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Go light your world

por Teresa Power, em 11.04.16

Escrito pela Clarinha:

 

Assim que soube que o colégio estava a organizar um "... got talent", decidi que queria fazer uma dança com a Lúcia. Havia uma condição para participar: todas as atuações tinham de estar relacionadas com o tema do colégio: "Olha o teu mundo de novo." Eu queria também relacionar a nossa atuação com o Ano Santo da Misericórdia.

Começámos, então, cá em casa a procurar uma música cristã que satisfizesse estas condições e, depois de muito procurar, encontrámos a música perfeita: "Go light your world".

Coreografei a dança tendo em conta a mensagem que nós queríamos transmitir. É preciso iluminar o mundo com os nossos gestos misericordiosos, de forma que as qualidades e defeitos de todos sejam vistos de outra forma. Diz Jesus:

 

"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu." (Mt 5, 14-16)

 

Deixo-vos aqui o resultado do trabalho de três semanas intensivas em que eu "dei treinos" à Lúcia, visto ela nunca ter tido aulas de dança ou de ginástica, coreografei e me diverti juntamente com a minha querida irmã, de quem estou tão orgulhosa!

 

 

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publicado às 06:00

Os quinze anos e as águas profundas

por Teresa Power, em 14.03.16

Há nos quinze anos uma beleza escondida, uma luminosidade especial. Quinze anos! Quinze anos... A infância ficou definitivamente para trás, mas ainda não está definido aquilo que iremos ser... O corpo, a mente e o espírito despertam para realidades novas, e aos quinze anos já estamos a caminho das águas profundas de que nos fala o Evangelho:

 

"Faz-te ao largo e lança as tuas redes para a pesca." (Lc 5, 4)

 

A Clarinha já se fez ao largo, e há uns tempos que navega em águas profundas. Sem perder a transparência e a inocência da sua infância feliz, a Clarinha cresceu. Observo-a quando toma conta dos irmãos por sua livre vontade, contando-lhes histórias, ensinando passos de ginástica à Lúcia e à Sara, ajudando-os a vestir ou a tomar banho. Observo-a quando se oferece para me ajudar com a lida da casa, se repara que estou mesmo muito cansada, ou dobra meias enquanto rezamos o terço. Observo-a quando controla a vontade de me responder mal, mordendo os lábios para não dizer o que sabe que não deve, ou quando chora no meu ombro, pedindo desculpa depois de se ter excedido, ou ainda quando me perdoa, sorrindo, se por acaso fui eu quem se excedeu. Observo-a quando ri à gargalhada com o Francisco, conversando no quarto do irmão sobre coisas que só os dois partilham. Observo-a sentada à sua secretária, livros abertos com determinação, disposta a melhorar a cada dia os seus resultados escolares. Observo-a quando patina ao desafio com os irmãos, à volta da casa, numa velocidade estonteante. Observo-a de tablet na mão e auriculares nos ouvidos, visionando competições de ginástica e concursos de dança, ou conversando online com as primas e as amigas. Observo-a ao serão, no Canto de Oração, rezando concentrada.

Escrevo este post na manhã de sábado. A Clarinha está na cozinha a fazer a pizza para o almoço. Enquanto mistura os ingredientes e espera que o molho de tomate fique pronto, vai cantando, cantando, cantando, atingindo as notas mais agudas sem qualquer esforço.

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 Ao cantar, a Clarinha alterna com naturalidade entre as canções pop da moda e as canções de Danielle Rose, uma cantora católica americana que descobriu no blogue da Marisa. "The Saint That is Just Me" é uma das suas canções preferidas, e ela canta-a de cor, com voz forte. Ao serão, também a costuma tocar na guitarra ou no bandolim, sentada em frente da lareira. Como Danielle, a Clarinha já intuiu que Deus nos chama à santidade, e que o caminho de santidade de cada um é único, irrepetível e insubstituível.

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No Retiro em Lordelo, a Clarinha ficou muito tempo de joelhos, durante a adoração, a conversar com Jesus. No fim do dia, enquanto arrumávamos tudo para regressar a casa, a Clarinha voltou a escapulir-se para a igreja e voltou a ajoelhar-se diante de Jesus, para conversar com Ele mais um bocadinho.

"Não consigo imaginar a minha vida sem o Evangelho", diz-me ela de vez em quando. E continua, pensativa: "Como seriam os meus pensamentos? Como ficaria eu quando os testes correm mal, ou quando não consigo fazer um exercício de ginástica? Sem Jesus, acho que nada na minha vida faria sentido!" Este ano letivo não tem sido fácil para a Clarinha, que tem passado muitas horas a estudar matérias difíceis, e muitas outras horas a tomar decisões também difíceis, como se devem recordar (e como contei aquiaqui e aqui). A adolescência nunca é fácil, não é verdade? Mas todos os dias, ao serão, lemos em conjunto a Palavra de Deus, que a Igreja oferece na missa diária. Acredito que, mais do que os meus esforços como mãe, é esta Palavra partilhada, mastigada, contemplada, que dá à Clarinha a confiança para viver cada dia com alegria e simplicidade.

De facto, a cada dia que passa, a minha missão educativa vai diminuindo, e a missão educativa do próprio Jesus vai crescendo... É por isso que é tão importante - sobretudo quando se têm filhos adolescentes - meditar as Escrituras em família, proclamando não as nossas palavras educativas, mas as de Deus. João Batista sintetizou num único versículo o essencial da missão educativa cristã:

 

"É preciso que eu diminua para que Ele cresça." (Jo 3, 30)

 

Ser mãe da Clarinha há quinze anos tem sido para mim um enorme privilégio, e todos os dias agradeço a Deus ter-me oferecido esta filha e os seus irmãos para com eles partilhar a vida.

Senhor, à medida que a minha influência maternal for diminuindo na vida da Clarinha, aumenta, Te peço, a tua! Que ela navegue em águas cada vez mais profundas e seja santa, a santa que só ela pode ser...

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E hoje que fazes quinze anos... PARABÉNS, QUERIDA FILHA!

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Tempos Livres VI - Felicidade

por Teresa Power, em 30.01.16

Termino hoje a "saga" da Clarinha, tal como espero e desejo que tenha terminado cá em casa, e termino esta pequena "série" de posts sobre os tempos livres dos Power. Quem chegar ao blogue aqui pela primeira vez, talvez seja conveniente ler esta sequência de seis posts antes deste!

 

Depois de jantar, na sala, fazemos alguns jogos ou lemos histórias todos juntos. São apenas dez minutos do nosso serão, o suficiente para nos divertirmos em família, antes da nossa oração familiar. Numa destas noites, durante um animado jogo em que o monstro maior da casa procurava agarrar os seus pequenos prisioneiros, que fugiam aos gritos e às gargalhadas, a Clarinha fez uma roda e um pino tão entusiásticos, que atirou para o chão a fotografia do Tomás e a imagem de S. Tiago vinda diretamente de Compostela.

- Clarinha, por favor, sabes bem que a nossa sala é pequena para os teus pinos! - Ralhei. Ela desatou a chorar:

- Mãe, eu não aguento ficar sem fazer ginástica! Eu não sou capaz de passar os dias sem me esticar muito bem esticadinha!

Suspirei fundo e abracei-a.

- Clarinha, podes sempre voltar às aulas de ginástica sem estares em competição...

- Sabes bem que não, mãe. Outras poderão, não eu. As professoras iriam pressionar, porque não me querem perder. Eu ajudo a dar nome ao clube... Não. Não posso arriscar. Além disso, as aulas são iguais para todos, estejam ou não em competição, e deixa-me que te diga... são uma seca! Temos de treinar em silêncio completo, se nos distraímos ou rimos, gritam logo connosco. Não quero isso para mim! Só quero descontrair e divertir-me ao fim de um dia de escola...

- Mas se precisas assim tanto de fazer ginástica, temos de encontrar uma alternativa à ginástica rítmica.

Ela acalmou um pouco, perante os olhares espantados dos irmãos mais novos, que com o aparato, se tinham esquecido de fugir do "monstro". Ouvi o David a murmurar baixinho, abanando a cabeça com sabedoria: "Não entendo nada... Chora por fazer, e chora por não fazer..."

De repente, lembrei-me de uma conversa que tivera há alguns dias com uma amiga.

- Clarinha, disseram-me que no velódromo, ao mesmo tempo que há aulas de ginástica rítmica, também há de artística. É verdade?

- Sim, é. Mas iria ser a mesma coisa, mãe. Quando os treinadores vêem do que eu sou capaz, começam a pressionar.

- Contudo, disseram-me que tu já és demasiado crescida para começar competição agora, em artística. Disseram-me que o professor se concentra nos pequeninos, que vão trabalhar para competir, e vai ensinando os mais crescidos de forma descontraída, sem lhes dedicar demasiada atenção. No fundo, o que tu queres...

No dia seguinte, levei a Clarinha à sua primeira aula de artística. O professor disse-me que, a começar nesta altura do ano, só seria possível se a Clarinha soubesse fazer uma roda, um pino, uma cambalhota... Descansei-o. Depois expliquei-lhe que a Clarinha não tem espírito de competição, e que seria melhor não a abordar sequer sobre tal. Foi a sua vez de me descansar.

Quando a aula terminou, a Clarinha vinha radiante, e o seu sorriso iluminava.

- Então, Clarinha, gostaste?

- Adorei! Podemos conversar e rir enquanto treinamos. Já fiz amigas! Adoro ir ter com as meninas e apresentar-me: "Olá, sou a Clara." É tão bom conviver! O professor nem acreditava, quando eu lhe disse que aprendi a roda sem mãos sozinha, pela internet. Ia ensinar-me o flick, mas descobriu que eu já sei fazer dez seguidos. Na próxima aula ensina-me a fazer um mortal! Fiz uma aranha na trave e não tive medo. Não te preocupes: temos uma piscina de esponjas espetacular por baixo, se por acaso cairmos! - Atirou-se para o sofá, esgotada e feliz. E acrescentou: - Eu adoro ginástica, eu preciso de ginástica, mas a ginástica não é a minha vida. Nestas novas aulas tenho espaço para conversar, rir, descontrair enquanto treino, que é o que eu preciso ao fim de um dia de escola e estudo... Tive um sonho, concretizei-o, já é passado.

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Tenho tido oportunidade de escutar a Clarinha a responder a quem lhe pergunta pelas suas razões de desistência. "Foi a professora?" "Ela não exigia o suficiente de ti, que podias dar mais?" "Ela exigia demasiado de ti?" "Ela era fria?" A resposta da Clarinha tem-me surpreendido: "Não, não saí por causa da professora. Saí por minha causa. A professora fez o que tinha de fazer. Eu é que não estava bem." E uma das maiores alegrias da Clarinha nos últimos dias foi um abraço e um sorriso da sua antiga treinadora (a que a acompanhava mais de perto), que no velódromo lhe estendeu os braços: "Clarinha, parabéns, tens imenso jeito para a artística! O importante é estares feliz."

Às vezes, na cama, a Clarinha chora um bocadinho com saudades das bolas, das fitas, dos arcos, das cordas. Também eu recordo, com alguma emoção, a alegria imensa da Clarinha durante o verão, quando, com o pai, fez a sua encomenda, pela Internet, da bola e da fita mais lindas do mundo, o cuidado que pôs na escolha, a festa que fez ao receber a encomenda... Depois, recordo-me da história de Lot e da sua mulher, habitantes de Sodoma, a cidade pecadora que o Senhor queria destruir. Conhecem o episódio? O anjo do Senhor foi enviado a Lot e disse-lhe:

 

"Foge, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás." (Gn 19, 17)

 

Há passagens da Bíblia que só conseguimos entender quando vivemos a sua força. Esta é uma delas. De facto, às vezes é preciso partir sem olhar para trás, para não corrermos o risco de sermos transformados, como a mulher de Lot, numa estátua de sal. Ao longo da nossa vida, Deus irá desafiar-nos a abandonarmos tudo aquilo que nos prende ao mundo, incluindo - sim, incluindo - os nossos próprios sonhos. Porque, se não nos detivermos em parte alguma do vale, em breve alcançaremos o único monte que existirá para sempre, o Coração de Deus...

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Tempos livres V - Competição

por Teresa Power, em 29.01.16

- Mãe, eu não quero mais fazer ginástica - A confissão da Clarinha apanhou-me totalmente desprevenida. Estávamos a falar de que, brevemente, teríamos de investir algum dinheiro num fato de ginástica, pois ela não podia continuar eternamente a competir com fatos emprestados. E estávamos a pensar num como prenda de Natal.

- Mas, Clarinha, o que aconteceu? Não é o que tu mais gostas de fazer?

A Clarinha desatou a soluçar. Eu sabia que ela tinha tido alguma dificuldade em se adaptar à nova treinadora principal (que orientava os treinos principais), mais fria e severa que a professora dos treinos normais, mas estava longe de imaginar tal coisa. Havia, claro, alguns sinais de mal-estar, como uma irritação excessiva nos dias anteriores às provas. E havia alguns comentários desta treinadora que me deixavam um nó no estômago, como por exemplo este: "As meninas que querem ginástica a sério têm de esquecer os tempos perdidos com missas, catequeses, coros e outras atividades", comentário que mereceu da Clarinha um encolher de ombros e uma gargalhada.

Quando, por fim, conseguiu falar, desabafou:

- Mãe, eu adoro ginástica, quer dizer, eu adorava ginástica, mas... Eu detesto competições! Eu não quero ir a mais nenhuma competição.

- E pode-se saber porquê?

- Passo o dia sozinha. Em grande solidão.

- Sozinha? Mas tu passas o dia inteiro rodeada de meninas, a treinar!

- Sim, e esse é que é o problema: estamos todas sozinhas, mãe! Cada qual está a treinar o seu esquema, e ninguém fala com ninguém... Eu bem tento sorrir, eu bem tento falar, perguntar o nome, saber o que mais gostam de fazer, saber a que escola vão ou qual a música que gostam de ouvir. Mas ninguém me devolve o sorriso... Ninguém fala comigo! É horrível!

E a Clarinha soluçou ainda mais. Abracei-a. Começava a entender.

- Clarinha, queres dizer que nas competições as meninas só estão a pensar em ganhar?

- Sim, mãe. Quando cheguei à última competição, a professora apresentou-me a uma menina da sua outra escola. Sabes como me apresentou? Não foi: "Olha, esta é a Clarinha". Foi: "Olha, chegou a tua competição".

- Que queria ela dizer com isso?

- Que eu e ela estávamos a lutar pelo mesmo lugar, claro.

- Mas eu pensei que as competições eram para cada uma se superar a si mesma, não para cada uma superar a outra.

- Também eu... E sabes o que me disse mais, quando acabei a minha prova?

- Sei, tu disseste-me na altura. Ela disse: "Tenho orgulho em ti!"

- Não, mãe, não memorizaste as suas palavras exatas, mas eu memorizei. Ela disse: "Tenho orgulho em te mostrar." É bem diferente!

Não era só o ambiente das competições que magoava a Clarinha. Era também o tempo dispendido com os treinos, e que a professora aumentava progressivamente. Mais horas de treino significavam, para a Clarinha, menos horas a fazer outras coisas também interessantes, como culinária, costura, guitarra, bandolim, brincadeiras com os irmãos, jantares em família. E a Clarinha não tinha a certeza de que o sacrifício valesse mesmo a pena.

A conversa prolongou-se por vários dias e vários treinos. Pedi à Clarinha que não desistisse sem ter a certeza de que o queria fazer. Assegurei-a do que ela já sabia: de que eu não tinha para ela qualquer sonho relacionado com a ginástica, que nunca me passara pela cabeça fazer ginástica ou ter uma filha ginasta, e portanto, ela não me desiludiria desistindo, antes simplificaria a vida de todos lá em casa. E dei-lhe espaço para chorar, pensar, decidir. Assim, durante as férias do Natal, a Clarinha ainda fez um estágio de um dia inteiro e uma competição. A última.

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Finalmente, conversámos com a professora que a acompanhava nos treinos semanais, que foi extremamente compreensiva e ficou tão surpreendida quanto eu. Com muita elegância, procurou encorajar a Clarinha a continuar. Em vão.

- Clarinha, recebi um mail da tua professora, a dar-te os parabéns - Disse-lhe, quando uma tarde a fui buscar ao colégio.

- Parabéns porquê?

- Porque já sairam os resultados da tua última prova... Ficaste em quarto lugar, com uma pontuação de... 9000 pontos! O primeiro lugar teve uma pontuação de 10 250 pontos. Não ficaste longe!

Silêncio. Depois, a Clarinha começou a chorar baixinho. Deixei-a chorar, sabendo que no seu interior as cambalhotas eram muitas.

- Clarinha, não estavas à espera de tanto, pois não?

- Não.

- Sabes que podias chegar a um primeiro lugar um dia, não sabes? Na segunda divisão, claro...

- Sei. A professora disse-me.

- E queres mesmo desistir?

- Não estou na ginástica por causa do pódio.

A decisão estava tomada.

- Clarinha, podemos dizer que foi um final feliz, então! Terminaste em beleza!

Um sorriso. Definitivo.

 

A história da Clarinha não é, claro, a história de todos os meninos que fazem desporto de competição. Não quero, com estes posts, generalizar, nem sobre atletas, nem sobre treinadores, nem sobre clubes. No entanto, nestes dois anos descobri muita coisa que antes desconhecia por completo. Descobri, por exemplo, que são muitas as crianças que detestam as competições e os treinos exagerados que as precedem; que são muitos os treinadores interessados nos atletas como fonte de promoção pessoal ou do clube, e não enquanto pessoas; que é muito difícil resistir às lisonjeiras palavras dos treinadores, convencendo-nos de que a competição é o melhor para os nossos filhos; que são muitos os pais "treinadores de bancada", decididos a fazer dos seus filhos campeões olímpicos - porque se eu me queixo de que a professora exigia demais da Clarinha, outros pais, e relativamente à mesma professora, queixam-se precisamente do contrário... Nestes dois anos, descobri que, como diz o Livro do Eclesiastes,

 

"vaidade das vaidades, tudo é vaidade" (Ecl 1, 2)

 

Penso nos pais que impõem aos filhos atividades desportivas, musicais ou outras, sem se darem conta do cansaço que eles têm receio de exteriorizar, por medo de serem uma desilusão; penso nos pais que projetam nos filhos a realização dos sonhos que não conseguiram realizar, ou pelo contrário, a continuação da educação que receberam em pequenos; penso nos pais que não permitem aos filhos desistir - e me aconselharam a não permitir à Clarinha desistir - porque a adrenalina é uma vitamina que faz crescer.

Penso em Maria de Nazaré, que não percebia as escolhas do seu Filho, mas as aceitava como fazendo parte do grandioso mistério da sua vida e tudo guardava no Coração.

Possamos nós também escutar o que os nossos filhos nos dizem com as suas atitudes, os seus silêncios, as suas lágrimas, os seus risos... Só quando se sentirem escutados, sem julgamentos; só quando sentirem que não nos vão desiludir com as suas escolhas, eles irão abrir-nos o seu mundo interior para que entremos, pé ante pé, descalçando as sandálias porque o terreno é sagrado.

E entretanto, que aconteceu à Clarinha? Não, não ficou sentada no sofá... Olha quem! O final da história amanhã, se Deus quiser :)

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Tempos livres IV - A Clarinha e a ginástica

por Teresa Power, em 28.01.16

A Clarinha tem catorze anos e frequenta o nono ano. Desde pequenina que a Clarinha manifestava um talento especial para ginástica. Com cinco anos, e sem qualquer treino específico, a Clarinha fazia rodas, pinos, espargatas e muito mais. Depois, quando no segundo ciclo teve acesso ao desporto escolar, a Clarinha começou a ocupar as tardes livres de quarta-feira (e só as tardes livres de quarta-feira), no colégio, com ginástica artística. Desafiando-se e superando-se a si mesma continuamente, a Clarinha aprendeu a fazer coisas que, a mim, nem em sonhos me ocorriam. Fazer ginástica assim, sem qualquer outro objetivo senão o superar-se a si mesma e o divertir-se, aproveitando ao máximo as possibilidades que o seu corpo treinado lhe permitia, era para a Clarinha uma fonte de alegria e de força interiores.

Para terem uma ideia das coisas que ela aprendeu a fazer, (re)vejam estes doze segundos de flicks, durante um piquenique na Irlanda, há dois anos atrás:

 

Entretanto, o professor de ginástica da Clarinha saiu do colégio. A Clarinha ficou desolada, pois mais nenhum professor, no colégio, tinha conhecimentos para a fazer evoluir. 

Por outro lado, com o seu tablet a Clarinha tinha descoberto um outro tipo de ginástica que a encantava e a fazia sonhar: a rítmica. Na rítmica não se fazem mortais, nem flicks, nem barras, nem traves, mas dança-se com bolas, fitas, arcos, cordas, e fazem-se espargatas bem mais abertas que na artística.

Foi mais ou menos por esta altura que eu esbarrei com aquele cartaz, à entrada da minha escola: a dez minutos da nossa casa, iam pela primeira vez abrir aulas de ginástica rítmica. A Clarinha  podia concretizar o seu sonho. Peguei num papel e num lápis e rabisquei um número de telefone, e ali mesmo, antes de entrar para a minha aula, fiz o telefonema que lançou a Clarinha na ginástica rítmica.

Quando cheguei a casa, não consegui conter a minha alegria:

- Clarinha, acabo de te inscrever... Clarinha, vão abrir aulas de ginástica no velódromo! Vais poder concretizar o teu sonho!

A Clarinha saltou de alegria. Depois parou:

- Mas, mãe, como vais fazer para me levar e buscar? Tu sempre disseste que as nossas atividades devem ser na escola ou perto de casa, para estarmos independentes... Tens os manos para tomar conta... Vais conseguir?

A Clarinha conhecia as nossas prioridades. Sabia que a sua ginástica iria perturbar o nosso ritmo de vida e nos iria obrigar a algumas acrobacias de logística e tempo. Mas nesse dia, a Clarinha também ficou a saber que, para nós, cada filho é único, cada filho tem as suas características e necessidades próprias, e em nome da sua felicidade pessoal, podemos fazer cedências, abrir exceções, dar algumas cambalhotas e, talvez, fazer alguns mortais.

Durante os dois anos seguintes, a Clarinha teve treinos duas ou três vezes por semana, ao fim do dia, e obrigou-nos a vários ajustes no nosso tempo de família, sobretudo por causa da oração familiar. Como costume, contámos com a colaboração dos amigos, partilhando boleias para os treinos. E tudo se fez.

A dada altura, a treinadora pediu a nossa autorização para a Clarinha entrar em competição, juntamente com várias outras meninas. Depois de me certificar que não iria ter mais do que três treinos de hora e meia por semana, nem ocupar mais do que cinco sábados por ano, aceitei.

Mal sabia eu que, assinando a entrada da Clarinha para o mundo da competição - em que, descobri mais tarde, o objetivo número um deixa de ser a alegria do desporto, para ser o pódio - eu estava a assinar o fim do seu amor pela ginástica. Mas isso fica para amanhã... Por hoje, deixo-vos com o vídeo da sua penúltima competição, em Dezembro:

 

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O mais velho de muitos irmãos

por Teresa Power, em 21.12.15

Escrito pelo Francisco:

 

Eu gosto de imensa coisa, tenho sempre imenso para fazer, muitas atividades… mas também tenho muitos irmãos. Nem sempre é fácil conciliar a magia, cubo mágico, invenções e construções que vou fazendo com a tarefa de grande responsabilidade, divertida (e trabalhosa) de tomar conta dos meus irmãos, em particular da Sara. Esta, quando só eu é que estou a tomar conta dela, passa o tempo agarrada a mim e a querer fazer tudo o que faço, seja ilusões com fogo ou projetos com eletricidade. Claro que assim que ouço “podes tomar conta da Sara uns minutinhos (ou umas horas)?” tenho de parar imediatamente qualquer atividade mais perigosa do que resolver um cubo mágico, se não quero sarilhos…

Mas com a prática comecei a conseguir fazer tudo ao mesmo tempo, continuar a trabalhar com os mais pequenos ao colo ou agarrados às minhas pernas enquanto me atiram almofadas à cara. Sei os riscos de me sentar ao computador para editar um novo vídeo para o meu canal do youtube, mas já sei as técnicas para ter a Sara ao meu colo sem que ela clique no “Delete” demasiadas vezes e o António e a Lúcia suficientemente sossegados para não ficar com ruido de fundo numa gravação.

Faço muitos espetáculos de magia com crianças e treinar com os meus irmãos dá muito jeito para saber o que é que eles compreendem e não compreendem, ou evitar pequenos erros de ofício no que toca a motivar as crianças (não quero que, depois de um espetáculo meu, vão para casa enrolar uma corda à volta do pescoço e tentar soltar!). Se vejo que o António tenta imitar-me logo a seguir, já sei que tenho de ter cuidado com aquele truque, se vejo a Lúcia com ar de quem está a apanhar uma seca, vou logo ao documento onde tenho a rotina do espetáculo e apago esse truque da lista…

Mas não é tudo! Isto ajuda-me a ser muito mais paciente. Não é fácil estar a meio de soldar um LED a dois cabos num emaranhado de fios e ser interrompido pelo David a pedir ajuda com uma conta de dividir. E também não é fácil estar a ajuda-lo e pensar que o ferro de soldar pode estar a queimar a mesa de trabalho… Tenho de ter paciência e ordenar as tarefas por ordem de importância na minha mente: 1º Ajudar os manos, 2º salvar o trabalho no PC antes que a Sara o elimine. É uma luta na minha consciência, pois o cubo mágico de 5x5x5 está quase resolvido e demorou 10 min para chegar aquele ponto e o António está perigosamente entusiasmado com ele, mas a Clarinha está a precisar de ajuda para o teste do dia seguinte. Tenho que ir contra a minha vontade para seguir o lema JOY: Jesus first, Others second, You last.

 

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A festa na Terra...

por Teresa Power, em 17.12.15

Na cozinha, a Clarinha aproveita a tarde livre para fazer queques de chocolate...

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 ... que ao jantar serviu num... prato também de chocolate, e também feito por ela! Vejam lá quem é artista?

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Os queques e o prato desapareceram num instante...

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 Parabéns, Tomás!

- Quem gosta dos bolinhos em honra do Tomás?

- Eu!

- Eu!

- Eu!

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Depois da refeição, a oração familiar. A vela do Tomás ilumina o Canto de Oração, e todos lhe querem pegar...

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A festa na Terra terminou, mas no céu nunca terminará! No terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria, o Papa Francisco lembrou-nos que, aos cristãos, não é consentida a tristeza, pois já fomos salvos por Jesus, como anunciou o profeta Sofonias:

 

"Não desfaleçam as tuas mãos, Jerusalém: o Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele alegra-se, renova-te com o seu amor, exulta de alegria como nos dias de festa." (Sof 3, 14-18)

 

Um dia não haverá mais choro, nem mais tristeza, nem mais dor, nem mais morte. Um dia... Mas esse dia já começou, há dois mil e quinze anos atrás! E o nosso menino do Natal aponta-nos para um outro Menino, de um Natal que nunca terá fim. Afinal foi esse mesmo Menino que nos inspirou a dar ao Tomás o segundo nome de Emanuel, que quer dizer Deus-Connosco... Nem nós imaginávamos o quanto!...

Alegremo-nos e façamos festa, porque o Senhor está connosco! Ámen.

 

 

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Jovens inspiradores

por Teresa Power, em 28.10.15

- Francisco e Clarinha, que tal se concorressem aos Jovens Inspiradores? Acabo de receber um mail da APFN. Parece-me que têm ambos o perfil adequado!

- Que disparate! - Responde-me o Francisco, encolhendo os ombros - Que tenho eu de inspirador? Não faço nada de especial, mãe.

- Nem eu! - Continua a Clarinha.

- Tudo depende do que entenderem por inspirador - Explico - Ser inspirador é mais uma forma de estar na vida do que qualquer outra coisa. Não se trata de um concurso de talentos!

Silêncio.

- Por exemplo, a forma como ambos ocupam os tempos livres é sem dúvida inspiradora para a juventude. Vocês não perdem um minuto do dia com futilidades! Ambos têm passatempos muito interessantes. A Clarinha pode falar das prendas que faz para oferecer às amigas com a sua máquina de costura. E o Francisco pode falar do tempo que gasta a aprender ilusionismo, e de como depois faz render o seu talento animando festas de anos e encontros de famílias.

- Já estou a entender - Diz a Clarinha, muito séria - Acho que também pode ser inspirador o facto de eu gostar de tomar conta dos manos e fazer bolos para os seus lanches...

- Claro! E porque não falar da tua perseverança na ginástica? Sorrindo através do esforço...

- Bem, eu levei a moda do "cubo mágico" para o colégio, há alguns anos atrás...

- Sim, Francisco, e continuas a ser modelo de jovem para muitos dos meninos que lá andam, aliando o estudo sério ao divertimento de qualidade. Isso é ser inspirador!

- Fala do teu guindaste hidráulico! E do teu canal, claro!

Sorrio:

- Bem, aqui têm o link do concurso. Agora fica nas vossas mãos!

 

Na quarta-feira passada, o Francisco e a Clarinha souberam que tinham ambos sido selecionados para a grande final do concurso Jovens Inspiradores. Que bela surpresa, para quem concorrera sem muita esperança! Agora era preciso ir a Lisboa para as entrevistas e para uma tarde festiva, no sábado. O Niall, naturalmente, ofereceu-se para os levar. Aproveitariam também para visitar uns amigos, que os acompanhariam na grande final.

As entrevistas foram momentos muito engraçados para ambos. O Francisco teve ocasião de resolver o cubo de Rubik diante do júri, e a Clarinha mostrou orgulhosamente a mochila feita por ela. 

- Francisco, sendo o mais velho de uma família numerosa, deves estar um pouco cansado de cuidar de crianças... Quantos filhos queres ter? - Perguntou o júri, já no final.

- Os que vierem - Foi a resposta pronta.

A da Clarinha não foi muito diferente:

- Muitos!

Por fim, gargalhadas descontraídas perante a pergunta do costume:

- Não ver televisão, não ter Facebook e não ter telemóvel não te faz sentir mal junto dos amigos?

 

Entretanto, em casa, eu e os quatro mais novos aguardamos notícias com o telemóvel na mão. A tarde vai passando, com muita chuva, e os meninos estão impacientes:

- Quando chega o pai?

- Quero o mano!

- Hoje a Clarinha não brinca comigo?

O telemóvel vibra. É um sms a chegar. Abro, e leio em voz alta:

"O FRANCISCO GANHOU!"

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       (fotografia na página do Facebook da APFN)

 

 Tento falar com o Niall ao telemóvel, mas ele está ocupado a bater palmas e a escutar as amáveis palavras dos promotores do concurso.

- Mamã, o júri disse que eu também devia ter ganho o prémio, mas só podia ganhar um, pois concorremos ambos no mesmo grupo dos catorze aos dezassete - Conta-me à noite a Clarinha, muito feliz - E disse também que toda a nossa família está de parabéns, porque para educar dois jovens assim é preciso que a família seja toda ela inspiradora. Ficas contente?

Fico, sim, fico contente... Penso na Carta de S. Paulo ao seu querido Timóteo:

 

"Permanece firme naquilo que aprendeste e de que adquiriste a certeza, bem ciente de quem o aprendeste. Desde a infância conheces a Sagrada Escritura, que te pode instruir, em ordem à salvação pela fé em Cristo Jesus." (2Tm 3, 14-15)

 

Mas que prémio foi esse que o Francisco recebeu?

- Recebi um computador Touchscreen, fantástico! Mas como eu já tenho um ótimo computador, este fica para a Clarinha. Ela estava a precisar de um... - Explica-me o Francisco, com simplicidade.

Sorrio, agora com muito mais orgulho. Fico a pensar no que significa ser inspirador... A própria forma de se receber um prémio pode ser inspiradora! Afinal, foram mesmo ambos os vencedores... São nove horas da noite, e os meus seis filhos estão reunidos em torno de uma caixa de cartão. A Clarinha abre-a, muito feliz, e retira de lá o seu computador, novinho em folha. Todos querem ver como funciona. O Francisco vai ajudar a instalar o que for necessário. As exclamações de alegria são muitas e barulhentas...

 

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Ainda que a mãe se esqueça

por Teresa Power, em 05.10.15

Quartas-feiras são o meu dia de motorista. Aliás, só me falta o chapéu a condizer! Já assim era o ano passado, pois às quartas-feiras à tarde, não há aulas no colégio nem no meu agrupamento de escolas para o terceiro ciclo e secundário, e a primária termina às três horas. De acordo com as minhas contas, eu fazia, no ano passado, seis vezes o percurso, ida e volta, casa / escola ou casa /colégio dos meninos. Este ano, as contas não são muito diferentes, e ainda estou em processo de adaptação a horários, meus e deles. A adaptação nem sempre é fácil, e a prova "vergonhosa" é a história que vos vou contar...

Quarta-feira. O Francisco veio para casa de bicicleta - depois da peregrinação a Santiago de Compostela, não há distâncias para ele - e eu chego uma hora mais tarde, para almoçarmos juntos. Depois de conversarmos um bocado e arrumarmos a cozinha, sento-me diante do computador para aprovar alguns comentários e para preparar as minhas aulas do dia seguinte, antes de interromper para estender uma máquina de roupa. Olho para o relógio: são duas e um quarto, e às três horas devo ir buscar o David e a Lúcia; às quatro, o António e a Sara; depois, levar a Clarinha à explicação de Matemática e, hora e meia mais tarde, ir buscá-la...

Ainda estou eu a fazer as contas às horas, quando ouço o portão da rua a abrir, seguido de passos apressados. A porta da cozinha abre-se de rompante:

- Mãe! Onde estás?

Dou um salto de susto.

- Clarinha! Que fazes em casa a esta hora?

Ela olha para mim, espantada, transpirada, sem fôlego:

- Mas, mãe, esqueceste-te de mim? Hoje era suposto teres ido buscar-me à uma e meia... Vim a pé do Colégio! 40 minutos a andar a toda a pressa... Não foi a distância, claro, porque até gostei do passeio... Mas estava tão nervosa! Pensei que te tinha acontecido alguma coisa!

E a Clarinha desata a chorar.

- Oh, filha, desculpa-me! Esqueci-me completamente! E olha que estava agora mesmo a pensar em ti, vê lá tu!

- E nem a pensar em mim te lembraste?!

- Não! Contava ir buscar-te à hora do costume... Desculpa! Desculpa! Desculpa!

Abraçamo-nos, e depois desatamos a rir.

- Não vais dizer isto no blogue, pois não? - Pergunta-me ela, enquanto lava a cara e os braços, todos transpirados - Vão ficar a pensar que és maluca!

- Claro que não! (Ups!)

Deixem-me aqui fazer um parêntesis: esta história só é possível acontecer, naturalmente, numa casa onde os únicos telemóveis são o do pai e o da mãe...

 

Mais tarde, vieram-me à mente as palavras da Bíblia:

 

"Poderá a mãe esquecer-se da criança que trouxe nas suas entranhas?"

(Pode...)

"Pois bem, mesmo que ela se esqueça, Eu não me esquecerei de ti, Israel!"

(Is 49, 15)

 

Ah! Quantas vezes me sinto abandonada, esquecida por Deus? Quantas vezes penso que Ele não tem tempo para pensar em mim, ocupado como deve estar com assuntos bem mais sérios do que os meus? Não, ao contrário de algumas mães desnaturadas (ups!) o Senhor não esquece nenhum dos seus filhos! Em cada momento da minha vida, Deus pensa em mim como se só Eu existisse sobre a Terra. Deus tem o seu olhar pousado sobre mim, o seu coração aberto para mim, o seu amor, transbordante, derramado a cada instante sobre mim...

Se por uma fração de segundo apenas, Deus se esquecesse da sua mais pequena criatura, homem ou estrela, animal ou flor, o universo inteiro ruiria como um castelo de cartas. Acreditamos nisto?...

Clara mirando o pôr do sol.jpg

 

 

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publicado às 06:00

Treinos caseiros

por Teresa Power, em 25.09.15

Em julho passado, a professora de ginástica rítmica da Clarinha emigrou para a Alemanha, deixando as ginastas muito tristes. A federação tem tido alguma dificuldade em colmatar a falta desta professora, pelo que as aulas ainda não recomeçaram. Segundo fomos informados, recomeçarão no dia 1 de outubro.

Mas pode uma ginasta fazer uma pausa de dois meses? Claro que não: duas semanas de férias já equivalem a uma perda muscular significativa, quanto mais dois meses! A Clarinha sabe disso. Assim, durante todo o verão, fez para si própria um horário de treino intensivo e diário. Outro dia encontrei-a a treinar... com um quilo de arroz em cada perna:

Clarinha a treinar.JPG

Infelizmente, a ideia não foi assim tão luminosa: um dos pacotes de arroz rebentou, e o resto, teremos nós de imaginar - digo "nós", porque a Clarinha só me contou das suas aventuras depois de ter apanhado o arroz todo!

Quando a Clarinha treina em casa, raramente o faz sozinha. Reparem nesta foto:

espargatas.JPG

- Conta até dez, Sara, para eu aguentar! - Pedia ontem a Lúcia, espargata aberta no chão da sala.

- Um, dois, tês, nove, quinze, dezasseis... - Contava a Sara, do alto dos seus três anos, muito séria. E depois, ainda mais séria, perguntou à irmã: - Já dói? Já dói?

A Lúcia e a Sara aprenderam que, nos treinos, é preciso aguentar alguma dor...

"É preciso dar até doer", dizia muitas e muitas vezes a Madre Teresa de Calcutá às suas missionárias. Tudo o que não for isso, é simplesmente um despejo de sobras.

A Clarinha adora entrar em competições e sonha em ser treinadora de ginástica. E eu delicio-me a admirar a sua técnica, o rigor dos seus treinos caseiros, a disciplina que impõe a si mesma e às suas pequenas atletas, a capacidade de aguentar a dor e de não desistir.

A mim, ninguém me apanha a fazer uma espargata, claro! Mas ontem, às seis da tarde, olhei para o relógio e lembrei-me de que ainda não fizera o meu quarto de hora de oração silenciosa. De que estava à espera para rezar? Do cansaço extremo da noite? Como a Clarinha, preciso de fazer para mim mesma um horário de "treino intensivo". Marquei quinze minutos? Pois serão quinze minutos, bem contados - e não como a Sara os contaria... Dói, encontrar esse tempo no meio da corrida de cada dia? Dói, mas se não doer, não estou a dar nada ao Senhor.

Diz Jesus no Evangelho:

 

"Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas." (Lc 21, 19)

 

Ensina-me, Senhor, a levar a sério o tempo que Te quero oferecer todos os dias! Do meu "treino diário" dependerá o sucesso das "competições" que preparaste para mim...

 

 

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publicado às 06:17



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