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Testemunhos sobre o Planeamento Familiar Natural

por Teresa Power, em 11.12.14

Teste de Estudo do Meio, do David, terceiro ano:

- Como se chama o local onde vai crescendo o feto?

Resposta do David:

- Ovário.

- ???????

Estas férias, vamos ver juntos um bocadinho do magnífico filme "A Odisseia da Vida - Uma viagem fantástica da concepção ao nascimento", de Nils Tavernier. O Francisco e a Clarinha adoraram, e agora chegou a vez do David. Acho que está a precisar!

 

Há uns tempos atrás, partilhei aqui no blogue a minha ignorância, quase tão grande como a do David, acerca da maravilha da fecundidade conjugal, antes de descobrir o planeamento familiar natural, em véspera de casar. Podem encontrar estes três posts aqui, aqui e aqui.

Em consequência desse post, vários leitores me contactaram por mail, partilhando as suas experiências. Mas melhor ainda foi a participação de alguns casais no curso de planeamento familiar natural que a Associação Família e Sociedade propôs, e que eu divulguei no blogue.

Um desses casais foram a Olívia e o Álvaro. Com a radicalidade que tem marcado a sua caminhada para o céu, a Olívia deixou de fazer contracepção no exacto dia em que percebeu que ela não fazia sentido no contexto de uma caminhada cristã. E no dia seguinte inscreveu-se no curso! Se quiserem ler o seu testemunho, podem fazê-lo no seu blogue, aqui e aqui.

O outro casal de que tive conhecimento foram a Elsa e o Nelson. Estive com eles no retiro Famílias de Caná em Almada, e desde então temos trocado alguns mails. Deixo-vos aqui o seu testemunho:

 

"Desde a nossa preparação para o matrimónio que tivemos muita curiosidade sobre os métodos naturais de planeamento familiar. No entanto sentíamo-nos desencorajados na sua utilização porque sempre que se abordava este assunto, o que nos transmitiam era que estes métodos seriam pouco fiáveis para o caso de o casal não querer ter filhos e que ao utilizá-los iríamos de certeza ter uma grande probabilidade de ter muitos.

Através do blog “Uma Família Católica”, tivemos conhecimento que se iria realizar a 08 e 15 de novembro à tarde no auditório da Rádio Renascença em Lisboa, um curso de métodos naturais de planeamento familiar promovido pela Associação Família e Sociedade. Assim após alguma hesitação decidimos inscrever-nos e participar neste curso.

Quando chegámos à receção do auditório da Rádio Renascença foi com grande alegria que também estavam presentes para realizarem o curso, uma médica que tínhamos conhecido no convívio fraterno de casais, bem como a Olívia e o marido.

O curso foi dado de uma forma bastante simples por pessoas (médicas, enfermeiras, farmacêuticas, etc.) que nos mostraram através de vários métodos, que desde que as mulheres estejam atentas ao seu corpo, este indica-nos quais são os períodos férteis em cada ciclo. Além disso também nos foi explicado que estes métodos podem ser usados tanto para conseguir engravidar como para evitar uma gravidez e que mesmo antes da mulher iniciar a sua vida sexual pode detetar sinais de problemas, que eventualmente poderão acontecer mais tarde relacionados com infertilidade, abortos espontâneos e outros.

Houve um casal que foi convidado a dar testemunho, que referiu que apesar das dúvidas e dificuldades iniciais na utilização dos métodos sempre tiveram o acompanhamento dos monitores após o curso, que lhes iam tirando as dúvidas que iam surgindo até conseguirem utilizar os métodos corretamente. Este casal disse-nos “que não deveríamos olhar a fertilidade da mulher como uma doença em que se toma um comprimido para a curar, mas sim como algo que deve ser respeitado e que caso ocorra alguma gravidez, que devemos vê-la como uma dádiva e nunca como um erro”.

Após a parte teórica do curso, tanto para os casais como para os profissionais de saúde que frequentaram o curso há um acompanhamento por monitores que fazem parte da Associação, para apoio, esclarecimento de dúvidas e acompanhamento na utilização prática dos métodos para verificar se os estamos a utilizar corretamente.

Iniciámos logo após o curso a utilização dos métodos naturais, considerando-os uma mais-valia para a nossa relação como casal, tendo a certeza de que são tão ou mais fiáveis que os métodos artificiais sem terem os efeitos secundários destes.

Como casal recomendamos este curso a todos os casais e profissionais de saúde que pretendam saber mais sobre estes métodos naturais. Façam este curso, apliquem os métodos naturais de planeamento familiar e vão ver que ainda serão mais felizes!"

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Desafio-vos então a participar num curso de planeamento familiar natural, se ainda o não fizeram, mesmo que não sejam cristãos ou católicos! A descoberta da riqueza da fertilidade conjugal ou da fertilidade feminina é sempre uma descoberta fascinante...

Para os católicos, deixo-vos um site belíssimo sobre todos os temas relacionados com a vida: One More Soul. Aqui encontram com fidelidade os ensinamentos da Igreja sobre contracepção, aborto, castidade, educação sexual, etc. Usem-no para tirar dúvidas, aprofundar o tema, reflectir em casal, trabalhar com jovens... Vale a pena!

 

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publicado às 06:25

Tempo de família em época de natal

por Teresa Power, em 10.12.14

Cá em casa, a partir do início de Dezembro há uma actividade que é proibida: ir às compras em família. Acabaram-se as idas dos mais novos ao Continente no sábado de manhã, para ajudar o pai a encher o carrinho de arroz, massa, leite, iogurtes e carne: a partir de Dezembro, o pai faz isso sozinho.

Os nossos filhos vêem pouquíssima televisão - o Francisco e a Clarinha gostam de ver vídeos do seu interesse no computador, relacionados com os seus hobbies: magia, ginástica, música, ciência; os mais novos vêem meia hora de televisão ao sábado, depois do banho, quando passa o Jake e os Piratas. E é tudo! Assim, a única outra fonte de exposição que os Power junior têm ao consumismo desta época é o Continente. Mas mesmo essa me parece excessiva, quando procuramos preparar o Natal.

Não podemos falar de um Jesus pobre, humilde, sem lugar na hospedaria, quando à nossa volta reluzem as últimas novidades no universo dos brinquedos. E é complicado educar para a renúncia diante de tanta oferta! Para mim, adulta, uma simples ida às compras para encher a despensa cá de casa nesta época festiva é suficiente para perturbar o espírito de oração e de contemplação que tento cultivar. O que não fará às crianças!

Tenho uma amiga em Aveiro que me falou das filas intermináveis, no domingo passado, na variante, por causa dos acessos às grandes superfícies na zona industrial. Eu dei uma gargalhada: ah, o nosso domingo foi tão tranquilo, tão cheio dos louvores do Senhor!

O dia estava lindo, portanto, o Francisco, a Clarinha e o David foram de bicicleta, e nós fomos de carro, transportando as bicicletas dos mais novos. O destino era a Curia, que dista uns dois quilómetros da nossa casa:

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Na serenidade da floresta encontrámos um tapete vermelho outonal lindíssimo a cobrir o chão, junto do lago. Foi aí que fizemos o nosso piquenique. Tinhamos levado connosco uma caixa com deliciosas broinhas de Natal, que uma amiga muito querida nos oferecera na véspera. Ah, souberam tão bem!

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O Francisco desapareceu logo depois do lanche, montado na sua bicicleta. Encontrámo-lo mais tarde, empoleirado numa árvore...

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... e depois noutra...

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 ... e depois noutra e ainda noutra...

Os mais novos brincaram no parque e fizeram castelos de folhas de outono:

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O Livro de Neemias conta uma história magnífica: Neemias sentiu o chamamento do Senhor a regressar a Jerusalém e a reconstruir as muralhas da cidade, para que todo o povo pudesse regressar do longo exílio na Babilónia e voltar a viver de acordo com a sua fé. Diz Neemias:

 

"Estais a ver a triste situação em que nos encontramos: Jerusalém está em ruínas e as suas portas foram devoradas pelo fogo. Vamos! Temos que reconstruir as muralhas de Jerusalém!" (Nee 2, 17)

 

Dito e feito: as muralhas foram reconstruídas, e os belíssimos rituais judaicos renasceram no seu interior.

Hoje, muitas famílias cristãs estão numa situação muito semelhante à de Jerusalém antiga:  as muralhas sólidas dos grandes valores cristãos caíram por terra, e o inimigo atacou a cidade. É urgente reconstruir as muralhas, trabalhando os valores, recriando rituais, indo buscar o cimento aos sacramentos. Não permitamos que o inimigo se infiltre através das brechas do nosso instinto consumista, nesta época em que todo o nosso pensamento e todo o nosso coração se deveriam centrar apenas no Amor...

 

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publicado às 06:24

A Imaculada Conceição e a lei do aborto

por Teresa Power, em 09.12.14

No dia da Imaculada Conceição, na nossa paróquia acontece também a bênção das grávidas. É um momento muito bonito da Eucaristia, em que as mães que aguardam o nascimento dos seus filhos inclinam as cabeças para receber a bênção, geralmente diante do altar.

- Fiquei nervoso quando ouvi o senhor padre anunciar que ia abençoar as grávidas - Disse-me o Niall na brincadeira - É que estava muito curioso para ver se tu te ias aproximar para receber a bênção!

Dei-lhe um encontrão divertido.

- Não gozes!

O Niall piscou-me o olho. Não, desta vez, a bênção não foi para mim!

 

Mas também não costuma ser para muita gente. É triste ver como são pouco numerosas as mulheres grávidas no nosso país, que está cada vez mais envelhecido. Falta riso, falta choro, falta o barulho alegre das crianças e dos bebés nas Eucaristias, nas praças, nos parques infantis, e até nas escolas. Já contei aqui no blogue a surpresa que foi encontrar tantos bebés na Irlanda, e como até o próprio ar parece diferente quando soam por todo o lado as suas gargalhadas.

É difícil criar um filho em Portugal. Eu tenho seis, e não tenho direito a abono de família, por exemplo!

Mas é muito fácil matar um filho em Portugal. Se o filho tiver menos de dez semanas de vida no útero, basta assinar um papel e tomar uns comprimidos. Já está. Tudo pago com o dinheiro que não chega para pagar os abonos de família; passando à frente de quem aguarda operações para melhorar a sua vida.

Tenho uma amiga que um dia, grávida do quarto filho e num grande sofrimento psicológico, decidiu abortar. Dizia-me ela:

- O aborto é legal, por isso posso fazê-lo, embora me custe muito.

Respondi-lhe que sim, que o aborto era legal de acordo com a lei dos homens; mas o referendo português não alterara uma vírgula na Lei de Deus.

 

No final da Caminhada pela Vida, no passado dia 4 de Outubro, foi apresentada uma proposta de lei que visa conseguir algumas alterações à lei do aborto. Por exemplo, não permitir que o aborto seja equiparado a uma gravidez a nível de subsídios e isenções; propor realmente alternativas à mulher que quer abortar, e alternativas válidas, de apoios existentes a todos os níveis; não ouvir apenas a mulher grávida, mas conversar também, sempre que possível, com o pai ou com familiares que possam ajudar a gravidez a ir para a frente; e muitas outras pequenas alterações, mas capazes de obter grandes resultados. Talvez a minha preferida seja esta: exigir que a mulher grávida veja uma ecografia do seu bebé antes de abortar...

São precisas 35 mil assinaturas para que esta iniciativa legistativa possa ser entregue no parlamento e levada a plenário. A recolha de assinaturas acontecerá até ao fim deste mês, pelo que todos precisamos de nos empenhar nesta causa.

O Papa Francisco tem repetido muitas vezes uma ideia fundamental, quando se fala em aborto: este tema não é religioso, mas científico. Não há dúvida alguma - embora a cegueira de alguns não tenha limites - de que uma pessoa é uma pessoa desde o momento da sua concepção, sendo essa a única fronteira temporal capaz de marcar o início da vida humana. Todas as outras distinções - mórula, embrião, feto, bebé, criança, jovem, adulto - são pontos marcados mais ou menos arbitrariamente numa recta contínua.

Se quiserem assinar e recolher assinaturas para esta proposta de lei, façam-no aqui.

Entretanto, fiquemos com a alegria exuberante dos bebés Jesus e João Baptista, que se cumprimentaram ainda no seio das suas mães, Maria e Isabel:

 

"Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Quando soou em meus ouvidos a voz da tua saudação, o bebé saltou de alegria no meu ventre." (Lc 1, 42-44)

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Que os bebés portugueses ainda não nascidos não cresçam com medo de morrer, mas antes saltem de alegria no ventre acolhedor de suas mães. Ámen!

 

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publicado às 06:24

A Imaculada Conceição e a nossa veste branca

por Teresa Power, em 08.12.14

Três dos nossos filhos foram baptizados no dia solene da Imaculada Conceição: o Francisco, o David e a Lúcia. Hoje é portanto um dia de muita festa cá em casa!

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 O dia vai começar com a Eucaristia no Santuário, seguida de procissão, percorrendo as ruas da nossa terra enquanto cantamos e rezamos o rosário. Depois, ao almoço, concluiremos solenemente, cá em casa, a novena da Imaculada Conceição. E à noite, na nossa oração familiar, os três aniversariantes acenderão as suas velas baptismais, para darmos graças em grande alegria.

 

Gosto de chamar a esta solenidade a festa da santidade. Nossa Senhora foi santa desde a sua concepção, no seio de Ana, porque Deus assim quis. S. Luís Maria Monfort tem uma frase, no seu Tratado da Verdadeira Devoção, que sempre me fez sonhar, pela sua poesia e a profundidade:

"Deus juntou todas as águas e chamou-lhes mar; juntou todas as graças e chamou-lhes Maria."

Maria viveu, desde o início, aquilo a que todos somos chamados: a graça da santidade. A leitura da festa de hoje diz assim:

 

"Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos altos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.

Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor.

Ele predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com a sua vontade." (Ef 1, 3-5)

 

Somos chamados à santidade antes ainda de existirmos, tal como Maria... Maria nasceu com a veste nupcial vestida; nós recebemos esta veste no dia santíssimo do nosso baptismo, graças ao poder do sangue de Jesus, capaz de branquear o pecado mais escuro. Não somos capazes, como Maria, de manter branca a nossa veste? Confessemo-nos sem medo muitas e muitas vezes, e multipliquemos os gestos de amor, pois o amor cobre uma multidão de pecados.

 

Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós. Amén!

 

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publicado às 06:20

Dizer sim

por Teresa Power, em 07.12.14

A catequista do David veio ter comigo no fim da missa de domingo passado:

- Viste o caderno do teu filho, no final da catequese?

- Não - confessei - Sábados não costumo ter tempo para espreitar cadernos... Mas porquê?

- Na catequese falámos de Maria. Falámos da generosidade de Maria, capaz de dizer "sim" ao Senhor sem reservas.

 

"Maria disse então: 'Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra.' E o anjo deixou-a." (Lc 1, 38)

 

E a catequista continuou:

- Seguimos a evangelização que propuseste nos Mistérios da Fé (volume 3) sobre a Anunciação. Assim, fiz com eles a actividade que sugeres: tomar nota de três ocasiões em que cada um se sente chamado a dizer "sim". As respostas foram semelhantes: obediência aos pais ou ao professor, ir à catequese, ajudar os outros... Bem, agora espreita o caderno do teu filho.

Fui espreitar. Fiz o scanner da página para vos mostrar:

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No dia 30 de Novembro, o Santo Padre inaugurou o Ano da Vida Consagrada.  A entrega total a Deus, na vida religiosa ou no sacerdócio, não está fora de moda, pelo contrário! Nalguns países desenvolvidos no mundo, a tendência é exactamente para o crescimento desta resposta radical a Deus. A insatisfação crescente causada por tanto consumismo, a escravidão da moda e o relativismo moderno faz com que muitos se questionem sobre uma entrega maior da sua vida.

Num retiro que fiz no ano passado em Fátima, quando Vassula visitou Portugal (já falei de True Life in God aqui várias vezes), escutei um testemunho apaixonante de um jovem polaco. Não recordo o seu nome, mas nunca conseguirei esquecer a sua história!

Dizia ele que, a partir da adolescência, e durante toda a sua vida estudantil, descera cada vez mais baixo, praticando todos os pecados que puderem imaginar, consumindo drogas, etc. Um dia, na véspera de um exame, atordoado com a droga e completamente esgotado, fez uma coisa que não fazia há muito tempo: rezou. A sua oração foi apenas isto: "Ó Deus, se Tu existes, ajuda-me a passar neste exame." Depois ligou o computador, e sem saber como nem porquê, viu diante dele aberta uma mensagem lindíssima sobre o amor de Jesus por cada um de nós, no site True Life in God. Começou a ler, e começou a chorar, e decidiu explorar todo o site. Continuou a ler, e continuou a chorar, e quando chegou a madrugada, ainda estava a ler e a chorar. Deitou-se já de manhã, faltando ao exame, e adormeceu por algumas horas. Quando acordou, uma sensação diferente percorria o seu corpo: estava limpo de todas as drogas! Nessa tarde, voltou à universidade, mas não para fazer o exame: decidira mudar de curso e estudar teologia, para descobrir quem era Aquele que o libertara. Quando nos deu o seu testemunho, este jovem estava a um mês de ser ordenado sacerdote.

 

Só o Senhor chama, e quem somos nós para Lhe dizer onde e como chamar? Mas se Ele quiser vir à nossa casa buscar um sacerdote, tenhamos a porta aberta. À radicalidade da sua entrega por nós só podemos responder com radicalidade também! Ámen.

 

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publicado às 06:32

Arregaçando as mangas

por Teresa Power, em 06.12.14

Durante todo o tempo que esteve na Alemanha - bem como, depois, na França - o Niall trabalhou duramente em restaurantes, lavando a louça e preparando as refeições da noite, para poder pagar o seu alojamento. Assim, os nossos encontros ao serão eram raros, e eu ficava sempre cheia de pena por não podermos aproveitar todos os minutos do dia para namorar.

Um belo dia, e apesar de a minha família nunca tal me ter sequer sugerido, decidi que também era capaz de trabalhar. Afinal, iria precisar de juntar algum dinheiro, se queria visitar o Niall na Irlanda, no verão! E foi assim que me dirigi ao mesmo restaurante onde o Niall lavava a louça.

O dono do restaurante foi muito simpático comigo. Apresentou-me o pessoal da casa e depois conduziu-me à sala de jantar. O meu trabalho não seria na cozinha, mas na sala, servindo refeições. Apressado, mostrou-me os armários dos pratos e as gavetas dos talheres, explicando tudo a uma velocidade relâmpago - em alemão; ensinou-me a segurar a bandeja e a fazer o pedido, e deu-me um bloco de notas para eu fazer os registos necessários - em alemão. Depois, lançou-me ao trabalho "como cordeiro no meio dos lobos": acabava de entrar um grupo barulhento de treze pessoas, que se sentaram, a rir, à volta de duas mesas. Era preciso ir servir!

Treze pessoas a fazer os seus pedidos, todos em alemão, a caneta a voar no bloco de notas, a cabeça a andar à roda... Cheguei ao bar para buscar as bebidas, e vi o olhar sério do patrão, que seguira todos os meus movimentos. Sem falar, ajudou-me a colocar tudo num tabuleiro. Depois dirigi-me à mesa, e com o meu melhor sorriso, coloquei o tabuleiro no centro, explicando em alemão:

- Não consigo lembrar-me de quem pediu o quê: façam favor de se servir!

Quando os clientes, bem dispostos, acabaram de se servir, e eu retirei o tabuleiro da mesa, reparei que todos os empregados do restaurante olhavam para mim com ar de caso e um sorriso disfarçado nos lábios. Então o patrão chamou-me, dirigiu-se ao balcão, pagou-me uma hora de trabalho e... despediu-me!

Saí do restaurante, onde o Niall continuou a lavar a louça, e corri à primeira cabine telefónica que encontrei, para telefonar à minha mãe. A chorar, contei-lhe que fora despedida do primeiro emprego da minha vida. Ela deu uma sonora gargalhada, enquanto respirava de alívio: as minhas lágrimas tinham-na feito pensar que algo de grave se passara mesmo!

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(Reconhecem-nos, ao Niall e a mim, num dos muitos jantares numa residência com amigos Erasmus?)

 

Esta foi uma das histórias que partilhámos com a equipa de reportagem que nos entrevistou. Ainda hoje me sinto a corar quando penso que fui despedida por não saber servir a uma mesa... O Niall, pelo contrário, ganhou um treino muito jeitoso a lavar quantidades industriais de louça. Hoje, como devem imaginar, este treino dá imenso jeito na nossa casa! É quase sempre o Niall quem arruma a cozinha ao jantar, alternando com o Francisco e a Clarinha alguns dias por semana.

Trabalhar também tornou o Niall mais realista, mais consciente do valor do dinheiro e do preço das coisas, mais sóbrio nos gastos. E trabalhar não impediu o Niall de se divertir ou de arranjar namorada...

 

Já referi aqui a frase do psicólogo italiano Andrea Fiorenza, perito em educação:

"Oxalá o teu filho tenha uma dificuldade por dia para enfrentar. E se a não tem, oferece-lhe tu uma diariamente."

 

A Bíblia diz exactamente o mesmo:

 

"Aquele que ama o seu filho, corrige-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde. (...) Educa o teu filho, esforça-te por formá-lo, para que não te aborreças com a sua vida vergonhosa." (Sir 30, 1.13)

 

Eduquemos portanto homens e mulheres fortes e corajosos, capazes de enfrentar as agruras da vida com a cabeça erguida e as mangas arregaçadas. Eles agradecer-nos-ão mais tarde!

 

 

 

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publicado às 06:21

Geração Erasmus

por Teresa Power, em 05.12.14

A grande reportagem da SIC deixou os mais novos muito desapontados:

- Porque é que não mostraram nós a jogar à bola?

- Porque é que não mostraram o António a apanhar os ovos no galinheiro?

- Porque é que não mostraram eu a andar de patins?

- Eles filmaram tanto, e não mostraram nada!

- Mas apanharam a Winnie, viste?

- E a Clarinha estava tão nervosa, que trocou as idades todas!

- Não faz mal.

- Também não mostraram a Sara no baloiço, nem o Canto de Oração...

- Não. Só mostraram um bocadinho da nossa conversa na sala!

- Não faz mal.

- Pois não.

O António já não ouviu o final desta nossa conversa, porque dormia profundamente no sofá. Para quem se costuma deitar às oito e meia...

Claro que, em televisão, com tempo contado, não se pode mostrar tudo o que foi filmado. Mas esta reportagem foi, realmente, uma reportagem bastante coerente com os sinais dos tempos actuais, toda ela centrada nas rendas de casa, nas expectativas de emprego, na vida de "borga" de um estudante. Para utilizar uma expressão muito cara do Papa Francisco: uma reportagem mundana. Para trás ficaram as imagens, que certamente foram muitas,  de crianças a brincar. Pelo menos cá em casa, as filmagens foram longas e divertidas, tratando aspectos culturais muito interessantes, como o contacto com a família que vive no estrangeiro e as diferenças de cultura de cada país. Imagino que assim tenha sido nas outras casas também. Mas Portugal está envelhecido, não tenhamos dúvidas. As imagens das brincadeiras infantis de todos estes "bebés Erasmus" teriam dado cor e alegria à reportagem, que ficou, como Portugal, demasiado séria.

 

Olhando para as imagens daqueles jovens estudantes Erasmus, ocorreram-me muitos pensamentos, mais do que irei registar aqui. Mas ficam alguns:

Hoje, a vida de um estudante Erasmus é feita de muitos confortos! Pelo que pude perceber, até há empresas que prestam serviços de cozinha e tratamento da roupa. Ser estudante num país estrangeiro é uma oportunidade tão boa para aprender a cuidar de uma casa e a tomar conta de si, que me parece uma perfeita estupidez não a aproveitar. Eu aprendi a cozinhar quando fui para a Alemanha e estou muito contente por isso! Parabéns à jovem que, na reportagem, também disse estar a aprender a cozinhar!

Durante todo o tempo que esteve na Alemanha, o Niall sempre trabalhou em restaurantes, lavando a louça, para pagar a sua estadia (como referiu nas filmagens, mas não foi publicado). Não, as bolsas não são suficientes, mas quem disse que tinham de ser? Os jovens precisam de se fazer à vida, o mais cedo possível...

Estar longe de casa ou do namorado, mas poder aceder ao Skype 24 sobre 24 horas é um luxo que não consigo imaginar. Continuo grata às cabines de telefone e ao correio, com tempos bem marcados, que nos ajudavam a aprender a arte de saber esperar. Lembram-se da Raposa e do Principezinho?

 

"Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, eu já começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito..."

 

Quando se namora, a arte de saber esperar é extremamente útil, pois é a espera que produz a constância e a fortaleza interior.

Ah, e talvez com menos Skype a jovem retratada na reportagem fosse obrigada, como eu fui, a sair de casa e a lançar-se na grande aventura de fazer amigos...

Finalmente, a questão final: segundo Umberto Eco, "Erasmus" é sinónimo de "orgasmus". Fiquei tão chocada com esta afirmação, que levei alguns segundos mais de reacção do que gostaria, ao ser entrevistada. Eu casei virgem e acredito profundamente no valor da virgindade, não apenas fisica, naturalmente, mas capaz de abarcar a pessoa inteira, com um corpo, uma alma, uma vida.

É muito fácil perder a virgindade e ter todos os orgasmos que se quiser ter quando se é Erasmus, claro: como um dos estudantes entrevistados disse: "Ninguém te conhece, estás por tua conta, os teus amigos e familiares não te podem ver, fazes o que te apetece."

Deixar-se ir na corrente - fazer o que é mais fácil e que, afinal, todos fazem - não tem absolutamente nada de radical; e qual é o jovem que não gosta de ser radical? Um jovem que, quando ninguém o está a ver, continua a agir de acordo com os seus valores e princípios, desses que não se vendem, esse sim, é um jovem radical.

Acredito que seja muito difícil, no actual ambiente universitário, manter-se fiel à doutrina cristã. E sinto a urgência de trabalhar as questões do namoro, da castidade (sim, a palavra ainda existe), da fidelidade, da fortaleza, com casais de namorados e de noivos. Penso que as Famílias de Caná também terão de partir para esse grande apostolado... Deus o dirá. E à medida que os meus filhos vão crescendo e se vão aproximando da descoberta do amor, também estes temas serão tratados aqui no blogue. Àquele jovem, apetecia-me apenas dizer com o salmo 139:

 

"Onde é que eu poderia ocultar-me do teu espírito?

Para onde poderia fugir, longe da tua presença?

Nem as trevas são escuras para Ti,

e a noite seria, para Ti, tão brilhante como o dia..."

 

Mesmo que ninguém te veja, caro jovem, Deus vê-te...

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publicado às 06:17

Família Power

por Teresa Power, em 04.12.14

O nosso blogue já vai longo, tendo festejado o seu primeiro aniversário no dia 22 de Novembro. Assim, para quem nos visita pela primeira vez, aqui fica uma pequena apresentação, feita de links para os posts mais marcantes da nossa história familiar:

Somos uma família católica, que procura viver a sua fé com fidelidade e alegria. Vivemos em Mogofores, perto de Anadia, numa casa cor-de-rosa com um jardim a toda a volta, onde temos algumas galinhas, dois cães, alguns gatos, baloiços, bolas, bicicletas, guitarras, e muita animação. Eu sou professora de Inglês em Anadia, e o Niall trabalha na Universidade de Aveiro. Somos ambos catequistas na paróquia.

A oração e a evangelização familiar são centrais no nosso dia, ocupando o horário nobre da nossa família. Podem ler sobre a forma como rezamos e aprendemos sobre a Bíblia e o Catecismo nos menus "oração" e "evangelização".

A nossa história é feita de momentos fantásticos, mas também de momentos muito difíceis. Contudo, o Senhor e a sua querida Mãe, Maria, nunca nos faltaram!

Conheci o Niall na Alemanha, integrada no programa Erasmus.

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Casámos em 1996,em Fátima:

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Na véspera do nosso casamento, descobrimos o planeamento familiar natural. É uma história engraçada, que contei em três posts: aquiaqui e aqui.

 Em 1998 tivemos o nosso primeiro filho, o Francisco.

A Clarinha nasceu em 2001, e em 2004 nasceu o Tomás, um bebé lindo, de grandes olhos azuis. Com catorze meses, foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral maligno e muito agressivo. Morreu em Maio de 2006. Quatro meses depois nasceu o David. Foi preciso muito carinho para o ajudar a recuperar do trauma de uma gravidez vivida na sombra da morte do irmão...

No ano seguinte, conduzidos por Nossa Senhora, viemos viver para Mogofores, onde nos encontramos ainda e onde somos muito, muito felizes.

A Lúcia chegou em 2008, o António em 2010, e a Sara em 2012. Somos muitos e fazemos muito barulho! No menu "Tempo de Família" podem descobrir como ocupamos o nosso tempo em família.

Se pesquisarem a partir das "tags" dos nomes dos nossos filhos, vão encontrar muitas histórias engraçadas sobre as suas aventuras, as suas birras, os seus sonhos e as suas desiluções, as suas brincadeiras e o seu trabalho.

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 Em Setembro de 2013, o Senhor serviu-se da nossa pobreza e da nossa alegria para realizar uma pequena maravilha: o nascimento das Famílias de Caná. Hoje, já são muitas as famílias que procuram viver este ideal, contagiando o mundo com a sua fé, a sua fidelidade e a sua alegria! Todos são bem vindos a fazer esta experiência de conversão, bastando para isso assumi-la na sua vida familiar e fazer, quando possível, o retiro Famílias de Caná.

Na coluna lateral deste blogue estão os links para outros blogues de famílias que querem viver o nosso ideal nas suas vidas. Neles, estas famílias partilham a sua caminhada de fé e de vida. Nós não temos qualquer responsabilidade por estes blogues ou por qualquer opinião neles veinculada, apesar de estarmos unidos aos seus autores por laços fortes de amizade.

Nestes últimos anos encontrei tempo para escrever três livros de evangelização familiar, publicados pelas Edições Salesianas. Neste post falei sobre esta aventura apaixonante da escrita a partir da Bíblia.

Já fui entrevistada algumas vezes sobre este blogue e sobre as Famílias de Caná. Podem escutar a entrevista que dei à Renascença, no passado mês de Novembro. A entrevista surge ao minuto 6'24.

Como qualquer outra família cristã, também nós nos sabemos chamados à santidade. Estamos muito longe de ser santos, mas não desistimos, porque "a Deus, nada é impossível" (Lc 1, 37). Se encontrarem neste blogue alguma coisa que vá contra a doutrina da Igreja Católica, por favor avisem-me, e atribuam tal falha à minha fraqueza e ao meu pecado.

Naveguem no blogue a partir das "tags" indicadas no menu superior, ou na coluna lateral. Podem também pesquisar por mês e ano. Que a vossa visita ao nosso blogue dê frutos na vossa vida! E se o desejarem, falem-nos também de vocês, comentando neste post ou escrevendo para o nosso mail: ntpower@sapo.pt.

Que o Senhor e Maria vos abençoem, hoje e sempre! Ámen.

 

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publicado às 10:50

Família a Caminho e o matrimónio, porta aberta ao Senhor

por Teresa Power, em 04.12.14

Há uns tempos, falei-vos da fresta na porta, que o Senhor aproveita para Se esgueirar para dentro da nossa vida.

Olhando para trás, vejo hoje com clareza que uma das frestas mais importantes na minha porta foi o meu matrimónio com o Niall. Juntos, descobrimos o Senhor de uma forma que não teria sido possível em qualquer outra circunstância. Através do matrimónio, tornámo-nos um para o outro canal da graça divina. Deus tem falado ao Niall através de mim, e tem-me falado a mim através do Niall. Pela graça do sacramento, muitas feridas têm sido curadas, muitas graças derramadas. Quantas histórias teríamos para contar!

Alguém me perguntava outro dia, por mail: "Que diferença podem alguns papéis fazer na nossa vida, se nós nos amamos?" Os papéis não podem fazer diferença alguma; mas a graça de Deus pode. S. Paulo explica assim o poder do sacramento do matrimónio:

 

"Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério; digo-o em relação a Cristo e à Igreja." (Ef 5, 31-32)

 

Cristo surge nos Evangelhos como o Esposo, o Amado do Cântico dos Cânticos, aquele que é ardentemente esperado e anunciado pelos profetas ao longo de toda a História de Israel:

 

"Poderão jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar." (Lc 5, 34-35)

 

A Igreja surge no Apocalipse como a Esposa, aquela que acolhe o Esposo divino e a Ele se entrega sem retorno:

 

"Vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo." (Ap 21, 2)

 

Pelo sacramento do matrimónio, o amor entre um homem e uma mulher torna-se espelho deste amor entre Cristo e a Igreja, entre o Esposo divino e a alma humana. O Papa Francisco explicou assim este sacramento na sua catequese de quarta-feira, dia 2 de Abril de 1914:

 

"O matrimónio é uma consagração: o homem e a mulher são consagrados no seu amor. Com efeito, por força do sacramento, os esposos são investidos de uma verdadeira missão, para que possam tornar visível, a partir das realidades simples e comuns, o amor com que Cristo ama a sua Igreja, continuando a dar a vida por ela na fidelidade e no serviço."

 

Cada família, selada pelo sacramento do matrimónio, é única e tem uma missão única. Hoje quero falar-vos de uma família em especial: a família Duarte Sousa. A Cláudia descobriu este blogue em Maio deste ano, e dois dias depois, inscreveu-se no retiro Famílias de Caná que iria decorrer no dia 24 desse mês. "Atirou-se de cabeça", como ela nos contou no retiro. Hoje, a sua família é uma belíssima Família de Caná, com muitas histórias para contar. E sim, eles decidiram contar essas histórias num blogue: Família a Caminho.

Li o blogue de ponta a ponta há alguns dias, quando a Cláudia o partilhou comigo. Fiquei muito tocada com a forma como Deus Se esgueirou para dentro da vida da Cláudia, era ela já uma jovem adulta... Depois de uma infância infeliz, a Cláudia descobriu o amor de Jesus e fez a sua primeira comunhão aos vinte anos! O seu matrimónio com o Cristóvão, tal como o meu com o Niall, foi para ela uma porta aberta a Deus. E até hoje, essa porta continua escancarada, deixando Deus entrar a jorros de luz.

Deixo-vos com duas fotos do retiro de 24 de Maio, onde aparecem duas das filhotas da Cláudia e do Cristóvão (a Alice era uma bebé muito, muito pequenina), bem moreninhas e simpáticas:

CIMG3882.JPG

 

IMG_4953.JPG

 Leiam, que vão gostar!

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publicado às 06:25

Erasmus

por Teresa Power, em 03.12.14

Estávamos em 1991. Eu estudava Inglês e Alemão em Coimbra e ouvira falar num programa novo de intercâmbio entre universidades europeias, o Programa Erasmus. Seria uma oportunidade fantástica de viajar e estudar ao mesmo tempo! Como o meu alemão era relativamente fraco, e eu estava decidida a melhorá-lo, concorri para uma universidade alemã. E foi assim que parti para Essen, no norte da Alemanha.

Quinze dias depois de chegar a Essen, ainda em Setembro, começou um curso intensivo de língua alemã para alunos Erasmus. Na primeira aula, poucos minutos depois de entrar na sala, a minha amiga Rita, que viera comigo de Coimbra, apontou para um rapaz a algumas carteiras de distância:

- Olha, Teresa, aquele rapaz é irlandês e também adora James Joyce, como tu!

Olhei para quem a Rita me indicava e sorri gentilmente. O tal rapaz irlandês contaria mais tarde que lhe parecera reconhecer aquele sorriso de algum lugar - algum lugar no futuro, provavelmente...

Alguns dias depois, numa das grandes "festas Erasmus" na casa onde a Rita e eu estávamos alojadas, o Niall - o tal rapaz irlandês, como já devem ter percebido - abordou-me, falando inglês:

- Reparei que tens um terço no teu quarto! És católica?

- Sou.

Ele pareceu triunfante:

- Que bom, uma católica no meio desta gente toda! Pensei que aqui não havia religião, ou se havia, era evangélica! Podemos ir juntos à missa!

À missa, à cafeteria, às aulas de dança de salão, às aulas da universidade, às festas, aos passeios, ao parque, e a todo o lado. O meu fraco alemão, fraco ficou, e o meu inglês começou a melhorar repentinamente...

No entanto, nem tudo eram rosas: eu tinha um namorado em Portugal, e o Niall tinha uma namorada na Irlanda! Sem nada combinarmos, nas férias de Natal terminámos os nossos namoros. De regresso à Alemanha, esta foi a primeira notícia que partilhámos. Penso que foi nesse mesmo dia que começámos a namorar.namoro.jpg

No dia 1 de Abril, o Niall regressou à Irlanda. A sua bolsa Erasmus contemplava apenas um semestre, ao contrário da minha, que era anual. A despedida foi naturalmente difícil, e os comentários dos nossos amigos Erasmus não facilitaram as coisas:

- Achas mesmo que ele ainda se vai lembrar de ti, na Irlanda?

- Não te parece que estás a ser ingénua, sofrendo por alguém que está tão longe?

- Teresa, convence-te, não é possível acontecer mais nada entre vocês!

- Cai na real, Teresa! Acorda!

Mas eu não estava disposta a desistir do Niall. Nós já sabíamos que queríamos casar um com o outro, e uma vez tomada uma decisão, o resto é simples.

Quem não viveu no século passado,  não sabe o que são cabines telefónicas, esses paralelepípedos com um telefone fixo e uma ranhura onde vão caindo moedas atrás de moedas... Quem não viveu no século passado não sabe o que são cartas que se enviam pelo correio, diariamente, com um selo e muitas folhas lá dentro... Os dias contavam-se de telefonema a telefonema, da chegada do correio à chegada do correio; e nada mais parecia importar!

Bem, o resto vocês já sabem: depois de dois anos de namoro à distância, o Niall conseguiu finalmente emprego em Portugal, na universidade de Aveiro, e no ano seguinte casámo-nos.

 

Segundo parece, uma televisão portuguesa ouviu falar da nossa história e decidiu incluir a nossa família na grande reportagem que vai apresentar amanhã, quinta-feira, pelas 20h30, sobre o Programa Erasmus. Não é, portanto, uma reportagem sobre a família Power! A família Power não terá nenhum destaque especial, creio eu, pois será uma das várias famílias apresentadas que devem o seu início a este belo programa de intercâmbio europeu.

Foi com bastante relutância que aceitámos participar na reportagem. O Francisco dizia-me:

- Acho que as pessoas vão pensar que andamos a chamar as televisões para nos filmarem... E contudo, nós nunca fizemos nada para as atrair!

Esta sensação de desconforto por aparecermos na televisão levou-me ontem a apagar o simpático comentário da Marisa, logo de manhã, publicitando o acontecimento. A Marisa que me desculpe! Quis evitar atrair as atenções para algo que é bastante secundário neste blogue, ou seja, a nossa família. Porque a nossa família só surge no blogue como uma forma de falarmos de Deus. De outra forma, o blogue chamar-se-ia "Família Power", não é verdade?

Depois pensei... Afinal, foi para falarmos de Deus que aceitámos participar na reportagem! Não com palavras, mas com a nossa alegria, a nossa partilha, a nossa união, a nossa disponiblidade para termos filhos e para os educarmos com cuidado. A televisão precisa de famílias cristãs que dêem a cara nas mais variadas situações do quotidiano, e não apenas em assuntos da fé! Diz-nos o Evangelho:

 

"Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perder o sabor, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens!" (Mt 5, 13)

 

Espero que a reportagem seja fiel à nossa vida em família, no pouco ou muito que dela mostrar.

Que o Senhor nos ajude, famílias cristãs, a sermos sal no mundo, seja no Programa Erasmus, seja na fábrica, ou na empresa, ou na escola, ou no bairro! Possamos nós temperar com bom tempero a nossa comunidade, a nossa televisão, a nossa internet... Ámen!

 

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publicado às 06:29




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