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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Era primavera, algures no ano lectivo passado, e estávamos a jantar.
- Mãe, pai, têm alguma sugestão para a minha apresentação oral de Português? - Perguntou a Clarinha num tom desanimado.
- Sugestão? Bem, qual é o tema?
- É livre. Podemos falar de tudo, durante cinco minutos. Não tenho a menor ideia! Ajudem-me!
Durante todo o jantar, a família Power fez então um longo brainstorming para ajudar a Clarinha. Houve imensas sugestões, deste a origem do chocolate aos cangurus. Por fim, o Niall disse:
- Acho que podes aproveitar esta oportunidade para descobrir alguma coisa realmente interessante, em vez de te debruçares sobre meras curiosidades. Por exemplo, uma personalidade que tenha marcado o nosso mundo.
- Que seca!
- Não, Clarinha. Alguém realmente interessante e que seja para ti uma inspiração. Pode ser Nelson Mandela, ou... Já sei! Malala!
A Clarinha abriu os olhos de espanto.
- Quem é essa?
- Ahah, isso agora é contigo! O teu trabalho vai ser descobrir quem é Malala. Basta escrever o nome dela no Google para teres logo acesso a um milhão de sites. Depois, a mãe ajuda-te a organizar o teu pensamento.
Assim foi. A Clarinha deitou mãos ao trabalho, viu vídeos, leu discursos, e finalmente elaborou um belíssimo trabalho. Cá em casa, já todos falavam na Malala e na sua luta pela liberdade de educação das crianças no Paquistão, da sua coragem frente às armas que quase lhe roubaram a vida, da sua audácia, da sua competência, do seu projecto de vida. Pequenos e grandes, todos parávamos diante do computador enquanto a Clarinha nos mostrava uma e outra vez os vídeos com os seus discursos, especialmente o discurso frente à ONU. A apresentação oral passou, mas a Clarinha pediu para comprar o livro Eu, Malala. Leu-o e depois deu-o a ler ao Francisco.
No início deste ano lectivo, para aprofundar com os alunos do sétimo ano e dos cursos vocacionais as questões sobre identificação pessoal (nome, nacionalidade, idade, hobbies, família, etc), nas minhas aulas de Inglês, escolhi precisamente a Malala. Como defendi no post de ontem, o meu cristianismo tem de passar por aqui, pela capacidade de oferecer aos alunos muito mais do que os manuais lhes oferecem (ou impingem) e por os ajudar a construir valores verdadeiros e belos. Num curto PowerPoint, escrevi os dados identificativos da Malala e coloquei algumas imagens, que explorámos na aula. Os alunos escutavam-me, de olhos muito abertos. A grande maioria nunca tinha ouvido falar em Malala.
Ontem, no primeiro intervalo da manhã, hora a que costumo ler o mail, tinha uma mensagem do Niall: "A Malala acaba de ganhar o Nobel da Paz! " Abri de imediato o link que ele me enviava e li a notícia. Trocámos mais alguns mails rápidos, até que a campaínha me avisou de que o intervalo acabara. Dois minutos depois, eu estava a dar a notícia aos meus alunos, e no fim do dia, aos meus filhos. À noite, na oração, agradecemos a Deus esta grande graça.
"Bendito sejas, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos grandes e poderosos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!" (Mt 11,25)
Aos dezassete anos, Malala é a mais jovem vencedora do Nobel. Malala combate o bom combate, sem armas de fogo e sem medo, toda entregue nas mãos de Deus, a quem trata por Alá. Malala conhece a força que vem do Amor! Recordo aqui algumas das suas palavras:
“As armas mais poderosas são as canetas e os livros.”
“Os talibãs pensavam que as balas nos iam silenciar, mas enganaram-se. E desse silêncio nasceram milhares de vozes.”
“Nada mudou na minha vida no dia do atentado, excepto isto: o medo e o desespero morreram; a força, o poder e a coragem nasceram.”
Nos "Agradecimentos", no seu livro, Malala escreveu ainda:
"O último ano deu-me a conhecer tanto o ódio extremo do Homem, como o amor ilimitado de Deus."
E a minha preferida, aquela que me provoca borbulhas na pele pela responsabilidade que me incute, que me faz tremer pela grandiosidade do dom que me foi confiado:
"Uma criança, um professor, um livro, uma caneta podem mudar o mundo."
Assim seja, Malala!
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