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S. José e a alegria da renúncia

por Teresa Power, em 19.03.15

Hoje é dia de S. José. Cá em casa, a expetativa era grande, construída num crescendo ao longo de todo o mês: hoje de manhã o dia deveria começar com uma pequena festinha no Centro Social, onde o Niall, no meio de muitos outros pais, iria escutar o António e a Sara, no meio de muitos outros meninos, a cantar, a rezar e a festejar S. José. Depois receberia a sua prendinha, preparada pelos filhos com amor. Tudo isto seria logo pelas nove horas, para não atrasar o dia de trabalho dos pais. O António ansiava pelo momento:

- Mamã, posso cantar-te a canção do pai? Mas não digas nada ao papá, que é para ser surpresa!

Foi assim que eu fiquei a saber como era a linda canção. Cúmplice, prometi-lhe que não iria contar nada ao papá, e repeti-lhe que o papá iria adorar escutá-lo.

Mas o papá não vai poder estar na festinha. Ontem recebeu uma convocatória para uma reunião importantíssima, a que não pode faltar de maneira nenhuma, porque é uma reunião extraordinária na Reitoria. E a reunião está marcada para as nove horas em ponto... Sim, as nove horas em ponto do dia do Pai! Pela primeira vez em quinze anos, o Niall não estará presente na Festa do Pai dos meninos.

Tanto eu como o Niall já faltámos a vários compromissos de trabalho e fizemos muito malabarismo com várias "bolas" no ar por causa dos nossos filhos; mas nem sempre é possível, e quando de todo não é, precisamos de aprender a desdramatizar, e de ensinar a desdramatizar: como tudo na vida, também estes momentos passarão, pois só o amor permanece... Triste, o Niall tentou explicar à Sara e ao António que não vai poder estar na festinha, mas que vai estar com eles no coração, e que à noite a festa cá em casa será a dobrar. O António aceitou com simplicidade, e a Sara continuou a brincar.

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S. José é um santo muito especial. Ele foi tão importante na vida de Jesus, que as pessoas identificavam Jesus como "o filho do carpinteiro", como nos recordou o senhor bispo no nosso retiro de Famílias de Caná. S. José é modelo de pai, de trabalhador, de cristão. Mas a santidade de José foi toda feita de renúncia, e é por isso que se torna tão bela. Escreveu Hans Urs von Balthasar:

"José atravessa o limiar do Novo Testamento apenas como alguém que renuncia." (Maria, a Primeira Igreja)

José viveu renunciando, renunciando, renunciando. Renunciou ao sonho de ser pai segundo a carne; renunciou ao sonho de ver o Menino Jesus nascer na sua casa e adormecer no berço que, com tanto cuidado, certamente preparara para Ele; renunciou ao sonho de trabalhar e viver na sua terra, para viver alguns anos como emigrante e refugiado; por fim, renunciou ao sonho de ver Jesus partir para a sua vida de pregação, anunciando o Reino de Deus. O Evangelho, na verdade, dá-nos a entender que José terá morrido antes de Jesus sair de casa, e portanto, antes de ver cumpridas as profecias que envolviam a vida do seu querido filho. Mas foi precisamente no meio da sua constante renúncia que José experimentou a alegria infinita de viver lado a lado com Jesus...  Que mistério!

 

O António e a Sara vão fazer a sua festa, renunciando à alegria da presença do pai; o Niall vai fazer a sua reunião, renunciando à alegria de estar presente na festa dos filhos. E os três irão dar imensa alegria a Deus, porque irão ser capazes de oferecer a sua pequena renúncia, em união com as pequenas e as grandes renúncias de S. José, para que o Reino de Deus cresça no mundo.

 

"Quem quiser  seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.

Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, esse salva-la-á." (Lc 9, 23-24)

 

S. José, rogai por nós!

 

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publicado às 06:20

Um por todos e todos por um

por Teresa Power, em 18.03.15

- Hoje foi mesmo mau. Os meninos portaram-se mal, e por causa deles não pude ir brincar lá para fora. E o solinho brilhava tão bonito!

- É assim, António. Na escola, por causa de um, pagam todos. Comigo também costuma acontecer! Farto-me de ouvir sermões. E não sou eu que falo!

- E eu também, David!

- Espera lá, Lúcia - Interrompi - Tu costumas falar um bocadinho, não é verdade?

- Não!

Continuei a conduzir, e a escutar.

- É mesmo injusto! Perder um intervalo por causa dos outros! Tu fazes injustiças dessas, mamã?

- Faço, David. E fico sempre cheia de pena dos meninos que se portam bem, como tu. Mas às vezes tem de ser! O Francisco e a Clarinha já sofreram muitos castigos coletivos sem qualquer culpa, e estão aqui. Não pensem mais nisso! Estamos quase a chegar a casa e podem ir todos brincar no jardim.

- Ah, que bom ser primavera!

Enquanto os meninos saíam do carro em grande alegria para correr e brincar na relva, fiquei a pensar...

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 "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, pelo que todos pecaram.

Se pelo pecado de um morreram todos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só Homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.

Pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores; assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos.

Onde abundou o pecado, superabundou a graça." (Rm 5, 12-20)

 

A nossa consciência individualista moderna quer-nos fazer acreditar que o nosso pecado apenas a nós diz respeito. Esquecemo-nos de que o pecado, como o amor, é uma pedra lançada na água, provocando circulos concêntricos cada vez mais vastos... Não há pecado inocente; e sim, por um, todos pagam! A guerra que rebenta lá longe, o tsunami que mata nos confins da terra, a crise económica ao nosso lado, o sofrimento dos pobres e de tantos infelizes conhecidos e desconhecidos é nossa culpa também. Jesus não morreu na cruz apenas pelos grandes pecadores: morreu por mim, e a coroa de espinhos que carregou, e as feridas que empaparam de sangue a terra, foram causadas também por mim.

 

Mas se o pecado de um só causa tanto sofrimento no mundo, a santidade de um só também é capaz de santificar o mundo. Jesus, o Santo de Deus, já nos amou até ao fim. Unamos a Ele os nossos gestos de amor, para que ninguém tenha de "ficar de castigo" por nossa causa, mas antes, por nossa causa, todos sejam salvos, em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Ámen!

 

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publicado às 06:23

S Patrício e a Trindade

por Teresa Power, em 17.03.15

Hoje é dia de S. Patrício, padroeiro da Irlanda. O Niall cresceu a festejar este dia em grande, com direito a feriado nacional e a muitas tradições. Todos os anos, a nossa caixa do correio enche-se de postais de S. Patrício durante toda a semana que antecede o dia 17. Eis os primeiros postais deste ano a chegar:

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 Patrício nasceu por volta do ano 385. Filho de romanos, vivia na Escócia e era feliz. Com cerca de catorze anos, Patrício foi capturado e feito escravo, levado para a Irlanda e vendido a uma família, para cuidar do gado. Foi durante o seu tempo de escravidão que Patrício aprendeu a falar com Deus, a amá-l'O e a viver na sua luz. Quando foi libertado, com cerca de vinte anos, e pôde regressar a casa, decidiu estudar para se tornar sacerdote. Foi então de novo enviado à Irlanda, não já como escravo, mas como bispo, espalhando o cristianismo por toda a ilha e convertendo milhares à fé cristã. Durante quarenta anos, Patrício pregou o Evangelho, acompanhado de sinais poderosos e de uma vida pobre, humilde e virtuosa. Quando morreu, a sua fama de santidade já se estendia a todo o país. O seu nome e a sua intercessão não seriam nunca esquecidos pelo povo irlandês.

Cá em casa, também não esquecemos S. Patrício! Esta fotografia foi tirada no verão passado, na Irlanda:

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No domingo à tarde, enquanto brincávamos no jardim, desafiei os mais novos:

- Meninos, quem encontra no jardim um trevo de três folhas?

- Eu!

- Eu!

- Eu! Eu sei onde há muitos.

- Mas não devia ser um trevo de quatro folhas para dar sorte?

- A sorte não existe. Deus cuida de nós, e não deixa nada ao acaso. Nenhum trevo pode dar sorte. Mas alguns trevos ensinam-nos sobre Deus.

- Como? Mostra, mostra!

- Então tragam-me um trevo de três folhas. Quem encontra o mais bonito?

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 - Na Irlanda, no tempo de S. Patrício, as pessoas acreditavam em muitos deuses. Ainda não conheciam o Senhor e nunca tinham ouvido falar de Jesus. S. Patrício era um homem muito simples e gostava que todos entendessem o que ele dizia, mas estava a ser difícil explicar o mistério da Santíssima Trindade. Um dia, pôs-se de joelhos e procurou bem juntinho ao chão algum sinal de Deus. Como vocês bem se lembram, a Irlanda está coberta de erva verdinha...

- Sim! É tudo tão bonito!

- S. Patrício encontrou um campo cheio de trevos. Cortou um, mostrou-o às pessoas e ensinou-as a rezar o Shemá:

 

"Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor!" (Deut 6, 4)

 

Depois disse-lhes que Deus, sendo só Um, é também Trindade, três pessoas, como Jesus nos ensinou:

 

"Ide e batizai todos os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo." (Mt 28, 19)

 

- Ah, é como o trevo! Três folhas, mas um só trevo!

- Pois é! E se juntarmos as três folhas, até parece que formam uma só, porque o desenho de cada folha continua nas outras...

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Depois de uma Bíblia inteira a levantar, pouco a pouco, o véu que cobre o mistério de Deus, Jesus revelou-nos o verdadeiro nome do Senhor. E este nome não é Rei, Altíssimo, Aloim, Deus dos Exércitos, Santo dos Santos, ou qualquer outro título... O nosso Deus tem um nome familiar: Pai e Filho e Espírito Santo. O maior título de glória de Jesus é o título de Filho, e o Filho ensinou-nos a rezar, chamando "Pai"... Que o Espírito Santo nos ensine a entrar na Família de Deus!

Happy Saint Patrick's Day everyone!

 

 

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publicado às 06:20

Adoração e Via Sacra

por Teresa Power, em 16.03.15

Escrito pela Clarinha:

 

A pedido do Papa Francisco, todas as igrejas tiveram o Santíssimo exposto vinte e quatro horas seguidas, de sexta para sábado. Também no Santuário se adorou o Senhor.

O Francisco e eu assegurámos uma hora de adoração das dez às onze da manhã de sábado. Fomos os dois de bicicleta até ao Santuário e entrámos silenciosamente na capelinha onde Jesus estava exposto. Ajoelhámo-nos e falámos em silêncio com Jesus. Agradeci-Lhe o dom da vida, pois era o dia dos meus catorze anos: "Obrigada, meu Deus, porque me criaste!"

Depois pegámos no texto da Via Sacra que a minha mãe escreveu para as Famílias de Caná e começámos a ler cada estação, à vez e em voz alta, pois não estava ninguém mais na capela. Entre cada estação rezámos uma dezena. Foi muito bom termos ido os dois, porque rezámos juntos, e na meditação eu compreendi e pensei em muitas coisas que nunca antes me tinham ocorrido. Também foi bom poder estar uma hora inteira em frente a Jesus, a falar com Ele. Foi um belo começo de dia de anos!

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No domingo à tarde fomos todos até ao Santuário e rezámos a Via Sacra meditando nas estações com palavras da Bíblia. Enquanto isso, olhávamos para uns quadros que estão na parede do Santuário com as estações em relevo. Foi mais barulhento do que no sábado, mas eu gostei muito.

 

 

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 Passei um fim-de-semana de anos "recheado" de Jesus! Obrigada, meu Deus!

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publicado às 06:28

A maior honra

por Teresa Power, em 14.03.15

- Bom dia, meninas! Acordar!

Como todas as manhãs, entro no quarto das meninas e abro as janelas. A Lúcia está ainda a dormir, bem agarrada aos seus dois ou três peluches. A cama da Sara está vazia.

- Sara! Onde está a Sara?

Uma gargalhada vinda da cama da Clarinha, lá em cima. Duas cabeças a espreitar sob o edredão:

- Sara, que fazes tu na cama da tua irmã? Clarinha, o que aconteceu?

A Clarinha espreguiça-se, dá mais um beijinho à Sara e explica:

- A Sara chorou durante a noite. Antes que tu ouvisses, decidi puxá-la para a minha cama. Eu sei que andas muito cansada, e não queria que ela te acordasse!

 

Hoje a Clarinha faz catorze anos. Olho para ela e vejo uma adolescente bonita, inteligente e equilibrada. Tem alguns defeitos e muitas qualidades. A maior, sem qualquer dúvida, é a sua disponibilidade constante para servir. Esteja a estudar, a ouvir música, a dançar, a fazer ginástica ou, como ontem, a dormir, a Clarinha está sempre disponível para ajudar quem mais precisa. Fá-lo por temperamento (e nesse caso, esta qualidade é claramente herdada do pai), mas fá-lo também por virtude, emprestando à sua maneira de ser o esforço que o Evangelho nos pede.

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Li há tempos o livro "Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos", escrito por uma mãe espanhola que tem, imaginem, dezoito filhos, Rosa Roca, num apartamento em Barcelona. Impressionou-me um pormenor: todos os períodos, esta mãe vai à escola, conversar com os professores ou diretores de turma de cada filho. Escreve ela:

"As notas não são a primeira coisa de que falamos, mas sim o comportamento, quer na sala de aula, quer com os colegas. Se se preocupa com os outros, ou se só pensa nele. Se é generoso e partilha os apontamentos, se ajuda o amigo que vai mais atrasado em alguma disciplina... E no final do encontro falamos sobre as notas, sobre se ele se esforçou ou não, sobre o professor de inglês, que parece não engraçar com ele, e sobre a matemática, pois parece que ele não percebe as frações..."

 

É curioso como, ao longo da minha vida de professora, poucos pais me têm questionado sobre a disponibilidade dos filhos para ajudar os colegas. Apercebo-me de que a capacidade de serviço não é um dos valores mais apreciados pela maioria das famílias, sejam ou não famílias cristãs. Precisamos de reler os Evangelhos e de perceber o que é mais importante para Jesus. S. João, o seu amigo mais próximo, narra-nos o que Jesus fez durante a sua última páscoa. O texto começa com um crescendo magnífico:

 

"Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo Lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa..."

 

Será que é agora que Jesus vai manifestar o seu poder divino, auto-proclamando-se Rei de Israel?

 

"...tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura." (Jo 13, 3-5)

 

Que desilusão! Tanto suspense para isto! Ou então... Ou então - e essa é a única hipótese que nos resta - servir é a maior honra que nos é oferecida aqui na Terra.

 

Parabéns, Clarinha, pelos teus catorze anos de vida ao serviço dos outros!

 

 

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publicado às 06:32

Não podes ver

por Teresa Power, em 13.03.15

O António entrou a correr no quarto, com a cara cheia de terra e o cabelo transpirado.

- Ena, António, isso é que é brincar! - Comentei, enquanto procurava abraçá-lo para depois lhe retirar a camisola. Mas o António afastou-me:

- Tens de ir embora, porque eu vou fazer uma coisa e não quero que tu vejas!

O seu sorriso maroto não deixava margem para dúvidas:

- Bem, se tu não queres que eu veja, é porque é asneira! Vais guardar algum pedaço de terra na gaveta, como da última vez? Ou, deixa-me adivinhar: vais guardar um pedaço partido de um vaso de cerâmica, como naquele dia em que as tuas gavetas apareceram cheias de pedaços de vidro? Ou... Não estás a pensar em fazer um ninho de minhocas debaixo da cama?

O António abanou a cabeça, muito sério. Entretanto, a Clarinha chamou-me do seu quarto, e baixinho, informou-me:

- O pai comprou um pacote de pastilhas ao António, e ele escondeu-as para as comer sem tu dares conta...

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Enquanto deixava o António sozinho com a sua "marotice", fiquei a pensar nas palavras de S. Paulo:

 

"Antigamente éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, pois o fruto da luz manifesta-se em toda a bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor e não participeis nas obras estéreis das trevas. Pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque é até vergonhoso falar das coisas que estas pessoas fazem em segredo. Mas todas as coisas condenadas são postas a descoberto pela luz, pois tudo o que é manifestado torna-se luz." (Ef 5, 8-14)

 

Como o António, também eu sei perfeitamente o que devo ou não devo fazer, e para calar a minha consciência, evito cruzar o meu olhar com o do Senhor quando pratico o mal... Mas as minhas "marotices" são bem menos inocentes que as do António! Se vivesse mais consciente do olhar constante do Senhor pousado sobre mim, não pecaria tanto.

Há duas formas belíssimas de me colocar à luz do olhar do Senhor: uma delas acontece no sacramento da Confissão, quando descubro o meu pecado e o conto com simplicidade a Jesus, na pessoa do seu sacerdote; a outra, através da adoração de Jesus-Eucaristia, ou simplesmente de uma oração diante do sacrário. Nem sempre consigo falar com Ele, porque me faltam as palavras e me foge o pensamento, mas sempre, sempre me posso deixar contemplar, amar e iluminar por Aquele que é a Luz...

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Hoje, a pedido do Papa Francisco, irão começar um pouco por todo o mundo vinte e quatro horas de adoração eucarística. Nós também iremos oferecer algumas das nossas horas familiares para adorar o Senhor!

 

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publicado às 06:20

Humildade e gratidão

por Teresa Power, em 12.03.15

Num destes domingos passados, na Eucaristia, tivemos uma surpresa: o senhor Martins, irmão salesiano, despediu-se de nós. Irá passar o tempo final da sua vida na casa de repouso que os salesianos têm perto de Lisboa, pois a idade já não lhe permite cumprir a rotina diária da casa de Mogofores.

O senhor Martins tem noventa e dois anos, um sorriso magnífico, e um carinho imenso para partilhar com todos os que dele se acercam. Foram noventa e dois anos ao serviço do Senhor! Nunca o vi triste, desiludido, ou dando mostras do cansaço que deve sentir. Nunca me aproximei do senhor Martins sem regressar mais cheia de Deus. Quando o conheci, há oito anos atrás, lembro-me de pensar: "Este senhor, quando morrer, vai direitinho ao Céu!" E tenho a certeza de que assim será.

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Custa-me imaginar o Santuário sem o senhor Martins, sem o seu sorriso tão bonito, sem os seus gestos tão profundos no serviço do altar, sem o carinho que sempre oferecia às crianças e os conselhos que gostava de nos dar. Enquanto o escutava, não consegui evitar que as lágrimas me molhassem os olhos.

Mas o que mais me comoveu no seu discurso de despedida foi a imensa lista de agradecimentos que o senhor Martins nos apresentou. Em vez de nos relembrar a sua obra, feita dia a dia com tanto esmero, o senhor Martins usou o seu "tempo de antena" para nos recordar todas as pessoas, sacerdotes ou leigos, que foram passando pelo Santuário durante a sua vida. Recordou as senhoras da limpeza e os diretores do colégio, as cozinheiras e os professores. De ninguém se esqueceu, e a todos se referiu com imensa gratidão. Lembrei-me do salmo:

 

"Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios." (Sl 103/102)

 

A gratidão nasce no solo fértil da humildade. Quem não é humilde, pensa sempre que tudo lhe é devido e queixa-se do que não recebe. A humildade, pelo contrário, torna-nos gratos, porque nos damos conta de que nada merecemos do bem que recebemos. 

Senhor, que eu saiba agradecer! Senhor, que eu saiba contemplar o teu amor naqueles que me rodeiam e nos gestos simples de serviço que neles descubro... Senhor, se algum dia eu vier a ter noventa e dois anos, que sejam noventa e dois anos de humilde gratidão! Ámen.

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publicado às 06:23

Ao encontro das periferias

por Teresa Power, em 11.03.15

No dia seguinte ao retiro, o senhor bispo enviou-me um mail. Nele dizia uma frase muito bonita:

"Esta forma de ser família penso que vai de encontro aquilo que o nosso papa Francisco nos pede: sairmos ao encontro de outros casais e propor-lhes a alegria da fé como sentido para a vida."

Na verdade, uma das alegrias do nosso bispo foi a abertura do movimento a todo o tipo de famílias. É engraçado que este ponto, para nós fundamental desde o início, era um dos pontos que eu mais receio tinha de apresentar ao nosso pastor quando nos encontrámos na sua casa. Como iria o senhor bispo reagir à notícia de que, entre as Famílias de Caná, há várias famílias recasadas, mães divorciadas, pessoas casadas com não-crentes, famílias que só têm em comum a imensa vontade de descobrir o amor de Deus e de lhe responder com a vida?

O senhor bispo não podia ter reagido melhor. Em vez de nos censurar, entusiasmou-nos a abrir as portas, porque todos são amados por Deus com amor infinito. O importante não é o ponto de partida, mas o ponto de chegada. O caminho que propomos é exigente, mas acessível a todos os homens, mulheres e crianças de boa vontade...

 

A nossa caminhada para a santidade começa no dia em que cruzamos o nosso olhar com o de Jesus. Se abrirmos os Evangelhos, deparamo-nos com as situações mais variadas: houve quem cruzasse o olhar com o de Jesus em pleno dia de trabalho, sentado na banca dos impostos... Houve quem estivesse a lavar as redes depois de uma noite infrutífera; houve também quem tivesse tocado o fundo, e de rastos no chão, não se atrevesse senão a beijar os pés do Senhor, tal era o seu pecado! Houve quem se encontrasse com Jesus empoleirado no cimo de uma árvore, e até houve alguém que só descobriu o amor de Jesus no momento em que estava a morrer, crucificado a seu lado.

 

Durante o almoço, no retiro, o senhor bispo perguntou-me se estava ali algum casal de divorciados recasados. Respondi-lhe que sim, e chamei este casal para apresentar ao senhor bispo. Depois afastei-me, e os três ficaram a conversar. Enquanto me afastava, ainda escutei:

- O Senhor ama-vos muito. Nunca vos sintais excluídos da Igreja!

 

Cada Família de Caná tem uma história para contar. Algumas têm uma história de vida toda ela feita na Igreja, mas outras têm uma história de vida feita longe, longe da Casa de Deus. E o que acontece, no momento em que Jesus cruza o seu olhar com cada uma destas famílias? Ah, nesse momento, tudo muda! Olhando para Jesus, descobrimos o nosso pecado, pedimos perdão, e mudamos de vida - sim, mudamos de vida! Caminhando sob o olhar de Jesus, em íntima comunhão com Ele ("Nós, Jesus..."), descobrimos a beleza dos ensinamentos da Igreja, e acolhemo-los não como "coletes de forças", mas como asas, que nos transportam na liberdade do amor até ao Céu.

O importante é o que está para a frente, o caminho que se estende até ao infinito. O importante é chegar a Casa... Afinal, todos somos pecadores, e ai de quem se considerar justo, como os fariseus que questionaram Jesus e ouviram d'Ele esta resposta:

 

"Não são os sãos que precisam de médico, mas os doentes.

Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (Lc 5, 31-32)

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publicado às 06:25

As bilhas

por Teresa Power, em 10.03.15

Em Caná da Galileia havia talhas, bilhas e muita água. Em Caná da Galileia havia festa, alegria e partilha. Em Caná da Galileia havia uma família nascente... Em Caná da Galileia, Jesus aceitou a nossa água e transformou-a no vinho novo do seu amor, por intercessão da Mãe - a sua, que naquele momento se tornou também nossa. Bendito sejas, Senhor, por tanto amor!

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 Antes das Famílias de Caná nascerem, já existiam as Cinco Pedrinhas. Na nossa casa, mariana desde o início, falava-se naturalmente na Mulher que vence o Dragão, e no pastorinho que vence o gigante com as suas pedrinhas. Em Medjugorje, onde eu estive em peregrinação durante o primeiro congresso internacional de jovens - era eu jovem também -, e que inspira a nossa oração familiar desde sempre, fala-se nas Cinco Pedrinhas, tornadas marianas pela simplicidade da imagem. Assim, quando nasceram as Famílias de Caná, usámos a sua simbologia sem nos darmos conta de que elas não eram necessárias no contexto do novo movimento. E porquê?

Porque a mesma ideia de simplicidade, de contraste entre o nosso nada e o tudo de Deus, de entrega do que somos ao Senhor para que Ele, e só Ele, faça milagres, essa mesma ideia surge em Caná através de uma imagem poderosa, profundamente bíblica, que nasce no Génesis e termina no Apocalipse: a água, recolhida em cântaros, bilhas ou talhas, e tornada Vida. E se as Famílias de Caná nasceram em João 2, então é em João 2 que devem crescer, respirar, viver.

- Senhor bispo, as Famílias de Caná estavam necessitadas de um Pai, de um Pastor, para poderem pôr alguma ordem na salganhada de imagens que nós construímos - Comentei no retiro, entre risos animados e muita simplicidade, depois do ensinamento que escutámos. O senhor bispo riu-se também, feliz. Todos estávamos felizes!

Em Caná estavam seis bilhas. As Pedrinhas eram cinco. Qual a sexta bilha então? Ontem, durante a oração aqui em casa, ela surgiu luminosa. Estava lá desde o início, meu Deus, e nunca nos tínhamos dado conta! Mas não vos vou dizer qual é por enquanto... Primeiro irei apresentá-la ao nosso Pastor! Até lá, rezem connosco, para que o Espírito venha em nosso auxílio e para que nós sejamos fiéis. Afinal, tudo o que queremos é obedecer ao pedido de Maria, Mãe de Caná:

 

"Fazei tudo o que Jesus vos disser." (Jo2, 5)

 

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publicado às 06:17

O nosso retiro de quaresma

por Teresa Power, em 09.03.15

Sábado tivemos, como anunciado, o nosso retiro. Logo de manhã cedo, já estava tudo a postos:

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O dia estava lindo, e chegar ao Centro Social foi uma alegria. Os triciclos estavam todos livres, contrariamente ao que acontece em dia de escola, e os mais novos deliraram com a sensação de terem o Centro inteiro por sua conta! Na verdade, desde o início das Famílias de Caná que as Irmãs colocam a casa à nossa disposição, permitindo-nos oferecer às crianças um dia perfeito.

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Foi engraçado ver as crianças a sair dos carros, um pouco envergonhadas e agarradas à mão dos pais. Assim que se davam conta dos triciclos e dos três parques infantis à disposição, imediatamente corriam para longe dos pais. No final do dia, houve choro e algumas birras, porque ninguém queria ir embora...

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 As educadoras Vera e São, mães de Famílias de Caná habituadíssimas a cuidar de crianças, tinham preparadas atividades magníficas, que todas as crianças adoraram. O Francisco colaborou, fazendo um pequeno espetáculo de magia. Algumas crianças ficaram verdadeiramente confusas...

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Para os jovens se conhecerem e criarem laços de amizade, o Niall tinha preparado um jogo bem divertido com lego e muitos desafios:

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E a partir de Os Mistérios da Fé, aprofundaram a história de Tobias e a história do paralítico que quatro amigos apresentaram a Jesus:

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Pouco depois de chegarmos ao Centro, chegou também o nosso querido bispo, D. António Moiteiro. Como prometido, vinha para estar connosco, para ver as Famílias de Caná de perto, para conversar, para escutar, e também para nos ensinar. Que belíssimo ensinamento nos fez sobre o sonho de Deus para a família!

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Enquanto escutava, ia registando algumas das suas palavras no meu bloco de notas. Posso assim partilhá-las aqui convosco:

"O Evangelho não é um livro, mas uma pessoa: Jesus. Jesus é a Boa Notícia do Pai.

O Evangelho dá o que exige. Somente à sua luz e na sua força é possível entender e cumprir os mandamentos.

O Evangelho da família não quer ser uma carga que se põe às costas das pessoas, mas enquanto dom da fé, uma alegre notícia, luz e força da vida na família."

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Falando-nos dos sonhos de Deus para as famílias, o senhor bispo percorreu a Bíblia, começando no Génesis e terminando em S. Paulo, que por onde passava nos seus trabalhos de evangelização, deixava famílias - casas - responsáveis por toda a comunidade. Os cristãos de Paulo reuniam-se em Igrejas Domésticas, como também hoje as Famílias de Caná pretendem fazer.

 

Depois de assim nos ensinar, o senhor bispo celebrou a Eucaristia, na capela do Colégio Nossa Senhora da Assunção. O David não cabia em si de alegria por poder acolitar ao lado do seu bispo amigo!

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Seguiu-se um belíssimo almoço partilhado - as Famílias de Caná têm como marca distintiva a abundância e a qualidade da sua refeição, ou não tivessem elas nascido à sombra de umas bodas bem especiais

Enquanto comíamos, íamos descobrindo os nomes por detrás dos rostos. Afinal, a Bruxa Mimi não tem chapéu... E aquela rapariga simpática é que é a Jovem Católica? Aquelas duas manas tão amigas são as filhas de Adotar Amar Viver? E a linda família da Rute também aqui está? Ah, e finalmente, a Família a Caminho conseguiu fazer uma pausa nas doenças infantis lá de casa e apareceu! Foi engraçado ver as reações dos participantes perante o encontro face a face com os "famosos bloguistas católicos".

 

A tarde continuou então com os ensinamentos que eu tinha prometido sobre o amor de Deus, escutados e meditados em clima de recolhimento. Depois, sempre em silêncio, deixámo-nos amar e contemplar por Jesus-Eucaristia. Foi um momento de intenso amor tornado oração, em que Jesus falou verdadeiramente no coração de todos nós. Era quase palpável a sua presença... Cada um de nós pôde tornar suas as palavras da meditação da tarde, do Cântico dos Cânticos:

 

"Eu sou do meu Amado e Ele é meu." (Cc 2, 16)

 

Entretanto, o nosso pároco, o senhor padre salesiano José Fernandes, estava ocupadíssimo com confissões, que continuaram até terminar o retiro.

Por fim, houve um breve momento de partilha de experiências. Três Famílias de Caná falaram da riqueza que esta espiritualidade tem trazido às suas vidas, da abundância da alegria e de vida a jorrar no seu meio.

Concluímos o dia em clima de oração familiar. Por esta altura, já ninguém estava tímido ou isolado, antes se viviam laços fortes e alegres de amizade e partilha. Todos cantaram, louvaram, partilharam louvores e súplicas, e com muita devoção, todos rezaram o terço. Bem, todos... As crianças iam acompanhando à sua maneira, enquanto entravam e saíam pelas portas abertas, porque os triciclos e os parques continuavam lá fora!

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Não sei se, ao longo deste post, se aperceberam da decoração especial deste nosso encontro. Não estou a falar na linda decoração do Centro Social, feita pelas educadoras no seu trabalho diário com as crianças, mas da decoração que a Olívia e a sua mãe prepararam com tanto carinho e que ajudou os nossos corações a meditar no mistério das Bodas de Caná:

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É verdade, aos pés de Maria, Mãe de Caná, não estão as famosas Cinco Pedrinhas, mas antes as Seis Bilhas de Caná. O senhor bispo já falara comigo, e eu comuniquei a ideia à Olívia, que com o seu empenho característico recolheu seis bilhas entre as vizinhas da sua aldeia antes de rumar para norte. Mas sobre isto falaremos noutro post :)

 

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publicado às 06:20




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