repente, um estrondo, seguido de um enorme grito e um intenso choro: o António caíra da cama! O Niall levantou-se e, meio sonâmbulo, dirigiu-se ao quarto dos rapazes, levantou o António, deitou-o novamente e deu-lhe um beijo carinhoso. Foi nesse momento que sentiu atrás de si uns passinhos rápidos. Voltou-se, e qual não foi o seu espanto ao ver a Sara, com a boca bem aberta no seu costumado "Ohhhhhh!" Apressada, a Sara esticou-se toda para chegar à cara do António e encostou a sua face à do irmão. Depois, com a mesma ligeireza com que chegara e sem sequer olhar para o Niall, regressou ao seu quarto e enfiou-se na cama. O Niall saiu do quarto dos rapazes e dirigiu-se ao das meninas, para tratar da Sara que, imaginava, estaria bem acordada e a precisar de consolo. Qual quê! A Sara já dormia profundamente...

 

Pensei que consolar um filho a meio da noite fosse privilégio dos pais e das mães. Afinal também é privilégio dos irmãos, e dos irmãos mais novos! Todos somos chamados a ser instrumento de consolação, a ser pastor dos irmãos, imitando o Senhor.  Bem disse o profeta:

 

"Consolai, consolai o meu povo! Assim diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém! Como um pastor, Deus apascenta o seu rebanho; com o braço o reúne; leva ao colo os cordeirinhos e conduz as ovelhas que amamentam." (Is 40, 1-2.11)

 

E como nos mostra a Sara, a idade não é desculpa! Estejamos vigilantes mesmo durante a noite...

 

 

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publicado às 06:50

Salvei-a!

por Teresa Power, em 17.06.14

Os meninos brincavam no jardim. Na sala, com as portas abertas, eu passava a ferro. De vez em quando, espreitava para ver se tudo corria bem, e regressava para dentro. A certa altura, ouvi o António gritar. Como isso acontece com frequência, não liguei e continuei a passar. Mas um impulso qualquer fez-me pousar o ferro de repente e correr para o jardim. Empoleirada no muro da frente, a Sara esforçava-se por alçar a perna sobre o gradeamento, sem se dar conta de que, do outro lado, e a uma altura considerável, estava a estrada alcatroada. O António, aos gritos e em pânico, segurava-lhe o tornozelo, e o seu gesto era o único obstáculo que a Sara não parecia conseguir vencer. Corri para eles aos gritos, com aquela sensação que temos nos pesadelos de não conseguir mexer as pernas com a rapidez suficiente. Cheguei a tempo de evitar o pior, e atirando-me sobre a relva com os dois, abracei-os aliviada. Ainda estava a tremer!

 

O António saboreou a sua vitória durante o resto do dia, e foi ele que, com orgulho desmedido, contou o acontecido ao pai, quando ele chegou a casa:

- Hoje salvei a Sara! Hoje salvei a Sara!

Ao jantar, conversámos sobre os muitos salvamentos que já experienciámos na nossa casa, e soltámos grandes gargalhadas. O Francisco, orgulhoso, é quem soma mais pontos, tendo já salvo o David de morrer afogado, ou pelo menos de lutar bastante na rebentação das ondas, a Lúcia de bater contra as rochas atirada por uma onda, e a Sara de cair de cabeça no chão da sala, ao lançar-se do sofá. Mas de uma forma ou de outra, já todos os meninos - bem, com excepção da Sara - salvaram um irmão! E agora não se ponham a telefonar para a Protecção de Menores, comentando a falta de cuidado dos pais desta família numerosa ("Típico! Com tantos filhos, alguma coisa há-de faltar!"). É que ser irmão é também isto: salvar o irmão! Tenho um sobrinho lindo de sete anos que deve a sua vida à medula do irmão mais novo. O pequenino salvou o irmão sem sequer ter disso consciência! No meu jardim, foi o contrário: o António salvou a Sara, sem que a Sara tivesse consciência de estar a precisar de ser salva. Em ambos os casos, nada mais natural... Os irmãos são assim!

 

Na grande família dos filhos de Deus, acontece precisamente a mesma coisa... Sem disso termos consciência, todos somos salvos uns pelos outros, e todos somos instrumentos de salvação uns para com os outros. Queixamo-nos tantas vezes de que Deus não intervém milagrosamente no mundo e não resolve de uma vez todos os problemas da fome, da guerra e da falta de amor, quando o podia fazer, pois é omnipotente! E contudo, o que Deus deseja é que os seus filhos experimentem a sua salvação, uns através dos outros, para que entre todos os homens se criem fortes laços de gratidão e, consequentemente, de amor. Foi também isso que Jesus quis dizer quando, num fim de tarde de verão, perante cinco mil pessoas, recusou a sugestão dos apóstolos de mandar a multidão embora para procurar alimento, ordenando antes:

 

"Dai-lhes vós mesmos de comer!" (Mt 14, 16)

 

Não percamos tempo! Aproveitemos todos os minutos para salvar os nossos irmãos: com a oração, com gestos concretos de serviço e de amor, com a partilha do nosso tempo e do nosso dinheiro, com a nossa palavra, o nosso sorriso, a nossa vida inteira. E sejamos agradecidos! O Papa Francisco insiste na necessidade de fazermos memória da nossa história, para vermos como Deus actua nela através dos irmãos. Só no Céu saberemos o quanto somos amados! Então festejaremos...

 

 

 

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publicado às 07:15

Tu queres, Jesus? Eu também quero

por Teresa Power, em 12.06.14

O António é uma criança doce, terna e bela, por dentro e por fora. Mas o António não tem sido assim muito fácil de "criar"!

- António, queres maçã ou banana para sobremesa?

- Quero quivi.

- Não há quivi.

- Mas eu quero quivi!

- António, vou repetir: queres maçã ou banana?

- Já disse que quero quiviiiiiiiiiiiiiiii!

 

- António, o pai trouxe-te uma bola.

- Eu queria era um balão!

- Não estás contente com a bola?

- Eu queria era um balão!

 

- Mãe, quero ir à praia.

- Eu também, mas está a chover, António.

- Quero ir à praia e quero ir agora!

- Está a chover, António!

- Já disse que quero ir à praaaaaaaaaaaia!

 

Já aqui falei das birras do António, pois são bastante frequentes. Às vezes, perco a paciência, e o resultado é um grito. Outras vezes, contudo, fico simplesmente a pensar...

É que o António é mesmo uma parábola viva daquilo que nós, adultos somos diante de Deus!

O Senhor oferece-nos um emprego - mas nós queríamos mesmo era o outro!

O Senhor presenteia-nos com um filho diferente - mas o que nós queríamos era um filho "normal"!

O Senhor oferece-nos uma casinha na aldeia - mas o bom seria viver num apartamento na cidade!

O Senhor dá-nos dinheiro suficiente para alimentarmos os filhos - mas o que nós queríamos era dinheiro para férias!

E a lista seria interminável... Claro que podemos sempre argumentar: não é Deus que nos envia as doenças, ou que nos faz perder o emprego! Sabemo-lo bem, e temos razão, porque Jesus assim no-lo assegurou. Mas também podemos olhar para a vida de outra maneira, e aceitar tudo, tudo, das suas mãos, como se cada acontecimento da vida, bom e mau - excepto o pecado - fosse um presente seu! É uma proposta de vida... Assim, e ao contrário do António, estaremos sempre felizes, quer tenhamos quivi, quer tenhamos maçã, quer chova, quer faça sol!

 

Chiara Badano teria quase a minha idade, pois nasceu em 1971, e eu nasci em 1972. Contudo, Chiara morreu aos dezoito anos, e já foi beatificada pela Igreja, numa bela cerimónia que contou com a presença de 25 mil jovens. Chiara adoeceu com cancro no auge da sua juventude. A mãe recorda-se bem do dia em que Chiara chegou a casa, depois dos primeiros tratamentos. Sem dizer palavra, fechou-se no quarto, e aí permaneceu 25 minutos. Foi a luta mais difícil da sua vida - a luta entre a sua vontade e a vontade de Deus. 25 minutos que deram a vitória a Deus... Chiara saiu do quarto a sorrir. Nunca mais se queixou da doença, e morreu feliz, com uma felicidade de fazer inveja ao maior milionário da Terra. Chiara tinha uma oração que repetia a toda a hora, diante de toda e qualquer circunstância da vida:

 

"Tu queres, Jesus? Então eu também quero."

 

Talvez o segredo da felicidade seja mesmo este...

 

 

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publicado às 07:06

O colo de Deus

por Teresa Power, em 07.06.14

A "linda" primavera que temos tido tem destas coisas: um dia, o David chegou a casa com dores de cabeça e 39º de febre; no dia seguinte, de manhã, foi a Lúcia quem acordou com dores de cabeça e 39º de febre. Como sempre nestas ocasiões, preparei-me para o próximo doente, pois a minha experiência diz-me que os virus que entram na Família Power percorrem todos os membros da família antes de se despedirem. E assim foi: quando o David e a Lúcia regressaram à escola, adoeceu o António.

 

Mas olhem bem para esta cara... Parece-vos cara de doente?

Se lhe perguntarem como se sente, ele responde:

- Dói-me a cabeça e tenho febre! Vou ficar em casa e vou ficar com a mamã!

Tenho a forte sensação de que o António está feliz por ter adoecido... Ele sentiu alguma inveja do David e da Lúcia, quando soube que eles iam ficar em casa um dia inteiro. Agora é a sua vez de experimentar os mimos exclusivos da mãe, e como não se havia de alegrar por isso?

 

No seu Decálogo, S. João XXIII escreveu assim:

"Só por hoje, acreditarei firmemente que, embora as circunstâncias demonstrem o contrário, a providência de Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo."

E a Ana Santos comentou:

"Talvez como uma "tragédia" para uma criança diminui, quando é confortada pela mãe, também nós nos devíamos mais vezes deixar envolver pelo amor do Pai, e abandonarmo-nos no Seu colo."

 

As dificuldades da vida são a nossa grande oportunidade de experimentar os mimos do Pai!  Disse Jesus, numa das Palavras mais belas do Evangelho:

 

"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de Coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." (Mt 11, 28-30)

 

Cumpramos então este doce mandamento do Sagrado Coração de Jesus! Lancemos os nossos fardos sobre a sua Cruz e descansemos no seu Amor. E como a febre do António lhe conquistou o meu colo, também a nossa doença, a nossa pobreza, o nosso fracasso, a nossa agonia nos merecerá o colo de Deus...

(Já fizeram o vosso Sagrado Coração? Enviem as fotos para o meu mail, a fim de as publicar!)

 

 

 

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publicado às 07:32

Livros III

por Teresa Power, em 25.05.14

- António, tenho uma surpresa para ti.

- Uma surpresa? É uma prenda?

- É. Adivinha! Bem, é melhor não. Eu digo-te: hoje fui comprar uns livros a uma livraria e, finalmente, encontrei...

- A história do santo António!

- Exactamente! Encontrei a história do teu santo, num livrinho pequenino com muitos desenhos. Há tanto tempo que andamos à procura deste livro, não é?

- Conta, mamã! Conta a história!

- Chama os manos. Sentem-se aí todos na relva que eu vou contar um bocadinho...

O António estava delirante. Contei-lhes o episódio do sermão aos peixes, da mula que se ajoelhou diante do Santíssimo, dos passarinhos que não comeram o trigo enquanto o menino foi à missa. O António pedia sempre mais. E no fim, voltando-se para os irmãos, disse com orgulho:

- Santo António fez coisas muito importantes! É muito forte!

- Mas não é mais forte do que o Rei David - atalhou o David muito depressa.

Cortei a discussão de imediato:

- Toca a brincar! Se não se portam bem, não volto a contar histórias!

 

Como vai sendo cada vez mais frequente, este blogue tem sido para nós uma enorme fonte de enriquecimento pessoal e familiar, pois tem-nos permitido contactar com pessoas maravilhosas, que nos oferecem a sua oração, a sua amizade e a sua sabedoria. Assim, os dois posts sobre livros, aqui e aqui, valeram-nos um alargamento substancial da nossa biblioteca caseira! Entre as inúmeras sugestões, umas através de comentários aos posts, outras através do e-mail, escolhi alguns títulos que já comprei, e outros que encomendei ou tenciono encomendar (quando puder fazê-lo!). Um grande bem-haja a todos os que partilharam as suas leituras!

 

Na caixa de comentários, a Olívia escreveu:

"Gostaria de acrescentar alguns dos livros que me acompanham desde a juventude oferecidos pela mãe, pela catequista e pelo sr. padre:
*Juvenília - Pensamentos para jovens (Pedrosa Ferreira) - Ed. Salesianas
ISBN 972-690-227-4

* Bons dias - Oração jovem - Ed. Salesianas
ISBN 972-690-264-9

*Lendas e parábolas (Pedrosa Ferreira) - Ed. Salesianas

*Jovens para o futuro (Chiara Lubich) - Ed. Cidade Nova
ISBN 972-9159-37-8"

 

O padre Martin Garcia e o padre Pedro Boléo Tomé contactaram-me por mail para me enviarem, gentilmente, a sua lista de livros de espiritualidade adequada às famílias e aos mais jovens. Porque me parecem muito interessantes estes títulos, vou publicá-los aqui também:

 

- A Ceia do Cordeiro - Missa, o céu na terra;

- Primeiro é o Amor - sobre a família;

- Trabalho com Qualidade, Graça e Quantidade.

Estes três livros são todos da autoria de Scott Hahn, o tal pastor protestante que se converteu ao catolicismo, e todos da editora Diel. Foram-me recomendados pelo padre Martin Garcia.

 

E agora vou citar o padre Pedro Boléo Tomé:

 

"- Enrique Monasterio - Quem fez o presépio (DIEL) - um livro delicioso para o Natal, best-seller em espanha (pelo menos tem muitas edições)
- Alessandra Borghese - Com olhos novos (DIEL) - história da conversão de uma princesa. Muito interessante e apelativo. Penso que uma adolescente vai gostar. A história da vida dela é algo trágica e romântica, terminando com a conversão. Recomendo.
- Angelo Comastri - As estrelas que brilham nas trevas (PAULINAS). Histórias de conversões do século XX. Fantástico!
- Angelo Comastri - Onde está o teu Deus? (PAULINAS) São relatos relativamente curtos, com introduções muito interessantes.
- José Ramón Ayllón - Dez ateus mudam de autobus  (Gráfica de Coimbra) - No estilo do livro anterior. Dez conversões de intelectuais famosos."

 

O padre Pedro Tomé ainda me falou noutro livro muito, muito interessante. Mas esse fica para um próximo post...

 

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publicado às 08:26

Irmãos na alegria - e na dor também!

por Teresa Power, em 17.05.14

Na semana passada, quando cheguei ao Centro Social S. José de Cluny para buscar os três mais novos, a educadora do António tinha uma história para contar:

 

Nessa tarde, no refeitório à hora do lanche, a Sara demorara um pouco mais de tempo a comer o pão, e consequentemente, ficara sentadinha na sua cadeira já depois dos seus pequenos amigos terem ido brincar. Da sua mesa, o António observava a irmã, e ao vê-la sozinha na "mesa dos bebés", a inquietação começou a crescer dentro dele. Quando a educadora levou os meninos da sala do António para o recreio, o António recusou-se a brincar, pois a sua maninha estava sozinha a lanchar! E, sentado num canto, ali ficou muito triste. Passaram-se uns dez minutos, e por fim, a educadora lembrou-se de pedir à educadora da Sara que viesse por favor mostrar ao António a sua mana. A Sara, sorridente, já tinha acabado o lanche há algum tempo e estava bem mais feliz do que o António! Só então ele se decidiu ir brincar.

 

Escutando aquela história do António, pensei na imagem do Corpo Místico que S. Paulo nos dá:

 

"Pois como o corpo é só um e tem muitos membros, assim também Cristo.

Se o pé dissesse: "Uma vez que não sou mão, não faço parte do corpo", nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: "Não tenho necessidade de ti"..." (1Cor 12)

 

Seguindo esta mesma imagem, quando qualquer parte do nosso corpo está magoada, é o corpo inteiro que sofre. Um só espinho cravado no dedo mindinho é suficiente para que o mal-estar seja geral!

Se a Sara está triste, a alegria do António não pode ser completa, pois são membros de um mesmo corpo: a família.

 

No início do mês, as estradas de Portugal encheram-se de gente que caminhava até Fátima, cantando, rezando - e fazendo bolhas e feridas nos pés e nas pernas. Para quê tanto sacrifício, perguntam alguns. Deus não exige o sofrimento! Que razões apontam os cristãos para a dor desnecessária, isto é, aquela que não advém da doença, da vida, da morte, mas que é escolhida propositadamente para ser oferecida?

 

Em Fátima, o Anjo de Portugal falou assim aos pastorinhos:

 

"Orai, orai muito. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

- Como nos havemos de sacrificar?

- De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa pátria, a paz. Sobretudo, aceitai o sofrimento que o Senhor vos enviar."

(Memórias da Irmã Lúcia I, p. 57)

 

A partir desse dia, conta-nos a Lúcia, os pastorinhos aproveitavam todas as ocasiões para oferecer uma linda prenda ao Senhor: privavam-se de alimento, adiavam a água nos dias de calor, ajoelhavam nas pedras duras. 

Somos membros do mesmo corpo: a família humana, a família de Deus. E se o meu irmão sofre de fome, ou está doente, ou é agredido, ou vive no meio da guerra, ou é escravo do vício e de toda a espécie de maldade, então eu preciso de partilhar um pouquinho da sua dor. Como o António em relação à Sara, preciso de experimentar um pouquinho de desconforto para que me possa sentir solidário com quem quero amar.

 

Mas o mais belo disto tudo é a imensa generosidade de Deus: nada do que eu Lhe oferecer, nada do que eu sofrer, é em vão. Se eu entregar a Deus a dor dos meus pés caminhantes; se eu Lhe oferecer o chocolate que não comi; se eu Lhe der o copo de água que adiei, se Lhe entregar a minha dor de cabeça, a minha desilusão, o meu fracasso, a minha falta de dinheiro, a minha doença, Deus pegará carinhosamente nestas pequenas prendas e, com elas, aliviará a dor de algum irmão que não conheço. A minha pequena renúncia converter-se-á para ele em salvação. A oração e o sacrifício de três crianças pode atraír a paz sobre um país? O Anjo de Portugal assegurou-nos que sim. O que não fará a oração e o sacrifício de todo o povo cristão!

 

Que mistério imenso esconde Deus, para assim querer necessitar da nossa solidariedade espiritual? Esse mistério chama-se gratidão: como um bom pai de família, Deus quer que os seus filhos estejam ligados por laços de gratidão uns para com os outros, para assim se amarem de verdade. No céu, vou encontrar-me com todos aqueles que, pela sua oração e sacrifício - sem disso terem consciência - me permitiram conhecer e amar Jesus. Que surpresas iremos ter, ao descobrir a quem devemos a nossa felicidade! E que grande festa faremos então!

 

 

 

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publicado às 07:30



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