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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo, pelas seis da tarde, recebemos um telefonema:
- Mãe, já podem vir ao Colégio buscar as minhas malas. Eu vou pôr-me a caminho de casa de bicicleta!
Gritos de alegria. O Frankie está a chegar! O Frankie está a chegar!
E foi uma grande claque que esperou por ele no muro do jardim:
- Olha! É ele! Já lá vem!
- Viva o Frankie!
- Viva! Viva!
- Viva!
Os meninos saltaram para os braços do irmão, e os cães saltaram para as pernas do dono, felizes. Que fim de tarde tão alegre!
Finalmente todos juntos, é hora de partir de férias. Hoje, quando lerem este post, já estaremos bem longe de casa, algures no país, nas nossas férias familiares - uma semana sem telefones nem internet, sem trabalho e sem preocupações - uma semana em família, apenas os oito e o Senhor!
A todos os leitores deste blogue, desejamos umas férias felizes, cheias da paz e da alegria que só Deus pode dar! Quanto a nós, regressaremos para a semana, com novas forças e muita coisa para contar. Prometemos uma reportagem completa de Santiago e das nossas férias familiares!
Que o Senhor a todos abençoe e cubra do seu amor! Rezem por nós, que nós também rezamos todos os dias por vós!
"Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco." (Mc 6, 31)
Oração familiar. Junto ao Canto de Oração, rezamos o terço.
- Quinto mistério doloroso - Enuncio, à espera que um dos mais pequenos o nomeie. Ser o primeiro a dizer o nome do mistério tornou-se, cá em casa, num jogo que todos querem ganhar.
- Eu digo! Eu digo! - Grita a Lúcia, entusiasmada. E continua: - O quinto mistério é a pregação de Jesus.
- Não é nada, Lúcia! - Reage o David, impaciente - É a crucifixão de Jesus. É quando Jesus morre na cruz!
- Foi o que eu disse! - Responde a Lúcia - Eu disse "pregação", e pregação é pôr pregos, não é?
Todos nos rimos com simpatia. Interrompendo a conversa, respondo à Lúcia:
- Lúcia, o que tu dizes nem está assim tão errado. Afinal, a mais bela pregação de Jesus foi mesmo na cruz... Quando esteve suspenso na cruz, Jesus pregou quase sem palavras. Na cruz, Jesus pregou com a sua vida, com o seu olhar, com o seu suspiro, com o seu coração trespassado de amor... Não há maior pregação do que a da cruz!
O trocadilho inocente da Lúcia fez-me pensar no heroísmo de tanta gente que eu conheço, e que dá testemunho da sua fé, não através de palavras, nem de milagres, nem de visões, nem de uma sucessão de acontecimentos festivos, mas precisamente através da sua cruz - uma cruz aceite com cara alegre e total confiança no Senhor.
Talvez a nossa vida não seja como gostaríamos que fosse, a nossa família não nos compreenda, os nossos filhos sigam por maus caminhos, o nosso emprego seja uma desilusão... Talvez estejamos doentes, desempregados, abandonados, traídos, magoados... Então é o momento de pregar sem palavras, carregando a cruz com um sorriso aberto e um coração atento, transbordando amor. Na verdade, falar de Jesus quando tudo corre bem é simples; mas manter a alegria e recusar a revolta, a cara feia e os queixumes - isso é pregação! Como a de Jesus, também essa se tornará na mais bela pregação da nossa vida...
"Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la, mas quem a perder por Minha causa, há-de salvá-la."
(Mc 8, 34-35)
Durante o tempo de férias, a televisão está definitivamente desligada - exceto quando queremos ver juntos algum filme - e os livros parecem nascer por todo o lado. Há livros na casa de banho, na cozinha, no chão, no sofá, misturados com os brinquedos, misturados com os pratos, livros no Canto de Oração e livros no jardim. Os nossos filhos, simplesmente, adoram ler!
Talvez uma das coisas que tenha ajudado a desenvolver o gosto pela leitura seja a história diária lida todas as noites, sem exceção, até pelo menos à entrada no segundo ciclo... E o facto dos irmãos mais velhos adorarem ler, visto o Francisco e a Clarinha serem os modelos dos mais novos.
Penso que também ajudou nunca termos elevado a televisão ao nível de recompensa ou castigo ("Se te portares mal, não vês televisão!" "Se te portares bem, podes ver televisão!"), mas termo-lo feito com os livros ("Se te portares mal, não te deixo ler hoje à noite!" "Se te portares bem, tens uma história extra!"). Quando uma coisa é usada para recompensar ou castigar, essa coisa ganha novo valor. Tornámos a televisão insignificante, ao ponto de não merecer entrar em negociações. Já ir dormir sem história, bem, isso é assunto muito sério cá em casa e fonte de muitas lágrimas!
Ontem senti a casa muito silenciosa. Quando fui à sala espreitar, deparei com esta cena:
Durante o verão, a nossa oração familiar acontece de manhã, a caminho da praia, ou ao fim da tarde, quando o pai chega a casa. Assim, ao serão temos mais tempo para ler. Como o António e a Sara se deitam antes das nove, nenhum dos outros experimenta o prazer de ler na cama, pois os quartos estão escuros. Mas ultimamente, o David e a Lúcia descobriram uma alternativa magnífica: sentam-se na nossa cama de casal, aconchegados e felizes, e lêem em silêncio durante dez a quinze minutos antes de eu os mandar dormir, pelas nove e um quarto.
Mas no outro dia, o silêncio no meu quarto era tão grande, que me esqueci de os mandar dormir... É caso para dizer: longe da vista, longe do pensamento! A verdade é que só me apercebi de que ainda não os tinha mandado dormir quando, pelas dez menos um quarto, entrei no meu quarto. Assustada, dei um pequeno grito.
- Que foi, mamã? - Perguntou o David, dando um salto também.
- Esqueci-me que vocês ainda estavam a ler! - Respondi, com uma gargalhada. - Vamos, toca a dormir!
A Lúcia olhou para mim muito séria:
- Faz mal ler assim tanto?
- Não, querida, não faz! Vamos, agora toca a dormir!
Nos retiros, há sempre coisas que ficam esquecidas. Desta vez, foi o nosso missal ferial, que tínhamos levado para rezar durante a viagem. Só dei conta segunda-feira, quando quisemos ler as leituras da missa diária, como costume, durante a oração familiar.
- E agora? Como vamos fazer para ler as leituras? - Perguntei, um pouco aborrecida com o meu esquecimento.
- Eu tenho-as no tablet - Respondeu-me a Clarinha, solícita. Pelos vistos, ela subscreve as leituras da missa diária... Grande filha, a minha Clarinha!
Lemos e meditámos então a partir do tablet, mas eu senti-me desconfortável. Talvez por ter nascido e crescido no século passado, tenho necessidade de tocar no papel, de folhear, de ler o que está para trás e o que vem à frente. Quando leio as leituras diárias gosto de ir ver as anteriores, para fazer a ponte, e gosto de ler os comentários de quem escreveu o missal.
Assim, no dia seguinte pedi ao Niall que me trouxesse de Aveiro um novo missal ferial.
- E para quem fica o nosso missal antigo, quando a Rute no-lo trouxer de Proença? - Perguntou ele.
- Para mim! - Disse o David, com um sorriso rasgado. Na verdade, há duas semanas atrás o David pedira-me uma prenda especial: queria ter um missal só dele, para ler quando quisesse no seu quarto...
- Um missal com imagens, histórias para crianças, e coisas assim, David? - Perguntei-lhe.
- Não: um missal a sério, com a Bíblia a sério, sem desenhos. Um missal igual a este...
No fim do verão, o David terá o seu missal!
"Quanto amo, Senhor, a tua lei!
Nela medito todos os dias.
A tua palavra é farol para os meus passos
e luz para os meus caminhos."
(Sl 118 / 119, 97.105)
Que a nossa leitura preferida seja, como para o David, a leitura da Palavra de Deus... Ámen!
A nossa casa é uma casa extremamente barulhenta, entre crianças, galinhas, gatos e cães; mas é também uma casa extremamente pacífica. Senão vejam:
Sim, os cães e os gatos gostam de se enroscar uns nos outros e de brincar em grande grupo!
Se repararem bem nestas fotos, verão como os gatinhos se entretêm a observar os franguinhos, sem um único gesto ofensivo. Afinal, nasceram quase ao mesmo tempo!
Mais ainda: numa noite de inverno, no ano passado, descobri que a Tiger - a mãe dos gatinhos - dormia encostada às galinhas, provavelmente à procura de calor... A sério!
Já observaram esta oliveira florida? Aposto que não conheciam esta espécie, capaz de produzir flores brancas tão belas...
Ora aqui fica a solução deste enigma: não, as flores não são da oliveira, mas de uma lindíssima trepadeira que decidiu abraçar a nossa oliveira, casando-se com ela vestida de alvura!
Às vezes, também os nossos filhos experimentam momentos de intensa harmonia. Vejam, por exemplo, a felicidade dos mais novos, quando o Francisco se oferece para os ajudar a construir objetos especiais em lego:
Ou a alegria da Sara, aos saltos nas ondas com os mais velhos:
O David só se aventura nas ondas grandes se a Clarinha ou o Francisco estiverem por perto...
E o António também!
Reparem neste trabalho conjunto na cozinha, enquanto a mãe escreve um "post"... O David lê a receita a partir do tablet da Clarinha, a Lúcia vai encontrando o material necessário, a Clarinha faz o bolo e a Sara, claro, rapa as tigelas!
Depois, o piquenique no jardim sabe bem melhor:
- Lúcia, a Sara quer uma história, mas eu tenho de ir levar a Clarinha ao treino! Contas-lha tu?
- Sim, mamã!
Os cães, os gatos e as galinhas não têm alternativa senão dar-se bem. A nossa casa não permite que vivam separados, e a porta do galinheiro está constantemente a ser aberta por mãozinhas pouco cuidadosas, que se esquecem de a fechar... A oliveira e a trepadeira também não têm alternativa: o espaço é pouco e ambas precisam de crescer!
Quanto aos nossos filhos... Bem, talvez o segredo não seja muito diferente! Um mesmo espaço continuamente partilhado por uma família numerosa, e multiplas ocasiões para se servirem uns aos outros e para cuidarem uns dos outros...
As férias são tempo privilegiado para que os irmãos brinquem juntos, trabalhem juntos, se aborreçam juntos, discutam juntos, e se ajudem uns aos outros. Nos dias que correm, é frequente as férias separarem as famílias: os mais novos têm de frequentar o ATL, porque os pais trabalham; os jovens participam em inúmeras atividades longe de casa... Tudo faz parte e tudo é bom, claro! Mas corremos o grande risco de transformar as férias em mais uma sessão de "cada um por si".
Para que os irmãos aprendam a ser irmãos, é necessário que nós, pais, lhes ofereçamos contínuas oportunidades de cuidarem uns dos outros, dando-lhes responsabilidades de acordo com as suas idades e capacidades. Que não falte, nas férias, um tempo largo para unir pais e filhos e para unir os irmãos entre si!
"Como é bom e agradável os irmãos viverem em harmonia!" (Sl 133)
Quando o Senhor nos chama para orientarmos um Retiro Famílias de Caná, eu fico sempre cheia de curiosidade. Sim, curiosidade ante as surpresas que o Senhor nos reserva! Esta vida de missão tem-me revelado um Deus que nunca Se deixa vencer em generosidade. No Evangelho, Jesus disse:
"Quem der um copo de água fresca a um destes pequeninos por ele ser meu discípulo, não ficará sem recompensa." (Mt 10, 42)
Jesus não estava a brincar quando disse isto! Ele falava a sério. Na verdade, nos Retiros Famílias de Caná nós oferecemos aos pequeninos do Reino um pouco de água fresca, nas bilhas singelas da nossa vida; e que nos oferece Deus em troca? Amigos em todo o país e doses extra de felicidade!
É realmente giro escutar os mais novos a falar dos amigos que têm em Viana e na Raposa, em Almada e em Cascais, em Coimbra e em Proença; ou escutar o Francisco a conversar sobre cavalos com cavaleiros a sério, daqueles que o Francisco só via em filmes... e que agora são Famílias de Caná!
Bem, escutem então a surpresa deste nosso retiro:
A Clarinha foi para o Retiro de Proença a coxear, como se devem lembrar. Uma lesão nos ligamentos impedira-a de participar no espetáculo final do ano do clube de ginástica, arrancando à Clarinha muitas lágrimas e um sorriso de aceitação. Em vez de sessões de ginástica, a Clarinha passara a ter sessões de fisioterapia, mas a dor no joelho não cedia. E foi assim que chegámos ao retiro.
Ora quis a Providência Divina que uma das famílias participantes neste retiro - e que já conhecíamos do Retiro de Natal e do Retiro de Quaresma - fosse um casal de fisioterapeutas. O Tiago tem uma vasta experiência no trabalho com atletas de alta competição, bem como uma vasta experiência de ensino de fisioterapia como professor universitário. Enquanto caminhávamos da igreja paroquial para o seminário, depois da missa, fomos conversando, e lembrei-me de lhes falar da Clarinha.
- Terei todo o gosto em ver o que se passa com o seu joelho - Disse o Tiago, como se uma sessão de fisioterapia de alta qualidade, gratuita, no meio de um retiro fosse a coisa mais natural deste mundo.
Agradeci-lhe a generosidade, e depois do almoço, a Clarinha, de calças de ganga, deitou-se num dos bancos compridos do seminário. O Tiago manipulou o joelho da Clarinha através da ganga, durante algum tempo, sem recorrer a qualquer tipo de instrumento. Meia hora mais tarde, a Clarinha apareceu ao meu lado, com um sorriso de orelha a orelha:
- Mãe, estou curada!
Olhei para a minha filha sem conseguir falar. Como podia ser isso? Depois sorri, piscando interiormente o olho a Jesus, capaz de me surpreender a cada dia com a sua generosidade. E lembrei-me que o grande objetivo do retiro era encontrarmo-nos pessoalmente com o mesmo Cristo que passou na Galileia fazendo o bem e curando todas as doenças... Naquela tarde de domingo, como há dois mil anos atrás, Jesus passou e tocou a minha filha, devolvendo-lhe a saúde. Fê-lo através da generosidade e do talento de um outro seu filho muito amado, porque acima de tudo, Deus gosta de fazer os seus milagres através uns dos outros!
Ontem, a Clarinha regressou aos treinos de ginástica e às piruetas na praia. A sua felicidade transbordante encheu o meu coração de gratidão. Que o Senhor abençoe quem assim nos ajudou! E que o nosso coração seja sempre um coração agradecido. Ámen!
As Aldeias de Caná estão aí em grande força a nascer e a crescer!
Como qualquer aldeia, também as Aldeias de Caná vão surgindo à medida que as famílias se vão encontrando, trabalhando as mesmas terras, semeando os mesmos campos, colhendo juntas os frutos maduros. Pouco a pouco, um aglomerado de casas torna-se uma aldeia; pouco a pouco, um conjunto de famílias descobre que partilha uma mesma forma de viver a fé, de rezar e louvar o Senhor, de participar nos sacramentos, de evangelizar os filhos: a Aldeia nasceu.
Proença tem uma Aldeia de Caná forte e bela, como contei no post de ontem. Ali mesmo, no retiro, vimos nascer a Aldeia de Caná de Cascais e arredores, a partir das famílias que daí vieram. Quem quiser participar da vida desta Aldeia nascente, escreva-me para o mail, e eu terei todo o prazer em vos pôr em contacto com estas Famílias de Caná!
Entretanto, a Aldeia de Caná de Famalicão, de que falei neste post, está em plena atividade e desejosa de crescer. Haverá aí para os lados de Viana, Famalicão, Braga, Barcelos, etc, famílias com vontade de caminhar com estas Famílias de Caná? Sintam-se convidadas a participar, já nesta sexta-feira dia 24 de julho, às 20h30 horas, na eucaristia, seguida de procissão de velas, partindo de Aldreu (Barcelos), Mosteiro de S.Salvador de Palme, Rua Barão José Moniz. A caminhada será de um quilómetro, até à igreja de Aldreu, onde as famílias oferecerão uma flor a Nossa Senhora. Ao longo do caminho, cantarão e rezarão certamente por todas as famílias do mundo. Juntem-se a eles! Digam lá se é ou não um belo lugar de oração, este mosteiro, onde vive uma magnífica Família de Caná?
A nossa missão em vários pontos do país tem-nos permitido encontrar todo o tipo de pessoas, de todas as classes sociais, de várias cores e de várias profissões, ricos e pobres, novos e velhos, junto ao mar e junto à serra, vivendo em apartamentos no meio da cidade ou em mosteiros no meio do campo. Não imaginam o quanto esta diversidade nos tem enriquecido!
Mas as Aldeias de Caná que surgem quando estas pessoas tão diferentes se juntam têm todas a mesma atitude de simplicidade, de alegria, de entusiasmo, de ousadia e de confiança ilimitada no amor do Senhor. Afinal, elas sabem que basta oferecer um pouco de água a Jesus para que Ele faça milagres nas nossas vidas!
Regressando de Proença, domingo ao pôr do sol, o Niall e eu olhámos um para o outro e perguntámo-nos mutuamente: "Para onde será a próxima viagem? Que Aldeia estará à nossa espera?"
Lembrei-me então da Palavra de Jesus:
"Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim." (Mc 1, 38)
Que as Aldeias de Caná nasçam e cresçam por todo o país, no Brasil e no mundo inteiro, como pequeninos oásis de alegria, generosidade e confiança... Ámen!
O último domingo acordou muito muito cedo: às nove da manhã queríamos estar em Proença, e tínhamos quase duas horas de viagem pela frente... Viagem luminosa e bela, a caminho do interior, onde tudo me recorda a infância e a juventude! Afinal, o seminário de Proença guarda algumas das mais belas recordações da minha vida de jovem, envolvida nos Convívios Fraternos, sob a magnífica orientação do padre Armando, que já vive junto de Deus.
A Rute e o Serge estavam à nossa espera, e todos, pequenos e grandes, vibrámos com a alegria do reencontro. Que grande festa fizemos! Os mais novos foram de imediato brincar, e nós preparámos o espaço com grande entusiasmo. Entretanto, pontualíssimas, as famílias foram chegando, e o seminário encheu-se de rostos simpáticos e gargalhadas infantis, à mistura com algum choro de bebé - o mais novo tinha apenas três meses! Não, desculpem: o mais novo está quase, quase a nascer, e era orgulhosamente transportado dentro de uma enorme barriga!
Proença tem uma bela Aldeia de Caná em plena atividade. A Rute e o Serge, com a alegria, a simplicidade e a capacidade de acolhimento que caracterizam as Famílias de Caná, foram convidando e desafiando famílias a participar nos encontros mensais que realizam no seminário. E as famílias foram-se deixando desafiar, aceitando o convite. Como testemunhava a Paula, cada encontro da Aldeia é um mergulho na felicidade que só Deus pode oferecer! Assim, foi uma Aldeia de Caná transbordante de vida que nos acolheu no seminário.
De mais longe vinham três outras famílias: duas da zona de Lisboa, e uma de Évora, onde esperamos vir brevemente realizar um Retiro Famílias de Caná. Cada uma destas famílias foi para nós também uma fonte de bênçãos e de graças, pela sua partilha de dons e de vida.
Durante o dia, tivemos momentos intensos de meditação, procurando na Palavra de Deus as respostas e os desafios:
Houve quem "preferisse" escutar à porta... As Famílias de Caná são mesmo assim :)
Enquanto isso, os mais pequeninos foram trabalhando a Palavra, meditando nas Bodas de Caná e, imaginem só, provando a água transformada em... sumo! Parece que, enquanto os pais escutavam os ensinamentos, os mais novos estiveram numa festa de casamento...
Houve tempo para brincar, para correr e fazer jogos e, claro, para fazer amigos:
Por fim, cada criança moldou a sua pequena Bilha de Caná para oferecer aos pais. Que bonitas ficaram!
Entretanto, as crianças mais velhinhas e os pré-adolescentes trabalharam com o Niall. Juntos meditaram na história de Sara e Tobias, também eles protagonistas de uma festa de casamento:
E construíram uma bela cruz, símbolo máximo do amor e da salvação de Jesus...
Ficou ou não linda?
Neste retiro, os únicos jovens eram o Francisco e a Clarinha, pelo que o Niall os deixou "em liberdade". A Clarinha ficou felicíssima por poder, pela primeira vez, escutar todos os meus ensinamentos. Para mim é uma surpresa agradável, ter uma filha com tanta vontade de me escutar! O Francisco andou para lá e para cá como reporter fotográfico e auxiliando no que podia.
No final da manhã, participámos na eucaristia dominical na paróquia de Proença, despertando a curiosidade pela quantidade de crianças, carrinhos de bebé e papás atarefados que, de repente, invadiram a igreja. Houve quem quisesse saber quem eramos... É assim, testemunhando a alegria e a vida da Aldeia, que as Famílias de Caná vão crescendo!
Depois de um belo almoço, fomos presenteados com o espetáculo de ilusionismo do Francisco, que arrancou gargalhadas a pequenos e grandes. Estive tão atenta que me esqueci de tirar fotografias!
Ainda durante a tarde, tivemos meia hora de adoração silenciosa diante do Santíssimo:
E por fim, tocados e curados no mais profundo do nosso coração por este amor infinito, fizemos a nossa oração familiar, com o terço, muitos cânticos e a consagração das famílias à Mãe de Caná. Foi em ambiente de grande festa que terminámos o retiro...
Na viagem de regresso, o pôr do sol incendiava o céu, e o amor de Deus incendiava os nossos corações felizes...
"Quem nos separará do amor de Deus?
Estou convencido de que nem a morte, nem a vida,
nem o presente, nem o futuro,
nem a altura, nem o abismo
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor!"
(Rom 8, 35-39)
- Está, senhor padre? Sim, é o Niall... Tudo bem? Senhor padre, aqui em casa vive uma família de pecadores! Sim... Estávamos aqui a ver se o senhor padre tinha um buraquinho no seu horário para nós, esta tarde! Queríamos confessar-nos antes do retiro de amanhã... Que bom! Vamos já para o carro, assim eu os consiga encontrar a todos nos próximos cinco minutos. Até já!
Logo que o Niall desligou o telefone, corri para o jardim:
- Meninos, vamos confessar-nos! Depressa, para o carro!
- Vamos todos?
- Sim, Francisco, temos de levar todos, claro! Não temos com quem deixar o António e a Sara. Eles ficam por lá a brincar enquanto nos confessamos.
- Mas eu também me quero conversar!
- Tu, António?
- Sim! Eu também me vou conversar!
- Tu ainda és pequenino, António. Já tens pecados?
- Então não tenho? Não te lembras das minhas birras? Nem das vezes em que eu bato na Sara?
- Ah... Lembrar, lembro muito bem! Então anda daí, que também te podes confessar!
O Catecismo da Igreja Católica diz que se pode confessar "todo o fiel que tenha atingido a idade da discrição" (CIC 1457). Se por "discrição" entendermos a consciência de pecado, então o António já tem a maior idade... Aos cinco anos já somos capazes de avaliar as nossas ações e de perceber quando praticamos o mal.
Pacientemente, o António esperou pela sua vez para se confessar, e fê-lo com uma enorme felicidade. Ao sair do confessionário, sorridente, abraçou-me e disse:
- Agora vou rezar um bocadinho no meu coração. Sabes, tenho o coração limpinho, sem nenhum pecado! Vais ver: quando chegar a casa vou portar-me sempre bem!
Com a cabeça no meu ombro, rezou a Jesus, enquanto os irmãos se confessavam. Depois, no pátio do Santuário, correu e brincou cheio de alegria, e cheio de Deus.
Olhando para ele a transbordar felicidade, lembrei-me das palavras de Jesus:
"Deixai vir as Mim as criancinhas, não as impeçais, porque é delas o Reino dos Céus." (Mt 19, 14)
Os sacramentos são poderosos encontros com Jesus, o Salvador. Confessar os nossos pecados, um a um, e escutar as palavras de perdão e salvação é uma das maiores graças que o Senhor nos faz a todos, pequenos e grandes, enquanto caminhamos nesta Terra...
Na próxima semana, o Francisco vai de bicicleta a Santiago de Compostela, juntamente com alguns colegas e professores do colégio. Irão em peregrinação e em passeio, e serão com toda a certeza cinco dias memoráveis. Pode ser que ele vos conte depois!
Assim, o Francisco tem aproveitado as férias para se tornar um verdadeiro ciclista, praticando todos os dias um pouco, geralmente na companhia dos seus amigos. Na quarta-feira passada saiu de casa com um amigo pelas oito da manhã:
Duas horas e trinta quilómetros mais tarde, os dois amigos chegaram à praia, e têm uma selfie a prová-lo:
Mais duas horas e trinta quilómetros, e chegaram a casa ao mesmo tempo que nós, vindos também de uma outra praia, mas no conforto do nosso carro! Almoçámos todos juntos, partilhando histórias e gargalhadas. Sessenta quilómetros numa manhã! Acho que estão preparados para a grande aventura...
De vez em quando, na nossa vida, somos confrontados com desafios maiores do que nós mesmos, capazes de testar até ao limite a matéria de que somos feitos. Para uns, é uma mudança de país, para outros, uma doença, para outros ainda, a perda de um ente querido, ou uma situação de desemprego, ou uma gravidez indesejada. De vez em quando, na nossa vida, somos desafiados a "partir de bicicleta" rumo ao desconhecido. E porque estas "peregrinações" forçadas não costumam fazer-se anunciar, é preciso estar preparados... Jesus não se referia apenas ao momento da morte, mas a todas as situações de batalha na nossa vida, quando contou aos seus discípulos esta parábola sobre a vigilância:
"Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais." (Mt 24, 42-44)
Que seria do Francisco para a semana, se não estivesse em boa forma física? Que será de nós, quando a grande prova chegar - porque chegará para todos, alguma vez na vida - se não estivermos em boa forma espiritual? O ideal mesmo é começar a treinar em criança - como o Francisco em relação à bicicleta -, trabalhando o carácter, praticando a virtude, adquirindo bons hábitos. Mas para Deus, nunca é tarde para começar!
Controlar a fúria perante uma situação enervante no trabalho, calar uma resposta à provocação do conjuge, aguentar uma dor de cabeça sem um queixume, não fazer as conversas girar à volta de si mesmo, aceitar uma injustiça na escola ou um professor implicante, desligar o televisor à primeira chamada da mãe, repetir vezes sem conta o "Nós, Jesus", ou "Tu queres, Senhor? Então eu também quero!" Tudo isto são pequenas pedaladas, aparentemente insignificantes. Mas são estes "passeios curtos" que nos vão permitir, de um momento para o outro, arrancar na grande peregrinação da nossa vida!
Ofereçamos aos nossos filhos muitas ocasiões de treino, educando-os com carinho, mas com firmeza. Quanto a nós... Porque não começamos hoje mesmo a treinar?
Cá em casa, estar de férias significa, entre muitas outras coisas, acordar cedo, às vezes mais cedo - e com muito mais vontade - do que em tempo de aulas. Quando vivíamos ao pé da praia, antes do Tomás morrer, costumávamos estar na areia pelas oito e meia. Nessa altura, havia quem brincasse connosco, dizendo que tínhamos as chaves da praia... Agora temos quarenta minutos de viagem diária a separar-nos do mar, mas mesmo assim, gostamos de chegar à praia entre as nove e as nove e meia, para contemplar as gaivotas que ainda saltitam na areia e a praia que se estende, solitária, à nossa frente. Ao meio-dia, quando a praia começa verdadeiramente a encher-se de gente, nós já estamos de regresso a casa, com a sensação de ter brincado, rido, saltado e nadado por um dia inteiro!
Mas não foi sempre assim. Quando nos casámos, o Niall e eu tivemos naturalmente de orquestrar hábitos e gostos, temperamentos e sonhos. E não foi tarefa fácil! Às diferenças naturais que existiam entre nós, havia ainda a juntar a diferença cultural - o Niall é irlandês - que era significativa. O nosso primeiro ano de casados foi talvez o mais difícil...
Como portuguesa, criada no interior e habituada ao calor, eu achava que a praia só era boa com muito sol. Como irlandês, habituado ao mau tempo e a baixas temperaturas, o Niall gostava de caminhar na areia contra o vento e de nadar à chuva. Ao fim-de-semana ou durante as férias, eu ficava na cama até depois das nove horas, enquanto o Niall se levantava de madrugada. Para mim, antes das nove horas, em férias, não valia a pena estar acordado, porque aqui no litoral está sempre fresco, pelo que a praia não seria uma experiência agradável. O Niall sentia-se frustrado. Para ele, o melhor do dia estava perdido.
Uma manhã de sábado, acordei com o seu chamar entusiasmado:
- Teresa, Teresa, levanta-te depressa, já passa das nove e tu prometeste que íamos passear à beira-mar!
Abri os olhos, estremunhada. Estava ainda cheia de sono. Seria possível ser tão tarde? Olhei para o meu relógio de pulso: nove e um quarto. Olhei para o relógio de parede: nove e um quarto. E quando cheguei à cozinha, olhei para o relógio no micro-ondas: nove e um quarto (nessa altura, nós não tínhamos ainda telemóvel). Tomei o pequeno-almoço à pressa, vesti-me e saímos para o prometido passeio. Cá fora, na rua, o vento fresco e o silêncio da manhã souberam-me deliciosamente bem. Quanta beleza! Entrámos no carro, e naturalmente olhei para o relógio: marcava sete da manhã.
- Niall, que se passa? O relógio do carro... Sete da manhã? Mas... O meu relógio...?
O Niall sorriu, triunfante, enquanto conduzia a caminho da praia.
- Enganei-te bem, não foi?
Não contive uma gargalhada:
- Tu deste-te ao trabalho de mudar todos os relógios lá de casa? Nem te esqueceste do micro-ondas...
- Sim, mudei os relógios todos. Não tinha outra forma de te convencer a vires fazer este passeio comigo. Vais ver que valeu a pena!
E valeu. Valeu tanto a pena, que nunca mais preferi a cama a um passeio pela madrugada...
Quem, como eu, já fez quarenta anos, recorda-se certamente da primeira telenovela brasileira difundida em Portugal, Gabriela Cravo e Canela, baseada no belíssimo romance de Jorge Amado. A música, cantada por Maria Bethânia, parece contudo ser o refrão de muitos casamentos fracassados: "Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim..." Quanta gente recusa a mudança na sua vida! E quanta gente acaba por incorporar na sua vida, não as virtudes, mas os defeitos do conjuge, baixando os braços e desistindo do esforço necessário para que a mudança aconteça!
Quando olhamos para trás, quase dezanove anos depois do dia do nosso casamento, e procuramos o segredo que nos permitiu chegar até aqui com tamanha felicidade, encontramos um refrão contrário... No meio de muitos defeitos e muitos erros, o Niall e eu tivemos sempre uma virtude: a vontade de aprender com o outro o melhor que ele tem para dar, e de o incorporar na nossa vida conjunta. Os hábitos que hoje temos resultam deste desafio constante que fomos fazendo um ao outro a todos os níveis, e da forma como aceitámos ser desafiados, recusando o "vou ser sempre assim". Ao longo dos anos, o Niall adquiriu muitos dos meus melhores hábitos e eu adquiri muitos dos dele, e juntos esforçámo-nos por abandonar hábitos destrutivos e adquirir novos hábitos vencedores. Acordar cedo, para nós, é um deles!
"Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo puxa parte do tecido e o rasgão torna-se maior. Nem se deita vinho novo em odres velhos; de contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos; e desta maneira, ambas as coisas se conservam." (Mt 9, 16-17)
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