Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hora de jantar. Todos parecem ter uma coisa para contar, mas eu também quero falar.
- Meninos, temos de aproveitar as férias do Carnaval para preparar uma coisa.
- Qual é?
- Alguém sabe o que é que vai começar na quarta-feira?
- Eu sei!
- Eu também! A quaresma!
- Exatamente. A quaresma! E por isso, temos de preparar o Canto de Oração.
- Claro!
- Alguém tem ideias?
- Eu! Estava a pensar no Rei David, porque gosto muito dele.
- Mas na quaresma pensamos mais em Jesus, que deu a vida por nós. O Rei David foi um pastor...
- E era capaz de dar a vida pelas suas ovelhas! Foi o que ele disse a Golias, não foi?
- Sim, foi! David explicou a Golias que nunca perdera nenhuma das suas ovelhas nas garras dos ursos e dos leões. Podemos ler essa história no Livro de Samuel, capítulo 17. David era muito valente! Mas Jesus ainda fez mais por nós. Como David, Jesus também é Pastor, o Bom Pastor, que veio à Terra e continua a vir para procurar as ovelhas perdidas. Somos todos um pouco como ovelhas perdidas... Ao contrário de David, contudo, Jesus deu a sua vida para nos libertar das garras dos leões e dos ursos. Jesus morreu na cruz, para que nós pudessemos regressar a Casa!
- Ah! Nunca tinha percebido como é que a Cruz nos podia salvar!
- Vês, David, na Cruz, Jesus deu a vida pelas ovelhinhas que nós somos... Meninos, acho que descobri o tema do nosso Canto de Oração quaresmal: o Bom Pastor!
- Ena! Que grande ideia!
E pusemos mãos à obra...
Depois de passar a ferro a "cortina de quaresma" e de a pendurar no Canto de Oração, procurámos na net imagens de ovelhas. Cada um escolheu a sua, que imprimimos de seguida. Depois, cada um pintou e colou algodão na sua ovelha - com a supervisão da Clarinha!
Na cortina, começámos por pendurar uma fita branca e uma vermelha entrelaçadas, simbolizando o caminho de sangue e água que Jesus abriu na Cruz, e por onde caminhou para salvar as ovelhas perdidas. Acompanhando este caminho de vida, colámos as pagelas com as imagens dos Mistérios Dolorosos do Rosário, os mistérios da dor de Jesus.
Por fim, cada um de nós colou a sua ovelhinha sob a Cruz de Jesus, para pastar feliz nos prados verdes que Jesus nos conquistou com o mistério pascal, segundo o Evangelho de S. João:
"Eu sou a porta das ovelhas. Se alguém entrar por Mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. (...) Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me..." (Jo 10, 7-15)
Que ovelhinhas fofas!
Claro que enquanto uns trabalham, outros aproveitam o quentinho da lareira...
No cimo da cortina, colámos a Palavra que nos serviu de inspiração, do Evangelho de S. João:
Por fim, tudo ficou pronto. Está ou não bonito?
E aí por casa, como estão os vossos Cantos de Oração? Enviem as fotos, que terei imensa alegria em as publicar aqui no blogue!
Recordo ainda os leitores que vivem em Aveiro ou arredores que no próximo sábado dia 21, pelas 15 horas, iremos estar no Centro Paroquial da Sé, para dar testemunho da nossa vida cristã em família. Mesmo que não sejam crentes, apareçam para nos cumprimentar :)
A quaresma está à porta! A contagem decrescente para a maior celebração dos cristãos começa já amanhã. Cada um destes quarenta dias que antecedem a Páscoa é pequeno para todo o trabalho de limpeza interior, conversão e mudança de vida que é necessário fazer!
Depois da experiência tão feliz que foi o Retiro de Natal, decidimos oferecer-vos agora um Retiro de Quaresma, já no próximo dia 7 de março, para nos ajudar a todos nesta caminhada intensa. Que dizem? Alinham?
O retiro é completamente gratuito e será aqui, no Centro Social S. José de Cluny, onde o António e a Sara fazem a sua pré-escola. O Centro fica adjacente ao Colégio Nossa Senhora da Assunção, também das Irmãs de S. José de Cluny, aqui na pequena aldeia de Famalicão, Anadia (bem diferente de Vila Nova de Famalicão! Não confundam!). Os primeiros retiros Famílias de Caná foram aqui, e por isso guardamos belas recordações deste espaço.
Para facilitar a todos a deslocação - em tempo de aulas, é difícil para todos, vocês e nós, dispor de um fim-de-semana - o retiro começará às dez horas da manhã e terminará às cinco e meia da tarde. De Lisboa aqui são duas horas e meia no máximo, tal como de Proença ou de Valença, locais onde sabemos que temos famílias interessadas. O almoço e os lanches da manhã e da tarde, como costume, serão partilhados.
O retiro é para todos os leitores do blogue, sejam ou não Famílias de Caná, sejam ou não crentes. O tema será o Amor de Deus. Os mails que tenho recebido ultimamente fizeram-me ver a necessidade de trabalhar este tema primeiro na minha vida, e depois convosco.
Para facilitar o trabalho com as crianças e os jovens, bem como a organização do espaço, preciso das vossas inscrições, com especial atenção à idade dos vossos filhos. Inscrevam-se o quanto antes!
Alguns de vós nunca fizeram um retiro e a ideia pode parecer-vos disparatada. Venham! No final vão ficar surpreendidos ao ver como é importante este tempo. Jesus era Filho de Deus, e vivia na presença de Deus o tempo todo. No entanto, mesmo sendo Deus, Jesus precisava de tempos de retiro na sua vida. E fazia-o diariamente:
"De madrugada, ainda escuro, Jesus levantou-Se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração." (Mc 1, 35)
Vamos aguardar então pelas vossas inscrições! O programa do retiro e as inscrições estão disponíveis aqui: Programa do retiro de quaresma 2015.pdf
Escrito pelo Francisco:
Na sexta-feira foi proporcionado aos jovens de Anadia um encontro extremamente interessante e atual sobre o namoro, intitulado: "Ó namoro, por onde andas?". Na véspera do dia de S. Valentim, nada mais original do que ouvir Inês Pereirinha a falar, conversar connosco, ensinar-nos imensas coisas importantes sobre o namoro.
Começámos logo, todos reunidos num ambiente agradável, a tentar perceber melhor a amizade, em todos os aspetos do ser humano, o que significa a amizade e o que é necessário para haver uma boa amizade. “A amizade é querer o bem para a outra pessoa. Não apenas que essa pessoa seja feliz, mas que essa pessoa se torne a melhor pessoa possível”. Só depois de discutirmos isto, pudemos passar ao namoro, visto que o namoro começa sempre com a criação de laços de amizade muito fortes.
Explorámos um pouco as diferentes vertentes do ser humano, do corpo ao “Eu interior” e vimos como o namoro deve ser vivido segundo todas essas vertentes e não apenas com o corpo, como, infelizmente, as novelas e os media nos fazem crer. O namoro passa pelo corpo, mas mais importante que isso, passa pelos sentimentos, uma decisão, uma atitude, um compromisso.
Neste encontro aprendemos como viver um namoro feliz. Um namoro em que cada um respeita a si próprio e ao outro, um namoro em que é possível o autocontrolo, para que tudo corra bem.
“A castidade está na moda” foi uma frase que chamou a atenção de muita gente. Será verdade? Sim, é verdade, explicou-nos Inês. Mas não parece, pois nunca se ouve falar de castidade nos media, só se ouve o que é mau, nunca o que é bom. Mas a verdade é que há cada vez mais pessoas a perceberem que devem respeitar o seu próprio corpo, a perceberem que fazer sexo no namoro não é uma prova de que ele/ ela me ama, que isso é apenas uma prova de que ele /ela gosta do meu corpo. Sim, a castidade está na moda! Ora vejam:
Entretanto, na caixa de comentários do post que a minha mãe escreveu sobre o namoro, o João Miranda Santos fez uma sugestão, que aqui divulgamos:
"Nos dias 11 e 12 de Abril de 2015 realiza-se na no seminário de Almada um retiro para namorados sobre o tema "Da Castidade à Liberdade para o Dom". O pregador será o pe. Nuno Amador. O retiro começa no Sábado dia 11 pelas 10h30 e termina no Domingo dia 12 pelas 15h30. O preço do retiro são 50€ por pessoa. http://www.familia.patriarcado-lisboa.pt/eventos/calendario/icalrepeat.detail/2015/04/11/167/-/retiro-para-namorados"
Como eu, também os outros jovens adoraram o encontro que tivemos. Nós, jovens, precisamos de momentos assim para crescer!
Ontem à noite, o Francisco teve um encontro de jovens aqui em Anadia. A atividade estava programada para jovens dos quinze aos dezoito anos, e o tema era o namoro. Sobre o que falaram e trataram, ele mesmo escreverá, se o entender. Segundo ouvi dizer, foi um sucesso! Eu quero falar de outra coisa - e não me levem a mal...
Como animador de um grupo de jovens, o Niall esteve nas reuniões de preparação para este encontro. Foi também ele quem sugeriu e convidou a oradora, da Associação Família e Sociedade. Mas as divergências chegaram com a definição da faixa etária do encontro. O Niall e a oradora propunham idades entre os quinze e os dezoito; alguns dos restantes elementos do grupo arciprestal queriam alargar o encontro, propondo idades entre os doze ou treze e os trinta. Por fim, no espírito de amizade e procura que caracteriza este grupo, todos chegaram a um acordo, e ficou assente que o encontro seria para jovens entre os quinze e os dezoito.
O que é um jovem? As crianças hoje em dia deixam de ser crianças muito cedo. Eu lembro-me de saltar à corda e jogar ao elástico no sétimo ano... Os pais falam dos seus filhos de nove anos como "pré-adolescentes" (o que é isso?), e os modernos concertos musicais estão atolhados de crianças vestidas de adultos.
No verão passado, enquanto vigiava um exame de décimo segundo ano, depois de rezar dois terços e de continuar sem nada para fazer além de olhar para os alunos (que é o meu trabalho como vigilante, mas que é mesmo muito aborrecido), decidi olhar para os seus pés. Onde estão as sapatilhas desbotadas da minha juventude? As unhas arranjadas com precisão e os saltos altos fizeram-me por momentos pensar que estava numa festa de adultos... A Clarinha tem várias colegas que se maquilham diariamente, na casa-de-banho do colégio. E ainda não fizeram catorze anos!
Os meus filhos sempre tiveram alguma dificuldade em se integrar nestas modernas definições de infância e juventude. A falta da televisão e do telemóvel e as longas horas passadas em Náturia causam um natural prolongamento do tempo de infância. Recordo os comentários de alguns professores do Francisco, durante o segundo ciclo, que me faziam sorrir de satisfação: "O Francisco é um aluno de excelência, com um comportamento exemplar, mas é um pouco infantil, quer dizer, não na forma de pensar, mas porque precisa muito de brincar..." E lembro-me das queixas do Francisco ao chegar a casa, depois da escola: "Os rapazes da minha turma são uns chatos! Não querem jogar aos polícias e ladrões nem correr. Toca para o intervalo, e eles ficam sentados, a conversar e a jogar com as consolas..." Mais tarde, o colégio lembrou-se de proibir as consolas e os telemóveis durante o intervalo da manhã e de tarde, e o Francisco recuperou algum tempo de brincadeira com os amigos.
Ao mesmo tempo que se apressam as crianças a deixar a infância, prolonga-se indefinidamente a juventude. Trinta anos, jovens? Noitadas, farras, carnavais, vida sem grandes responsabilidades, e sem qualquer pressa em casar, em ter filhos ou em assumir algum outro compromisso? Eu sei que me vão falar no desemprego e na crise, nos estudos prolongados e na dificuldade em arranjar casa, mas nada justifica a completa infantilização de muitos jovens adultos de hoje.
Naturalmente que nem todos são assim, graças ao Senhor (eu pertenço à famosa "geração rasca", e por isso tenho raiva a generalizações!). Eu conheço vários jovens adultos, alguns leitores deste blogue, com histórias belíssimas de audácia e responsabilidade; e bastam uns quantos com garra para mudar o mundo...
Quando ouço comentários de colegas, na brincadeira, com saudades dos tempos de juventude, sinto sempre um arrepio. Eu detestaria ter de passar de novo pelas crises da adolescência, as paixões não correspondidas, as dúvidas de namoro, os conflitos com os amigos, as horas de estudo e o stress dos exames. Deus me livre! É tão bom ser adulta! Eterna juventude? Haja paciência! Tive uma juventude recheada de felicidade, mas uma vez bastou... Gosto de dizer que tenho 42 anos e sinto muito orgulho nos meus cabelos brancos, que são bastantes!
Viver o presente, em plenitude, com alegria, com realismo. Agradecer a Deus o dom do dia de hoje. Estar plenamente aqui, onde estou, seja criança, adolescente, jovem, adulto, idoso. Como diz o grande Livro do Eclesiastes:
"Há um tempo para cada coisa debaixo do céu.
Tempo de nascer e tempo de morrer
Tempo de plantar e tempo de colher
Tempo de matar e tempo de curar
Tempo de destruir e tempo de construir
Tempo de chorar e tempo de rir..." (Ecl 3, 1-8)
Na quarta-feira depois de almoço fui rapidamente ao Continente, para comprar uns sumos e uns bolinhos para a festinha do António, nessa tarde. Eu ia realmente cheia de pressa, com passos rápidos, quase a correr (sim, eu corro muito o dia inteiro...). Por isso, foi com surpresa que literalmente esbarrei com um monstruário à entrada da loja, no local de passagem. Forçada a parar a minha marcha, debrucei-me para apanhar do chão o que fizera cair: pacotes de preservativos. Primeiro fui assaltada por um pensamento de espanto: que faziam os preservativos à entrada da loja, a barrar-me a passagem, longe do local de produtos de higiene? Depois lembrei-me que estávamos em véspera do dia de S. Valentim. Tudo explicado!
Ou não... Que têm os preservativos a ver com o Dia dos Namorados? Será que os tempos mudaram, e com eles, os valores? Os meus alunos não usam a palavra "namorar". Para eles, é "andar" ou "curtir". Lembro-me de uma aula há dois anos, com a minha direção de turma de nono ano, num dia em que falávamos das aulas de Educação Sexual que tinha programado:
- Ó professora, educação sexual não! Nós já sabemos tudo sobre o pimba-pimba!
Lembro-me também do espanto de uma menina de dez anos, que acompanhava a mãe a um encontro festivo do grupo de preparação para o matrimónio. A mãe, minha amiga, era uma das orientadoras do curso.
- Mãe, tens a certeza de que estes senhores e senhoras estão a preparar-se para casar? - Perguntava ela.
- Sim, querida, tenho. Agora vai brincar.
- Mas tens mesmo a certeza? - Insistia a menina.
- Já te disse que sim, filha! Vai brincar! Porque perguntas isso tanta vez?
- É que, mãe, todos estes senhores e senhoras têm aqui os filhos! Se vão casar, como é que já têm filhos?
O Francisco está a crescer. De vez em quando, conversamos sobre o tema do namoro. O namoro não é um estado de vida, como o matrimónio ou o celibato. O namoro é por natureza um tempo de passagem, uma ponte entre a amizade e o casamento. A ninguém passaria pela cabeça acampar sobre uma ponte! As pontes são por natureza locais de passagem, que ganham o seu valor das margens que unem.
O namoro é uma ponte. Como tal, não deve ser demasiado longo, porque o cansaço levaria à tentação de acampar ali mesmo. Vale mais prolongar o estádio de amizade anterior, ou apressar o casamento, do que arriscar ter de acampar a meio da ponte.
O namoro é uma ponte. Será possível viver a castidade durante o tempo de namoro? Não só é possível, como é essencial. A castidade ("O que é isso, professora?") é uma virtude que deverá acompanhar a vida inteira, e não apenas o tempo de namoro. Um casal que queira viver a sua sexualidade com verdade, planeando naturalmente a sua família, precisa de estar bem treinado na castidade. Algumas situações de doença de um dos esposos ou de gravidez de risco serão ocasiões em que este treino surgirá como uma estrela luminosa, capaz de fazer crescer o amor em vez de o destruir.
O casal de santos de que falei aqui, Giovanni e Rosetta, fizeram um voto, que cumpriram, de na primeira noite de núpcias dormirem separados, para a oferecer a Nossa Senhora rezando, isto depois de um longo namoro passado sem nunca se terem encontrado a sós (p. 151, Esposos e Santos). Loucura? Não: grandeza de alma, magnanimidade!
- Se tu me amas, prova-mo - Dizem os jovens uns aos outros, cheios do seu ego, com as emoções à flor da pele.
Sim, é preciso provar que se ama - que se ama o outro pelo que ele ou ela é, e não pelo que ele ou ela me dá.
Se me amas, espera por mim... Estende-me a mão e atravessemos juntos esta ponte, para na outra margem podermos construir a família que Deus sonhou para nós!
Conhecem Laranja-Lima, do Padre Zézinho? Escutem então... Está na hora de arrancar com os Noivos de Caná, ou os Namorados de Caná...
"Senhor, não é por luxúria que recebo, como esposa, Sara, minha irmã. Faço-o com o coração sincero. Digna-te ser misericordioso comigo e com ela, e conceder-nos que envelheçamos juntos. Ámen!" (Tb 8, 7)
O dia de anos do António começou muito cedo. Seis horas da manhã, e já cantavam galos e meninos! Feliz, o António abria presentes e recebia abraços. Ena, as figurinhas do Jake e dos Piratas! Ah, e balões, que prenda magnífica! E tanto papel de embrulho para espalhar por todo o lado... Na cozinha havia croissants e pães com chocolate. E sobre a banca, o bolo que a Isabel fizera, pronto para ir para a escola.
Como nas tardes de quarta-feira não tenho aulas, o aniversário do António foi especial: na escolinha, os seus amigos cantaram os parabéns e partilharam o bolo; e logo depois do lanche, fui buscar o António e mais quatro amigos, para continuarem a festa cá em casa. Foi a primeira vez que o António festejou o seu aniversário com amigos da escola, e estava tão feliz!
Eu confesso que estava desejosa de conhecer mais de perto os seus amigos. Recordo as festas de anos do Francisco e da Clarinha, quando eram assim pequeninos... Ainda ontem me cruzei com um dos amigos do Francisco, que costumava vir aqui brincar nas festinhas e a quem tive de consolar mais do que uma vez, sentando-o ao meu colo por alguém lhe ter tirado um brinquedo. Ontem tive de olhar para cima para o poder cumprimentar... Meu Deus, como o tempo passa, e como eles crescem! As amigas da Clarinha estão altas e bonitas. Continuam a vir cá a casa, mas já não brincam com as bonecas: agora dançam no quarto, ou vão juntas dar um passeio de bicicleta.
O David tem grandes e bons amigos, que vêm cá brincar de vez em quando. Também já conheço as amigas da Lúcia, e elas também já conhecem a nossa casa, com tudo o que lhe pertence - os cães, os gatos, as galinhas, o barulho, a confusão.
Ontem fiquei a conhecer os amigos do António, de quem ele já falava há muito tempo. E pude observá-lo a brincar, a ser generoso, a zangar-se, a sorrir, a partilhar, a gerir emoções e pequenos conflitos...
- Vai chamar o teu primo - Diz um dos amigos, filho único.
- Não é primo, é mano - Responde o António.
- Mano? E o outro também? - Pergunta, admirado.
- Sim, são todos manos!
- Vou ver bonecos - Diz-me outro menino, entrando disparado na sala e procurando qualquer coisa com o olhar. - Onde está o comando?
- Nós não vemos televisão cá em casa senão ao fim-de-semana - Respondo, sorrindo.
- Então com que é que brincam?
- Com os bonecos de brincar, não de ver. Já viste a coleção de animais do António? Vem que eu mostro-te!
O António e os seus amigos irão crescer. Qualquer dia deixo de conseguir pegar-lhes ao colo ou intervir nas suas disputas. Alguns irão afastar-se, outros permanecerão fiéis, novos amigos se lhes juntarão. Como os irmãos, também o António terá de aprender a construir amizades, o que não é assim tão fácil! Agora está apenas a dar os primeiros passos.
Para se ter um amigo, é preciso reconhecer, antes de mais, que não se é o centro do mundo. E alguns meninos, habituados ao primeiro lugar dentro da sua família - idolatrados, mas não necessariamente mais amados - irão descobrir isso demasiado tarde...
Os amigos dos nossos filhos são um pouco também nossos filhos. Damos-lhes o lanche, abrimos-lhes a porta da nossa casa e da nossa vida, e oferecemos-lhes a gratidão que sentimos por quererem bem aos nossos. A vida sem amigos torna-se tão triste e vazia! Bem diz o Senhor:
"Um amigo fiel é uma poderosa proteção:
quem o encontra, encontra um tesouro."
(Ecl. 6, 14)
Abençoa, Senhor, os amigos dos meus filhos e os meus amigos! Que eles Te encontrem na luz da nossa amizade...
- Mãe, tenho de levar bolachas ou fruta para a partilha - Diz-me o António, vestindo a bata para ir para a escola.
- Sim, António, levas. Lúcia, veste o casaco! Clarinha, por favor, lava-me a cara da Sara, que está cheia de ranho! Francisco, despacha-te!
- Mãe, assina depressa este teste...
- Agora? Não tiveste o dia todo ontem?
- Alguém mexeu no meu saco de Educação Física?
- Por favor, meninos, vamos chegar atrasados! Já são quase oito e um quarto! Corram, para o carro!
- O vidro do carro está congelado. Eu vou ligar a chaleira para aquecer água.
- Obrigada, Francisco. Vamos, entrem no carro!
Chegamos ao colégio em cima da hora das aulas dos mais velhos. Os do primeiro ciclo têm mais um quarto de hora de recreio, para grande alegria deles. Resta-me tirar os dois mais novos do carro e entrar na Escolinha. Com um sorriso, o António e a Sara cumprimentam a Irmã na portaria e as educadoras que vão chegando também.
De repente, o António desata a chorar:
- Não trouxe as bolachas!
Na verdade, a pressa e a confusão da manhã fizera-me esquecer.
- Não faz mal, António, trazes amanhã!
Mas o meu filho está inconsolável. E inconsolável fica, depois de lhe dar um beijo, depois da auxiliar lhe dar um abraço, depois dos amiguinhos o puxarem para brincar com eles.
A hora da partilha, na escolinha, é uma hora muito importante: a meio da manhã, todos os meninos têm um pequeno lanche, geralmente composto de uma peça de fruta e uma bolacha. Ao contrário das outras refeições, este lanche matinal é oferecido pelos pais. Como? De vez em quando, sem ordem fixa, os pais mandam pelos meninos um pacote de bolachas ou um cesto de fruta. Quando, no lanche da manhã, os meninos vêem a sua fruta e as suas bolachas a serem distribuídas, sentem um orgulho especial. Afinal, os autores da partilha são eles!
O António não estava a chorar por ir ficar sem lanche, claro, pois naturalmente iria ter direito a ele. Estava a chorar, porque naquele dia não iria dar, mas apenas receber. E como disse Jesus:
"Há mais alegria em dar do que em receber." (At 20, 35)
Hoje, o António vai chegar à escola com um grande cesto de quivis. E como hoje é também o dia do seu quinto aniversário, para além dos quivis, o António levará um belo bolo, feito pela nossa fada madrinha, que como o António, também gosta de dar! Já estou a adivinhar o seu sorriso de pura felicidade, primeiro ao cumprimentar a Irmã, depois ao cumprimentar as educadoras e auxiliares, e finalmente, durante a manhã, ao distribuir os quivis pelos seus amigos... Quando, à tarde, lhe cantarem os parabéns e lhe fizerem uma festa, o António já terá experimentado a outra festa, a festa da partilha. Parabéns duplamente, querido filho!
A semana passada, uma leitora deste blogue enviou-me a primeira fotografia do seu bebé:
O anúncio de uma nova vida é sempre um momento que nos transcende e, com maior ou menor intensidade, nos perturba. O ser minúsculo que Deus nos entrega, neste dom que é a maternidade, vem desalinhar a nossa vida, desarrumar as nossas ideias, desiquilibrar o nosso barco. E nem sempre é fácil acolher...
Para a mãe que me enviou esta fotografia, não está a ser fácil! Ainda há em Portugal patrões que despedem as mulheres grávidas, e algumas famílias olham para o futuro com muita apreensão. Que será deste menino? Pergunta-se ela. E a alegria que sente por ser novamente mãe, é toldada por algum receio e algum desalento.
No entanto, mesmo com medo, com perturbação, com dor, esta mãe está decidida a lutar pela felicidade do seu filho. Ela sabe que, antes de ser seu filho, este menino, com oito centímetros de comprimento, é filho de Deus; e antes de ser amado por ela, é amado, imensamente amado por Deus!
Já ouvi, na minha escola, alguns comentários de passagem entre adolescentes: "Se correr mal, sempre se pode fazer um aborto." Mas também já fui testemunha de três adolescentes que levaram a sua gravidez até ao fim, regressando às aulas pouco depois dos bebés nascerem e levando-os consigo. Num dos casos, bem engraçado, o bebé ficava na salinha dos funcionários, num bercinho arranjado pelos professores, com roupinhas também arranjadas por nós, e era cuidado um pouco por todos, durante as aulas da menina. Nos intervalos, o bebé fazia a delícia das amigas da nova mamã (mais até do que da própria mamã...).
A vida é o primeiro dom do amor de Deus. Até que ponto estamos dispostos a defendê-la? Conhecemos as fronteiras da ciência e os atropelos que se vão fazendo no campo da bioética? Embriões congelados, técnicas de reprodução medicamente assistida, aborto, contracepção... Os cristãos merecem ser esclarecidos nestas matérias. Jesus deixou um mandamento muito claro a todos os que, de alguma forma, têm o dever de guiar os outros, sejam pais ou consagrados:
"Seja a vossa palavra sim, se for sim, não, se for não." (Mt 5, 37)
Para ajudar a clarificar a palavra e o pensamento, está a ser apresentado, um pouco por todo o país, o Manual de Bioética para Jovens. A sua leitura, clara e concisa, faz bem também aos menos jovens! E os debates nas sessões de apresentação têm sido muito interessantes. O Francisco irá assistir a esta apresentação no dia 14 de março, aqui em Anadia, feita precisamente pela sua tia, professora na Faculdade de Farmácia de Coimbra. Entretanto, recebi este cartaz, sobre a apresentação do manual em Vila Nova de Famalicão, no dia 20 deste mês de fevereiro. De certeza que haverá ainda outras datas e outros lugares. Informem-se, que vale a pena!
E se quiserem, hoje, depois de ler este post, façam comigo uma oração por esta mãe, agradecida pelo dom do seu filho, e por todas as mães em dificuldade...
"Por vezes, ao contemplarmos a maravilha que somos,
arrebata-nos uma vertigem"
(Jean-Marie Le Méné, Manual de Bioética)
Em busca daquela luz abençoada que irradia da Eucaristia, tenho procurado ir mais vezes durante a semana a uma das várias igrejas abertas, onde Jesus permanece escondido no sacrário. Geralmente, estão vazias, num silêncio quase palpável. Sabe bem, este silêncio completo, quando os meus dias são preenchidos com tantas vozes - dos alunos aos filhos!
De joelhos, em voz alta (gosto de rezar em voz alta), digo a Jesus aquilo que Lhe quero dizer, com simplicidade e sem afetação. Será isto, rezar? Será isto, rezar bem? Não sei. Tenho muitas dúvidas! Mas não me debruço demasiado sobre elas. Sei que a oração bem feita não depende dos meus sentimentos ou das minhas emoções, nem sequer da capacidade de me abstrair de tudo à minha volta para contemplar o Senhor. Às vezes, passo o tempo de oração a lutar contra as distrações; outras, sinto-me transbordante de amor. Talvez a primeira oração seja, no entanto, mais agradável ao Senhor, porque me ajuda a tomar consciência do nada que sou! E talvez a outra oração, cheia de fervor, seja também cheia de vaidade... Jesus nunca deu importância aos sentimentos. Não há nenhuma passagem no Evangelho em que Jesus diga: "Vai em paz, os teus sentimentos te salvaram." Mas há inúmeras passagens onde Jesus diz:
"Vai em paz. A tua fé te salvou!" (ex: Mc 5, 34)
Enquanto contemplava o sacrário fechado, onde apenas uma luzinha me deixava perceber a Presença Real, recordei-me de um belíssimo episódio da vida da Madre Teresa. Aquela Madre tão santa passou metade da vida numa aridez espiritual total, sem conseguir sequer sentir, por momentos que fosse, a presença de Jesus na sua alma. "Se o inferno existe, deve ser assim", desabafou ela um dia. E no entanto, quanto maiores as suas trevas interiores, mais belo o seu sorriso, que todos recordamos. No final da sua vida ocorreu o episódio que passo a citar:
"Nos últimos anos da sua vida, a Madre recebeu a graça de ter o Santíssimo Sacramento no quarto do hospital, e queria tê-l'O sempre consigo. Em Agosto teve outro ataque de coração. Meteram-lhe um tubo até aos pulmões, para a ajudar a respirar. Antes de os tubos terem sido finalmente retirados, o médico disse-me: "Padre, vá a casa buscar a caixa para a Madre." Por momentos, eu fiquei sem saber o que queria ele dizer. "Que caixa - a caixa dos sapatos?" Ele respondeu: "Aquela caixa, para onde a Madre está sempre a olhar. Quando a trazem e a põem aqui no quarto, a Madre fica calmíssima. Era bom estar aqui antes de retirar os tubos." Percebi que ele se referia ao tabernáculo com o Santíssimo Sacramento. E ele continuou: "Quando a caixa está aqui no quarto, ela fica a olhar, a olhar, a olhar para aquela caixa." O médico, que era hindu, tinha sido uma testemunha involuntária do poder que a Eucaristia tinha sobre a nossa Madre." (Vem, sê a Minha Luz, página 328)
Mesmo sem "sentir" o amor de Jesus irradiante do sacrário, a Madre vivia deste amor. A oração bem feita não depende de nada, absolutamente nada que eu faça, sinta ou pense, por muito belo que me pareça a mim. É Jesus, e só Jesus, Quem tudo faz nas almas e nas vidas...
No domingo passado, como corolário de uma semana de gastroenterite, foi a vez da Sara vomitar. Já sem grande capacidade de reação, lavei a colcha da minha cama - que a Sara decidiu começar a sua sessão de vómitos enquanto a mudava sobre a minha cama -, os tapetes, as roupas, etc, com a preciosa ajuda da minha máquina cristã. Segunda-feira tive de ficar em casa com ela, faltando à escola. A Sara já estava mais bem disposta, mas continuava com os intestinos muito acelerados. Depois de brincarmos às escondidas sob a roupa a secar...
... de passarmos a ferro um castelo de roupa e de dobrarmos pares de meias sem fim (sim, a Sara ia "ajudando"...)
... a Sara fez-me um pedido:
- Quero quivi!
Olhei para ela com espanto:
- Quivi? Com os intestinos como tens, a desfazerem-se em água? Não, Sara, não te vou dar quivi. Vou dar-te um caldinho de cenoura e vais com muita sorte!
O tom de súplica tornou-se mais insistente:
- Quero quivi!
- Não, Sara, não há quivi hoje para ninguém.
Mas a Sara tinha visto a enorme caixa de belos e apetitosos quivis, que um simpático casal com quem nos cruzamos todos os domingos na missa nos oferecera. Sem paciência para me aturar, a Sara começou aos gritos:
- QUERO QUIVI! QUERO QUIVI! QUERO QUIVI!
Enquanto a procurava distrair, mostrando-lhe os passarinhos a saltitar no jardim e as gotas de chuva a cair, pensei na forma como tantas vezes rezo, e rezo mal... Como a Sara, também peço o que não me convém, e bato o pé porque o quero a todo o custo. Já o Apóstolo Tiago explicava aos cristãos:
"Pedis e não recebeis porque pedis mal, para gastardes com as vossas paixões." (Tg 4, 3)
Quantas vezes a minha oração se assemelha a uma lista de compras... "Dá-me isto, dá-me aquilo..." É tentador utilizar a oração para satisfazer as nossas paixões, e para nos queixarmos de tudo o que o Senhor não nos dá ou nos tira. E somos muito mal-criados na forma como o fazemos!
Jesus ensinou-nos a pedir, sim, com a simplicidade de uma criança que pede, insiste e volta a pedir a seu pai. Mas depois de cada pedido, Jesus ensinou-nos a acrescentar uma palavra de delicadeza, semelhante ao "se faz favor" que ensinamos às crianças:
"Seja feito como Tu queres, e não como Eu quero" (Mt 26, 39)
Ou:
"Seja feita a tua vontade, na terra como no céu." (Mt 6, 10)
Assim seja mesmo!