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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O dia do retiro amanheceu muito cedo, como costume. Às sete da manhã, encontrámo-nos no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora com os nossos amigos que nos iam acompanhar: a São, a Vera e a sua filhota Maiara, a Isabel e o João, catequistas da Lúcia, com as filhas Maria e Maria João. Esta simpática família fez o seu primeiro retiro há um ano, e desde então não perdem um! Seguimos em caravana até Neiva, onde chegámos pelas nove horas.
A pequena aldeia brilhava alegremente à luz da manhã. À nossa frente, uma estrada de terra batida e bem esburacada conduzia-nos até ao mar. Seria por aqui o caminho? Não devíamos antes seguir por uma estrada larga e alcatroada? Ri-me para comigo, a pensar no humor de Jesus. Na verdade, não faz sentido procurar estradas largas quando o Evangelho nos diz:
"Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos seguem por ele.
Como é estreita a porta e quão apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!" (Mt 7, 13-14)
E a verdade é que o caminho acidentado e poeirento foi difícil de encontrar e de percorrer por quase todas as famílias participantes, mas levou-nos a um verdadeiro paraíso terrestre:
A Paula estava à nossa espera para nos abrir a porta e podermos assim preparar a casa para o Retiro. Entretanto, a Olívia e a sua família (do blogue Adotar Amar Viver) chegaram, e de imediato arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar. Que alegria, abraçar os amigos e fazer uma festinha na barriga da Olívia, onde muito resguardado, viaja ainda o filhote mais novo! Também vieram a Lena (As Surpresas de Deus), o James e o Xavier, que tinham chegado a Viana de véspera, aproveitando para fazer umas mini-férias em torno do nosso retiro. É tão bom estar entre amigos, nas Famílias de Caná!
Entretanto, os participantes foram chegando. Algumas caras já conhecidas dos retiros da Quaresma e do Natal, e outras novas, mas já sobejamente conhecidas virtualmente... Entre elas, emocionou-me especialmente encontrar a Cecília, com o seu magnífico sorriso a transbordar felicidade. Lembram-se dela? Escrevi sobre a sua aventura feliz com o cancro aqui... Foi tão bom abraçá-la!
Os mais novos não perderam tempo a fazer novas amizades e a explorar o imenso espaço circundante.
O nosso retiro começou com a santa missa, celebrada pelo pároco de Barcelinhos, paróquia a que pertencem os Irmãos de La Salle. Foram eles que nos propuseram este retiro e que convidaram a maior parte das famílias nele participantes.
Depois, os mais pequeninos ficaram com a Vera e a São, duas grandes educadoras de infância. Fizeram jogos e escutaram histórias sentados em duas mantas fofinhas...
... E brincaram na praia, onde encontraram muitas pedras para pintar!
Olhem só para esta selfie à beira-mar:
Na foz do Neiva, longe das ondas fortes, puderam molhar os pés em segurança. Que alegria!
E os jovens? Os jovens passaram o dia com o Niall, meditando e trabalhando o Mistério das Bodas de Caná a partir do meu livro Os Mistérios da Fé. Mas vou deixar o Francisco ou a Clarinha escrever sobre o seu dia num outro post. Deixo-vos apenas com algumas fotografias sugestivas, na esperança de vos encorajar também a participar, um dia, nesta aventura:
Entretanto, os adultos refletiram sobre as Seis Bilhas das Famílias de Caná, num clima de retiro, de silêncio, e de partilha.
À hora de almoço, e como eu calculara, a merenda foi uma típica merenda de cristãos: da partilha nasceu a abundância, e se não sobejaram doze cestos cheios, andou lá perto!
Depois, chegou a hora da magia. O Francisco encantou e arrancou grandes gargalhadas a pequenos e grandes. Ao terminar, tirou o seu chapéu e pôs-nos a todos a rezar a Maria. Que belo momento!
Terminámos o retiro em oração familiar, com cânticos alegres, o terço na mão e a consagração de cada família à Mãe de Caná. Com um gesto simbólico, cada um de nós deitou um pouco da sua água na bilha que Maria nos oferece.
Infelizmente, um dos momentos mais importantes do retiro - a adoração e as confissões - teve de ser cancelado, porque o padre Manuel Graça foi obrigado a deixar o retiro logo depois da missa. O irmão Guillermo tentou contactar todos os sacerdotes que conhecia na região, mas não foi possível a nenhum deslocar-se até à Casa de Neiva. Mas Jesus não nos abandonou: de manhã, na eucaristia, o padre Manuel tinha consagrado já uma hóstia para a adoração da tarde, e com a ajuda do irmão Guillermo, tinha improvisado um sacrário num recanto do salão, onde Jesus permaneceu todo o dia. Foi pois na sua Presença sacramental que rezámos durante a oração da tarde.
O retiro terminou, mas ninguém parecia ter pressa em ir embora. Ali mesmo, junto à imagem da Mãe de Caná, conversando com várias famílias, vi os esboços de algumas Aldeias de Caná, lá para os lados de Barcelos e de Famalicão... Rezo para que o fogo do Espírito, tão forte no retiro, não deixe de queimar estes corações, e em breve tenhamos belas notícias destas novas "Aldeias"!
Finalmente, ficámos apenas o grupo que foi de Mogofores e a família da Olívia.
- Mãe, queremos ir à praia! Por favor!
Eram seis e meia da tarde, daquele que foi talvez o dia mais quente do ano até agora.
- Acho uma ótima ideia! Toca a vestir os fatos de banho!
A hora que se seguiu foi deliciosa... Não fomos à praia, porque o mar estava muito bravo, mas à foz do Neiva, que se avistava da casa onde nos encontrávamos. Observem as imagens e tentem imaginar o quanto nos divertimos!
No meio de tanta brincadeira, o João caiu à água vestido. Quantas gargalhadas divertidas!
Seguiu-se um banho quente e um belo jantar. Tínhamos combinado entre todos levar ovos, por ser muito prático de cozinhar. Não entrámos para o Guiness, mas estivemos perto, ao devorar numa única refeição quase quarenta ovos caseiros!
No nosso grupo temos várias cozinheiras de grande qualidade. Entre elas, a Vera até tem um blogue dedicado às suas receitas favoritas. Ultimamente, decidiu "cristianizar" o seu blogue, partilhando não só receitas, como também a sua fé. Se gostam de cozinhar e se querem aprender a fazer receitas apetitosas para as múltiplas festas do calendário litúrgico, visitem o seu blogue: Pipoquices cor de rosa!
E neste clima de alegria e de festa, a noite chegou docemente... Mas a nossa aventura do fim-de-semana ainda não estava terminada. Amanhã conto-vos porquê.
Não sei o que é que as famílias recebem através do retiro que lhes proporcionamos, mas sei aquilo que nós, Família Power, recebemos: graça sobre graça. As Famílias de Caná têm sido uma verdadeira bênção na nossa vida, preenchendo os nossos dias com amizades sinceras e alegrias simples.
Na mensagem do dia 2 de maio, em Medjugorge, Nossa Senhora disse à Mirjana: "A santidade opera milagres". Penso poder dizer: "A procura da santidade opera milagres". Porque se nós ainda estamos bem longe de sermos santos, já vemos os milagres a acontecer à nossa volta e na nossa vida.
Que Deus abençoe os nossos amigos e todas as Famílias de Caná! Ámen.
Faz hoje nove anos que tu partiste para o céu, meu pequeno Tomás. Nesse dia, eu só conseguia pensar na alegria imensa que devias estar a experimentar, liberto do teu corpinho doente como uma borboleta a voar para longe do seu casulo opressor... E a certeza de que estavas bem melhor suavizou a minha dor.
No dia seguinte, na missa, fizemos-te uma festa. Não queríamos, de forma alguma, que a celebração da tua vida eterna fosse uma cerimónia triste. O teu pai e eu escolhemos, com cuidado, os teus cânticos preferidos, e tocámo-los na viola, cantando com quanta força tínhamos. Lembras-te? Cantámos cânticos pequeninos como tu, e que nos falavam do amor com que o Senhor cuida de nós:
"Eis-me aqui, sou criança que procura a mão!
Eis-me aqui, pequenino, nos teus braços!
Dá-me hoje teu amor, teu perdão, Senhor!
Guarda-me pequenino, para Ti!"
Às vezes, mães que perdem os seus filhos ou que os vêem muito doentes perguntam-me se é possível voltar a ser feliz. É, Tomás, não é verdade? Eu pensei que não, e durante algum tempo convenci-me que não, mas é. O tempo cura tudo? Não, o tempo não cura nada: o que cura é o amor. A tua morte escavou em mim um abismo imenso, e eu deixei que o amor o preenchesse. A felicidade que agora experimento é diferente da que conhecia antes da tua partida, porque é mais profunda, como mais profundo é o abismo da minha vida. Agora, Tomás, não sou feliz porque tenho saúde, porque tenho filhos, porque tenho trabalho, porque tenho sucesso ou por qualquer outra razão... Deixei de ter medo de perder tudo isso, sabes? Que libertação, quando perdemos o medo! Agora, Tomás, sou feliz porque amo e sou amada, infinitamente amada por Deus. Como tu!
Afinal, o que é o Céu senão este tsunami de amor que, de repente, invade o imenso abismo que somos?...
"Se subir aos céus, Tu lá estás;
se descer ao abismo, ali Te encontras também.
Se voar nas asas da aurora
ou for morar nos confins do mar,
mesmo aí a tua mão há-de guiar-me
e a tua direita sustentar-me-á.
Se disser: «Talvez as trevas me possam esconder,
ou a luz se transforme em noite à minha volta»,
nem as trevas me ocultariam de Ti
e a noite seria, para Ti, brilhante como o dia..."
(Sl 139/138)
Tomás, reza por nós!
O Retiro de Neiva foi magnífico, e para nós, o fim-de-semana foi verdadeiramente especial. Amanhã ou depois conto-vos tudo... Mas hoje quero falar-vos da nossa surpresa ao regressarmos a casa, domingo ao fim da tarde. Vínhamos cansados e felizes, e trazíamos o carro completamente atulhado de material, desde fatos de banho molhados (sim... ) a restos de piquenique. À nossa espera, como costume, estavam a Winnie e o Jack, que ladraram e saltaram de alegria até mais não poderem; estavam as galinhas, que cacarejaram excitadas ao escutarem as nossas vozes; e estavam os nossos gatinhos.
- Mãe, reparaste como a Tiger está magrinha? - Disse-me o David, abraçando a gatinha às riscas. - Acho que vocês se esqueceram de lhe deixar comida! Vou tratar dela.
O Niall e eu estávamos tão ocupados a descarregar os carros que não demos importância à observação do David. Mas de repente, o Niall deu um grito:
- Meninos! Venham todos!
Corremos atrás da sua voz, e quase esbarrámos uns com os outros à entrada do quarto da Clarinha. E foi então que... Bem, antes de estragar a surpresa, espreitem connosco:
Pois... Debaixo da cama da Sara, encontrámos isto:
Não imaginam a excitação e a alegria cá em casa! Se a casa já estava de pernas para o ar, com a chegada das nossas mini-férias (leia-se Retiro Famílias de Caná), a surpresa que a Tiger nos fez tornou tudo muito mais interessante!
É verdade que desconfiávamos da sua gravidez, pois o seu cio fora notório, e a barriguita estava bem crescida, mas não tínhamos a certeza de nada. Chegar a casa e descobrir quatro gatinhos amorosos foi verdadeiramente um presente do Senhor!
A Sara estava muito orgulhosa da predileção que a Tiger demonstrara pela sua caminha. Naturalmente que a Tiger teve os seus gatinhos no jardim, pois a nossa casa ficou bem fechada durante o fim-de-semana, mas bastou abrir as portas dos quartos, para deixar entrar o ar, e logo a Tiger transportou os seus filhotes para o quarto das meninas.
Depois do jantar, e porque a Sara queria ir dormir, foi preciso pegar nos gatinhos e levá-los com cuidado para um novo abrigo, que o Niall preparou na garagem. Será aí que, esperamos, eles vão crescer, certamente sob o olhar atento de muitas crianças!
Quando pudermos, mostraremos fotos atualizadas destes nossos novos gatinhos. Não querem um aí para casa, quando estiverem desmamados?...
Enquanto contemplava a ternura da mãe gata com os seus gatinhos, e a ternura dos meus filhos com tão bela surpresa, pensei nas palavras da Bíblia:
"Todas estas bênçãos estarão contigo, se ouvires a voz do Senhor, teu Deus. Serás abençoado na cidade e abençoado nos campos. Bendito o fruto das tuas entranhas, o fruto da tua terra, o fruto do teu gado, as crias dos teus bois e os filhotes das tuas ovelhas. Bendito o teu cabaz e a tua arca. Bendito serás quando entrares, e bendito quando saíres." (Deut 28, 2-6)
Nós entrámos e saímos, porque ouvimos a voz do Senhor, que nos enviou em missão a Castelo de Neiva, a Viana do Castelo e a Barcelos. E as suas bênçãos estão connosco numa abundância perfeitamente desmedida... até sob a forma de gatinhos pequeninos! Obrigado, Senhor!
Hoje é o Dia da Família, e nós decidimos assinalar esta comemoração de uma forma especial... O Francisco fez uso dos seus talentos artísticos por detrás da câmara, nós colaborámos da melhor maneira possível, contornando algumas birras e dando muitas gargalhadas. Aqui fica então este pequeno vídeo familiar, e só desejamos que se divirtam tanto a vê-lo quanto nós a fazê-lo. Feliz Dia da Família!
Segunda-feira regressamos ao blog. Até lá, se nos quiserem encontrar, já sabem: Neiva, pelas dez horas da manhã de sábado, Retiro Famílias de Caná. Ainda vão a tempo de se inscrever! Consultem a coluna lateral direita deste blogue, e arrisquem! Que o Senhor a todos abençoe!
Num dos cruzamentos da estrada nacional, que todos os dias percorro, esteve durante toda a semana passada esta bela tenda branca:
Há quatro décadas que os peregrinos de Fátima encontram aqui uma sombra fresca, água abundante e os primeiros socorros necessários, especialmente todo o cuidado dos pés e das pernas. Os bombeiros de Anadia e outras pessoas de boa vontade disponibilizam-se todos os anos para este trabalho tão bonito e necessário de serviço aos peregrinos, e a tenda branca levanta-se na estrada como símbolo concreto e real do amor cristão. Na verdade, ao ver os peregrinos descalços, com os pés dentro de bacias de água, e os voluntários ajoelhados a seu lado, tratando as bolhas dos seus pés, não pude senão lembrar-me das palavras de Jesus:
"Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros."
(Jo 13, 14)
Pensei também na parábola do Bom Samaritano:
"Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele." (Lc 10, 33-34)
Foram estas imagens do verdadeiro amor cristão que inspiraram naturalmente o Papa Francisco e oferecer-nos uma imagem da Igreja - uma imagem nova, mas antiga, tão antiga quanto o Evangelho:
«Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo».(Entrevista à Revista Brotéria, Setembro 2013)
“Essa é a missão da Igreja, que cura e cuida. Algumas vezes, eu falei da Igreja como um hospital de campanha. É verdade: quantas feridas há, quantas feridas! Quanta gente que tem necessidade de que suas feridas sejam curadas! Essa é a missão da Igreja: curar as feridas do coração, abrir portas, libertar e dizer que Deus é bom, que perdoa tudo, que é Pai, é terno e nos espera sempre”. (Homilia de 5-2-15)
A tenda branca à beira da estrada, os peregrinos a caminho de Fátima...
A Igreja à beira da estrada da vida, e cada um de nós, peregrino a caminho da verdadeira Pátria...
Não tenhamos receio de nos aproximar da Igreja, de descalçar os sapatos e de deixar que nos cuidem das feridas. Não hesitemos em estender a mão para receber o alimento, beber da Água da Vida, recuperar as nossas forças! Os sacramentos que Jesus nos deixou são os remédios mais eficazes para quem peregrina pelas estradas da vida.
Depois, assim curados e alimentados, sejamos também nós capazes de nos ajoelhar diante do irmão e de lhe lavar os pés...
Ao longo destes últimos dias, a minha vista, durante os curtos trajetos de carro entre a casa, a escola e o colégio foi esta:
A fila de peregrinos foi constante e ininterrupta, ao longo de todo o dia. Caminhavam com alegria e entusiasmo, acenavam quando lhes sorriamos. Nestes dias que antecedem o dia treze, todos os caminhos parecem ir dar a Fátima.
Enquanto os via passar, sentia os olhos molhados. Durante toda a semana anterior, os meus alunos escuteiros trouxeram ao pescoço o lenço que os identifica, em homenagem aos dois jovens escuteiros falecidos no caminho de Fátima, no trágico acidente que vitimou cinco peregrinos, às quatro horas da madrugada. A morte não pareceu, contudo, assustar os peregrinos, que continuaram a caminhar, e que hoje, dia treze, devem estar cansados, transpirados, esgotados - felizes, louvando Jesus e Nossa Senhora, em Fátima.
O caminho dos peregrinos é frágil. Nele, a morte e a vida parecem separadas por um fino véu, por uma fração de segundo, por um passo a mais fora do tracejado.
Como o caminho dos peregrinos, também o caminho da vida é frágil. O perigo espreita a cada esquina, e a morte surge de improviso tantas e tantas vezes.
Porque não protege Nossa Senhora os seus peregrinos? Porque não protege Nosso Senhor os seus fiéis? E no entanto, o Evangelho assegura-nos:
"Nenhum passarinho cai por terra sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados." (Mt 10, 29-30)
Talvez a proteção divina seja um conceito bem diferente do nosso... Talvez Deus nos proteja e nos guarde, mesmo quando permite o mal, a doença, a morte... Talvez o amor de Deus seja tão grande, tão poderoso, tão infinito e tão profundo, que nada, nada mesmo, nem a morte, nem a doença, nem sequer o pecado sejam capazes de o beliscar. Talvez o verdadeiro perigo mortal não seja morrer à beira da estrada, mas caminhar nela sem amor...
Disse S. Paulo:
"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
A tribulação, a angústia, a perseguição,
a fome, a nudez,
o perigo, a espada?
Estou convencido de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados,
nem o presente, nem o futuro,
nem a altura, nem o abismo
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus!"
(Rm 8, 35-39)
Depois de verem Nossa Senhora, os pastorinhos nada mais desejavam do que estar eternamente junto dela. Diz-se que a Irmã Lúcia, velhinha, no Carmelo de Coimbra, suspirava muitas vezes: "Mãe querida, disseste-me que tinha de ficar na terra mais um bocadinho... É a isto que chamas "mais um bocadinho"?" Um pequeno vislumbre do céu é suficiente para reorientar todas as prioridades de uma vida!
Não somos senão peregrinos nesta Terra, caminhando à beira da estrada em direção ao Céu. Que o nosso caminho seja feito de amor concreto, simples e alegre, como o caminho de tantos peregrinos de Fátima; e que a morte, ao colher-nos por fim numa qualquer curva da nossa peregrinação, não faça senão lançar-nos mais depressa na meta.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!
Na semana passada, um daqueles pesadelos que às vezes nos assustam de noite aconteceu-me: abri a pasta da escola e não encontrei a minha capa com os resultados dos testes e outras avaliações dos alunos. Sim, eu ainda faço as cotações em papel quadriculado; não, não tenho todas as informações em excel, porque gosto de ir tomando notas sobre o trabalho de cada aluno durante as aulas, e não sinto a necessidade de posteriormente passar essa informação para computador; sim, eu sei, devia passar... Mas não passo. E a capa plástica não estava na minha pasta. Fiquei literalmente em pânico. E agora?
Depois de procurar por toda a casa e por toda a escola, não esquecendo os lugares mais óbvios, como as almofadas dos sofás, o cesto dos brinquedos, o cesto da roupa para passar a ferro e o chão por debaixo dos armários, decidi que teria de ir às várias escolas por onde tenho andado a fazer provas orais de Inglês, nas últimas semanas.
- Que vais fazer se não aparecer? - Perguntavam-me os meus filhos. - Vais dar cinco a todos os alunos?
Eu suspirava, e nem queria pensar na hipótese da pasta não aparecer. Durante dois dias, não pus roupa a lavar e quase não cozinhei, pois todos os momentos livres eram passados a vasculhar a casa à procura da dita capa.
- Que é hoje o jantar? - Perguntou-me o Niall no segundo dia, olhando para a banca da cozinha, vazia.
- Sopa, e depois, o que houver no frigorífico - Respondi, sem parar de procurar.
Ele abriu o frigorífico e começou a tirar pequenas caixas com sobras de comida.
- Vou pedir a Jesus que faça o milagre da multiplicação das sobras - Disse, divertido - Ele é perito em multiplicar alimentos, não é verdade?
Jesus não se fez rogado, e sobre a mesa conseguimos colocar um belo e variado jantar. Foi então que o telefone tocou.
- Olá Teresa! Olha, hoje de manhã dei-me conta de que tenho andado com uma capa plástica que te pertence... Já tinhas dado pela sua falta? Imagino... Não te preocupes! Está aqui!
Caí sobre o sofá, dando uma gargalhada de verdadeiro alívio. Deus escutara as minhas orações e as de muitos outros que rezavam por mim! Nunca o jantar me soube tão bem.
O meu rodopio durante aqueles dois dias, à procura de uma pequena capa plástica carregada com o meu trabalho do ano inteiro, fez-me pensar numa bela e curiosa história da Bíblia: a história do Rei Josias. Conhecem? Vem narrada no Segundo Livro das Crónicas, no capítulo 34. Tratei dela no segundo volume do meu livro, Os Mistérios da Fé.
Josias tinha oito anos quando subiu ao trono. A sua principal preocupação era seguir as pegadas do Rei David, e fazer o que é reto diante de Deus. Assim, Josias decidiu purificar os lugares santos, abolir os ídolos, e empreender reformas religiosas. Contudo, faltava uma coisa: faltava conhecer o Livro da Lei, ou seja, a Bíblia da altura, que ninguém conseguia encontrar. Tinha sido muito bem guardado algumas gerações atrás, para evitar a sua profanação aquando de grandes perseguições religiosas, e desde então estava perdido.
Um dia, durante as escavações e os trabalhos de recuperação do Templo, os trabalhadores tiveram uma grande surpresa: o Livro da Lei surgiu debaixo de uma pedra. Imediatamente foi levado a Josias, que deixou tudo o que estava a fazer para escutar a Palavra. Então...
"O Rei Josias convocou todos os anciãos de Judá e de Jerusalém. Depois, ele próprio subiu ao templo do Senhor seguido por todo o povo, do maior ao menor. Proclamou-lhes integralmente as palavras do livro da aliança, encontrado no templo do Senhor. Pondo-se de pé sobre um estrado, o rei fez uma aliança na presença do Senhor, segundo a qual se comprometia a seguir o Senhor, a guardar os seus mandamentos, as suas ordens e os seus preceitos, de todo o seu coração e com toda a sua alma, cumprindo todas as palavras da aliança escritas nesse livro." (2Cr 34, 29-31)
Eu pus a minha casa de pernas para o ar à procura de uma capa plástica... Teria o mesmo empenho em procurar a minha Bíblia? Bem, posso sempre comprar outra, coisa que os nossos antepassados não podiam, e que milhares de cristãos no mundo inteiro não podem fazer, porque lhes é proibido e correm risco de morte...
Que empenho coloco eu em conhecer e estudar o Livro da Aliança, a Palavra do meu Senhor, proclamada na Bíblia e explicada no Catecismo da Igreja Católica? Será que a meditação da Palavra de Deus ocupa o primeiro lugar, à frente do cesto da roupa, à frente do jantar, à frente da televisão...? Não é preciso deixar de cozinhar para ler a Bíblia, mas talvez seja preciso deixar muitas outras coisas. Que o jovem rei Josias seja um modelo de fé para nós!
- Meninos, preparem-se, amanhã vamos à praia!
- Viva!
- Urra!
- Uau!
- Vamos!
- E se chover?
- Se chover vamos na mesma! Estamos sempre a adiar o primeiro dia de praia, ou porque está frio, ou porque está chuva, ou porque não temos tempo. Amanhã não há nada que nos impeça de ir à praia. Portanto, podem sonhar com o mar esta noite!
O sábado amanheceu nublado e fresco, mas a decisão estava tomada. Levámos os cães connosco, calculando que a praia estaria suficientemente deserta para lhes permitir brincar sem incomodar ninguém, e durante a meia hora de viagem que nos separa do mar rezámos o terço, como costume. Ainda não eram nove e meia da manhã e já todos saltávamos na areia, felizes e animadíssimos.
Premiando a nossa confiança e ousadia, o sol decidiu espreitar, e num instante aqueceu a praia. Tanto, tanto, que os meninos passaram a manhã assim:
E para os nossos leitores mais novos irem treinando aí em casa (ou não!), dois vídeos, de oito e de cinco segundos:
Não chegaram a três horas de praia, mas foi tempo suficiente para encher de canções, gritos de excitação, palmas, saltinhos nas ondas, gargalhadas, corridas e abraços. A alegria, a serenidade e a sensação de perfeição prolongaram-se ao longo de todo o dia, e à noite, durante a oração familiar, todos agradeceram esta prenda que o Senhor nos ofereceu.
Quando olho as ondas do mar recortadas no céu azul e polvilhadas de gaivotas, penso sempre na eternidade. Eu sei que a eternidade me devolverá todo o tempo de felicidade que experimentei aqui na Terra, todas as gargalhadas e as brincadeiras partilhadas com o Niall e os meus filhos; e sei que me devolverá todas as gargalhadas e as brincadeiras que não tive tempo de partilhar com o Tomás... Em Deus, no seu amor infinito e perfeito, tudo se torna também infinito e perfeito. Cada instante de pura alegria que nos é concedido ou impedido experimentar nesta vida será multiplicado e tornado a multiplicar na eternidade... Confuso? Escreveu S. Paulo:
"Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem o coração do homem pressentiu o que Deus preparou para aqueles que O amam..."
(1Cor 3, 9)
Se na Terra podemos experimentar tamanha felicidade, como será no Céu, Senhor?...
- A partir de hoje, desisto do meu filho - Gritava uma mãe, visivelmente aborrecida, diante da pauta com as notas da turma. Eu estava a atender os pais e a entregar as avaliações da minha direção de turma, antes das férias da Páscoa. O filho em questão tem quase dezassete anos e continua no nono ano. É um rapaz simpático e muito trabalhador - no mini-mercado dos pais, que na escola só gosta de brincadeira.
Senti-me constrangida diante do desespero daquela mãe. Ela parecia ignorar os olhares dos outros pais, e continuava, gesticulando e falando muito alto:
- Cria uma mãe um filho para isto! Só o temos a ele, o pai e eu não fazemos outra coisa senão trabalhar, trabalhar, trabalhar de manhã à noite, para ele, naturalmente. E como é que ele agradece? Repetindo o ano novamente, claro!
Tentei acalmá-la, mas percebi que não tinha palavras suficientes. Tudo o que ela dizia era verdade, e o meu aluno não faz um esforço, por pequeno que seja, para dar alegria aos seus pais nos estudos. Registei interiormente a necessidade de conversar com o rapaz, assim que recomeçasse a escola. Sabia, no entanto, que a minha tarefa seria quase impossível se a mãe, de facto, desistisse de lutar pelo sucesso do seu filho.
Oito e meia da manhã, primeiro dia de aulas do terceiro período. À porta da minha sala, tenho a mesma mãe, acompanhada do filho.
- Bom dia, professora! Tem um minuto para falar connosco?
- Claro que sim! Daqui a quarenta e cinco minutos tenho hora de atendimento. Aguarda um bocadinho?
Quarenta e cinco minutos depois, a mãe e o filho estavam sentados diante de mim. O meu aluno mantinha a cabeça baixa, enquanto a mãe, com os olhos cheios de lágrimas, falava.
- Professora, eu vou fazer tudo o que puder para ajudar o meu filho a passar o ano - Disse-me, sempre emocionada. - Ele é tudo o que nós temos. Acha que ainda vamos a tempo?
Recordei-me desta conversa ontem, enquanto rezava diante da imagem de Nossa Senhora, na oração do Mês de Maria.
Olhando para a imagem da Senhora Auxiliadora dos cristãos, eu dizia interiormente:
- Querida mãe, deves estar cansada das desilusões que te causei ao longo da minha vida, e que te continuo a causar! Será que ainda acreditas que sou capaz de santidade?
Foi então que me lembrei da mãe do meu aluno. Uma mãe que o seja verdadeiramente nunca desiste do seu filho, mesmo que, num momento de desespero, tenha a intenção de o fazer. Maria não é apenas uma mãe, mas a melhor das mães. Em Medjugorje, Maria disse um dia: "Se soubesseis quanto vos amo, choraríeis de alegria." No Livro de Isaías, o Senhor diz-nos:
"Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria." (Is 49, 15)
Nem Deus, nem Maria alguma vez desistirão de nós. Ao longo da nossa vida, o Senhor irá servir-se de tudo para nos ajudar a encontrar o Caminho para Casa. Servir-se-á de um amigo, de um problema, de uma doença, de uma crise, de um momento de oração, de um blogue, de um retiro (já se inscreveram no Retiro de Neiva?) e até de um pecado. Não seremos nunca capazes de O desiludir ao ponto de nos abandonar!
E Maria, que viu o Filho morrer por nossa causa, continua a visitar a Terra para nos aconselhar, nos corrigir e nos encorajar... Conhecemos nós a mensagem de esperança que nos deixou em Fátima? Ah, como é forte e poderoso, o amor de uma mãe!...
Dia um de maio. Dia de chuva, todos dentro de casa.
- Que vamos brincar agora? - Perguntava a Lúcia, aos saltinhos. Tinha estado grande parte da tarde a brincar comigo e com o Niall, na companhia da Sara e do António, pois os restantes irmãos estavam fora noutras atividades.
Suspirei, um pouco cansada. Já tinha brincado ao lego, às escondidas e contado histórias. De repente, o Niall teve uma ideia brilhante:
- Vamos brincar às charadas bíblicas. Cada um vai representar uma história da Bíblia, e os outros vão tentar adivinhar!
- Viva! Viva! - Gritavam eles, entusiasmados.
E assim fizemos. O António e a Lúcia estavam cheios de ideias, o Niall e eu representámos algumas histórias, e a Sara saltitava entre todos, imitando os gestos de cada um e batendo palmas de alegria.
Vejam lá se adivinham as histórias da Bíblia representadas:
Exatamente: Samuel a dormir, a escutar o Senhor a chamá-lo e a correr para o quarto de Eli, batendo à porta, convencido que fora Eli quem o chamara!
E agora?
Bem, esta é a Lúcia a pescar no mar de Tiberíades! A noite toda sem nada pescar, claro, até Jesus chegar junto dela...
E aqui?
A Lúcia é o povo de Israel, caminhando em solene procissão em redor das muralhas de Jericó. Pelos vistos, a Lúcia pertence ao grupo dos músicos, que à frente tocavam trompete, cheios de alegria!
Finalmente, tentem adivinhar quem é o bebé que se tenta meter dentro deste cesto de roupa...
Claro! O pequeno Moisés escondido num cestinho de vime e cuidadosamente colocado nas águas do Nilo, perto do local onde as princesas iam tomar banho... A princesa, claro, foi a Lúcia:
Experimentem aí em casa! As charadas bíblicas são das formas mais divertidas de recordar, recontar e meditar as histórias da Bíblia, o grande livro da nossa fé. Diz o Deuteronómio:
"Estas palavras que hoje eu te dou estarão no teu coração. Repeti-las-ás aos teus filhos e refletirás sobre elas, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar." (Deut 6, 6-7).
E também - acrescento eu - ao brincar!