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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Durante todo o mês de julho, o David, a Lúcia e o António frequentaram um curso intensivo de natação, ao fim do dia. O David já tinha frequentado um ano de natação, mas a Lúcia e o António nunca tinham tido oportunidade, pelo que, para eles, o curso foi a primeira experiência a sério de natação.
A Sara e eu assistimos à primeira aula. Digam lá se não estavam felizes?
Durante todo o mês de julho também, o David, a Lúcia e o António brincaram na praia, quase todas as manhãs. E eu pude avaliar o sucesso do curso intensivo pela sua confiança crescente no mar. De facto, no início do mês a Lúcia e o António brincavam assim na água calma da Praia da Barra:
No fim do mês, pelo contrário, mesmo as águas mais agitadas do mar da Costa Nova não pareciam meter-lhes medo:
Pouco a pouco, os meninos foram aprendendo a entrar no mar, afastando-se cada vez mais da praia, quase sem darem conta... Até chegarem a perder o pé por breves instantes, sob uma onda maior:
E tanto no mar, como nos lagos, aprenderam a mergulhar, fechando os olhos com força e esticando muito os braços. Que felicidade!
- Mãe, olha para mim! Vê como eu mergulho!
- Mãe, agora vou mais longe! Vê como já sei nadar!
- Mãe, vou bater os pés com força! Olha, olha para mim!
- Mãe, já não tenho pé!
Uma tão grande evolução num tão curto espaço de tempo fez-me pensar...
Que lições tão importantes assim tiveram a Lúcia e o António, para permitir tamanha mudança de atitude em trinta dias? Segundo pude observar nas suas aulas, a Lúcia e o António aprenderam a fazer a respiração dentro de água e aprenderam um ou outro movimento de natação, como bater os pés com força. E o resto do tempo? O resto do tempo - e é sobre esse resto do tempo que vos quero falar hoje - fizeram jogos e brincadeiras, procurando no fundo da piscina brinquedos que a professora atirava, passando no meio dos arcos, perseguindo os amigos, rindo e jogando sem cessar. Numa palavra: A Lúcia e o António passaram a maior parte do tempo de aula aprendendo a... perder o medo!
O profeta Ezequiel tem um texto belíssimo sobre este avanço confiante em águas profundas, falando sobre a torrente de graça que jorra, abundante, do Templo do Senhor:
"O homem levou-me de volta à entrada do templo, e vi água saindo de debaixo da soleira do templo e indo para o leste, pois o templo estava voltado para o oriente. A água descia de debaixo do lado sul do templo, ao sul do altar. Ele então levou-me para fora, pela porta norte, e conduziu-me pelo lado de fora até a porta externa que dá para o leste, e a água fluía do lado sul.
O homem foi para o lado leste com uma linha de medir na mão e, enquanto ia, mediu quinhentos metros e levou-me pela água, que batia no tornozelo. Ele mediu mais quinhentos metros e levou-me pela água, que chegava ao joelho. Mediu mais quinhentos e levou-me pela água, que batia na cintura. Mediu mais quinhentos, mas agora era um rio que eu não conseguia atravessar, porque a água havia aumentado e era tão profunda que só se podia atravessar a nado; era um rio que não se podia atravessar andando." (Ez 47, 1-5)
Nunca avançaremos nas águas profundas do amor do Senhor andando, com segurança, perto da praia... É preciso perder o medo, perder o pé e avançar a nado! Ah, quando chegará para nós o dia feliz em que mergulharemos, confiantes, nas torrentes de graça que jorram do seu Coração aberto, o Templo da Misericórdia?...
15 de setembro. Primeiro dia de escola. O pai leva os filhos de manhã, e à hora de almoço - o primeiro dia é só uma manhã - a Isabel traz-mos a casa, pois ainda não posso conduzir.
Aguardo, impaciente, o som do carro a parar diante de casa, os passinhos apressados dos meninos, os sorrisos, os abraços. Foi só uma manhã, mas a primeira manhã de escola é uma manhã enorme para todos!
Finalmente, ei-los à porta.
- Olá mãe! Tenho uma menina nova na sala! - Diz-me a Lúcia de um fôlego só.
- Sim, vi as duas de mãos dadas no recreio a correr e a rir à gargalhada - Sussurra-me a Clarinha, com um sorriso cúmplice.
- E como se chama a tua amiga?
- Já não me lembro... Tem nome de desenho animado...
- Nome de desenho animado?!
- Chama-se Elsa - Diz o David, solícito como sempre.
- Ah, é isso! Elsa...
- Na minha sala há um rapaz com um nome bem mais esquisito - Diz a Clarinha. - Deve ser russo, ou ucraniano.
- Só eu não tenho meninos novos na sala...- Lamenta-se o David.
Sorrio, orgulhosa dos meus filhos, sempre desejosos de conhecer pessoas diferentes e disponíveis para acolher os que vêm de fora. Depois lembro-me que também eu, durante a manhã, me dediquei a estudar os nomes e os rostos da minha nova direção de turma, registados numa folha de papel que recebi por mail... Cheia de curiosidade, olhei cada rostinho simpático e pronunciei o nome correspondente. Como serão eles? Como será a nossa amizade?
A escola tem esta coisa fantástica de nos obrigar - professores e alunos - a sair do nosso pequeno círculo de amigos para ir ao encontro do outro. Acolhendo-nos uns aos outros nas nossas diferenças, aceitando os valores do outro sem deixar de vincar os nossos, pronunciando com carinho nomes estranhos - de desenhos animados ou com melodias exóticas - pomos em prática um dos mais elevados princípios bíblicos, praticado pelo povo de Deus desde tempos imemoriais: a hospitalidade. Disse S. Paulo, numa alusão a Abraão e outros personagens bíblicos:
"Não vos esqueçais da hospitalidade, pois graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos." (Hb 13, 2)
Quantos anjos disfarçados chegam todos os dias à Europa, e em breve, a cada uma das nossas escolas! Quantos anjos disfarçados nos desafiam todos os dias nas nossas salas de aula, e aos nossos filhos nos recreios onde brincam! Geralmente chamamos-lhes muitas outras coisas...
Senhor, que eu não desperdice nenhuma oportunidade de acolher os anjos que me envias! Ámen!
Por falar em disfarce...
O meu primeiro dia no hospital foi fantástico: pediram-me para estar lá domingo pelas dez da manhã, a fim de, durante todo o dia, me serem feitos os exames necessários à operação, que ocorreria no dia seguinte. Eu passei, portanto, um dia inteiro de completo descanso, longe das inúmeras tarefas domésticas que acompanham os meus dias, longe do rebuliço simpático da minha casa, e sentindo-me perfeitamente saudável e forte, pois o tumor de 3 por 4 cm na mama nunca me causou qualquer incómodo, e nem sequer era palpável.
Assim, depois de fazer todos os exames, pedi licença às enfermeiras para descer até à capela do hospital, onde passei algumas horas em oração profunda e serena. A capela é muito bonita, e sobre o altar estava escrita a Palavra desse domingo: "Abre-te!" Na verdade, o evangelho relatava a cura do surdo-mudo:
"E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente; e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele.
E, tirando-o à parte, de entre a multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E, levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te.
E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente." (Mc 7, 32-35)
Sozinha em oração, eu contemplei a cena daquela tarde, há dois mil anos atrás. Imaginei a confusão e a solidão do surdo-mudo, perdido numa multidão que não compreendia, chamado por Alguém que não conhecia... Que pavor, que vertigem se terá apoderado dele, ao sentir o toque de Jesus? O que teria sido dele, se como um bicho-de-conta assustado, se tivesse fechado ao toque que o curou? E depois - ah, depois - o milagre, o renascer, o renovar da alegria, da beleza, da vida...
Nessa noite, deitei-me serena e levemente curiosa sobre o dia seguinte. Segunda-feira, em jejum, fiz novos exames, desta vez bem mais invasivos, e experimentei uma dor de cabeça crescente, que culminou na sala de operações e só terminou quando adormeci, anestesiada, sob as luzes acesas.
"Abre-te", repetia-me Jesus, arrastando-me para longe da multidão pelas mãos dos médicos e dos enfermeiros; "Abre-te", repetia-me Jesus, magoando-me com o seu toque; "Abre-te", repetia-me Jesus, pedindo-me que me abandonasse, que me deixasse adormecer, que não tivesse medo.
"Nós, Jesus!" Repetia eu, deixando-me arrastar, afastar, tocar, magoar. Como o surdo-mudo, também eu me deixei levar pela vertigem do mistério, percebendo vagamente que, se me deixasse conduzir, se não me enrolasse sobre mim mesma como um bicho-de-conta assustado, se abrisse o meu coração, um milagre iria acontecer...
A minha oração de domingo foi feita com grande bem estar e cheia de pensamentos elaborados. A minha oração de segunda-feira foi feita sem beleza nem meditações de que me possa orgulhar... Domingo, ofereci a Jesus palavras sentidas; segunda, ofereci-lhe simplesmente a minha dor.
A minha vida de mulher europeia, de classe média, de vida familiar feliz, tem poucas oportunidades de sofrimento verdadeiro, quando comparada com a vida de tanta gente neste mundo que enche os nossos noticiários. Assim - e porque acredito profundamente no poder da Cruz - procuro estar sempre muito atenta, para não deixar escapar nenhuma oportunidade de dizer a Jesus, não com palavras, mas com a vida, que O amo.
Agora, a minha oportunidade, que procurei não desperdiçar, já passou... Foi tão pequenina, afinal! Em vez de sofrimento, tenho os meus dias cheios de mimos: como não posso fazer esforços, todos trabalham a dobrar; a minha mãe passou alguns dias connosco, para ajudar com as crianças e me encher de carinhos; a Clarinha tornou-se uma autêntica dona de casa:
O Francisco assumiu uma série de tarefas que antes me cabiam, como por exemplo, cortar o cabelo aos irmãos:
E os vizinhos e amigos não se cansam de nos visitar e encher a casa de bolos, de tal forma, que vou ter de implementar uma semana de dieta intensiva quando tudo isto estiver passado :) Vejam só o lanche que a Cláudia e a sua família nos trouxeram, quando nos vieram ver... E isto foi já depois de dias e dias de tartes de pastel de nata, bolos de chocolate, bolos de maçã, fruta caseira, marmelada biológica, e muito mais!
Senhor Jesus, quero dar-te graças pela irmã dor, pelo irmão tumor, pela família, pelos amigos, pelos mimos, pela vida, pela alegria! Não me deixes ser como o bicho-de-conta, que se enrola sobre si mesmo quando lhe tocamos ao de leve, mas permite-me que imite o surdo-mudo do evangelho, capaz de me abrir ao teu toque na minha vida, seja ele agradável ou doloroso, suave ou brusco, mas sempre, sempre um toque de amor salvador...
EFATÁ!
Ámen!
Hoje é dia de festa, e de festa em grande!
Hoje, 14 de setembro, o David faz nove anos. Nove anos! Nove anos que encheram a nossa vida de verdadeira alegria. Era um bebé tão pequenino e tão frágil ao nascer, com os seus dois quilinhos de ternura e de lembranças dolorosas - a maior parte da gravidez tinha sido passada no hospital, acompanhando a doença e morte do irmão - e tornou-se um rapazinho tão alegre, tão tranquilo e tão gentil! PARABÉNS, DAVID!
Hoje, 14 de setembro, é o aniversário oficial das Famílias de Caná. Celebramos dois anos desde aquele dia tão simples em que desafiámos o nosso pároco e algumas famílias amigas a partilhar connosco a sua vida e a escutar o nosso testemunho de vida católica em família. Foi um retiro ainda muito rudimentar, mas que Deus abençoou, de acordo com o seu já velhinho princípio bíblico de escolher os mais fracos, os mais pobres e os mais novos para realizar os seus planos grandiosos! PARABÉNS, FAMÍLIAS DE CANÁ!
Hoje, 14 de setembro, é a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Conta a Tradição que Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, mandou fazer escavações em Jerusalém para encontrar a verdadeira Cruz de Jesus. Encontraram as três cruzes numa vala. Como saber qual a de Jesus? Simples: levaram um doente agonizante até ao local e deitaram-no sobre as três cruzes, à vez. Quando deitado sobre uma delas - madeira tosca e pobre, em tudo igual às outras - ele ficou miraculosamente curado...
Encontrar a verdadeira Cruz de Jesus é tarefa de uma vida inteira! É que não basta escavar: é preciso deitarmo-nos sobre ela - ah, e é tão bom deitarmo-nos sobre ela, numa cama de hospital ou em qualquer outra circunstância da vida! É preciso depositar aí as nossas dores, as nossas doenças, o nosso pecado, a nossa fraqueza, a nossa falta de fé, as nossas dúvidas, os nossos sonhos... Então experimentaremos, como aquele agonizante e como tantos irmãos nossos ao longo da História, o poder salvador da Cruz do Senhor!
"Pelas suas chagas fomos curados." (Is 53, 5)
Escrito por Niall:
A imagem abaixo é da Teresa já em casa depois da sua breve estadia no Hospital. O sorriso está instalado e o cântico e animação à mesa não param. Está tudo bem! Ficamos muito sensibilizados com a vaga de orações, comentários e mensagens de esperança que chegaram nestes últimos dias. A todos, MUITO OBRIGADO.
É uma enorme satisfação ter a Teresa em casa de novo, apesar de ter sido uma ausência curta. Ela está a recuperar bem e conta ser capaz de escrever no computador para a semana.
Cura-me, Senhor, e serei curado;
salva-me, e serei salvo,
pois tu és aquele a quem eu louvo.
(Jeremias 17:14)
Quando lerem este post, que eu agendei atempadamente, eu estarei, se Deus quiser, no Hospital da Universidade de Coimbra prestes a ser operada a um tumor benigno da mama, descoberto num exame de rotina antes das férias. Assim, nos próximos dias não poderei escrever neste blogue! O Niall estará atento aos comentários, para que não deixem de participar. Quanto a mim, vou certamente ter tempo para muitas outras coisas, e logo que possa, conto-vos quais :) Que Deus a todos abençoe, e até breve!
Há 417 anos que a paróquia de Mogofores faz a sua peregrinação anual, no primeiro sábado de setembro, a Nossa Senhora da Paz, na aldeia do Beco, a trinta quilómetros. A história desta peregrinação é muito curiosa e vem contada no blogue da Lena Barros, As Surpresas de Deus, aqui.
Nas últimas semanas, todos nós, europeus, temos experimentado sentimentos de profunda tristeza perante as imagens chocantes que nos chegam dos migrantes que fogem da guerra. E temos dentro do peito uma pergunta constante: como poderemos transformar as nossas lágrimas e a nossa dor em algo de útil para quem tanto sofre? A Renascença sugeriu aqui várias coisas que talvez muitos de nós possamos fazer. Vale a pena refletir sobre elas e deixarmo-nos desafiar! Mas faltou sugerir - tratando-se de uma emissora católica - duas coisas essenciais: a oração e o sacrifício.
Que poder têm a minha oração e o meu sacrifício para combater a miséria, a guerra, a perseguição, a fome, a dor? O poder que Deus lhes quis atribuir, e que é imenso... Sim, quando unimos a nossa oração e a nossa dor à Cruz de Jesus, o que em nós é pequeno torna-se grandioso, o que é frágil torna-se poderoso, o que é nada torna-se tudo n'Aquele que é Tudo em todos. A pequenina gota de água da nossa oração e do nosso sacrifício, derramada no cálice do Sangue do Senhor, torna-se verdadeira bebida, capaz de dessedentar os nossos irmãos mais necessitados. É afinal o mistério que proclamamos na recitação do Símbolo dos Apóstolos: "Creio na comunhão dos santos". Que boa notícia! Quer dizer que a minha oração sincera e aliada a um profundo esforço de santidade pode frutificar lá longe, junto dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo em busca de felicidade!
Bem, e o que tem a peregrinação ao Beco a ver com a triste história dos migrantes e o mistério da comunhão dos santos? Essa é a parte interessante deste post:
Este ano, pela primeira vez, a nossa família decidiu participar nesta peregrinação; e decidiu desafiar, em particular, a Aldeia de Caná de Mogofores e os jovens crismados que o Niall acompanha, para juntos fazermos uma peregrinação diferente: de bicicleta, pelos migrantes, a Nossa Senhora da Paz!
Sete da manhã. No santuário, junto à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora em Saída, os nossos ciclistas rezaram o Shemá e a Consagração à Mãe de Caná e ofereceram a sua peregrinação pelos migrantes. Depois de uma curta meditação orientada pelo Niall, estavam prontos a partir, cheios de entusiasmo!
O caminho foi feito de risos, de partilha, de algum esforço e de alguma meditação pessoal, como combinado:
Quase a chegar ao Beco, numa descida acentuada, uma das jovens ciclistas perdeu o controlo da bicicleta durante uns breves segundos que a todos fez gelar o sangue, e com grande aparato, lançou-se em voo picado até ao chão, magoando uma mão e um joelho. Não vinha nenhum carro em sentido contrário... Mais uns metros à frente teria galgado um pequeno muro, precipitando-se numa ravina até ao rio... Bendita sejas, Mãe de Deus e nossa Mãe!
Entretanto, em casa com os quatro mais novos, eu preparei o piquenique, e por fim fizemo-nos também à estrada, mas de carro. Pelo caminho, rezámos o terço, e chegámos ao Beco precisamente ao mesmo tempo!
Ao redor da pequena igreja, foram-se reunindo os peregrinos, vindos uns a pé - entre os quais o nosso pároco -, outros de carro e autocarro, e outros, claro, de bicicleta. Depois, fizemos uma pequena procissão, rezando a Ladainha de Nossa Senhora e o Angelus:
Por fim, entrámos na igreja, para celebrar a Eucaristia, em grande festa. Que alegria! O coração de todos exultava no Senhor, que nos desinstalara, que nos fizera sair de casa e do nosso conforto, e que nos reunia no seu amor.
Como é bonita, a igreja do Beco! Tudo nela respira luz, cor e beleza. De entre todas as imagens, uma em especial tocou o meu coração:
Nossa Senhora com o Menino, sentada num burrinho e conduzida por S. José... Foi há dois mil anos atrás, quando também a Sagrada Família foi uma família migrante e refugiada, fugindo a um rei louco e sanguinário. S. Mateus fez a reportagem de então:
"José levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes. (...) Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo..." (Mt 2, 10-18)
Dois mil anos passados, e a Sagrada Família continua migrante, escondida em cada mulher, em cada homem, em cada criança que procura asilo junto de nós...
Nossa Senhora da Paz, dai-nos a paz!
O verão está quase a terminar. Os dias longos na praia e na montanha estão a chegar ao fim... Com a ânsia de não desperdiçar a mais pequena parcela do verão, temos multiplicado as manhãs de praia e os piqueniques no Caramulo, pelo menos ao fim-de-semana. Assim, no sábado passado lá fomos nós até ao nosso lago preferido.
Mas o lago não estava com a transparência do costume:
- Mãe, olha, a água está cheia de folhas e algas!
- Vamos apanhar o lixo todo com as nossas redes antes de mergulharmos!
- Sim, vamos!
- Não se preocupem, meninos, que este lixo não é lixo humano - Apressei-me a explicar - É simplesmente o resultado da falta de chuva.
- Nós sabemos! Anda, David, vem mergulhar!
E lá fomos todos!
Enquanto os meninos brincavam na água, aproximei-me da fonte que alimenta o lago. Que diferente estava! Em vez de correr em bica, abundante, transparente e fresca, a água pingava vagarosamente no pequeno tanque, onde adormecia numa poça de musgo e algas.
As águas que deixam de correr tornam-se pouco a pouco num charco lamacento e mal cheiroso... Sem força para rebentar os diques e transbordar, as águas paradas perdem a frescura, a novidade e a beleza. Lembrei-me de Isaías:
"Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à Palavra que sai da minha boca. Não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão." (Is 55, 10-11)
A Palavra do Senhor é chuva que faz as fontes romper a terra e os rios transbordar. A Palavra do Senhor é água de torrente, capaz de romper os diques e inundar os campos. A Palavra do Senhor desimpede charcos e desinstala vidas, incapaz de se deter.
Não tenho qualquer dúvida de que as torrentes de migrantes que chegam às praias do Mediterrâneo todos os dias são, para nós Europa, Palavra do Senhor, a única capaz de nos desinstalar e de nos desafiar ao amor... Como o pequeno lago do Caramulo, também o nosso continente e os nossos corações precisam de se deixar inundar, derrubando todos os muros, para que a Água Viva nos limpe, nos liberte, nos purifique e nos salve.
Queremos escutar a voz de Deus no conforto de um sofá, mas Ele só Se faz ouvir na torrente que desinstala...
No domingo, fui visitar a minha avó a Aveiro. Ela está muito velhinha e cada vez mais próximo do céu, e por isso fui sozinha, para que o barulho dos mais novos não a incomodasse. Pelas quatro horas da tarde, decidi regressar. Entrei no carro, que estacionara em plena avenida principal, e ia dar início à minha viagem de regresso a casa, quando percebi que o carro não estava a responder normalmente. Parei o motor, saí do carro e confirmei a minha suspeita: tinha um furo. E agora? Eu não faço a menor ideia de como se troca um pneu, e o Niall estava a trinta quilómetros de distância.
Bem, no centro da cidade não devia ser difícil encontrar quem me ajudasse... A verdade é que as pessoas iam passando no passeio, algumas olhavam para o carro com os quatro piscas e certamente viam o pneu em baixo, mas ninguém parava. A minha mãe, que entretanto me fazia companhia junto do carro, ainda pediu a um transeunte que nos ajudasse, mas ele desistiu depois de procurar, em vão, retirar o pneu sobresselente de debaixo do carro. Telefonei ao Niall.
- Não faças nada, porque é mesmo complicado trocar um pneu no monovolume - Disse-me. - Eu vou pôr-me a caminho. Espera por mim, que em meia hora estou aí.
Foi nessa altura que o arrumador de carros, que por ali andava no seu trabalho diário, percebeu o que se estava a passar.
- A senhora precisa de ajuda? - Perguntou, com simpatia.
- Não, obrigada, o meu marido já aí vem para me trocar o pneu - Respondi. Mas ele não aceitou um "não" por resposta, e num instante estava deitado debaixo do carro, procurando perceber como se desapertava o pneu sobresselente.
- Não chame o seu marido - Disse-me - Eu faço isto sem problemas!
- Mas olhe que é muito complicado! - Insisti - Estes carros modernos têm muitos segredos na troca dos pneus. O meu marido já aí vem.
- Diga-lhe que escusa de vir, porque quando chegar eu já fiz o trabalho - Insistiu ele também. Eu aceitei então, telefonei ao Niall e fiquei a observar. O arrumador trabalhou arduamente durante meia hora, porque de facto não é fácil trocar um pneu na carrinha, e foi conversando, com muita elegância e simpatia. Por fim, o trabalho ficou pronto, e ele fez menção de seguir o seu caminho.
- Espere - Disse-lhe. - O senhor foi muito gentil e perdeu imenso tempo aqui comigo. Queria agradecer-lhe... - E estendi-lhe uma mão com dinheiro.
- Ah, isso é muito, minha senhora! - Respondeu, sem pegar no dinheiro. Insisti, e ele aceitou, com um sorriso rasgado - Que Deus a ajude! Boa viagem!
Despedimo-nos em paz e com grande alegria. Na avenida, continuavam a passar rapazes novos e pais de família, alguns com pressa, outros vagarosamente. Mas o privilégio do Bom Samaritano não foi conquistado senão por um pobre arrumador...
"Em verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes. (...) Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer." (Mt 25, 31-46)
No dia 27 de setembro, domingo, teremos novo Retiro Famílias de Caná na Quinta do Conde, igreja de Nossa Senhora da Boa Água, diocese de Setúbal. Desafiamos por isso todas as famílias que lêem este blogue, sobretudo se vivem em Lisboa, Almada, Setúbal e arredores a virem e fazerem connosco esta experiência de encontro com o Senhor! As inscrições e o programa são online: Programa do retiro da Quinta do Conde_2015.pdf
Como todos os nossos retiros, também este é para a família toda e para todas as famílias. Venham e tragam as crianças e os jovens, porque temos um programa de evangelização específico para eles. Já tivemos bebés de apenas um mês de vida a fazer esta experiência, e parece que gostaram muito! O jovem Francisco, como costume, fará um espetáculo de ilusionismo e evangelização, porque a fé também se vive com grandes gargalhadas.
Se o marido ou a mulher não quiserem vir - ou se não tiverem marido ou mulher, claro! - venham na mesma, porque não serão os únicos! Nos retiros Famílias de Caná não fazemos perguntas. A porta está aberta a todas as pessoas de boa vontade!
Os retiros Famílias de Caná são gratuitos. Tragam uma boa merenda, para partilharmos à hora de almoço e para fazermos um lanche de manhã e outro durante a tarde. As mesas postas, nos dias de retiro, são mesas de festa, ou não estivessemos nós em clima de Bodas de Caná!
Sejam pontuais, pois o dia é intenso e não queremos encurtar nenhum momento. Inscrevam-se o quanto antes, e desafiem os amigos a vir também! Se tiverem dúvidas em relação a algum aspeto e não as quiserem expor num comentário, escrevam-me diretamente para o mail, que terei todo o gosto em vos esclarecer.
Que o Senhor a todos abençoe e nos ajude a responder "sim" aos seus desafios! Ámen!
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