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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No sábado, o David participou pela primeira vez num convívio dos acólitos de Mogofores, no Santuário de Schonstatt, perto de Aveiro. Eu estava com algum receio de o deixar ir, porque o David é sem dúvida o acólito mais novo, e eu não queria que ele se sentisse só durante o dia. Mas a Lena, responsável pelos acólitos da nossa paróquia, assegurou-me de que o David não se iria sentir deslocado, e de que todos cuidariam dele. A Vera e a São, as duas educadoras que nos ajudam nos retiros Famílias de Caná (a propósito... Já se inscreveram no Retiro de Viana?) e que são também acólitas, vieram cá a casa de propósito "implorar" para eu deixar o David ir, que "as cotas" tomavam conta dele... A Vera até prometeu fazer um bolo especial caso o David fosse: um bolo que, a cada fatia que se corta, transborda de pintarolas! Bem, perante tanta amizade e tanto entusiasmo, não tive outro remédio senão deixar ir o meu rapazinho.
E que bem que eu fiz! O David chegou a casa felicíssimo, cheio de histórias para contar e de vontade de participar em novo encontro. A Vera, a São e a Lena falaram-me da alegria do David ao longo de todo o dia e, sobretudo, do seu imenso interesse em aprender. O David escutou, observou, fez jogos, comeu o bolo das pintarolas, brincou, rezou, adorou o Senhor na Eucaristia. Como o Menino Jesus no Templo, também o David surpreendeu com as suas imensas perguntas e algumas respostas, que foi buscar ao tesouro das histórias bíblicas que bem conhece. Por fim, participou na Missa Vespertina de Ramos.
Ontem, a Lena enviou-me as fotografias do encontro:
- Mamã, hoje já não preciso de rezar o terço, porque já rezei - Disse-me o David, enquanto jantava.
- Que bom, rezar o terço no Santuário de Nossa Senhora! E que mais rezaste tu?
- Estivemos a fazer adoração. Havia lá uns papelinhos onde podíamos escrever uma oração secreta, e depois deitar num vaso.
- E tu escreveste?
- Sim, escrevi.
- E que escreveste tu?
- Eu não te disse que é segredo?
- Ah, pois disseste. Mesmo para a mãe?
- Se calhar posso contar à mãe. Eu pedi a Jesus que me fizesse santo, e outras coisas assim. Também fomos à missa.
- Ena! Não te cansaste, numa missa tão longa?
- Não foi longa! Foi até curta. Eu gostei muito. Ouvimos a história da morte de Jesus, e tu sabes como eu gosto dessa história. Amanhã, na nossa missa dos ramos, vou levar a caldeirinha da água abençoada.
- E que mais aprendeste tu?
- Aprendi a história do padre de Schonstatt. Sabias que ele esteve num campo de concentração?
- Sabia.
- Oh! Tu sabes tudo!
- Ah, mas já não me lembro bem! Contas-me?
- Conto. Ele esteve preso e sofreu muito, mas depois ele rezou muito a Nossa Senhora e fez-se santo.
Já na caminha, o David tinha outra coisa para me dizer:
- Olha, a Irmã que nos contou a sua história disse que o pai dela não queria que ela fosse Irmã. Mas ela foi! Então eu perguntei: "Quando Deus pede uma coisa e os pais pedem outra, a quem devemos obedecer?" E a Irmã respondeu-me. Ela disse que temos de obedecer a Deus primeiro, porque só quando obedecemos a Deus é que somos felizes.
- A Irmã tem toda a razão, David! Mas eu espero nunca te pedir nada que vá contra a vontade de Deus. Agora dorme!
- Posso ir a outro encontro de acólitos?
- Podes, claro! Boa noite, querido filho!
O David já descobriu o primado de Deus. A sua descoberta lembrou-me a resposta de Jesus a Maria e a José, quando era pouco mais velho do que o meu filho:
"Não sabíeis que Eu devia estar em casa de meu Pai?" (Lc 2, 49)
Nessa noite, já deitada, a minha oração, transbordante de gratidão pelo dom do meu filho, foi assim: Senhor, que os pais e as mães cristãos nunca afastem os seus filhos da Casa do Pai. Ámen!
PS - A Lena, responsável pelo grupo de acólitos de Mogofores, é mãe de uma bela Família de Caná. E sabem que mais? Há poucos dias decidiu começar a partilhar as suas vivências num blogue, que a todos convido a visitar: As surpresas de Deus. Haja muitas Famílias de Caná a inundar de Deus a internet! Para quando, um blogue brasileiro das Famílias de Caná? ...
Quando éramos namorados, o Niall e eu sonhávamos com uma quinta enorme onde os nossos filhos pudessem brincar em segurança, mexendo na terra e subindo às árvores. No entanto, o nosso orçamento nunca nos possibilitou a compra da dita quinta, nem de nada que se lhe parecesse. O tempo foi passando, e percebemos que só nos restava enterrar o nosso sonho...
Até que, um ano depois da morte do Tomás, nos mudámos para a casinha cor-de-rosa onde agora vivemos. Não, não fica no meio de uma quinta, mas fica no meio de um descampado cheio de silvas, canas e pedras, urtigas e flores selvagens, arbustos e eucaliptos - e lixo.
Assim que nos mudámos para aqui, o Francisco e a Clarinha adotaram este terreno como o seu quintal e batizaram-no de Náturia, inspirados nas Crónicas de Nárnia, que o pai lhes lia religiosamente todas as noites antes de se deitarem. Veio o David, depois a Lúcia, o António e, por fim, a Sara, e Náturia cresceu com eles. Neste post do ano passado descrevi uma visita guiada a Náturia, para que façam uma ideia do que estou a falar!
De dois em dois anos, Náturia muda de forma, pois o dono envia alguém com um trator para limpar o terreno, de acordo com a lei. A "limpeza" consiste basicamente em levantar grandes bocados de terra cheios de silvas e amontoá-los um pouco adiante, para de novo se cobrirem de silvas. Assim, de dois em dois anos, o descampado torna-se novamente excitante, com novas "montanhas" e novos "esconderijos", novos "túneis" de silvas e novas "piscinas" de água da chuva.
Férias significa tempo extra para brincar em Náturia. Da janela da sala ou da cozinha, vou vigiando as suas brincadeiras e escutando os seus gritos de alegria. Que felicidade!
Esta fotografia foi tirada pelo Francisco:
Sim, é o que estão a pensar: ele estava empoleirado no cimo de um eucalipto, contemplando o seu reino de Náturia e a nossa casa... Só descobri quando vi a fotografia.
Os mais novos têm brincadeiras mais pacatas:
- Já viste como Deus foi bom para connosco? - Disse-me outro dia o Niall, enquanto observava comigo os meninos a brincar.
- Como assim?
- Nós sonhávamos com um espaço grande para os nossos filhos brincarem. No entanto, se o tivéssemos, podias esquecer as Famílias de Caná e todo o trabalho que temos em mãos para o Reino de Deus, pois eu passaria os meus fins-de-semana empoleirado num trator, ou de enxada na mão. Assim, Deus ofereceu-nos uma terra que não precisamos de plantar, mas que torna possível aquilo que mais desejávamos: o espaço de brincadeira familiar!
- Tens razão. O que estás a dizer recorda-me as palavras de Moisés no Livro do Deuteronómio:
"Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó, dar a ti, com cidades grandes e belas que não edificaste, casas cheias de toda a espécie de bens que não ajuntaste, cisternas já escavadas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; e quando comeres e te fartares, cuida para não esquecer o Senhor que te libertou do Egito, lugar de escravidão." (Deut 6, 10-12)
- Se pensarmos bem, colhemos tantas coisas que não plantámos. A começar pelo dom da vida!
- Sim, e a graça, totalmente imerecida, de vivermos em países sem guerras e com elevados níveis de conforto...
- E a graça de nascermos cristãos e não termos de lutar ou morrer pela nossa fé!
- A graça de termos escolas para os nossos filhos, e podermos partilhar com os seus professores a belíssima tarefa da educação...
- Na verdade, a nossa vida não é apenas fruto do nosso trabalho ou do nosso esforço. É engraçado pensar nisso! A nossa vida é acima de tudo presente do Senhor. Nem sempre nos damos conta de todos os frutos que colhemos como família, e que não plantámos.
Depois, o Niall deu uma gargalhada:
- Bem, nem toda a gente se lembraria de ver este monte de silvas como um substituto vantajoso para uma bela quinta! É preciso ter o olhar treinado para reconhecer os dons de Deus...
- E para perceber quando Ele responde às nossas orações. É que frequentemente, a sua resposta é diferente do que imaginávamos! Primeiro parece-nos uma resposta fraquinha e ficamos desapontados, mas depois descobrimos que foi a resposta perfeita.
Náturia tornou-se, na nossa casa, símbolo da gratuidade do amor divino, e símbolo da simplicidade de que precisamos para aceitar este amor. A terra que não plantámos ajuda-nos a reconhecer que o Senhor nos libertou da escravidão do "Egito" (e do "querer sempre mais", e do "controlar toda a vida", e da "autosuficiência") para a felicidade do Reino...
(Vista romântica de Náturia)
E cá estão eles de novo, como em todas as primaveras!
Ontem, enquanto comíamos umas tangerinas na cozinha, olhei pela janela e soltei um grito: chegaram! Os meninos quiseram logo ver, e empoleiraram-se em cadeiras para conseguirem espreitar. Eles sabem que, no momento em que abrirem a porta da cozinha, os chapins azuis desaparecem à velocidade de um relâmpago, para só regressar quando a "costa" estiver livre... Fui buscar a máquina fotográfica e, sempre através da janela, consegui fotografar a sua azáfama:
O papá e a mamã chapim entram e saem do buraquinho da árvore, decididos a reconstruir o ninho dos anos anteriores - ou será o ninho dos pais? Sabemos apenas que é o mesmo ninho e a mesma espécie de aves, e a fidelidade dos chapins azuis encanta-nos. O profeta Jeremias também exaltou a fidelidade da Criação ao seu Criador:
"Até a cegonha no céu conhece o seu tempo, a pomba, a andorinha e a garça observam o tempo do seu retorno. Mas o meu povo não conhece o julgamento do Senhor." (Jr 8, 7)
Mas a vida de um passarinho é muito, muito frágil. Todos os anos esperamos ansiosos pelo regresso dos chapins, pois bem sabemos que cada primavera pode ser a última.
A maior e mais bela semana dos cristãos está aí, como todas as primaveras, ano após ano desde há mais de dois mil anos. Talvez sejamos tão frágeis como os passarinhos... Olhando à nossa volta e escutando as notícias do mundo damo-nos conta de que cada primavera pode ser, para nós, a última.
Mas cada primavera pode também marcar o nosso retorno ao ninho do Pai, nas grandes celebrações da Páscoa. Como os chapins-azuis, as cegonhas, as pombas, as andorinhas e as garças, observemos o tempo do nosso retorno, e não deixemos fugir esta bela oportunidade, pois não sabemos se será a última! Na grande árvore da Igreja, o nosso pequeno "ninho" estará vazio enquanto não o ocuparmos e o enchermos de amor...
- Frankie, Frankie! Está muito vento! Vem cá depressa!
- E o que tem o vento, David?
- Está mesmo bom para lançar o meu papagaio! Ajudas-me?
- Vamos lá então. Tens tudo a postos?
- Tenho, olha! O António também quer vir. Corre, antes que o vento páre!
Os meus filhos brincaram toda a tarde ao vento, e eu fui escutando as suas exclamações de alegria. Felizes, esforçaram-se por lançar o papagaio, que teimava em cair ao chão. Por fim, tomaram-lhe o jeito e puderam contemplar o seu esforço em tons de azul, sobrevoando Náturia. À noite, na oração familiar, agradeceram o papagaio e o vento.
Podemos queixar-nos do vento o quanto quisermos, mas sem vento, os papagaios de papel não se elevam no ar! Fico a pensar na quantidade de vezes que nos queixamos precisamente daquilo que nos lança no céu de Deus: as dificuldades, os problemas, as humilhações, as críticas, as frustrações, as doenças, o sofrimento... Ultimamente tenho procurado imitar os meninos com o seu papagaio de papel, e aproveitar o "vento" que me é diariamente oferecido para crescer em amor. Ainda não salto de entusiasmo como o David diante deste "vento", mas estou mais perto!
Diz o Amado do mais belo Cântico da Bíblia:
"Desperta, vento norte!
E tu, vento sul,
Vem soprar em meu jardim,
para que se espalhem seus aromas!"
(Cc 4, 16)
Que o vento da vida, ao soprar nos nossos jardins, espalhe os perfumes do Senhor. Ámen!
Domingo de manhã. O Niall saiu para ir buscar pão (não, não houve tempo para panquecas!) e regressou muito feliz:
- Teresa, encontrei a resposta para a minha dúvida do outro dia!
- Que dúvida? - Perguntei-lhe, enquanto vestia a Sara, a única criança acordada. O Niall estava cheio de entusiasmo:
- Aquela dúvida sobre o perdão de Deus. Deus perdoa, mas será que esquece?
- Ah, já me lembro! Estávamos a falar na omnisciência de Deus, e como é possível para Deus, que sabe tudo, perdoar e esquecer mesmo a sério. E então, podes explicar-me como é que chegaste à resposta enquanto foste comprar pão? Terá sido o padeiro a tirar-te a dúvida?
- Não, foi a própria Palavra de Deus. Enquanto fui ao pão, liguei a Renascença e acertei mesmo em cheio: estavam a ler as leituras deste domingo. A primeira leitura é tão bela, tão bela, que senti arrepios ao escutá-la. Foi ela que me trouxe a resposta.
- E?
- Ora escuta... Prepara-te, porque é mesmo muito bonito. Vou tentar lembrar-me das palavras exatas:
"Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma aliança nova. Hei-de imprimir a minha Lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas." (Jer 31, 31-34)
- Que maravilha, esta Palavra! Tens razão, Niall. Deus fala muito claramente aqui!
- Sim. Ele diz que o nosso pecado não só é totalmente perdoado, mas também que não mais será recordado. Deus esquece as nossas faltas, e não mais se lembra delas, depois de nos perdoar! Não devemos voltar a confessar faltas antigas já confessadas por medo de não termos sido perdoados, porque isso é uma ofensa ao perdão absoluto que o Senhor nos dá.
- Pois é. O amor de Deus supera a sua omnisciência... Espero não estar a dizer nenhum disparate teológico!
- Não estás. Todas as qualidades de Deus estão inseridas naquilo que Ele é: Amor. Fora do Amor absoluto que Ele é, Deus não é mais nada.
- Mas não é possível fazer uma confissão geral da nossa vida, em determinadas alturas, como por exemplo no Ano Santo?
- Claro que sim, por desejo profundo de colocar tudo diante da luz do Senhor. Dizia o Rei David: "Tenho sempre diante de mim o meu pecado..." (Sl 50) Mas não o devemos fazer por medo de não termos sido perdoados, isso nunca!
Os mais velhos acordaram entretanto, e todos juntos fomos tomar o pequeno-almoço.
- Meninos, tenho um desafio para vos fazer. - Disse o Niall, enquanto comíamos - Hoje, na missa, quero que estejam muito atentos à primeira leitura, porque ela vai trazer a resposta para uma pergunta que tinhamos feito uns aos outros no outro dia, durante a oração familiar.
- E qual é essa pergunta? Nós fazemos sempre tantas!
- Também vos desafio a descobrir a pergunta, Francisco.
Depois da missa, à hora do almoço, o Niall quis saber se todos tinham encontrado a resposta.
- Sim, encontrámos - Adiantou-se a Clarinha. - A pergunta era: Deus perdoa sempre, mas será que esquece? E a resposta é: sim, Deus esquece.
- Muito bem! O Papa Francisco tem toda a razão ao propor um Jubileu da Misericórdia para o ano que vem. Nós ainda entendemos muito mal o perdão de Deus!
- Vai ser maravilhoso viver um Ano Santo, experimentando na nossa vida este perdão absoluto, e redescobrindo o amor absoluto do Senhor!
- O Papa quer as igrejas abertas e muitas, muitas confissões. Vamos ver a misericórdia do Senhor a correr como um rio na sua Igreja, e uma nova primavera a desabrochar. Ah, que alegria...
- Meninos, amanhã é um dia muito especial. Alguém adivinha porquê?
- Porque são férias?
- Porque já acabaste as reuniões?
- Porque vamos ver a vovó?
- Bem, tudo isso está quase a acontecer, mas ainda não é amanhã. Mais tentativas?
- ...
- Amanhã é o dia em que o Evangelho nasceu.
- A Bíblia nasceu amanhã??
- Não, o Evangelho. A Bíblia são muitas histórias do povo de Deus. Na Bíblia aprendemos sobre David, Abraão, Sara, Samuel, Moisés, Ester, e todas essas histórias que vocês gostam de ouvir. Mas a história principal da Bíblia é o Evangelho, que é a história de Jesus.
- Ah, então amanhã é o dia em que escreveram o Evangelho?
- Não. É o dia em que tudo começou!
- O dia em que Jesus nasceu?
- Os bebés começam a viver nove meses antes de nascerem, não é verdade? O nascimento de Jesus é o terceiro mistério do Rosário. Qual é o primeiro?
- Já sei!
- Diz lá então, Lúcia.
- Amanhã é o dia em que o anjo disse a Maria que ela ia ter um bebé.
- Isso mesmo! Entre o dia de amanhã e o dia de Natal são precisamente nove meses. E como chamamos nós a esse mistério?
- Anunciação.
- Muito bem, David. Amanhã é o dia da Anunciação. E sabem quais são então as primeiras palavras do Evangelho? As primeiríssimas palavras da nossa salvação?
"Alegra-te, ó Cheia de Graça!" (Lc 1, 28)
O Evangelho nasceu com um imenso convite à alegria. Jesus veio dizer-nos que temos uma razão poderosíssima para vivermos sempre alegres: Deus está connosco e ama-nos infinitamente. Deus é nosso Pai, nosso Irmão, nosso tudo. Deus dá-nos a vida e dá a vida por nós. Que mais podemos desejar?
Eu sei que há várias leitoras deste blogue a viver o seu momento de "anunciação", carregando dentro de si a graça de uma vida novinha em folha. Algumas estão felicíssimas, outras ainda perturbadas com o anúncio inesperado. A elas dedico este post! Que possam experimentar a certeza da Boa Nova e a alegria transbordante que Maria, a nossa Mãe, carregou em si e ofereceu ao mundo. Ámen!
- Quem me vem ajudar a tratar da horta?
- Eu!
- Eu!
- Eu!
- Eu!
Rodeado de quatro crianças, o Niall calça as galochas, pega na enxada e dirige-se para a horta. O trabalho que se segue promete ser árduo, pois a nossa horta tem estado um pouco abandonada, entre tantos trabalhos que todos os dias se nos oferecem.
- Já percebi que a minha tarde vai ser trabalhosa - Diz-me, a sorrir - Quando tenho quatro ajudantes, demoro também quatro vezes mais!
Mas o Niall sabe que o importante não é a qualidade da nossa horta. Felizmente, ela é apenas uma experiência pedagógica e não precisamos dela para comer! O importante é a qualidade do amor que os nossos filhos experimentam na sua tarde de trabalho na horta...
Mas se os mais novos adoram ajudar - desajudando -, os mais velhos já não insistem para que os deixemos trabalhar.
- Francisco, não vens comigo?
-...
- Francisco, preciso que retires todas as ervas daninhas.
- Todas, pai?
- Sim. É preciso limpar tudo para depois começar a plantar. Tens ali tudo o que é preciso, e o carrinho de mão está no pátio. Vens ou não vens?
Um suspiro quase imperceptível, o computador que se fecha, e o Francisco vai ajudar o pai.
O Niall sorri, contente. De novo, o que está em jogo é muito mais do que uma horta experimental... Importa ensinar aos nossos filhos o valor do trabalho e oferecer-lhes oportunidades para, também eles, aprenderem a amar, servindo.
Ao pôr do sol, encontro o Francisco na horta, três baldes de ervas daninhas a seu lado.
- Estás a fazer um belo trabalho! - Digo-lhe.
- Eu sei. Mas estou estafado! Hoje acordei com dores de costas por ter saltado tanto ontem com os cavalos.
- Todos nós estamos cansados. É natural! Agora importa não desperdiçares o teu trabalho desta tarde.
- Como assim, desperdiçar?
- Fizeste o que tinha de ser feito, porque o teu pai te pediu. Como filho obediente que és, não te passava pela cabeça não o fazer. Para o trabalho ficar feito, é indiferente estares de boa ou de má vontade... Mas para Deus, isso faz toda a diferença! Para Deus, só conta o que for feito por amor. O resto é pura perda de tempo.
- Eu sei. E é por isso que tenho estado a tarde inteira a oferecer a Jesus este trabalho!
Oferecer a Jesus o trabalho, por amor. Não é preciso que o trabalho nos faça sentir bem, nem que nos apeteça: basta dirigir a nossa intenção e, como o Niall e o Francisco, oferecer a Jesus o que tem de ser feito, unindo cada gesto à sua entrega na cruz. E de repente, tudo ganha sentido!
Desperdiçamos tantas oportunidades na vida, fazendo o que tem de ser feito por obrigação, contrariados, resmungando, para parecer bem, para não falarem de nós, por vaidade, por orgulho, por submissão... Dizia a Madre Teresa:
"Na nossa vida, não somos chamadas a fazer grandes coisas,
mas antes a fazer pequenas coisas com um grande amor."
E S. Paulo explica, no belíssimo capítulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios:
"Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos
mas não tiver amor,
sou como bronze que soa ou tímpano que retine.
E se eu possuir o dom da profecia,
conhecer todos os mistérios e toda a ciência
e tiver tanta fé que chegue a transportar montanhas,
mas não tiver amor,
nada sou.
E se eu repartir todos os meus bens entre os pobres
e entregar o meu corpo ao fogo,
mas não tiver amor,
nada disso me aproveita." (1Cor 13, 1-3)
Domingo II de Páscoa, Domingo da Misericórdia, iremos fazer um Retiro Famílias de Caná em Viana do Castelo, no Convento de S. Domingos, a convite do senhor padre Vasco Gonçalves. Aqui fica o programa do retiro, com um link para as inscrições online, como costume:
Programa do retiro de Viana_2015.pdf
(imagem retirada do Jornal Construção)
Estamos felicíssimos com este arranque das Famílias de Caná no norte do país! Depois de alguns retiros aqui no centro, outro no interior e um em Almada, vamos finalmente avançar para o norte. Ah, e depois do verão iremos para o Alentejo, mas sobre isso falamos noutra ocasião!
Queremos também informar os leitores do blogue que este retiro no norte não será o único: iremos ter mais dois retiros semelhantes até às férias do verão, e para que possam escolher de acordo com o vosso tempo e a proximidade da vossa residência, aqui ficam as datas:
Retiro Famílias de Caná em Castelo de Neiva - 16 de maio 2015
Retiro Famílias de Caná em Braga - 21 de junho 2015
Atempadamente, iremos publicar as incrições e o programa destes dois retiros.
Temos ouvido dizer maravilhas das pessoas do norte, da sua capacidade de acolhimento e da sua disponibilidade para participarem em encontros e retiros. Assim, estamos sinceramente à espera de três retiros cheios de novas famílias! Quando chegarem as férias do verão, esperamos ter muitas novas Famílias de Caná com o coração transbordante de entusiasmo!
Já o disse várias vezes, mas quero voltar a repetir: as Famílias de Caná são um movimento para todo o tipo de famílias, sejam famílias tradicionais, ou monoparentais, ou reconstruídas. São também um movimento para aqueles que se preparam para o matrimónio e para os que ainda não têm filhos. Todos, sem exceção, são bem vindos aos nossos retiros! O Senhor falará ao coração de cada um a partir da sua própria experiência de vida. Venham sem medo, e tragam um coração disponível para escutar o Senhor e aceitar os seus desafios.
Falando agora um pouco melhor no retiro de Viana: como costume, será gratuito. Começará às dez horas da manhã em ponto (mais cedo seria impossível para nós, que temos uma longa viagem a fazer!). O almoço e os lanches serão partilhados entre todos. As merendas das Famílias de Caná costumam ser bem apetitosas, e de certeza que em Viana não será diferente! Logo pelas 10h30 participaremos todos na missa paroquial, pois o retiro será num domingo, e num domingo muito especial: o Domingo da Misericórdia.
Connosco, viajarão duas educadoras, a Vera e a São, que muitos leitores já conhecem dos retiros anteriores. Elas são ambas mães de Famílias de Caná e educadoras de infância há muitos, muitos anos, com infinita paciência e uma enorme experiência com crianças pequeninas. A São costuma ficar encarregue de cuidar dos bebés, e a Vera costuma trabalhar com as crianças mais velhitas. O Niall terá a seu cargo os jovens e as crianças mais velhas. Já está com imensas ideias para trabalhar com eles!
O tempo urge, o dia 12 está quase aí. Inscrevam-se o quanto antes! Os Retiros Famílias de Caná são experiências únicas, e para nós, família Power, têm sido uma fonte de bênçãos. Os nossos filhos estão entusiasmadíssimos! Eles simplesmente adoram os dias de retiro.
Ainda têm dúvidas? Sentem-se por uns instantes com uma bíblia na mão, abram em João 2, e leiam o episódio das Bodas de Caná. Depois, fechem os olhos e saboreiem as palavras de Nossa Senhora:
"Fazei tudo o que Jesus vos disser." (Jo 2, 5)
Abram de novo os olhos e... Que vos diz Ele ao coração?...
Dia do Pai. Pequeno almoço. Os meninos acordam com o doce cheirinho da apple crumble irlandesa.
- Feliz Dia do Pai!
- Feliz Dia do Pai!
As exclamações de alegria repetem-se, enquanto todos correm para a cozinha para um pequeno-almoço esmerado. Entre duas garfadas, o Francisco comenta, em tom de brincadeira:
- Para quaresma, as nossas refeições nem têm sido más!
- Sim, são mais as exceções que a regra! - Acrescenta a Clarinha - Dia do pai, dia de S. Patrício, os meus anos, o retiro...
- Ah, o retiro! A comida do retiro é sempre a melhor comida do mundo! Não sabe a quaresma, não...
- E depois os domingos de panquecas, que o domingo é sempre dia de festa, quaresma ou não quaresma...
- Bem, a alimentação não tem sido a base do nosso sacrifício quaresmal. No entanto, acho que esta quaresma temos rezado muito, não é verdade?
- Sim, mamã, temos rezado muitas vezes a Via Sacra, e feito adoração em silêncio. E temos contado muitas histórias da Bíblia!
- E eu estou sempre a pensar em Jesus, sabes, mãe?
- Ai sim, David?
- Sim. Quando estou na escola penso muitas vezes: "Jesus fica ou não contente com o que eu estou a fazer?" Há uma menina na minha sala que me irrita tanto! Está sempre a implicar comigo. Então eu fico a pensar como é que Jesus fazia se fosse eu.
- Que boa ideia, David! Não estás nunca sozinho nessas lutas. Jesus está sempre a teu lado! Lembra-te de rezar sempre: "Nós, Jesus!"
- E eu lembro.
O pequeno-almoço está terminado. Enquanto os meninos acabam de se arranjar, o Niall e eu arrumamos a montanha de louça espalhada pela mesa. São quase horas de sair para a escola, mas estamos habituados a aproveitar todos os minutos a sós - com ou sem louça pelo meio - para conversar:
- Quando nos acostumamos a rezar a Via Sacra, pensamos mais vezes no que significa realmente o sacrifício de Jesus - Diz-me o Niall.
- Sim, faz-nos bem meditar em cada passo do seu caminho doloroso. Quanto mais meditamos na cruz de Jesus, mais os nossos afazeres nos parecem triviais. Começamos a perceber que realmente, só o amor importa...
- E deixamos de dar importância ao que não tem importância.
- A oração serve mesmo para isso, não é? Rezar não serve para mudar a vontade de Deus, porque a vontade de Deus é perfeita; serve antes para mudar a nossa vontade, converter o nosso coração, assimilar os critérios do Evangelho, aprender a ver a vida através do olhar de Jesus.
- Meditar na Via Sacra e adorar Jesus no Santíssimo Sacramento são duas formas de imitarmos Verónica, que ao enxugar o rosto de Jesus, descobriu os traços do Senhor gravados no seu véu, no seu coração, na sua vida...
- Sim, Verónica é uma bela imagem do que acontece a quem reza! E penso que todos nós cá em casa estamos a experimentar esta união crescente com o Senhor.
Antes de sairmos para a escola, a Lúcia quer oferecer uma flor a Jesus, depois de fazer as pazes com o António. O nosso Canto de Oração cheira a primavera...
"Todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor como um espelho, e somos transformados nesta mesma imagem, sempre mais gloriosa, pela ação do Senhor." (2Cor 3, 18)
- Niall, vem cá depressa ler o mail que recebi da Bruna!
- Da Bruna do Brasil?
- Sim. Ela enviou-me um link com uma grande novidade. Vem ver! Os pais de Santa Teresinha vão ser canonizados durante o Sínodo da Família!
- Uau! que maravilha! O primeiro casal canonizado em conjunto!
- Pois é. Zélia e Luís Martin foram beatificados pelo Papa Bento XVI em outubro de 2008, e agora vão ser canonizados, também em conjunto.
- E são um casal tão perto de nós no tempo! Casaram em em 1858, em França... Foi há cerca de 150 anos atrás! Tu não tens aí um livro sobre eles?
- Tenho. Quer dizer, emprestei-o à Olívia outro dia. Chama-se História de Uma Família. Mas não me faz grande falta, porque o conheço quase de cor!
A família de Zélia e Luís tem sido uma inspiração para nós desde o início do nosso casamento e continuou a ser quando as Famílias de Caná nasceram. Vamos assim, com toda a certeza, adotá-los como nossos santos padroeiros, no dia da sua canonização!
Zélia e Luís tinham defeitos e problemas, como toda a gente. Mas acima de tudo, tinham uma fé imensa no amor do Senhor, e uma vontade enorme de serem santos. Eles sabiam que a santidade é obra de Deus nas nossas vidas, e que basta abrirmo-nos à graça, empenhando nesta tarefa toda a nossa vontade, para que Deus no-la ofereça.
Num tempo em que se escreviam muitas cartas, Zélia deixou-nos um enorme tesouro escrito sobre a vida espiritual da sua família. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - rezava-se o terço e meditava-se na Palavra de Deus todos os dias. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - havia um lugar de oração, encimado pela imagem de Nossa Senhora das Vitórias, a mesma imagem que um dia sorriu à futura Santa Teresinha, curando-a miraculosamente. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - contavam-se histórias da Bíblia e histórias das vidas dos santos, visitava-se o Santíssimo nas diversas igrejas da cidade, servia-se o próximo com amor.
Zélia e Luís tiveram nove filhos, mas quatro morreram na primeira infância. Eles conheceram bem a dor! Com uma fé imensa, aceitaram prova após prova, sem nunca se revoltarem, plenamente convencidos do amor absoluto e infinito de Deus por eles. Depois destas quatro mortes, Zélia engravidou novamente. Tinha quarenta anos. Estaria louca? Todos a criticaram... Nove meses depois, nascia Santa Teresinha. Imagino a festa que Deus terá feito a Zélia e a Luís quando eles chegaram ao céu... Imagino Jesus a agradecer-lhes não terem recusado o dom que Santa Teresinha representou para a Igreja!
Quatro mortes, pensamos nós, seriam uma cruz suficiente para qualquer família. Mas não foi: quando Teresinha tinha quatro anos, Zélia faleceu com cancro da mama. Viúvo, Luís mudou-se com a família para Lisieux, onde viviam os cunhados, para que as filhas crescessem na companhia dos tios e das primas. Em Lisieux, as meninas conheceram o Carmelo, onde quatro das cinco irmãs se consagrariam totalmente a Deus.
Zélia e Luís tiveram uma vida difícil. Luís era relojoeiro, Zélia era costureira. E embora Zélia trabalhasse em casa, onde tinha uma pequena oficina com trabalhadoras contratadas por ela, o seu horário de trabalho era longo, prolongando-se por vezes até à meia-noite. Mesmo assim, às cinco da manhã, o casal saía de casa e dirigia-se à igreja mais próxima para participar na Eucaristia.
A sua vida familiar conta com alguns episódios bem divertidos, relatados por Teresinha na sua autobiografia e por Zélia nas suas cartas. Foram uma família alegre, que gostava de festas, de rir, de cantar, de passear no campo e de ir à pesca. As suas portas estavam abertas a todos os mendigos que passavam na rua, e os avós foram acolhidos na casa de Alençon no final das suas vidas, cuidados por Zélia e Luís até partirem para o céu. No jardim havia um baloiço onde as pequeninas brincavam. Teresinha e Celina, como os meus filhos, faziam tisanas de brincar com as ervinhas do jardim, para servir às bonecas e aos papás, e sujavam os vestidos na terra. Uma família feliz!
A santidade não é privilégio de alguns, mas vocação do ser humano. Disse Jesus:
"Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos Céus é perfeito."
(Mt 5, 48)
Que Luís e Zélia nos ajudem neste caminho de santidade familiar! Amen.