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Cabelo bem lavado

por Teresa Power, em 26.08.15

- Hoje é praia ou missa, mamã?

- Hoje é missa, Sara. Tu gostas da missa?

- Gosto. Mas olha, diz ao senhor padre que eu não quero que ele me lave o cabelo!

- ?????

 

Levei alguns segundos a compreender o problema da Sara: durante todos os domingos de agosto, no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, a missa paroquial inclui a celebração de um ou mais batismos. E o batismo significa, - como é que eu nunca pensara nisto? - lavar a cabeça aos mais novos, claro! A Sara, que detesta lavar o cabelo, deve ter sofrido um pouco nas últimas missas, à espera que o tormento diário da água a escorrer sobre a sua cabeça pudesse também acontecer na igreja, onde julgava estar em segurança. Ai como é difícil ter-se quase três anos!

 

- Sara - continuei eu - Não tenhas medo, porque o senhor padre já lavou o teu cabelo uma vez, e não vai lavar mais nenhuma!

- Ai já?

- Já. Queres ver? - Fui buscar um album de fotografias - Olha, vês? O senhor padre lavou-te o cabelo com esta conchinha da praia, que os manos encontraram enquanto tu estavas na minha barriga e guardaram especialmente para a ocasião!

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- Sabes, Sara, o senhor padre não lava o cabelo com shampô... Não! Não entra nada nos olhos. O senhor padre não está a tentar tirar a terra do jardim ou a areia da praia ou os restos de comida ou os bocados de cola do teu cabelo... Está a lavar o teu coração!

- O coração?

- Sim, o coração...

Enquanto eu explicava à Sara, com palavras muito simples, o sacramento do batismo, fiquei a pensar... Será que os pais que, aproveitando este mês de férias e encontro familiar, levam os seus filhos a ser batizados, experimentam dentro de si a urgência do sacramento? Ou será que simplesmente aproveitam a ocasião do batismo para festejar com a família e os amigos o nascimento do seu filho?

Apercebo-me de que, mesmo entre os católicos mais empenhados, existe uma vaga ideia de que o batismo é um símbolo, um gesto belo, mas incapaz de causar uma alteração profunda na natureza do ser humano. "Todos somos filhos de Deus", ouve-se dizer. Para quê a pressa então? Por que não esperar por uma reunião familiar, por uma situação financeira mais estável ou por umas férias para batizar os nossos filhos?

É verdade que todos os seres humanos são amados por Deus com amor infinito, antes ainda de serem concebidos; e que Deus tem milhares de formas diferentes de oferecer a sua salvação, a cristãos, a budistas, a ateus, pois como diz o Catecismo da Igreja Católica, "Deus não está prisioneiro dos seus sacramentos" (CIC nº1257). Mas também é verdade que o Evangelho diz:

 

"Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus." (Jo 3, 5)

 

Se o batismo não nos traz nada de novo; se não altera em nada a nossa própria natureza humana; se não tem poder para nos abrir o Céu, então não vale a pena perdermos tempo.

Mas se o batismo opera em nós um milagre - um milagre imenso, infinito e impossível de abarcar com a nossa pobre inteligência; se o batismo faz de nós participantes da vida do próprio Deus, realmente filhos no único Filho; se o batismo apaga em nós, definitivamente, a marca herdada do pecado; se o batismo faz jorrar para dentro de nós uma abundância de graça nunca antes vista, completamente absurda e totalmente gratuita - então eu vou ter imensa pressa em batizar os meus filhos. Diz o Catecismo da Igreja Católica: "A Igreja e os pais privariam a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o batismo pouco depois do seu nascimento." (CIC nº 1250)

Cá em casa, batizei todos os meus filhos com um, dois ou três meses de vida. Se hoje tivesse outro bebé, batiza-lo-ia na semana seguinte a sair da maternidade...

 

- O senhor padre não vai lavar-me o cabelo!

 

"« Senhor, Tu não vais lavar-me os pés!» Disse-lhe Jesus: «Se não te lavar os pés, não terás parte comigo.» Disse-Lhe então Simão Pedro: «Nesse caso, Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!»" (Jo 13, 6-10)

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publicado às 06:27

Hospital de campanha

por Teresa Power, em 14.05.15

Num dos cruzamentos da estrada nacional, que todos os dias percorro, esteve durante toda a semana passada esta bela tenda branca:

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Há quatro décadas que os peregrinos de Fátima encontram aqui uma sombra fresca, água abundante e os primeiros socorros necessários, especialmente todo o cuidado dos pés e das pernas. Os bombeiros de Anadia e outras pessoas de boa vontade disponibilizam-se todos os anos para este trabalho tão bonito e necessário de serviço aos peregrinos, e a tenda branca levanta-se na estrada como símbolo concreto e real do amor cristão. Na verdade, ao ver os peregrinos descalços, com os pés dentro de bacias de água, e os voluntários ajoelhados a seu lado, tratando as bolhas dos seus pés, não pude senão lembrar-me das palavras de Jesus:

 

"Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros."

(Jo 13, 14)

 

Pensei também na parábola do Bom Samaritano:

 

"Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele." (Lc 10, 33-34)

 

Foram estas imagens do verdadeiro amor cristão que inspiraram naturalmente o Papa Francisco e oferecer-nos uma imagem da Igreja - uma imagem nova, mas antiga, tão antiga quanto o Evangelho:

 «Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo».(Entrevista à Revista Brotéria, Setembro 2013)

“Essa é a missão da Igreja, que cura e cuida. Algumas vezes, eu falei da Igreja como um hospital de campanha. É verdade: quantas feridas há, quantas feridas! Quanta gente que tem necessidade de que suas feridas sejam curadas! Essa é a missão da Igreja: curar as feridas do coração, abrir portas, libertar e dizer que Deus é bom, que perdoa tudo, que é Pai, é terno e nos espera sempre”. (Homilia de 5-2-15)

 

A tenda branca à beira da estrada, os peregrinos a caminho de Fátima...

A Igreja à beira da estrada da vida, e cada um de nós, peregrino a caminho da verdadeira Pátria...

Não tenhamos receio de nos aproximar da Igreja, de descalçar os sapatos e de deixar que nos cuidem das feridas. Não hesitemos em estender a mão para receber o alimento, beber da Água da Vida, recuperar as nossas forças! Os sacramentos que Jesus nos deixou são os remédios mais eficazes para quem peregrina pelas estradas da vida.

Depois, assim curados e alimentados, sejamos também nós capazes de nos ajoelhar diante do irmão e de lhe lavar os pés...

 

 

 

 

 

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publicado às 06:20

Visitas de Deus

por Teresa Power, em 02.05.15

No domingo à noite, depois da festa familiar do crisma do Francisco, ligávamos nós pela quinta vez consecutiva a máquina da louça, quando comentei com o Niall:

- O nosso serviço de pratos de ocasiões especiais e as nossas toalhas de linho, bordadas pela minha avó há tantos anos estão a ficar gastos de tanto serem usados! O pó não chega a assentar nesta louça especial, e o linho já tem manchas de chocolate e de vinho que ninguém consegue lavar. Ufa!

- É bom sinal. É sinal de que estamos sempre em festa! - Respondeu-me ele.

A nossa conversa lembrou-me uma passagem de um discurso do Papa Pio XII às Famílias Numerosas, que li há anos mas nunca esqueci. Fui à estante procurar o livro que fala deste discurso, para o poder partilhar aqui:

 

"Uma família numerosa bem ordenada é como um santuário visível: o sacramento do batismo não é para ela um acontecimento excecional, mas renova por muitas vezes a alegria e a graça do Senhor. A série de alegres peregrinações às fontes batismais ainda não terminou e já recomeça no deslumbramento de idênticas alvuras, a das confirmações e das primeiras comunhões. Mal o mais novo dos irmãos depôs o seu vestido branco entre as mais caras recordações da vida, e já esvoaça o primeiro véu nupcial que reúne ao pé do altar pais, filhos e novos parentes. Seguir-se-ão, como uma sucessão de primavera, outros casamentos, outros batizados, outras primeiras comunhões, como que perpetuando na casa as visitas de Deus e da sua graça." (Pio XII, discurso de 20 de janeiro de 1958)

 

Na verdade, só este ano celebramos a receção de dois magníficos sacramentos em dois domingos consecutivos; e quase todos os anos temos tido celebrações religiosas familiares, sobretudo batismos! Como bem referiu o Papa, estes dias festivos são para todos nós  uma fonte infinita de graças especiais e abundantes. Tenho bem presente na memória a sensação de profunda paz causada por cada um dos batismos dos meus bebés, como se eu mesma tivesse sido visitada por Deus de uma forma nova, luminosa e pura. Essa mesma sensação, experimento-a agora, neste clima festivo da Primeira Comunhão do David e do Crisma do Francisco.

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Quando Deus visita um elemento de uma família, visita igualmente a família inteira. Assim o experimentavam os judeus, desde tempos imemoriais, e assim o anunciaram os Apóstolos. Num dos inúmeros episódios de conversões que acompanharam, Paulo e Silas tiveram este belo diálogo:

 

"«Que devo fazer para ser salvo?» Paulo e Silas responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua família.»"

(At 16, 30-31)

 

Quantas vezes, numa família, apenas um ou dois dos seus elementos acreditam no Senhor Jesus? Tantas... A Palavra de Deus enche-nos de alegria: pela porta dos que crêem passará, um dia, toda a família; e a visita de Deus a uma casa é como a luz do Sol a entrar por uma janela aberta, iluminando todos os que nela habitam... Ámen. Aleluia!

 

P.S. - Porque não vêm ao Retiro de Neiva? Será uma oportunidade para abrir a porta da vossa casa ao Senhor Jesus. E mesmo que não venha a família completa, todos receberão a visita! Na coluna direita deste blogue têm o link para o post sobre o retiro, através do qual se podem inscrever.

 

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publicado às 06:20

Crismado

por Teresa Power, em 01.05.15

O Domingo do Bom Pastor foi, na nossa família, um domingo muito especial: o dia do Crisma do Francisco, o primogénito!

O dia amanheceu tranquilo. O Francisco estava sereno, como é seu costume. Quando se vestiu a rigor, todo soltámos uma exclamação de espanto. Afinal, não é seu hábito preocupar-se com o vestuário, e raramente o vemos assim:

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Mas este domingo era mesmo um dia muito especial, e o cuidado exterior devia simplesmente refletir toda a beleza interior do seu coração, purificado pelo sacramento da confissão e preparado ao longo de anos de catequese e oração: o Francisco ia ser ungido testemunha de Jesus pelo seu bispo, D. António Moiteiro. Que honra, o sacramento do crisma! Que voto de confiança da parte de Deus, ao ungir-nos suas testemunhas!

 

Eram dezanove os jovens preparados pelo Niall para este grande dia. Entraram no santuário em procissão solene, e tal como os meninos da primeira comunhão no domingo anterior, também eles se mantiveram ao longo da coxia central, ao lado das respetivas famílias.

- Estais dispostos a ser testemunhas de Cristo? - Perguntou o senhor bispo, depois de todos os jovens, um a um, responderem "presente!" à chamada.

- Sim, estamos.

- E nós estaremos cá para ver! - Foi a resposta do senhor bispo, arrancando uma bela gargalhada à assembleia.

Os jovens fizeram o ofertório, as leituras e a oração dos fiéis. Na sua alegria, não esqueceram os migrantes que atravessam o Mediterrâneo todos os dias, os cristãos perseguidos, os sacerdotes desanimados, os jovens do mundo inteiro.

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Ao lado do senhor bispo, o David acolitava. Estava muito feliz, porque era a segunda vez que acolitava ao lado do seu Pastor, e porque ia fazer a sua segunda comunhão. Antes de começar a missa, o David teve este diálogo caricato com a São, também acólita:

- Sabes, São, estou muito contente porque agora já não tenho fome na missa.

- Ai não? E porquê?

- Porque já vou comer a hóstia!

A São escondeu um sorriso:

- Pobre David, passavas assim tanta fome?

- Pois...

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Num momento de grande beleza, os jovens crismandos foram junto do círio pascal acender a sua vela batismal. O sacramento do crisma é precisamente isto: tomar na sua própria mão a Luz recebida em bebé. No dia longínquo do seu batismo, a fé foi-lhes dada de presente, de uma forma totalmente gratuita, sem lhes dar tempo para dela tomar consciência, para a pedir, ou sequer desejar - tal como o dom da vida, que ninguém pede ou deseja, mas simplesmente acolhe. O batismo é o parto que nos lança na grande família da Igreja de Cristo.

Mas o crisma é diferente: o crisma é o assumir deste dom, o reafirmar do batismo, agora em plena consciência e adultez.

A vela do Francisco está minúscula, pois costumamos acendê-la em casa, durante a oração familiar, duas a três vezes por ano - e dezasseis anos representam muita cera!

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Por fim, chegou o tão aguardado momento. Enquanto invocávamos o Espírito, cantávamos sem cessar: "Vem, Espírito de verdade! Vem, Espírito de Santidade! Vem, Espírito de Caridade! Vem, nós Te esperamos!"

Um a um, com os padrinhos a seu lado, os jovens aproximaram-se do senhor bispo, que ungiu a sua testa com óleo, marcando-os com o selo do Espírito. Depois, ao ouvido de cada um e com um carinho verdadeiramente paternal, desafiou-os à santidade.

- Segue o exemplo de S. Francisco de Assis - Sussurrou o senhor bispo ao Francisco. - E deixa-te inspirar pelo nosso Papa Francisco!

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Antes da Eucaristia terminar, os jovens crismados leram uma simpática e comovente mensagem de agradecimento ao Niall, seu catequista desde que chegámos a Mogofores, tinham eles nove ou dez anos. O Niall contemplava o seu grupo com serena alegria, enquanto na sua mente já surgiam planos para os conduzir ainda mais além como grupo de jovens...

Estávamos todos felizes, com os olhos a brilhar. Os nossos "meninos" eram agora adultos na fé.

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Um último presente: um crucifixo e uma pagela com uma oração, que o Niall escolhera com cuidado para lhes oferecer:

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Na sua homilia, o senhor bispo desafiou os jovens a colocar os seus pés nas pegadas de Jesus, seguindo o seu caminho sem se desviar. Enquanto o Niall entregava a cada crismado a cruz e a pagela, cantámos o cântico que escrevi há alguns anos e que as Famílias de Caná e a nossa paróquia tanto gostam de cantar, pedindo a Jesus que nos ajude a nunca retirar os nossos pés das suas pegadas.

(Se quiserem cantar connosco, vão à tag "cânticos", e encontrarão um vídeo caseiro com este nosso cântico).

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"Põe teus pés nas minhas pegadas e acerta o teu passo comigo

Elas estão de sangue manchadas, mas meu passo é alegre e decidido!

          Nós, Jesus, Tu e eu! Juntos na Cruz, juntos no céu! (2x)

Põe teus pés nas minhas pegadas, não te canses de evangelizar

Elas estão de sangue manchadas, mas por elas a Vida vais encontrar!"

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E agora, é hora de ser testemunha de Jesus, como os Apóstolos depois do Pentecostes:

 

"Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam." (Mc 16, 20)

 

 Que assim seja. Ámen! Aleluia!

 

 

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publicado às 06:20

Super poderes

por Teresa Power, em 01.07.14

Hora de deitar. O David entra na cama silenciosamente e às escuras, como de costume, para não acordar o António, que já está a dormir há meia hora. Dou-lhe um beijo e aconchego-o no lençol.

- Mamã, tenho uma dúvida.

- Diz lá então, David!

- Quando se tem a certeza de que se vai ser padre, começa-se logo a receber os poderes, ou temos de esperar até crescermos?

- O quê? Não percebi.

O David repetiu as mesmas palavras. Hesitei, e decidi responder com uma pergunta:

- Tu tens a certeza de que queres ser padre, é isso?

- Sim, tenho. Achas que já vou receber poderes? Amanhã, por exemplo?

Arrisquei nova pergunta:

- Que poderes?

- O poder de abençoar como Jesus, de transformar o pão e o vinho, de baptizar, esses poderes todos! Quando o senhor padre está na missa faz um milagre, não é? E quando vem cá a casa e tu lhe pedes para ele abençoar um terço, ele também abençoa. Esses poderes!

 

Sorri perante o seu entusiasmo pelo sacerdócio. Para o David, no alto dos seus sete anos, o sacerdote é um herói tão poderoso como o Homem Aranha e os Invizimals, capaz de maravilhas sem igual! Não sei o que Deus reservou para o David - aos sete anos, que sabemos nós? Mas alegro-me com a sua compreensão tão bela do sacerdócio. Ser padre é, na verdade, ser herói. S. Paulo, que no domingo celebrámos, escreveu a um dos sacerdotes que ordenou:

 

"Tu pois, meu filho, sê forte na graça de Cristo Jesus (..) como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em campanha se deixa enredar pelos afazeres da vida, se quer agradar áquele que o alistou." (2Tm 2, 1.4)

 

E depois concluiu:

 

"Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa..." (2Tm 4, 7-8)

 

Que mistério tão grande! Pelo sacramento totalmente gratuito e imerecido da Ordem, Deus caminha connosco, abençoa-nos, santifica-nos, perdoa-nos, acolhe-nos no seu Reino e alimenta-nos todos os dias. Como não havemos de estar gratos?

 

- David, tens de esperar até cresceres antes de receber os poderes. Depois o bispo irá impor as mãos na tua cabeça, e nesse mesmo instante, o Espírito Santo descerá sobre ti e habitará plenamente no teu coração. Ainda és muito pequenino para saberes o que vais ser. Mas se fores padre, nunca te esqueças que o mais importante é amar: amar a Deus nos outros e amar os outros em Deus!

- Eu sei, mamã.

Um dia vou explicar-lhe que o único poder é servir...

 

Senhor, abençoa e guarda no teu amor os sacerdotes que escolheste. Dá-nos muitos e santos sacerdotes! E se for da tua vontade, vem à nossa casa e chama ao teu serviço os que quiseres. Ámen!

 

 

 

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publicado às 07:27

Que desperdício!

por Teresa Power, em 05.03.14

A Clarinha tem andado muito ocupada a costurar aventais, cintos, coroas de flores e outras maravilhas, para que o traje que vai vestir nas Jornadas Culturais do Colégio fique perfeito. Cheia de entusiasmo, procurou pela casa trapos e tecidos esquecidos para cortar, coser e enfeitar. Encontrou muita coisa, mas o avental foi feito especialmente a partir de uma toalha de linho antiga, guardada num armário da garagem.

A Isabel, nossa grande amiga e madrinha da Lúcia, costuma dar uma ajuda (uma grande ajuda...) nestas coisas da costura, pois infelizmente eu não sei fazer nada com uma agulha. Ora bem, quando a Isabel viu o pano que a Clarinha tinha cortado e cosido e voltado a cortar e voltado a coser, levou as mãos à cabeça. E no seu tom brincalhão, mas falando a sério, comentou:

- Que desperdício! Já não existe linho puro assim! Tu nem imaginas a relíquia que tinhas aqui, e agora está transformada num avental para brincar... Que desperdício!

Confesso que fiquei bastante admirada. Para mim, um pano de linho não é muito diferente de um pano de qualquer outro material. Se precisar de repente de um trapo para limpar uma janela ou atar uma ferida a sangrar, não saberei distinguir entre um trapo de qualidade e um trapo sem qualidade. Desculpem-me os entendidos nestas matérias!

Depois da Isabel levar o avental para sua casa e de lhe dar "um jeitinho", cosendo-lhe um magnífico pedaço de tecido colorido e um bordado para rematar, o avental da Clarinha ficou assim:

 

 

Mas eu fiquei a pensar...

Quantas vezes desperdiço o dom de Deus?

Recebi o baptismo em bebé, que fez de mim filha do Rei do Universo, e portanto, Princesa do Reino de Deus. Comporto-me como filha de quem sou? Sou fiel às minhas promessas?

Quantas vezes comungo, ao domingo na missa, para logo me esquecer de Quem recebi no meu coração, não Lhe dedicando nem um minuto de atenção?

Quantas vezes desperdiço o tempo que Deus me oferece, sentada em frente do televisor ou entregando-me a futilidades?

Quantas vezes desperdiço as ocasiões que Deus me dá para ser melhor, para ser feliz, para ser santa?

Quantas vezes desperdiço os talentos que o Senhor me confiou?

 

A minha vida é um pano de linho do mais puro e do mais caro. Afinal, a minha salvação custou todo o sangue de Jesus! S. Pedro lembra-nos na sua carta:

 

"Não fostes resgatados da vossa conduta fútil por meio de bens perecíveis como a prata e o ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo." (1Pe 1, 18-19).

 

Fomos comprados por um alto preço! E no entanto, como aquele pano de linho antigo, às vezes deixamo-nos transformar em trapos...

 

A quaresma, que hoje começa, parece-me a mim ser o tempo ideal para recuperar a nossa beleza e a nossa glória, vivendo à altura do sonho de Deus!

 

 

 

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publicado às 08:11

A missa dos bebés

por Teresa Power, em 15.01.14

Neste post, descrevi um pouco aquilo que se passa na missa quando arriscamos levar os nossos filhos mais pequeninos. No dia seguinte de manhã, uma mãe comentou comigo, à porta do infantário:

"Ao ler o post lembrei-me do que acontece connosco todos os domingos. Às vezes fico tão envergonhada de andar pela igreja quase a correr atrás dele!"

No comentário ao post, a Helena também dizia:

"É tão especial para mim quando o meu filho, ao colo, encosta a sua orelha à minha boca para me ouvir cantar e começa a abanar numa espécie de dança, como se soubesse que aquelas canções são diferentes.. .são orações ao nosso criador!"

 

Mas o mais engraçado foi que, no mesmo dia em que eu escrevi sobre esta nossa "aventura" das manhãs de domingo, o Papa Francisco baptizava 32 crianças na Capela Sistina. E para que ninguém se sentisse intimidado pela solenidade do momento, tratou logo de dizer:

 

"Hoje o coro canta, mas o coro mais belo é o das crianças. Algumas delas quererão chorar porque têm fome ou porque não estão confortáveis. Estejam à vontade, mamãs: se elas tiverem fome, dêem-lhes de mamar, porque elas são as pessoas mais importantes aqui."

 

Recordo-me das palavras do salmista:

 

"Da boca das crianças e dos meninos de peito

fizestes sair o louvor mais perfeito" (Sl 8, 3)

 

Na missa, ao colo do pai, a Sara vai batendo palmas enquanto o coro canta. E agora sabemos que na Capela Sistina pode-se chorar, rir e até mamar! São esses os três primeiros passos a caminho da adoração perfeita. Pouco a pouco, crescendo na igreja como em casa, estes mesmos bebés irão aprender a rezar, a fazer silêncio, a ajoelhar-se no momento da consagração. E depois de saciados com o leite das suas mães, irão conhecer o Pão que sacia de Vida eterna.

 

O Papa vem pedir-nos, recordando as palavras de Jesus, que não afastemos os bebés da Igreja. É preciso ter pressa em baptizar os filhos, é preciso ter pressa em levá-los à missa, é preciso ter pressa em levar as crianças pequeninas ao sacramento do perdão. Cada sacramento é um encontro pessoalíssimo com Jesus, em festa e alegria. E os nossos filhos precisam de se encontrar pessoalmente com Jesus antes de se encontrarem com quem quer que seja nas suas vidas!

 

No Natal de 2011, ainda a Sara não existia senão no pensamento de Deus, fizémos na paróquia um pequeno vídeo-testemunho que aqui partilho. Levar os filhos a Jesus e levar Jesus aos filhos é a tarefa mais nobre de uma família cristã.

 

 

 

 

 

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publicado às 08:52



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