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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A Sara é quem mais gosta de ajudar cá em casa. Quando repara que estamos ocupados com algum serviço interessante, como descascar legumes para fazer sopa, dobrar meias ou estender roupa, logo se decide ajudar. Como devem imaginar, as coisas tornam-se muito mais rápidas e eficientes quando a Sara nos ajuda... ou não!
Imaginem tentar descascar legumes para uma sopa com a Sara ao lado, os deditos sempre a querer tocar nos legumes que estou a cortar, a faca a evitar não cortar senão legumes... Ou então, pendurar roupa no estendal, esperando pacientemente, para cada peça, que a Sara decida que mola me vai oferecer... Ou tentar fazer uma cama, puxando os lençóis de um lado e vendo a Sara a puxar do outro, voltando ao outro lado para refazer o trabalho e ver a Sara a desfazer do outro. Enfim, ossos de ofício!
Ás vezes, falta-me a paciência, e para não gritar com a Sara, que não tem culpa nenhuma do meu mau feitio, tranco-me na cozinha a fazer a sopa, ou escondo-me muito bem escondida no jardim a pendurar a roupa, enquanto peço aos mais velhos que vigiem a Sara o tempo suficiente para eu acabar a minha tarefa. Então faço tudo rapida e eficazmente, como gosto, e o trabalho fica realmente bem feito.
Ontem, enquanto a Sara me ajudava a descascar batatas, dei comigo a pensar na paciência de Deus. Desde o início da humanidade, Deus decidiu fazer tudo com a nossa ajuda! Em vez de se "trancar" e fazer o trabalho de limpeza e arrumação deste planeta com rapidez e eficiência, Deus decidiu convidar-nos, um a um, para o ajudarmos, e nada faz sem a nossa ajuda. Que paciência infinita!
Quantas vezes escuto comentários como este: "Porque não pára o Senhor de vez com as guerras? Porque não mata a fome a tantos inocentes?" A resposta está aqui: Deus quer precisar de nós para parar as guerras, matar a fome, fazer a paz, curar as feridas, abrir as prisões, levar o amor a todas as periferias da vida. Sim, Ele podia fazer tudo sozinho - mas não o fará. Como Pai, e Pai muito mais amante e paciente do que eu, Deus nada faz sem nós.
Sim, às vezes atrapalhamos a obra de Deus, sobretudo com o nosso orgulho e a nossa teimosia; mas outras vezes, fazemos Deus sorrir, feliz, diante dos nossos esforços sinceros, ainda que pouco eficazes. Então, diante da nossa boa vontade, Deus capacita-nos, dando-nos de graça os dons de que precisamos para a realizar a sua obra. Diz Isaías, e podemos todos dizer:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, curar os desesperados, levar a libertação aos prisioneiros..." (Is 61, 1)
Todos os dias, diante da obra da minha família a crescer, diante da obra das Famílias de Caná a crescer, diante do meu trabalho como professora e catequista, eu peço ao Senhor: "Senhor, Tu que caíste na asneira de quereres precisar de mim, não deixes, por favor, que eu atrapalhe a tua obra!" E para não correr o risco de só fazer disparates, como uma certa pessoazinha que eu cá sei, repito muitas e muitas vezes esta invocação: "Nós, Jesus"...
Oração familiar. Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos. O Francisco lê sobre a prisão de Pedro e de João, decretada pelos fariseus.
- Esses polícias são os mesmos que prenderam os pastorinhos de Fátima? - Pergunta a Lúcia com simplicidade.
Entre gargalhadas, explicamos-lhe que não, que viveram algum tempo antes...
No dia seguinte, o António e a Lúcia brincam animadamente com blocos de madeira, enquanto conversam. O António reune várias figurinhas e vai explicando:
- Estes vão à missa, estes não vão...
- Mas somos todos polvo de Deus, António - Explica a Lúcia, com ar superior - Um polvo com muitos braços!
Interrompo a sua conversa, divertida:
- Lúcia, não é polvo, querida, é povo, povo, ou seja, muitas pessoas juntas!
- Ah, eu não sabia...
- Eu sabia! - Interrompe o António, muito seguro do alto dos seus cinco anos.
- Ai sabias, António? - Reage a Lúcia, indignada - A professora Rosário diz que os meninos que sabem tudo podem ir para o décimo segundo ano.
- Não discutam, meninos! Ninguém sabe tudo. A mãe também não sabe tudo. O importante é mesmo querer saber sempre mais, querer conhecer e descobrir sempre mais!
Estes pequenos episódios da nossa vida de evangelização familiar mostram-me com clareza como é importante evangelizar os nossos, diariamente, em família. Se não lhes contarmos as histórias, se não lhes explicarmos a Palavra, como hão-de conhecê-la para a praticar? As nossas conversas ao serão em torno da Palavra revelam-nos, primeiro, o pouco que sabemos; e depois, despertam em nós a vontade de aprender. Perguntando, respondendo, sugerindo, imaginando, uns com os outros vamos desvendando os mistérios da nossa fé e fazendo caminho com Jesus.
Cá em casa, gostamos de seguir o missal, meditando nas leituras da missa diária. Elas permitem-nos uma sequência na leitura da Bíblia, pois em cada semana, a Igreja medita num Livro Sagrado, um bocadinho cada dia, oferecendo no missal uma pequena explicação introdutória. Para nós, é sem dúvida a melhor forma de ler a Bíblia. Assim, ao longo das semanas do Tempo Pascal meditamos no Livro dos Atos dos Apóstolos e no Evangelho de S. João, e a experiência de aprendizagem tem sido fantástica.
Que cada Família de Caná tenha todos os dias alguns minutos para a Palavra de Deus na sua casa, à semelhança da Mãe, que este mês celebramos de uma forma especial. Maria, na verdade, alimentava-se diariamente desta Palavra, que reconhecia em cada gesto do seu divino filho:
"Quanto a Maria, guardava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração." (Lc 2, 19)
O dia um de maio foi um dia muito especial para o David: ia participar na sua primeira peregrinação anual de acólitos a Fátima! Acordou cheio de energia e, pelas oito da manhã, estava no Santuário, pronto para a viagem. Nós acompanhámo-lo com a nossa oração e o nosso amor, e ao longo do dia fomos imaginando os seus passos. Mas tivemos de esperar pelas oito horas da noite para escutar, da sua boca, o relato de um dia fantástico.
- Mãe, eram seis mil acólitos! Nem imaginas! Tantos, tantos!
- Deve ter sido lindo, David! Como foi na missa? Parecia um manto de neve na basílica, não?
- Sim, parecia mesmo! Tudo branco...
- E sentiste-te bem com o grupo? São todos amigos?
- Muito bem! As crescidas tomaram conta de mim.
- E sabes, mãe, os acólitos são muito animados. Fizemos brincadeiras e cantámos canções de Jesus!
- Mas o mais bonito foi a procissão do Santíssimo. Mãe, tu terias adorado! Eu sei que terias! Nem imaginas como foi bonito, dar a volta ao Santuário atrás de Jesus...
Enquanto escutava o David, pensava no Livro do Apocalipse:
"Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. E aclamavam em alta voz.
Ele disse-me: «Estes são os que vêm da grande tribulação; lavaram a suas túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro.»"
(Ap 7, 9.14)
O David ainda não tinha terminado:
- Mãe, o senhor padre pagou o almoço.
- Ai sim? Então trouxeste de volta os dez euros que te dei esta manhã?
- Não! Quer dizer, trouxe uma moeda.
- Uma moeda? Dois euros?
- Não! Cinquenta cêntimos. Toma!
E estendeu-me a moeda, muito orgulhoso. E antes que eu pudesse reagir, estendeu-me três embrulhos:
- Comprei presentes para o Dia da Mãe. Nem imaginas como são lindos! Eu sei que vais adorar. Abre, abre!
- Mas hoje ainda não é Dia da Mãe, David!
- Ah, mas são tão lindos, vais adorar!
Abri os presentes, depois de trocar um olhar divertido com o Niall e decidir interiormente dar em breve uma lição de economia ao meu filho. Os presentes, contudo, deixaram-me sem palavras:
Abracei o David com força, emocionada com o seu amor.
- Gostas, mãe?
- Lindo, David! Presentes lindos mesmo! Obrigada! Escolheste as prendas mais belas do mundo. Vou colocar o crucifixo e o terço com perfume de rosas na minha mesa de cabeceira, e o anjinho diante da fotografia do Tomás. Pode ser?
- Eu sabia que ias gostar!
- E não compraste nada para ti?
- Comprei. Comprei estes binóculos! O que eu queria mesmo comprar era um avião, mas achei que podia fazer um sacrifício, já que estava em Fátima. Assim comprei os binóculos, que foram mais baratos e fiquei com mais dinheiro para comprar as tuas prendas, e ainda pude oferecer o sacrifício.
Cancelei interiormente a minha lição de economia.
À noite, quem parecia uma criança era eu, adormecendo de terço na mão e com o crucifixo ao lado da almofada. Antes de fechar os olhos, pedi ao Senhor que mantenha sempre limpa a túnica interior do David; e se por acaso ele a sujar na lama do mundo, que tenha a simplicidade de a branquear de novo no Sangue do Cordeiro...
No blogue da Lena podem encontrar alguns vídeos e textos sobre este dia. Espreitem!
No domingo dia 26 à noite, ao chegarmos do grupo de oração, encontrámos o Niall sentado diante do televisor, muito feliz. Ele costuma ficar em casa a cuidar dos mais pequeninos, enquanto o Francisco, a Clarinha e eu vamos rezar.
- Venham ver! Está a dar um programa de celebração dos 60 anos do Festival da Eurovisão!
- Do quê? - Perguntaram eles.
O Niall e eu trocámos um olhar cúmplice. Somos do tempo em que a televisão congregava as famílias em torno de um único programa, e em que o país inteiro parava para assistir em direto ao Festival da Eurovisão da Canção.
- Lembras-te do Johnny Logan? - Perguntou-me o Niall. - Ganhou por duas vezes. Era irlandês!
- Claro que me lembro! "Hold me now!" Cantámos esta música até à exaustão, no recreio da escola! E pensar que um dia havia de casar com um irlandês! Lembras-te da música do Carlos Paião: "Hei, Playback"? Nós adorámos aquela música, Portugal inteiro a cantava, mas ficou em último lugar. Foi cá um choque coletivo!
- Lembro-me, claro. Nós na Irlanda rimos à gargalhada da vossa música! Achámos muito divertida, mas um pouco tonta.
- Ora!
De repente, calámo-nos, de olhos fixos no televisor. Em palco entrava Nicole, trinta e três anos mais velha que a jovenzinha de dezoito anos, daquele longínquo serão de 1982. Visivelmente emocionada, cantou "A Little Peace", a segunda canção mais bem sucedida de todos os anos do Festival da Eurovisão. Enquanto o Niall e eu cantarolávamos a canção, acompanhando Nicole, o Francisco e a Clarinha olhavam espantados para nós.
- Quem não se lembra de "A Little Peace"? A Europa inteira cantava esta canção. - Explicou o Niall.
- E eu até a tocava na guitarra... Estou aqui a pensar, Niall, que naquela noite de 1982, tu e eu estávamos à mesma hora a escutar a mesma canção. É um bocadinho romântico, não te parece?
Rimo-nos todos. Mas a verdade nua e crua é mesmo essa...
Dizia o nosso pároco aos jovens crismados, no final da Eucaristia:
- Há três formas de encarar a vida: uma sucessão de acasos; o destino, onde tudo está pre-definido; ou então - e esta é a única forma digna de um cristão - como um chamamento, isto é, uma vocação.
Gosto de dizer aos meus filhos que o marido ou mulher que Deus sonhou para cada um deles - se os chamar ao matrimónio - já deve andar por aí a correr, a brincar, a ir à escola, a rezar... Na verdade, o acaso não existe, e ninguém tem o destino marcado, porque Deus nos fez livres.
Podemos enganar-nos? Claro! E se nos enganarmos, não estamos condenados à infelicidade. Pensemos no GPS que temos no carro: ele vai-nos indicando o caminho, mas se decidirmos ir por outra estrada, imediatamente refaz os seus cálculos e sugere nova rota que nos conduz ao mesmo destino. Também a voz de Deus dentro de nós nos vai conduzindo pelos caminhos que vamos escolhendo, para nos fazer chegar ao Céu. Nunca baixemos os braços perante um engano evidente no caminho: a Deus, nada é impossível!
Todos os dias rezamos em família para que os nossos filhos sejam capazes de reconhecer a voz do Senhor, quando Ele os chamar a um caminho específico, a uma vocação concreta. Rezamos para que tenham a audácia de responder "sim", por difícil que pareça, como difícil nos pareceu a nós construir uma família a partir da Irlanda e de Portugal. Disse Jesus:
"Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz." (Jo 10, 2-4)
E agora... Para os que foram jovens quando nós fomos - se quiserem recordar A Little Peace, aqui fica:
A entrevista que dei à Rádio Vagos fm já está disponível online, aqui, bem como na coluna lateral deste bogue. Espero que vos agrade... Voltei a trocar a idade da Clarinha :) Enfim, custa-me sempre lembrar das idades dos meus filhos sob stress!!!
Hoje, na Eucaristia, distribuiremos pagelas com a imagem da Mãe de Caná e a nossa consagração. Depois, juntos, todos nos consagraremos à Mãe, pedindo que interceda por nós e pelas nossas famílias.
Rezem connosco:
Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná
Consagramos-te hoje e sempre a nossa família.
Confiamos na tua intercessão de Mãe,
Para que o vinho da fé, da esperança e do amor
nunca acabe em nossa casa.
Faz de nós servos do Senhor, como tu,
e ensina-nos a fazer tudo o que Jesus nos disser.
Ámen!
Que o Senhor, por Maria, abençoe a minha mãe!
Que o Senhor, por Maria, me abençoe a mim, que o Senhor abençoe todas as mães!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães grávidas!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães que vêem os filhos sofrer, morrer, partir, caminhar errantes pela vida!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães felizes e cansadas, dedicadas e imperfeitas, desejosas de santidade!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães aflitas, preocupadas, com medo, maltratadas, as mães que vivem na guerra, as mães que não sabem o que dar de comer aos filhos!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães velhinhas abandonadas pelos filhos!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães que não sabem amar, e geram vida biológica sem gerar vida afetiva e espiritual!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães espirituais, aquelas que, mesmo sem nunca gerarem vida biológica, geram Vida abundante nas vidas dos outros, e se esquecem de si mesmas para que muitos sejam felizes!
Que o Senhor, por Maria, abençoe as mães que lêem este blogue e cuide de cada uma delas com carinho particular!
Que o Senhor, por Maria, nos abençoe a todos!
Ámen.
No domingo à noite, depois da festa familiar do crisma do Francisco, ligávamos nós pela quinta vez consecutiva a máquina da louça, quando comentei com o Niall:
- O nosso serviço de pratos de ocasiões especiais e as nossas toalhas de linho, bordadas pela minha avó há tantos anos estão a ficar gastos de tanto serem usados! O pó não chega a assentar nesta louça especial, e o linho já tem manchas de chocolate e de vinho que ninguém consegue lavar. Ufa!
- É bom sinal. É sinal de que estamos sempre em festa! - Respondeu-me ele.
A nossa conversa lembrou-me uma passagem de um discurso do Papa Pio XII às Famílias Numerosas, que li há anos mas nunca esqueci. Fui à estante procurar o livro que fala deste discurso, para o poder partilhar aqui:
"Uma família numerosa bem ordenada é como um santuário visível: o sacramento do batismo não é para ela um acontecimento excecional, mas renova por muitas vezes a alegria e a graça do Senhor. A série de alegres peregrinações às fontes batismais ainda não terminou e já recomeça no deslumbramento de idênticas alvuras, a das confirmações e das primeiras comunhões. Mal o mais novo dos irmãos depôs o seu vestido branco entre as mais caras recordações da vida, e já esvoaça o primeiro véu nupcial que reúne ao pé do altar pais, filhos e novos parentes. Seguir-se-ão, como uma sucessão de primavera, outros casamentos, outros batizados, outras primeiras comunhões, como que perpetuando na casa as visitas de Deus e da sua graça." (Pio XII, discurso de 20 de janeiro de 1958)
Na verdade, só este ano celebramos a receção de dois magníficos sacramentos em dois domingos consecutivos; e quase todos os anos temos tido celebrações religiosas familiares, sobretudo batismos! Como bem referiu o Papa, estes dias festivos são para todos nós uma fonte infinita de graças especiais e abundantes. Tenho bem presente na memória a sensação de profunda paz causada por cada um dos batismos dos meus bebés, como se eu mesma tivesse sido visitada por Deus de uma forma nova, luminosa e pura. Essa mesma sensação, experimento-a agora, neste clima festivo da Primeira Comunhão do David e do Crisma do Francisco.
Quando Deus visita um elemento de uma família, visita igualmente a família inteira. Assim o experimentavam os judeus, desde tempos imemoriais, e assim o anunciaram os Apóstolos. Num dos inúmeros episódios de conversões que acompanharam, Paulo e Silas tiveram este belo diálogo:
"«Que devo fazer para ser salvo?» Paulo e Silas responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua família.»"
(At 16, 30-31)
Quantas vezes, numa família, apenas um ou dois dos seus elementos acreditam no Senhor Jesus? Tantas... A Palavra de Deus enche-nos de alegria: pela porta dos que crêem passará, um dia, toda a família; e a visita de Deus a uma casa é como a luz do Sol a entrar por uma janela aberta, iluminando todos os que nela habitam... Ámen. Aleluia!
P.S. - Porque não vêm ao Retiro de Neiva? Será uma oportunidade para abrir a porta da vossa casa ao Senhor Jesus. E mesmo que não venha a família completa, todos receberão a visita! Na coluna direita deste blogue têm o link para o post sobre o retiro, através do qual se podem inscrever.
O Domingo do Bom Pastor foi, na nossa família, um domingo muito especial: o dia do Crisma do Francisco, o primogénito!
O dia amanheceu tranquilo. O Francisco estava sereno, como é seu costume. Quando se vestiu a rigor, todo soltámos uma exclamação de espanto. Afinal, não é seu hábito preocupar-se com o vestuário, e raramente o vemos assim:
Mas este domingo era mesmo um dia muito especial, e o cuidado exterior devia simplesmente refletir toda a beleza interior do seu coração, purificado pelo sacramento da confissão e preparado ao longo de anos de catequese e oração: o Francisco ia ser ungido testemunha de Jesus pelo seu bispo, D. António Moiteiro. Que honra, o sacramento do crisma! Que voto de confiança da parte de Deus, ao ungir-nos suas testemunhas!
Eram dezanove os jovens preparados pelo Niall para este grande dia. Entraram no santuário em procissão solene, e tal como os meninos da primeira comunhão no domingo anterior, também eles se mantiveram ao longo da coxia central, ao lado das respetivas famílias.
- Estais dispostos a ser testemunhas de Cristo? - Perguntou o senhor bispo, depois de todos os jovens, um a um, responderem "presente!" à chamada.
- Sim, estamos.
- E nós estaremos cá para ver! - Foi a resposta do senhor bispo, arrancando uma bela gargalhada à assembleia.
Os jovens fizeram o ofertório, as leituras e a oração dos fiéis. Na sua alegria, não esqueceram os migrantes que atravessam o Mediterrâneo todos os dias, os cristãos perseguidos, os sacerdotes desanimados, os jovens do mundo inteiro.
Ao lado do senhor bispo, o David acolitava. Estava muito feliz, porque era a segunda vez que acolitava ao lado do seu Pastor, e porque ia fazer a sua segunda comunhão. Antes de começar a missa, o David teve este diálogo caricato com a São, também acólita:
- Sabes, São, estou muito contente porque agora já não tenho fome na missa.
- Ai não? E porquê?
- Porque já vou comer a hóstia!
A São escondeu um sorriso:
- Pobre David, passavas assim tanta fome?
- Pois...
Num momento de grande beleza, os jovens crismandos foram junto do círio pascal acender a sua vela batismal. O sacramento do crisma é precisamente isto: tomar na sua própria mão a Luz recebida em bebé. No dia longínquo do seu batismo, a fé foi-lhes dada de presente, de uma forma totalmente gratuita, sem lhes dar tempo para dela tomar consciência, para a pedir, ou sequer desejar - tal como o dom da vida, que ninguém pede ou deseja, mas simplesmente acolhe. O batismo é o parto que nos lança na grande família da Igreja de Cristo.
Mas o crisma é diferente: o crisma é o assumir deste dom, o reafirmar do batismo, agora em plena consciência e adultez.
A vela do Francisco está minúscula, pois costumamos acendê-la em casa, durante a oração familiar, duas a três vezes por ano - e dezasseis anos representam muita cera!
Por fim, chegou o tão aguardado momento. Enquanto invocávamos o Espírito, cantávamos sem cessar: "Vem, Espírito de verdade! Vem, Espírito de Santidade! Vem, Espírito de Caridade! Vem, nós Te esperamos!"
Um a um, com os padrinhos a seu lado, os jovens aproximaram-se do senhor bispo, que ungiu a sua testa com óleo, marcando-os com o selo do Espírito. Depois, ao ouvido de cada um e com um carinho verdadeiramente paternal, desafiou-os à santidade.
- Segue o exemplo de S. Francisco de Assis - Sussurrou o senhor bispo ao Francisco. - E deixa-te inspirar pelo nosso Papa Francisco!
Antes da Eucaristia terminar, os jovens crismados leram uma simpática e comovente mensagem de agradecimento ao Niall, seu catequista desde que chegámos a Mogofores, tinham eles nove ou dez anos. O Niall contemplava o seu grupo com serena alegria, enquanto na sua mente já surgiam planos para os conduzir ainda mais além como grupo de jovens...
Estávamos todos felizes, com os olhos a brilhar. Os nossos "meninos" eram agora adultos na fé.
Um último presente: um crucifixo e uma pagela com uma oração, que o Niall escolhera com cuidado para lhes oferecer:
Na sua homilia, o senhor bispo desafiou os jovens a colocar os seus pés nas pegadas de Jesus, seguindo o seu caminho sem se desviar. Enquanto o Niall entregava a cada crismado a cruz e a pagela, cantámos o cântico que escrevi há alguns anos e que as Famílias de Caná e a nossa paróquia tanto gostam de cantar, pedindo a Jesus que nos ajude a nunca retirar os nossos pés das suas pegadas.
(Se quiserem cantar connosco, vão à tag "cânticos", e encontrarão um vídeo caseiro com este nosso cântico).
"Põe teus pés nas minhas pegadas e acerta o teu passo comigo
Elas estão de sangue manchadas, mas meu passo é alegre e decidido!
Nós, Jesus, Tu e eu! Juntos na Cruz, juntos no céu! (2x)
Põe teus pés nas minhas pegadas, não te canses de evangelizar
Elas estão de sangue manchadas, mas por elas a Vida vais encontrar!"
E agora, é hora de ser testemunha de Jesus, como os Apóstolos depois do Pentecostes:
"Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam." (Mc 16, 20)
Que assim seja. Ámen! Aleluia!