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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hoje a Sara faz dois anos! Quando lerem este post, estaremos certamente a caminho de Almada, para o retiro Famílias de Caná. A Sara irá a dormir no carro, esperamos nós, e quando acordar terá direito, no carro, a um pequeno-almoço VIP, com croissants, bolos e sumo, ou não fosse ela a aniversariante! Esperamos ainda que não se suje demasiado, para chegar bonita ao retiro! E, claro, esperamos que não se canse de estar três horas no carro! Tantos desejos, e ainda só são cinco horas da manhã...
A Sara nasceu num instante. E num instante, cresceu... Recordo a emoção do seu nascimento, mas recordo sobretudo a alegria e a emoção dos irmãos. Quando cheguei a casa com a Sara na alcofa, toda enroscadinha, de olhos fechados, o António perguntou-me muito admirado:
- Como é que a Sara vai fazer hoje à noite para rezar?
- Como assim, António?
- Acho que ela ainda não sabe falar...
Mais tarde, o Francisco pediu para a ter ao colo. E quando eu lha dei, um sorriso cheio de emoção atravessou-lhe o rosto e o olhar. Foi quando eu me dei conta de que também o Francisco crescera... A Sara não era para ele mais uma mana a entrar em casa, como tinham sido o David, a Lúcia ou o António. Pela primeira vez, o Francisco contemplava um bebé com olhar adulto, emocionando-se diante da sua inocência.
A Sara nasceu numa casa cheia de gente, e talvez por isso, só está bem em clima de festa e de multidão. A Sara acha que, no mundo, há sempre alguém com quem brincar, alguém que lhe faça cócegas ou a leve às cavalitas, alguém que lhe passe uma bola ou ofereça uma bolacha. Se um irmão não está em casa, a Sara procura-o insistentemente por todo o lado, para depois fazer um gesto triste: "Não há!"
A Sara quase nunca chora. A Sara tem um sorriso lindo e uma gargalhada contagiante. A Sara é o meu bebé.
"O Senhor te abençoe e te guarde!
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua Face e te seja favorável!
O Senhor volte para ti o seu Rosto e te dê a paz!"
(Nm 6, 25-26)
Parabéns, querida Sara!
Aula de Inglês do nono ano. Turma irrequieta, mas simpática. Inicio com eles uma conversa em Inglês.
- Ora bem, vamos lá contar uns aos outros como foram as férias. Quem quer começar?
- Eu não fiz nada.
- Nada? Como nada? Se calhar viste televisão...
- Claro, mas isso não conta.
- Ai não? Conta, pois! Melhor que nada. Vamos, vem escrever no quadro. Muito bem...
- E tu, João? Foste à praia?
- Sim, fui a Mira.
- Fantástico. Vens escrever essa frase no quadro também? Boa! Maria, praticaste algum desporto?
- Só andei de bicicleta.
- Vem então também registar. Muito bem! Vamos ver quem se lembra de mais vocabulário de férias. Cinema, alguém foi?
- Eu!
- Eu!
- E concertos? Vamos registar também viagens, visita aos amigos...
- Conversas de Facebook, professora!
- Sim, tudo isso... Outras coisas. Acampamentos, alguém acampou?
- Eu. Com os escuteiros.
- Boa! Sabes dizer "escuteiros" em Inglês? Então vem registar...
. Eu também acampei na praia!
- Sim, já registámos isso... E missa? Quem foi à missa nas férias?
- Missa??????? Ó professora, nós não vamos à missa! Que coisa tão estranha!
- Ninguém vai à missa, professora! Isso é para velhos!
- Isso era antigamente!
- Que piada! A professora está a gozar, não está?
- Acha mesmo que temos cara de ir à missa?
- Já somos crescidos!
- Já nem sequer andamos na catequese, professora!
-????????
- OK, então esta frase é para mim. Eu registo-a no quadro, porque eu e a minha família fomos todos os domingos à missa. Registem por favor nos vossos cadernos! Quem sabe se um dia precisam da palavra...
(A missa em lego, feita pelo David)
(A missa em lego, feita pela Lúcia. Os dois tiveram a ideia de fazer uma igreja em Lego inspirados no blogue da Bruxa Mimi, e rechearam-na de toda a actividade que experimentam na nossa igreja...)
"Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos. Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério." (2Tm 4, 3-5)
- Mãe, o livro de Matemática afinal não dá. O título é igual, os autores são iguais, a capa é igual, mas o do ano passado que me emprestaram já não está actualizado. É qualquer coisa sobre as metas.
- ???????
- Mãe, a afiadeira não presta. A Mariana diz que está farta de me emprestar a dela. Tens de me comprar uma.
- Procura bem nas gavetas, Lúcia, deve haver aí alguma!
- Mãe, as minhas sapatilhas estão rotas. A sério! Rotas mesmo. Não posso fazer Educação Física com elas.
- Mas comprei-tas antes das férias, Francisco!
- Mas já estão rotas. Será que o pai pode ir à Decathlon amanhã comprar aquelas que eu gosto, as mais económicas? Eu gosto mesmo das mais baratas...
- E o livro de Matemática?
- Vou agora mesmo encomendar. Liga o computador, vou encomendar online.
- Telefona ao pai, pede-lhe para passar na Decathlon então.
- Eu preciso de saber o que é Portugal. A Tucha diz que eu tenho de perguntar aos pais porque eu não sabia o que era Portugal. Mamã, o que é Portugal?
- Portugal, António? Bem, Portugal...
- Mamã, a Irmã de Moral diz que tenho de apagar o livro todo. Já está todo pintado! Era do David, não era?
- ...
- Mamã, a Sara fez outra vez chichi no chão!
- Agora não!!!!!! Quem me ajuda a mudá-la? Vais lá, Francisco?
- Posso mandar um mail ao professor? Afinal preciso que me envie um scanner das primeiras páginas do livro de Matemática.
- Mãe, acho que tens mais inscrições no retiro. Ora vem aqui ao computador! Parece-me que sim...
- Mamã, os gatos atiraram com a roupa que acabaste de passar. Eu já apanhei alguma, mas está tudo enrodilhado!
- Não mexas! Por favor, Lúcia, não mexas mais. Ponham-me esses gatos na rua depressa!
- Fogo!!!! Fogo!!!! Mamã, há fogo na cozinha!!!!
É o David aos gritos. Corro para a cozinha. A panela vertera um bocadinho e o lume subira também um bocadinho, o suficiente para causar o pânico no David. Suspiro de alívio. Levo as mãos à cabeça.
Então faço aquilo que costumo fazer quando entro em grande stress: começo a falar em voz bem alta com o Senhor, suplicando-lhe que venha em meu auxílio.
"Invocai o Senhor enquanto está perto!" (Is 55, 6)
- Estás a falar sozinha, mãe?
- Não. Estou a falar com Jesus.
- Ah!
A Lúcia começou o primeiro ano. Que orgulhosa ela estava, na fila com os seus companheiros, já todos amigos de longa data, isto é, desde o seu primeiro ano de vida!
Na sala de aula, a Lúcia sentou-se e ficou muito compenetrada a escutar a sua querida professora. Sim, porque a Lúcia gostou da professora antes mesmo de a conhecer, através das palavras reconfortantes do Francisco:
- Lúcia, a professora Rosário foi a minha professora. Vais ver como ela é "fixe"!
E a Lúcia aceitou isto como um dado adquirido.
Às cinco horas da tarde fui buscar os meus seis filhos. Uma das muitas vantagens em tê-los no Colégio Nossa Senhora da Assunção (uma escola católica com contracto de associação) é que todos terminam à mesma hora, no mesmo lugar. Assim, com uma só viagem entrego-os e recolho-os a todos, que entram para o carro vindos dos diversos blocos de salas quase como que ao toque do apito, estilo Família Van Trapp.
Ao chegar ao Colégio para a "recolha", lembrei-me de repente que não explicara à Lúcia o que devia fazer para passar o cartão electrónico no final das aulas. Nem sequer pedira ao Francisco ou à Clarinha para a ajudarem... Eu sei (porque o David, o Francisco e a Clarinha já passaram por isso) que passar o cartão electrónico à "hora de ponta" pode ser aterrorizador para uma criança de cinco anos: os "grandes" não costumam ter muito respeito pelos pequeninos e atropelam-nos sem compaixão para lhes passarem à frente. Perguntei-me se a professora acompanharia os pequeninos nesse primeiro dia, e concluí que naturalmente o faria.
Estava eu nestas conjunturas, quando os quatro apareceram a correr, para se juntarem à Sara e ao António, que já esperavam dentro do carro.
- Ajudaste a Lúcia com o cartão, Clarinha? - Perguntei.
- Não, mãe, quando fui ter com ela, já ela tinha passado o cartão.
- Lúcia, quem te ajudou?
- O David.
No domingo seguinte, depois da missa, a Carla veio contar-me o que observara naquele primeiro dia de aulas, enquanto também ela esperava pela sua filha mais velha.
- Fiquei com lágrimas nos olhos, Teresa, foi uma cena tão bonita e tão comovente!
E contou-me...
Ao sair da sala de aula, a Lúcia tinha à sua espera o David. Com a segurança possível, o David colocou o braço sobre os ombros da irmã e os dois caminharam abraçados até à portaria. Pelo caminho, e à medida que se aproximavam da confusão, o David protegia a irmã o melhor que conseguia, abraçando-a com força e enxotando os encontrões. Depois, muito carinhoso, pegou na mão da Lúcia, e fez com ela o gesto mágico de passar o cartão. Tarefa cumprida, sempre sem deixar de abraçar a Lúcia, o David conduziu novamente a irmã para longe do reboliço, e a Carla deixou de os ver.
Senti-me orgulhosa do David. Ninguém lhe pedira nada, mas ele tomara sobre si a responsabilidade de ajudar a Lúcia no primeiro dia de escola.
Oferecer um irmão a um filho é oferecer-lhe alguém por quem se responsabilizar, alguém a quem amar, alguém a quem servir; e é também oferecer-lhe alguém que se vai responsabilizar por ele, que o vai amar, que o vai servir.
Todas as crianças do mundo têm direito a este abraço. Nós, cristãos, sabemos que todos somos irmãos, porque todos temos o mesmo Pai. Possam os nossos filhos aprender connosco a ser irmãos do mais frágil, do mais triste, do estrangeiro, do que anda perdido; possam os nossos filhos aprender connosco a dar um abraço ao mais fraco e a conduzi-lo, com segurança, pelos labirintos das relações sociais nos recintos escolares...
"«Qual destes homens foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?», perguntou Jesus. »O que usou de misericórdia para com ele», respondeu o doutor da Lei. «Tens razão. Vai e faz tu também o mesmo.»" (Lc 10, 36-37)
O último dia de férias cá em casa, na quarta-feira passada, foi o caos total: era preciso forrar os últimos livros, comprar os últimos cadernos, apagar os livros reciclados, colocar nomes nos livros novos e alterar os nomes dos livros velhos, afiar lápis de cor, procurar borrachas e afiadeiras, passar a ferro as t-shirts do Colégio, provar as t-shirts do Colégio e descobrir que já não servem...
Finalmente, pelas onze e meia da noite, tinha alinhado à porta de casa sacos com fraldas, toalhitas, cobertores e lençóis, a par com mochilas com lápis de cor e cadernos (sem contar com as mochilas dos mais velhos, que no primeiro dia foram apenas sacolas):
Depois lembrei-me do que o Papa Francisco sugeriu há alguns dias: seria tão bom, os cristãos terem no bolso um livrinho com os quatro Evangelhos, para poderem encontrar-se com Jesus ao longo do dia! Decidimos assim retomar o abrir matinal da nossa Arca do Tesouro, que temos na entrada de casa:
Todos os dias, levaremos connosco um pequeno cartão com uma Palavra da Bíblia. Durante a curta viagem de carro até ao Colégio, partilharemos algumas destas Palavras na nossa oração da manhã. No meio de lanches, mochilas e agasalhos, não nos queremos esquecer daquilo que realmente importa: escutar Jesus para podermos fazer tudo o que Ele nos disser! Foi esse o conselho que Maria deu aos servos nas Bodas de Caná:
"Fazei tudo o que Ele vos disser!" (Jo 2, 5)
Ámen.
As inscrições estão encerradas para o retiro Famílias de Caná a realizar no próximo sábado, em Almada. Na verdade, parece-me que Lisboa e Setúbal são lugares ligeiramente maiores do que a nossa aldeia de Mogofores :), a medir pela quantidade de inscrições... Vamos ter cerca de setenta crianças e jovens e sessenta pais (não se preocupem, já reforçámos a nossa equipa de trabalho!), vamos ter três sacerdotes, vamos ter um grande piquenique, vamos ter muita música, mas também muito silêncio, e acima de tudo, vamos encontrar-nos com o Senhor Jesus, que nos espera de braços abertos!
Que a Mãe de Caná a todos abençoe! Ámen.
Escrito pela Clarinha:
Há alguns dias atrás, os meus pais deram-me a notícia de que me deixavam entrar em competição de ginástica rítmica. É o primeiro ano em que isto é possível na nossa zona. Fiquei muito feliz, porque já tinha vontade de fazer competições há muito tempo!
Comecei então a imaginar como seria fazer as provas, dando o meu máximo mas com o cuidado de não querer estar em primeiro lugar para não me envaidecer e me tornar uma pessoa egoísta. Tento focar a minha mente em estar sempre feliz mesmo que fique em último lugar porque Jesus disse:
"Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado." (Mt 23, 12)
Na verdade, o mais importante não é ganhar, mas sim estar atenta para fazer sempre tudo o que Jesus nos disser, como rezamos todos os dias!
(Gosto de treinar a espargata enquanto ouço e vejo no computador os meus videoclips preferidos!)
Hoje é dia de festa a triplicar: Festa da Exaltação da Santa Cruz, primeiro aniversário das Famílias de Caná e... 8º ANIVERSÁRIO DO DAVID!
Faz hoje oito anos que o nosso menino nasceu, com pouco mais de dois quilos e sobrolho franzido, depois de uma gravidez muito atribulada! Era muito pequenino, muito magrinho, mas extremamente amado e desejado. O seu nascimento, entre risos e lágrimas, foi um dos momentos mais marcantes da nossa família...
Hoje, o David é uma criança segura, calma, discreta, que gosta de estar sozinho com um livro ou com a sua colecção de animais, que já foi a colecção de animais do Francisco. O David tem um coração grande e uma vontade forte, e detesta zangar-se seja com quem for. Por enquanto acha que vai ser surfista (embora nunca tenha estado numa prancha de surf), ciclista e padre, se for possível ser tudo isso ao mesmo tempo. Se não for possível, o David diz que ainda tem tempo para escolher. Sim, David, tens muito tempo!
Com o nascimento do David, quatro meses depois da morte do Tomás, cumpriu-se em nós a Palavra da Escritura que diz:
"Eu mudarei o teu luto em alegria! Eu te consolarei!" (Jr 31, 13)
O David nasceu na Festa da Exaltação da Santa Cruz. A primeira leitura desta belíssima festa, que hoje escutamos, diz-nos que
"Moisés fez uma serpente de bronze e colocou-a num poste. Quando alguém era mordido por uma serpente venenosa, olhava para a serpente de bronze e ficava curado." (Nm 21, 9)
Quando o David nasceu, a Cruz de Jesus libertou-nos, como ao Bom Ladrão, do peso da nossa própria cruz, curando-nos do veneno da tristeza. Ah, os mistérios do amor de Deus...
Parabéns, querido David!
Amanhã, a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Diz-nos a Tradição da Igreja que Santa Helena, mãe do imperador Constantino I, impulsionou as escavações que conduziriam à descoberta da verdadeira Cruz de Jesus, no Gólgota. A Igreja do Santo Sepulcro foi então construída nesse mesmo local, por ordem do imperador, e no dia 14 de setembro do ano 335, um pedacinho da Cruz de Jesus foi posta à veneração dos fiéis.
Num tempo em que as canonizações se faziam por aclamação popular, Helena foi santa, não porque encontrou a Cruz de Jesus, mas porque encontrou, nessa sua descoberta, o Jesus da Cruz. Na verdade, hoje não precisamos de muito para encontrar a cruz. Ela espera-nos a cada esquina do nosso dia atribulado, e o mundo experimenta-a sob toda a espécie de sofrimento, doença, guerra, fome, violência. A cruz é companheira da vida. O difícil, e o que transforma tudo, é encontrarmos, como Helena, o Jesus da Cruz. Quando isso acontece, tudo se transforma, e tudo somos capazes de suportar, porque encontramos o Amor:
"Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro." (1Jo 4, 19)
As Famílias de Caná nasceram há um ano, no dia da Exaltação da Santa Cruz, quando realizámos o nosso primeiro retiro. Eram dez famílias e vinham cheias de vontade de escavar, escavar, escavar, até encontrar a Cruz da nossa Salvação, escondida sob o terreno pedregoso da vida. Como Santa Helena, no final do dia regressámos todos de coração cheio, porque nos tinhamos encontrado com o Jesus da Cruz!
Nesse primeiro retiro, os jovens construíram, com a orientação do Niall e a caixa de ferramentas do Francisco, uma belíssima cruz de madeira. Depois pintaram-na e enfeitaram-na com elementos da natureza ao seu redor. Ficou linda!
Foi essa mesma cruz que levámos no reencontro no Buçaco, como contámos aqui. Cada um dos jovens e das crianças mais velhinhas carregou a cruz à vez, e a alegria foi contagiante!
Amanhã é uma óptima ocasião para fazerem aí em casa crucifixos para os quartos dos mais novos, para o quarto do casal, para a sala, para a cozinha, para todas as divisões, como sinal de que queremos viver sob o signo da Cruz, a fonte da nossa alegria! Explicámos aqui como fizemos crucifixos com molas de madeira na quaresma do ano passado. Enviem as vossas fotos!
No próximo sábado teremos então o 6º Retiro Famílias de Caná. Como Santa Helena, será uma grande oportunidade para escavarmos no mais profundo do nosso coração até O encontrarmos, a Ele, o Senhor da Cruz! Façam as vossas inscrições o quanto antes (na coluna lateral deste blogue), porque já temos muitas famílias e em breve encerraremos as inscrições. Não se preocupem se não estão acostumados a estas coisas de Igreja, ou se não são cristãos ainda. Venham! Vai valer a pena...
E amanhã, domingo, cantem connosco os parabéns às Famílias de Caná, que completam um ano de vida!
Ontem de manhã, na Abertura Solene do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde estão os meus filhos, falou-se de James Foley.
No ecran gigante no ginásio, a sua imagem surgia como uma luz a brilhar nas trevas, ilustrando o tema cultural deste ano lectivo no Colégio: "Enche-te de Luz!" E na escuridão do ecran vazio, brilhou com simplicidade um extracto da carta que James Foley fez o seu amigo memorizar:
«Sei que pensam em mim e rezam por mim e estou agradecido. Sinto a vossa presença, sobretudo quando rezo. Rezo por vós, para que sejam fortes e acreditem. Sinto, de facto, que, quando rezo, vos consigo tocar mesmo nesta escuridão»
Já tive muita ocasião para meditar na fé e na humanidade deste grande homem, que perdeu a vida às mãos de terroristas sem coração; já tive muita ocasião para meditar na capacidade de suportar a dor que Deus parece oferecer-nos quando tocamos o limite, e na serenidade e maturidade que parecem envolver os que atravessam o limiar desta curta passagem pela terra. Mas ali, na escuridão do ginásio, enquanto no ecran brilhavam as últimas palavras de James Foley, o meu pensamento foi para o seu amigo de cativeiro. E enquanto a música de fundo dava relevo às palavras ditadas, eu pensava na concentração, no sentido de dever e no sentido de responsabilidade do amigo de Foley. E sobretudo, na sua capacidade de escuta, abstraindo-se dos barulhos terríveis que os cercavam como cães raivosos. Escutando as palavras que lhe eram entregues como um tesouro, aquele amigo vislumbrou de repente um sentido todo novo para a sua vida. Afinal, ele levava agora na sua memória um testamento espiritual único, que precisava de entregar com urgência. As palavras de Foley tinham sido proferidas para iluminarem as trevas dos que lhe sobreviveriam, e havia uma urgência enorme em fazê-las chegar ao seu destino.
Depois lembrei-me de S. Paulo (outra vez!):
"Trazemos este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não nosso." (2Cor 4, 7)
Antes de morrer, Jesus também deixou aos seus amigos um testamento espiritual. Falava de amor. E nele, Jesus dizia:
"Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei." (Jo 13, 34)
Imagino a concentração, o sentido de dever e o sentido de responsabilidade dos amigos de Jesus... Imagino a atenção com que escutaram, quase que bebendo uma a uma as palavras do mestre, para nunca mais as esquecerem... Também eles levavam na sua memória um testamento espiritual único, que precisavam de entregar com urgência. E a sua missão foi levada tão a sério, que as palavras de Jesus chegaram até nós, de testemunha em testemunha, de amigo em amigo.
As Palavras que Deus confiou ao seu povo foram entregues para serem luz que brilha nas trevas. No mundo árabe, onde James Foley foi cruelmente assassinado, há cristãos que memorizam o Evangelho para poderem meditar nele, pois é perigoso ser apanhado com uma Bíblia. O Papa Francisco sugeriu recentemente aos cristãos ocidentais, que não correm esse perigo, que trouxessem no bolso ou na carteira os Evangelhos, para assim poderem escutar a Palavra de Jesus numa breve pausa durante o dia.
Olhei para aquele ginásio cheio de crianças e jovens, professores, funcionários e pais. Teremos nós o mesmo sentido de urgência e responsabilidade, perante este tesouro que trazemos em vasos de barro? Seremos nós capazes, no corropio do dia-a-dia, de encontrar tempo para a escuta do Testamento de Jesus, que nos foi entregue no dia do nosso baptismo? Seremos nós capazes de o memorizar, de o viver e de o transmitir com fidelidade, como o amigo de James Foley fez com a carta que lhe foi confiada? Se assim fizermos, então a luz brilhará nas trevas...
(A "nossa" praia fluvial da Redonda, anteontem à luz do entardecer...)