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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hoje à noite é tempo de confissões na nossa paróquia. Depois de jantar, lá iremos à igreja, à vez para que os pequeninos não fiquem sozinhos, o pai, a mãe, o Francisco, a Clarinha e o David. Depois de nos confessarmos, poderemos respirar fundo: tudo estará a postos para o Natal acontecer!
O Papa Francisco falou recentemente (25 de outubro de 2013) da necessidade da confissão individual dos pecados. Não somos católicos se não recebemos o sacramento do perdão através de um sacerdote, nosso irmão. Disse o Papa:
"Confessar diretamente a Deus, como se diz por aí, é como confessar por e-mail, não há um olhos nos olhos, um face a face. Confessar os nossos pecados é dizer ao Senhor: "Sou pecador", mas dizê-lo através do irmão, para que seja concreto."
E acrescentou:
"Quando as crianças vêm confessar-se nunca dizem coisas genéricas. São concretas. Têm a simplicidade da verdade."
Olhando para o pequeno David, percebi o que o Santo Padre quis dizer. Foi no ano passado, tinha o David seis anos. Eu tinha-lhe prometido que, aos seis anos, o levaria à confissão. O David andava entusiasmadíssimo com a ideia. Perguntei-lhe se se lembrava das suas asneiras e se estava preparado para as contar a Jesus. Expliquei-lhe que não iria ver Jesus, mas iria ver o senhor padre, e que o senhor padre representa Jesus para nós. E lá fomos.
Quando chegámos à igreja, o David viu o nosso pároco, que conhece bem, cá fora no átrio. Correu para ele e, depois do costumeiro cumprimento "Dá cá mais cinco!", disse de um fôlego:
-Ontem menti à mamã e bati no António!
O senhor padre sorriu, sem compreender bem aquele desabafo, e continuou a conversar com as pessoas que iam chegando à igreja. Dei-me conta de que me esquecera de alguns pormenores na minha explicação sobre a confissão!
- David, temos de ir ao confessionário, ali na igreja. Entras e ficas a sós com o senhor padre, para ele te ouvir melhor, como Jesus te quer também ouvir. Jesus gosta de estar a sós com cada um. Depois é que contas os teus pecados, sim?
O David entendeu. Entrou no confessionário e, ao sair, trazia um sorriso rasgado no rosto. Agora já era crescido! Tivera a coragem de assumir as suas culpas, tivera a humildade de as contar a um irmão, e escutara as palavras da salvação: "Vai em paz, estás perdoado!" À noite, durante a oração familiar, o David agradeceu:
- Obrigado, Jesus, porque fui confessar-me como os crescidos. Agora tenho o coração limpinho!
E eu agradeci silenciosamente: obrigado, Jesus, porque me ensinaste como deve ser a minha confissão. Como o David, devo ter pressa e entusiasmo em ir ter conTigo. Como o David, nada de ideias vagas, nada de pecados genéricos!
Para podermos confessar-nos assim, com a simplicidade das crianças, precisamos de o fazer muito frequentemente, ou corremos o risco de nos esquecermos dos nossos pecados. O Santo Padre confessa-se todos os quinze dias. Nós, embora muito mais pecadores, confessamo-nos uma vez por mês. Hoje é dia de confissão!
Nas suas homilias matinais, o Papa Francisco tem falado muito na mundanidade dos cristãos. Em várias ocasiões, o Papa referiu com tristeza que os cristãos aprenderam a fazer alianças com o mundo, cedendo aos seus costumes e procurando servir a dois senhores ao mesmo tempo. Disse o Papa:
"O espírito do mundo é o inimigo de Jesus" (4 de outubro de 2013)
À medida que o Natal se aproxima, cresce a mundanidade. As lojas estão cada vez mais movimentadas, nos centros comerciais faz-se fila para visitar a casa do Pai Natal, as tags do momento são "descontos", "compras", "prendas".
Onde está o Natal de Jesus? Andaremos, como os magos, às voltas nos palácios de Jerusalém, perdendo o tempo precioso que nos separa do Presépio? Quem é que afinal faz anos - Jesus ou nós? Como se pode rezar e adorar o Menino do presépio no meio de tanto barulho e tanta agitação?
Como pais cristãos, procuramos encontrar as respostas certas a estas perguntas, para educarmos os nossos filhos no verdadeiro sentido do Natal. Assim, durante o mês de dezembro, as crianças não vão connosco às compras (algo que aliás fazem muito raramente). Não queremos que percam o tempo de preparação para o Natal a sonhar com presentes que nunca vão ter. E na manhã de dia 25, esforçamo-nos por trocar prendas simples, diferentes da "prenda grande" do seu aniversário. Queremos que acordem antes do nosso galo cantar (e acreditem que isso é mesmo muito cedo!) e corram para a sala a rebentar de impaciência, queremos que rasguem papel de embrulho por todo o lado, queremos que saltem de alegria, mas não queremos que desviem o olhar do Menino pobre da gruta de Belém.
- Sabes qual é o menino mais importante do mundo, mamã? - Perguntou-me há dias o António.
- És tu? - Pensei ser a resposta adequada...
- Então tu não sabes? É o Menino Jesus! - respondeu ele, muito depressa.
Por detrás da nossa casa há um terreno baldio, cheio de silvas, canas, paus, pedras, montes de terra, árvores e lixo. Portanto, um terreno perfeito para brincar. Todos os nossos filhos adoram passar as tardes de sábado e domingo ou os longos dias de férias a "explorar" por ali, e chegam ao fim do dia sujos, mal cheirosos, exaustos - e felizes.
Foi numa dessas tardes animadas que, há uns anos atrás, dei com o jipe da PSP a subir e descer a minha rua, vezes sem conta. Aproximei-me do portão do jardim para perceber o que se passava. O jipe parou então à minha porta e o agente perguntou-me:
- Minha senhora, parece-nos que andam ciganos a tentar acampar atrás da sua casa. Se tiver algum problema com eles, contacte-nos.
Dei uma sonora gargalhada e respondi:
- Tem toda a razão, senhor guarda, há um bando de ciganitos a montar acampamento aí atrás. Mas não se preocupe, que à noite vêm todos dormir cá a casa!
Os agentes da PSP sorriram, pediram desculpa pela confusão e foram embora mais descansados. E eu decidi fazer uma visita guiada ao "acampamento" dos meus filhos para tirar dúvidas. Comecei por conhecer a "oficina":
E depois caminhei em direcção ao "castelo", guiada pela bandeira...
No "castelo" dei com este trono:
Percorri também passagens secretas...
... e escadarias misteriosas:
Falei ao telefone com alguns dos cavaleiros mais afastados:
Acreditem que funcionou!!!
Por fim, encontrei os meus "ciganitos" todos juntos, gritando em coro:
- Um por todos, e todos por Náturia!
_Náturia? Que nome é esse? - Perguntei.
_ Não te lembras das Crónicas de Nárnia, que o pai nos lê todas as noites? Então...
Os agentes da PSP tinham razão. Que será que os nossos vizinhos pensam deste bando de crianças a brincar na rua? Não deviam antes estar seguras dentro de casa, diante do televisor ou do computador, vivendo aventuras virtuais para não partirem nenhuma perna nem serem raptadas? Ou então estar ocupadas com mil e uma atividades extra-curriculares?...
O "Rei de Náturia" cresceu. Tem quinze anos. Continua a brincar no terreno baldio, onde gosta de praticar tiro ao alvo e fazer experiências científicas, explorando princípios de engenharia. Os seus amigos perguntam-lhe às vezes se não sente falta de jogos de computadores, visto que nunca tivémos consolas ou playstations. O Francisco responde-lhes com a sua autoridade natural:
- Vocês e eu brincamos da mesma maneira. A única diferença é que as vossas aventuras são virtuais, e as minhas são reais. E não as trocava por nada deste mundo.
Náturia tem agora um novo rei. É o David. Ora vejam:
A foto, não se preocupem, é tirada a partir do meu jardim. O Reino de Náturia está sob vigilância contínua de adultos. E por isso, até os mais pequenos lá podem brincar:
De vez em quando, aos fins-de-semana, os mais pequenos pedem para ver televisão. E fazem-no durante cerca de meia hora. Depois retomam as suas brincadeiras. Os mais velhos já são capazes de decidir o que vale ou não a pena ver, e têm as suas preferências. Gostam do National Geographic e de tudo o que tenha a ver com natureza, desporto e, no caso do Francisco, engenharia e ciência. Não vêem novelas nem concursos, e muito menos programas tipo Big Brother. Não desejam vê-los, nem teriam permissão para tal. De vez em quando, vemos filmes em família, depois de deitarmos os mais novos.
Como educadores, temos a obrigação de manter o controlo-remoto do televisor na nossa mão. E não é porque "todos fazem" e "todos vêem" que nós temos de fazer ou de ver. Jesus nunca nos pediu para nos compararmos com o mundo. Ele quer que nós nos comparemos com Deus:
"Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos céus é perfeito" (Mt 5, 48)
Brincar numa qualquer "Náturia" no meio do campo ou em plena cidade é tão vital para o crescimento de uma criança como respirar. Se as deixarmos sozinhas num pedaço de natureza, sem horários, sem atividades desenhadas por nós, sem necessidade de apresentar resultados, sem necessidade de competir, sem televisores a pensar por elas, iremos ficar fascinados com os mundos imaginários que elas são capazes de construir. Elas têm direito a esfolar os joelhos e a serem confundidas com pequenos ciganos traquinas...
Nos dias quentes de verão, os meninos adoram uma pequena brincadeira refrescante: de fatos-de-banho vestidos, correm pela relva fora enquanto ligamos os aspersores de rega. À falta da piscina, esta é a melhor maneira de baixar a temperatura corporal quando se quer estar no jardim mas o sol não deixa.
Pois bem, ontem, 16 de dezembro, o António decidiu fazer uma birra daquelas bem fortes. E sabem qual foi o conteúdo da birra?
- Quero tomar banho na rega! QUERO TOMAR BANHO NA REGA AGORA! QUERO TOMAR BAAAAANHO NA REEEEEGA AGOOOOOORA!
Ao fim de um tempo a ouvir isto, senti vontade de o atirar para o meio da relva e ligar o aspersor... Mas fiquei-me apenas por uma boa gargalhada, que o assustou e acalmou de uma vez. Depois conversei com ele:
- António, vamos esperar um bocadinho e ver se ficam 30 graus lá fora em vez de apenas 3. Se ficarem, deixo-te tomar banho na rega, combinado?
Para meu alívio, o António aceitou.
Fiquei a pensar na birra do meu filho de três anos, e quão ridícula me pareceu. Depois imaginei o sorriso de Deus perante as minhas birras, que afinal não são assim tão diferentes das de uma criança. Quantas vezes eu quero agora o que Deus só me quer dar amanhã? Felizmente para mim, Deus tem o bom senso de não me "atirar para a relva" quando eu lho peço. Queixo-me de que Ele não escuta a minha oração... Ah!
Faz hoje nove anos que nasceste. Foste o mais belo presente de natal que recebemos, o teu pai e eu. Deitado nos meus braços, abriste os teus olhos azuis, brilhantes como dois faróis, e eu fiquei ali, contente apenas por te poder contemplar.
Porque nasceste no Natal, juntámos ao teu nome a palavra Emanuel, "Deus Connosco", como Isaías profetizara sobre Jesus tantos séculos antes do seu nascimento:
"Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho chamado Emanuel." (Is 8, 8-10)
Estávamos, nesse dia feliz, longe de imaginar que o teu nome, tal como o nome de Jesus, era também uma profecia. Na verdade, aos dezassete meses tu deixaste a Terra e entraste no Céu. E porque estás no Céu, mas continuas a ser um de nós, então toda a nossa família já tem um pé no Céu enquanto ainda vive sobre a Terra. Por ti, nós estamos em Deus e Deus está connosco.
Disseram-me para pensar em ti como uma pequena estrela a brilhar no firmamento. Nunca o consegui fazer. As estrelas estão tão longe, e tu estás tão perto! Prefiro imaginar-te aqui, ao meu lado, espreitando esta carta que te escrevo e guardando os meus passos e os dos teus irmãos, como um anjo da guarda. Estás mais perto de mim que qualquer outro dos teus irmãos, e certamente bem mais perto que qualquer estrela. Que nos separa então? Estamos no mesmo quarto e vivemos lado a lado, mas tu estás no Céu, e eu na Terra; tu caminhas ao sol, e eu caminho na sombra; tu só conheces a alegria, e eu conheço também a dor e a saudade.
Faz hoje nove anos que nasceste. Parabéns, Tomás Emanuel! E como todas as manhãs e todas as noites pedimos em coro, também agora te peço:
Tomás, reza por nós!
Hoje foi um dia de grande animação. Os meninos passaram muito tempo no galinheiro, especialmente o António, que nunca perde uma oportunidade para ajudar o pai:
A cena mais repetida foi esta:
Que há de tão atrativo dentro do galinheiro? Oram vejam:
Há poucas coisas mais ternurentas na natureza do que assistir em direto ao nascimento de um animal. Cá em casa, já vimos nascer duas ninhadas de cães e muitas de pintaínhos. A emoção é sempre grande! Quando os primeiros ovos começam a eclodir, as galinhas ficam muito quietas, procurando aquecer com o seu corpo os recém-nascidos. Às vezes ajudam-nos a sair do ovo, utilizando os seus bicos de mãe para escavar um buraquinho um pouco maior. E depois esperam, até os pintaínhos ganharem coragem para sair debaixo das suas penas quentes. O momento em que um biquinho muito pequeno espreita por sob as penas bem abertas da galinha é um momento fascinante, que as crianças aguardam impacientes:
E pouco a pouco, os pintaínhos começam a explorar o espaço exterior, sempre sob o olhar atento da mãe, e sem nunca se afastarem dos seus carinhos e do calor das suas penas:
Nas próximas três semanas, a mãe galinha será uma mãe amorosa, capaz de tudo para proteger os seus filhotes, atenta ao menor sinal de perigo, venha ele de um rato ou de uma criança. Observando atentamente a mãe e imitando tudo o que ela faz, os pintainhos aprenderão a distinguir os melhores grãos para se alimentarem, aprenderão a escavar, a apanhar minhocas e a correr para as migalhas de pão que lhes deitamos depois de todas as refeições. Afinal, como também as crianças fazem, aprendendo junto dos adultos que as amam, repetindo os seus gestos mais do que as suas palavras e correndo a refugiar-se no seu colo quando se sentem ameaçadas.
Um dos mais belos salmos da Bíblia diz-nos:
"Deus te cobrirá com as suas penas. Debaixo das suas asas encontrarás refúgio." (Sl 91/90, 4)
S. Lucas diz-nos que, um dia, Jesus chorou sobre Jerusalém (cf. Lc 19, 41). E S. Mateus traduziu assim as suas lágrimas:
"Jerusalém! Jerusalém! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mt 23, 37)
Eu sou uma "mãe-galinha", mas Deus é-o muito mais! Sim, Deus é Pai e é Mãe, e como a galinha, tudo o que mais deseja é guardar os seus pintaínhos sob as suas asas, ajudando-os a crescer e defendendo-os dos perigos. Mas é preciso que nós queiramos ser estes pintaínhos dóceis, totalmente entregues ao seu cuidado amoroso... Se assim o fizermos, debaixo das suas asas encontraremos sempre, sempre refúgio!
Hoje a manhã foi caótica cá em casa. O António queria brincar e não queria vestir-se, insistindo com aquele "espera" enervante que todos os pais conhecem, e acabou por levar uma palmada. O David emprestou um brinquedo ao António e depois chorou porque o brinquedo apareceu debaixo do sofá e partido aos bocadinhos. A Lúcia queria por força levar para a escola um daqueles brinquedos pequeninos e perigosos que as educadoras pedem por favor para não os deixarmos levar. A Sara chorou o tempo todo a comer a papa, sabe-se lá porquê. Os mais velhos voltaram a gritar que não era justo as nossas gavetas não terem chaves, pois nunca conseguem esconder os seus objectos pessoais suficientemente longe do alcance dos irmãos. Eu só queria chegar a tempo à escola, e por isso gritei mais do que desejava.
No carro a caminho do colégio ainda estávamos enervados. Acalmar levou algum tempo, e o trânsito não ajudou. Por fim, respirei fundo e iniciei a oração da manhã:
"Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".
Rezámos como costume a nossa consagração a Nossa Senhora, um Pai-Nosso, uma Avé-Maria e um Glória. Depois invocámos os santos padroeiros de cada um dos membros da família, à vez. É sempre um momento muito animado, que eles adoram:
- Mãe Sara ("mãe", porque Sara foi mulher de Abraão, o pai dos crentes), rogai por nós! - Como a Sara ainda não fala, sou eu quem invoco a sua padroeira.
- Santo António, rogai por nós!
- Irmã Lúcia, rogai por nós! (Em breve esperamos dizer Santa Lúcia, quando a pastorinha de Fátima for elevada à gloria dos altares)
- Rei David, rogai por nós! (O David tem muito orgulho em ter um rei por padroeiro, e invoca-o sempre com ar solene)
- Santa Clara, rogai por nós!
- S. Francisco, rogai por nós!
- Santa Teresinha do Menino Jesus, rogai por nós!
- S. Estêvão, rogai por nós!
E por fim, em conjunto, mais a gritar do que a rezar:
- Todos os santos e santas de Deus, rogai por nós!
Terminamos a oração invocando sempre o nosso querido Tomás, que está no céu bem junto do coração de Deus e que intercede por nós a todo o momento, como acreditamos:
- Tomás, reza por nós!
Quando acabámos de rezar, já estávamos de novo em paz. Alguém propôs um cântico. Ainda estávamos a cantar quando chegámos ao colégio.
Respirei de alívio. Há dias em que é preciso ter mesmo muita fé em Deus para se ser cristão. Dias em que é preciso acreditar que o Senhor nos ama e nos aceita com as nossas fraquezas, valorizando muito mais os nossos esforços do que as nossas falhas. Afinal, como nós fazemos com os nossos filhos. Pois quando saíram do carro, dei um beijo a cada um, fiz-lhes o sinal da cruz na testa e já não conseguia lembrar-me exatamente do que me tinha feito zangar tanto com eles...
Escrito pelo pai...
Lúcia (5 anos) “Ó pai, eu sou do Sporting, do Benfica ou do Porto?” Ela queria mesmo saber qual o seu clube e veio ter comigo para lho dizer.
A identidade da criança constrói-se à volta das crenças, dos valores e das atitudes das pessoas mais íntimas e próximas. É claro que chega uma certa idade, normalmente a adolescência, em que a criança, já um pequeno adulto, começa a ganhar a capacidade de interpretar o mundo, organizando os valores, crenças e atitudes aprendidos em família ou em comunidade, descartando alguns, descobrindo outros e criando assim uma personalidade única, irrepetível e intocável. Mas isso não é aos cinco anos.
Os católicos fazem questão em batizar os seus filhos ainda em bebé. Não o fazer, isto é, deixar a criança crescer para que ela um dia possa decidir sobre a sua fé, tal como manda a nova moda, é privar a criança não só dum ambiente familiar e comunitário que nutra a semente da fé, mas também de um dom que o seu verdadeiro Pai deseja muito dar.
Ao receber o batismo, Deus está a ligar secretamente, dentro do coração de cada ser humano, o GPS que indica o caminho para a sua casa. Se uma criança se identifica com o caminho certo, encontrará a felicidade interior com a maior das facilidades, pois Jesus Cristo não esconde o caminho a quem o procure genuinamente.
Assim, não hesitei em esclarecer a Lúcia. “Filha, então não sabes que tu és do...
O Livro de Isaías é um dos mais belos livros da literatura universal. No Advento, a liturgia diária recolhe muitas passagens deste livro cheio de esperança e alegria. Hoje lemos uma delas:
"Quem criou as estrelas? Aquele que as conta e as faz marchar como um exército e as chama a todas pelos seus nomes. Tal é a sua força e tão grande é o seu poder, que nenhuma falta à chamada." (Is 40, 26)
O David interrompeu a leitura:
- Ena pá! Isso é bué de fixe! Deus conhece as estrelas todas todas?
- Sim, todas. E são mais que milhões!
- E sabe o seu nome? E faz a chamada todos os dias?
- Imagina tu, faz a chamada todos os dias e elas respondem! Pois se foi Ele quem as criou!
O Francisco chegou a casa com o pai nessa altura. Vinham do hospital, onde tinham ido para o Francisco tirar a tala do dedo da mão direita, que traz há um mês. Partiu um dedo a jogar volley, imagine-se, ele que salta a cavalo e anda de bicicleta na estrada nacional... Vinha desanimado: o ortopedista que o viu decretou mais quinze dias com tala! As férias a começar, e o Francisco sem poder praticar os desportos que adora, sem poder escrever, sem poder fazer magia (terá de cancelar dois espectáculos!) Claro que há coisas muito piores. Ele sabe-o bem, pois perdeu um irmão bebé quando tinha seis anos. E por isso, o Francisco nunca se queixou, desde o primeiro momento. Com o seu costumeiro bom humor, nunca levou muito a sério o seu incómodo. Mas hoje está desanimado. Tantos planos para férias!
Talvez seja preciso sentar-se por uns momentos diante do presépio e ler sozinho as leituras de hoje. E que diz o Senhor nos versículos seguintes do Livro de Isaías?
"Até os adolescentes se cansam e se fadigam e os jovens tropeçam e vacilam. Mas aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer." (Is 40, 30-31)
O Francisco recuperou o seu sorriso:
- Isto é para mim!
- Claro que sim. Hoje és um adolescente cansado... Mas também uma estrela de Deus... E tens de responder à chamada!
É preciso aprender a entregar ao Senhor todos os nossos problemas, os pequenos e os grandes. E de repente, nos braços de Deus descobrimos que temos asas e podemos voar...
Ontem à tarde, ao ajudar o David nos trabalhos de casa de Língua Portuguesa, deixei escapar um grito de indignação que há muito ando a abafar e que agora aqui partilho também: será que o Natal deixou de ser a celebração do nascimento de Jesus, festejada pelos cristãos do mundo inteiro, para ser uma festa branqueada e politicamente correcta, sem conteúdo histórico ou religioso, salpicada de palavras mais ou menos vagas como solidariedade, amizade e partilha?
O livro de Língua Portuguesa do meu filho de sete anos apresenta textos de escritores portugueses contemporâneos. Neles fala-se do Pai-Natal, de feiticeiros, de bruxas, de duendes e de castelos na neve. No livro do ano passado, por esta mesma altura falava-se de extra-terrestres. Em nenhum deles há uma única (única!) referência ao nome de Jesus, à religião cristã ou à Igreja. Folheei avidamente o manual, procurando encontrar os belíssimos poemas de Natal que marcaram a minha infância e juventude e escritos por grandes autores portugueses e estrangeiros. Nem um. Apeteceu-me deitar o livro fora.
Caramba! De que é que os autores dos manuais têm medo? De ofender os que não partilham a fé cristã? E por que razão os ofenderiam? A tolerância não é um branqueamento da História, da origem das tradições ou dos conteúdos religiosos dos diversos credos. Aliás, só pode haver tolerância quando se conhece a fé do outro. É significativo que este branqueamento das festividades religiosas só aconteça em relação à fé cristã, pois em relação às festividades das outras religiões há sempre o cuidado em contextualizar tudo muito bem.
Será que o Menino nascido em Belém, deitado numa manjedoura e aquecido pelo bafo dos animais tem um ar ameaçador?
Herodes achou que sim. Enfurecido, perseguiu todos os recém-nascidos de Belém, na esperança de matar Jesus. O seu medo diante dum recém-nascido parece-nos patético. No entanto, não podia ser mais actual.
Cá em casa, o Natal continua a ser o grande aniversário de Jesus. Para não andarmos distraídos, somos bastante parcos em decorações natalícias. O Menino de Belém merece o primeiro lugar, hoje e sempre, na nossa vida e na nossa casa.