Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
A propósito do post de ontem: se ainda não conhecem o vídeo da Lúcia a contar a história do paralítico que Jesus curou, vejam, que vale a pena! Foi no inverno passado, faz quase um ano...
No dia 13 de outubro fui ao Hospital Universitário de Coimbra para a consulta de pós-operatório, onde me seria comunicado o resultado final da análise do tumor retirado. Nesta consulta eu iria saber se o tumor era, como se supunha, benigno, ou se, pelo contrário, seriam necessários mais tratamentos.
Cheguei ao hospital, subi ao nono andar, onde tinha estado internada, e dirigi-me à consulta. A médica que me recebeu tinha um enorme sorriso na cara: confirmava-se a benignidade do tumor, e confirmava-se também a pertinência da sua exérese, pois a análise tinha revelado características que podiam vir a degenerar em cancro dentro de alguns anos. Resumindo: o tumor tinha sido retirado a tempo, e este capítulo da minha vida podia ser encerrado.
Desci novamente ao rés-do-chão e apressei-me a entrar na capela, a mesma capela onde passara algumas horas daquela longa tarde de domingo, na véspera da operação... Os meus quinze minutos diários de oração diante do sacrário foram passados ali, em perfeita ação de graças.
Saí do hospital também eu com um enorme sorriso na cara. O sol brilhava muito forte, o céu estava muito azul, os pássaros cantavam, e um futuro novinho em folha estendia-se diante de mim: tinha sido aberto pelas palavras da médica, assegurando-me de que estava curada do meu mal.
No carro, de regresso a casa, meditei naquela magnífica história do Evangelho, em que quatro amigos levam um paralítico a Jesus e o fazem descer pelo telhado:
"Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» Ora estavam lá uns doutores da Lei que discorriam em seus corações: «Porque fala ele assim? Blasfema! Quem pode perdoar os pecados senão Deus?» Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados' ou dizer: 'Levanta-te, toma o teu catre e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»" (Mc 2, 1-12)
A doença bloqueia o futuro do ser humano, impedindo-o de sonhar, de projetar, de experimentar todas as suas potencialidades; mas o pecado bloqueia um futuro muito mais longo: a eternidade. Estar paralítico no corpo é muito menos sério do que estar paralítico na alma... Talvez o paralítico do Evangelho só tenha percebido o alcance do perdão que Jesus lhe ofereceu depois de experimentar o regresso à vida do seu corpo paralisado.
Se um médico se dirigir a um amigo e lhe disser: "Alegra-te, amigo, porque não tens cancro!" O amigo certamente sorrirá, meio distraído; mas se o médico disser essas mesmas palavras a um seu paciente que, depois de longos tratamentos de quimioterapia, regressa ao consultório para um exame final, esse paciente dará saltos de alegria. Quem nunca esteve doente não conhece a alegria de se saber curado.
"Vai em paz, os teus pecados estão perdoados." É assim que terminam as nossas confissões, junto de um sacerdote. Será que alguma vez nos demos conta do alcance desta afirmação? Alguma vez teremos saltado de alegria perante o futuro que o perdão nos oferece?
Enquanto não experimentarmos, no mais profundo da nossa vida, a certeza de que somos terrivelmente pecadores; que, sem Deus, nada de bom podemos fazer; que, se não caímos em pecado grave, é porque a graça de Deus não nos deixa cair; enquanto não nos sentirmos como doentes que precisam de médico, segundo as palavras de Jesus; enquanto não percebermos que, sem o perdão de Deus, o nosso futuro acaba aqui mesmo, nunca experimentaremos a profunda alegria do Evangelho...
Este início de ano letivo tem sido absolutamente galopante para mim. Na escola, tenho sete turmas novas, o que implica um enorme esforço de conhecimento dos alunos, das suas dificuldades e dos seus talentos; de todos os lados têm vindo solicitações para testemunharmos a alegria das Famílias de Caná; continuo com um grupo de catequese e o coro da missa paroquial; há também a lida da casa, o cuidado de seis filhos e, claro, a escrita deste blogue e o e-mail. Como fazer?
A tentação é correr de um lado para o outro, arriscando multas por excesso de velocidade (120 euros já lá foram...) e descurando a atenção carinhosa que os outros merecem. Como é fácil, no fim do dia, sentirmo-nos exaustos, mas cheios de vaidade, ao fazermos mentalmente a lista de tudo o que realizámos! Ena, que importantes somos!
Mas depois, no Canto de Oração, rezando em família as leituras da missa do dia, surgem leituras como esta:
"Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia; e uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se disse: «Senhor, não Te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»" (Lc 10, 38-42)
Afinal, o meu sucesso não se mede pela quantidade de coisas que consigo enfiar em 24 horas... O meu sucesso, nem sequer eu o posso medir. Ele pertence apenas e totalmente ao Senhor do tempo. Quando chegarmos ao céu teremos tantas surpresas!
Como Marta, facilmente me deixo angustiar e ocupar por muita coisa... Se não me apressar a imitar Maria, sentando-me aos pés do Senhor para simplesmente O amar, de nada me vale tanta correria.
Hoje mesmo, como já fiz também ontem, e como pretendo fazer amanhã, irei encontrar no meu horário quinze minutos livres. Talvez tenha de os roubar ao cesto de roupa para passar a ferro, à leitura apressada de um blogue, ao meu direito ao descanso, à minha hora de almoço. Talvez nem sequer tenha quinze minutos livres no meu dia, e portanto, talvez não tenha sequer onde os ir roubar - mas vou pedi-los ao Senhor, e Ele, como Senhor do tempo, não mos negará!
Então, nesses quinze minutos, entrarei na igreja mais próxima da minha casa, da minha escola ou do colégio dos meninos. A luzinha vermelha diante do sacrário será para mim sinal de uma outra Presença, de um outro Amor, de um outro Olhar. Ajoelhar-me-ei o mais perto possível, e suspirando profundamente, descansarei no Senhor.
Outrora, na Galileia, as pessoas percorriam quilómetros a pé, algumas a rastejar, outras feridas e doentes, apenas para tocar na orla do manto de Jesus ou, pelo menos, pisar o chão que a sua sombra cobria... Hoje Ele está aqui tão perto, escondido em cada igreja paroquial. Que me impede de correr ao seu encontro?
Quinze minutos. E de repente, as minhas aulas, os meus encontros, a lida da casa, o cuidado dos filhos, a escrita deste blogue, o meu descanso e o meu cansaço, tudo estará ganho, porque tudo terá sido devolvido a Quem tudo me confiou. E depois de assim O encontrar, a minha mão na mão do Senhor da Galileia, "Nós, Jesus" sempre juntos, irei fazer uma coisa de cada vez, porque "uma só é necessária" agora.
Ah, Senhor, que eu saiba "escolher a melhor parte", como Maria, como tantos santos ao longo da História, como Santa Teresa de Jesus, a grande carmelita que hoje a Igreja celebra! Ámen.
Neste fim-de-semana, como tínhamos anunciado, participámos numa verdadeira maratona de evangelização. A catequese arrancou em grande força, com imensas crianças a chegar e muita alegria; reunimos de novo a Aldeia de Caná de Mogofores, para rezarmos juntos e adorarmos o Senhor; e finalmente, no domingo à tarde, fomos dar testemunho de vida familiar católica no Centro Paroquial de Meadela, diocese de Viana do Castelo. Gostava tanto de ter muitas, muitas fotografias de cada um destes momentos para vos mostrar! A falta absoluta de fotos é, contudo, sinal de que estivemos demasiado ocupados para as tirar. Acreditem! Especialmente no domingo!
Domingo, uma hora da tarde. Cheios de pressa, entramos no carro - nos dois carros - para rumar a Meadela.
- Vamos passear, mãe?
- Vai ser giro? Que aventura vamos ter?
- Onde é o passeio?
As crianças estão animadíssimas. Hesito na minha resposta. Eis o grande desafio que nos é feito neste momento: transformar uma viagem cansativa - duas horas para lá, outras duas para cá, uma hora e meia de trabalho de evangelização num centro paroquial - numa grande aventura, capaz de proporcionar alegria à família completa.
Estou tentada a responder: Meninos, não se entusiasmem demasiado, porque a viagem é longa, e quando chegarmos a Meadela não vai acontecer nada de especial para vocês!
Mas não vou responder assim. Nos meus ouvidos ressoam ainda as Palavras do Evangelho desta manhã:
"Quem deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, casa, filhos ou terras por minha causa, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em irmãos, irmãs, mães, casas, filhos e terras, juntamente com perseguições; e no mundo futuro, a vida eterna!" (Mc 10, 29-30)
Se há desafio que me alicie na vida, é o de verificar, em cada dia, a verdade do Evangelho. Agora é hora de experimentar, numa tarde chuvosa de domingo, a recompensa já nesta vida de deixarmos tudo para anunciar o Senhor!
Entramos no carro, e a viagem começa. Lá fora, a chuva miudinha não pára de cair.
- Ah, adoro estar dentro do carro quentinho quando chove lá fora! - Diz a Clarinha.
- Eu também!
- E eu! É tão reconfortante! Adoro viagens com chuva!
Estamos a começar bem, penso para comigo, enquanto pisco interiormente um olho a Jesus. São horas de rezar o terço, aproveitando para recontar a história do Evangelho da missa desta manhã, que talvez já não esteja bem lembrada.
Uma hora mais tarde, gritos de entusiasmo:
- Olha, é o Porto! A ponte, vejam a ponte!
- Estão a ver o comboio naquela ponte ao longe? Eu atravessei-a de bicicleta a caminho de Santiago!
- Foi, Frankie? Ena, que sorte!
- Já viram como os raios de sol querem romper as nuvens e secar a chuva? E a ponte tão bonita por baixo...
- Ah...
- Mamã, contas outra história?
- OK, alguma sugestão?
- A do general que tinha lepra!
- Sim, chamava-se Naamã. É tão gira!
Viajo mentalmente até ao tempo do profeta Eliseu, à casa do general que tinha a sorte de ter uma criada judia. Os meninos escutam cheios de atenção. Depois, sonhadores, conversam sobre muitas coisas, cantam e fazem jogos de palavras e de números uns com os outros.
Uma hora mais tarde:
- Olha, agora é a ponte do rio Lima! Que linda!
- Ena, temos tanta sorte em fazer este passeio!
Volto a piscar o olho a Jesus, divertida. E chegamos a Meadela! Saímos do carro sob a chuva miudinha e entramos numa magnífica igreja vazia. Bem, vazia não, porque a luz junto do sacrário indica a Presença omnipotente do Senhor Jesus.
- Meninos, vamos rezar a nossa consagração! - Diz o Niall, ajoelhando. Rezamos com ele. Entretanto, chega a nossa anfitriã, a Madalena, que nos leva até ao Centro Paroquial.
- Parece que ainda não chegou muita gente - Diz-nos, um pouco envergonhada, olhando as cadeiras vazias.
- Ainda não está na hora! - Conforto-a. Quem não precisa de conforto algum são os meus filhos: o Francisco está ocupadíssimo a montar o espetáculo de ilusionismo para os pequenos, e a Clarinha ajuda-o; os outros quatro correm e saltam no salão, divertidíssimos a subir e descer escadas, a saltar do estrado para o chão, a vasculhar as salas de catequese e a experimentar os microfones.
- Meninos, todos aqui! Vamos começar! - Chamo, minutos mais tarde, quando o salão está suficientemente cheio. Subimos para o palco, e de microfone na mão, todos nos apresentamos à vez, começando pela Sara. Muito séria, ela enche o peito de ar como quem se prepara para soltar uma frase muito comprida, e diz de um só fôlego: "Sara". Rimo-nos todos!
Depois de cantarmos e rezarmos juntos ao Senhor, os mais novos acompanham o Francisco, enquanto o Niall e eu damos o nosso testemunho. Um momento muito bonito e muito participado.
Finalmente, o encontro termina. Todos nos querem cumprimentar, dar uma palavra, partilhar uma confidência, encorajar. Sentimo-nos muito acolhidos e fazemos planos para, um dia, ali voltarmos com um retiro completo.
A Madalena chama-nos a uma salinha junto do grande salão, onde um magnífico lanche nos espera. Ena, há bolinhos, pão, bolachas, leite com chocolate... Sentamo-nos em roda, com o senhor padre, e comemos de tudo, muito satisfeitos.
- Ah, este lanche é mesmo bom! - Dizem todos, com a boca bem cheia. Não apetece partir...
Mas são horas de regressar. No carro, sob a chuva a cair, enquanto a noite se acende à nossa volta, vamos conversando.
- Quem gostou desta tarde? - Pergunto.
- Eu!
- Eu!
- Eu!
Parece que todos gostaram.
- A magia correu mesmo bem - Diz o Francisco, satisfeito. - Os meninos eram muito bem comportados e estavam muito atentos.
- Eu adorei escutar-te - Diz-me a Clarinha, como de costume.
- E os mais pequenos, do que é que gostaram mais?
- Das cortinas!
- As cortinas, António? Porquê?
- Carregava-se num botão e elas abriam e fechavam no palco. O senhor padre deixou-me carregar um bocadinho!
- E eu gostei de saltar do palco para o chão!
- E eu, de dizer o meu nome ao microfone!
- Do lanche!
- Sim, do lanche!
- Do lanche!
- Então valeu a pena uma viagem tão grande?
- Ah, claro que valeu!
- Obrigada, mãe, foi mesmo bom vir a Meadela!
- Adorei!
- Quando eu contar aos meus amigos do botão das cortinas... Acho que eles não vão acreditar!
Enquanto o carro se enche de gargalhadas, canções e muito barulho, eu agradeço interiormente ao Senhor por, mais uma vez, cumprir a sua Palavra na nossa vida. A tarde foi longa, oferecida, entregue, mas a recompensa foi uma reconfortante sensação de bem-estar, toda ela feita de coisas tão simples como um copo de leite com chocolate, uma brincadeira nas escadas, uma cortina a abrir, uma ponte sobre o Lima, um comboio sobre o Douro, uma história da Bíblia, um raio de sol a romper as nuvens...
- Mãe, não tenho meias!
- Já viste no cesto da roupa lavada?
- Já, e na gaveta também.
- Vai buscar um par à gaveta do mano... SARA! Que estás a fazer?
Um frasco de pomada aberto sobre o tampo da sanita, a Sara besuntada de alto a baixo.
- Quero creme...
- Sara, estavas tão bem vestida para ir à escolinha! E agora? Clarinha, mudas-me a Sara por favor?
- Assina este papel, mamã, se faz favor!
- Que papel, David? A esta hora da manhã? Não podias ter-me dado isso ontem? Hã? Diz aqui que precisas de levar dois euros... Dois euros! Niall, tens aí alguma moeda? Ai, onde vou eu encontrar dois euros agora?
- Bem, com tanta confusão eu vou indo de bicicleta. Até logo!
- Até logo, Francisco! Meninos, despachem-se, estamos atrasados!
- Mãe, diz à Sara para me obedecer! Não consigo penteá-la!
- Mas, Clarinha, também não é preciso fazeres uma trança tão bem feita a esta hora. Despachem-se! António, que estás tu à procura?
- O meu carrinho! QUERO LEVAR O MEU CARRINHO PARA A ESCOLINHA!
- Levas amanhã. Anda, vem para o carro! Por favor não chores, António...
Entramos no carro a correr. Já passa das oito horas.
- Todos têm mochilas? Lanches? Casacos? Sapatos? Vejam se está alguém de pantufas... Não? Ótimo. Vamos então... Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen!
A caminho do colégio, é hora de rezar. Mas primeiro, é preciso acalmar um bocadinho, pedir desculpa pelo tom mais elevado ou por aquele puxão no braço para controlar uma birra.
- "... Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte!"
Agora. A-GO-RA. Agora, eis a única realidade que me é dado viver. O ontem já lá vai, confiado à misericórdia do Senhor; o amanhã pode nunca chegar. Agora é hora de ser santo, de ser santa. Agora é hora de trabalhar o meu carácter, dominar a irritação, sorrir, perdoar, pedir desculpa, dizer obrigado. Agora, mesmo com pressa, mesmo que não venha nada a propósito, mesmo que apeteça dizer - agora não, depois! - porque o agora não espera, e muitas vezes não vem a propósito, e geralmente não apetece... Agora, e não quando os filhos crescerem; agora, e não quando tiver tempo; agora, e não quando a minha rotina for mais fácil; agora... Respiro fundo, e o meu pensamento descansa na repetição desta palavra: "Agora... agora... agora..." Ao serão, durante a oração familiar, irei repeti-la cinquenta vezes. Por cinquenta vezes pedirei a Nossa Senhora que reze por mim ao seu filho Jesus, e que o faça AGORA.
Chegamos ao Colégio. Já estamos todos calmos e sorridentes, depois da correria da manhã. Abro as portas do carro, e à medida que saltam para o pátio, dou-lhes um beijo e desenho-lhes uma cruz na testa. Depois, sigo viagem até à minha escola. Como será o nosso dia? Difícil, fácil, luminoso, aborrecido...? Que importa, afinal? A-GO-RA. Um momento de cada vez. Se começar já a pensar na aula que vou ter às onze horas, talvez entre em modo de angústia; e se me lembrar que hoje o Niall não vem jantar e terei de me ver sem a sua ajuda, sinto-me imediatamente cansada. Mas agora estou simplesmente a conduzir no meio do trânsito...
"Não vos preocupeis com o dia de amanhã. Amanhã terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu cuidado!" (Mt 6, 34)
Basta a cada agora o seu cuidado... De agora em agora, chegará um dia o momento da minha morte. Então, de mãos dadas com Maria, estarei pronta para a festa da eternidade.
Obrigada, Senhora mais brilhante do que o Sol, por em Fátima nos teres pedido que rezássemos o terço todos os dias. Que seria eu sem esta oração? Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen!
Hora de oração familiar. Sentados no Canto de Oração, rezamos o terço. Primeiro Mistério Luminoso...
- Eu sei qual é! - Grita a Lúcia, entusiasmada. - O Batismo de Jesus!
A avó, sentada ao seu lado, pisca-me o olho. As avós também servem para "Espírito Santo de orelha", claro...
- Muito bem, Lúcia. E queres fazer a meditação?
- Sim. - A Lúcia pensa um bocadinho e diz: - Jesus, ajuda-nos a batizar-Te!
- Que disparate! - Atalha o David, com ar importante - Mamã, eu faço: Jesus, envia sobre nós o teu Espírito, como uma pomba...
- Ah, pois é, tinha-me esquecido da pomba! Uma pomba linda!
- Pronto, Lúcia, fazes a meditação do próximo mistério! Agora vamos rezar: Pai-Nosso...
Mal acabamos de rezar o primeiro mistério, já a Lúcia, depois de alguns segredinhos com a avó, enuncia o segundo:
- As Bodas de Caná!
- Muito bem. Queres fazer a meditação?
- Sim... Deixa-me pensar... Já sei: Jesus, ajuda-nos a transformar a água em vinho!
Gargalhada geral.
- Cá em casa nem dava muito jeito, que ninguém bebe vinho! - Diz a Clarinha.
- Já viste o que era se todos se pusessem a transformar a água em vinho? - Continua o Francisco, divertido.
Valha-nos o David:
- Mãe, eu faço outra vez: Jesus, ensina-nos a fazer tudo o que Tu nos disseres!
E lá rezamos nós mais um mistério.
Terceiro mistério...
- A pregação de Jesus!
- Boa, Lúcia. E agora?
- Jesus com os braços muito abertos, pregado na cruz...
Mais gargalhadas.
- Lúcia, quantas vezes te explicámos que não é essa pregação? É anunciar o Evangelho!
- Ah...
- OK, Lúcia, amanhã tentas de novo fazer as meditações. Ficas dispensada por hoje!
Aprender a meditar o rosário leva o seu tempo. Como tudo na vida, precisa de treino, e o treino implica tentativas falhadas mas corajosas. Já viram alguém aprender a nadar com aulas teóricas? Ou sem engolir água? Ou sem apanhar um susto? Hoje, a Lúcia arriscou muito... Mas dentro de dois anos terá a rapidez mental do David para fazer as meditações - curtas frases que nos ajudam a oferecer o mistério e a oração ao Senhor!
"Procurai e achareis; pedi e recebereis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo o que procura, encontra; e o que pede, receberá; e ao que bate, abrir-se-á." (Lc 11, 9-10)
Apenas para deixar, como prometido, o link para poderem escutar o Debate sobre o Sínodo da Família, na Renascença, no qual participei por telefone a partir do minuto 29! Este link fica a partir de hoje também disponível na coluna lateral deste blogue.
Juntos, continuemos a rezar pela santificação das famílias cristãs. Bom fim-de-semana, e até segunda-feira se Deus quiser!
No sábado passado, participei, juntamente com o grupo de catequistas de Mogofores, no Mega Encontro de Evangelização – E-vangelizar – dos salesianos, no Porto. Foi um dia magnífico! Coube-me dinamizar um Workshop sobre Catequese Familiar, mas ainda me sobrou tempo para participar, como formanda, num workshop muito a propósito: As Obras da Misericórdia na Catequese. Lindo!
Uma das coisas giras deste dia foi o encontro com algumas Famílias de Caná da zona norte, bem como o encontro com alguns leitores do blogue. O Luís e a Jacinta, que vivem na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, perto de Aveiro, fizeram o Retiro de Neiva. No E-vangelizar partilhámos a vontade de realizar um retiro na sua paróquia, que entretanto já conhece o seu testemunho de Família de Caná. Tanto o Luís como a Jacinta estão acostumados a trabalhar com crianças e jovens e a dinamizar muitas coisas. E por falar no Luís – conhecem o seu blogue As Contas de Deus? Vale a pena visitá-lo!
Nesse mesmo dia, o Francisco orientava um workshop de ilusionismo para adolescentes no Clube Prisma, em Coimbra. Quem tem talentos tem de os colocar ao serviço dos outros, naturalmente! O Francisco chegou a casa quase ao mesmo tempo que eu, cansado mas muito feliz.
E o resto da família? Bem, enquanto nós trabalhávamos, eles divertiam-se no Parque da Mealhada…
Amanhã, sábado, iremos recomeçar o nosso trabalho de catequistas na nossa paróquia. Já não víamos a hora! É tão gratificante partilhar a nossa fé com as crianças e os jovens, ajudando-os a correr ao encontro de Jesus!
Domingo iremos dar testemunho da nossa vida de fé e apresentar as Famílias de Caná na diocese de Viana, na igreja paroquial de Meadela. Teremos a escutar-nos os pais das crianças da catequese. Enquanto isso, o Francisco fará ilusionismo e evangelização para as crianças. Vai ser um grande encontro! Haverá por aí leitores do blogue com vontade de nos cumprimentar e escutar? Apareçam domingo, dia 11, pelas 15h30 na igreja paroquial de Meadela, que para nós será um prazer!
Ontem, enquanto lia o Novo Testamento, encontrei esta passagem de S. Paulo:
“Três vezes naufraguei, e passei no abismo uma noite e um dia. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus concidadãos, perigos dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre os falsos irmãos. Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez!”
(2Cor 11, 25-27)
Depois, dei comigo a pensar… É cansativo percorrer o país testemunhando a alegria de ser família católica. Mas nós viajamos de carro – bem, de dois carros – e em belíssimas estradas, e geralmente temos direito a grandes merendas! S. Paulo foi testemunha de Cristo a pé, de carroça, de cavalo, de noite e de dia, por terra e por mar, com fome e com sede… Ainda nos falta muito, muito, para chegarmos aos seus calcanhares! Que o Senhor nos ajude a todos a sermos suas testemunhas alegres e corajosas. Ámen!
Na véspera do Retiro da Quinta do Conde, o Francisco foi para Lisboa de comboio. Durante a viagem, como costume, rezou o terço em silêncio, enquanto contemplava a paisagem. Mal tinha acabado de o fazer, quando a senhora sentada a seu lado abriu a carteira e dela retirou também um terço.
- Que pena não ter tirado o seu terço antes! - Riu-se o Francisco com simpatia - Acabo de rezar o meu. Podíamos ter rezado juntos!
- Tu és católico? - Quis saber a senhora, certamente surpreendida com o comentário.
- Sim, sou católico. Pertenço ao movimento Famílias de Caná, não sei se conhece!
- Espera lá... Tu não és o filho da Teresa Power?
Não sei se a simpática interlocutora do Francisco acabou por rezar o seu terço, mas sei que continuaram a conversar durante bastante tempo. Quando, no dia seguinte, o Francisco me contou esta história, eu pensei precisamente no que significa ser um Jovem de Caná, um jovem feliz com a sua fé católica, um jovem sem medo de partilhar a sua alegria com todos os que se sentarem a seu lado, um jovem capaz de rezar em todo o lugar.
Nem sempre é fácil para o Francisco interromper as suas atividades para vir rezar o terço em família, todos os serões. Mas mesmo com um suspiro mais ou menos audível, mesmo com algum esforço e alguma pressa, o Francisco deixa o que está a fazer para se sentar ao nosso lado, no sofá, e rezar. Já não se trata, como quando era mais novo, de uma imposição familiar, uma rotina anterior ao seu próprio nascimento. O episódio do comboio veio mostrar-nos que a oração é, para o Francisco, uma imposição pessoal, um ato de vontade, uma decisão consciente de um crismado que cresceu e se sente adulto na sua fé.
O Francisco pertence a esta primeira geração de Jovens de Caná que os retiros têm trazido à luz. Quantos haverá já espalhados pelo nosso país? Alguns vão comentando no blogue, outros lêem e meditam, mas todos têm esta ânsia de crescer na alegria da sua fé católica, partilhando a vida e dando testemunho do amor de Deus.
Foi entre estes jovens participantes em retiros Famílias de Caná que o Francisco encontrou a sua namorada, há um ano atrás. Juntos, procuram aprofundar a maravilha do namoro cristão, para também no namoro serem luz na escuridão do mundo. Para nós, pais, é uma honra podermos acompanhar o desabrochar de uma nova etapa da vida cristã do nosso filho mais velho. Aí vai ele, abrindo caminho aos irmãos...
Como Famílias de Caná, não poderemos fazer alguma coisa pelos jovens que já vivem ou se preparam para futuramente viver um namoro cristão? Claro que sim! Queremos urgentemente oferecer-lhes encontros temáticos, baseados na Teologia do Corpo de S. João Paulo II. Já temos, em Braga, um sacerdote disposto a acompanhar-nos nestes encontros, acostumado a abordar o tema com mestria. Haverá por aí jovens interessados, a quem um dia de encontro pudesse agradar? Escrevam-me para o mail!
Este ano, o Francisco deixou o Colégio que frequentava desde pequenino, para frequentar a minha escola. O Colégio não lhe permitia a opção de Física no 12º ano, e o futuro engenheiro não podia ficar sem a disciplina, pois a física é uma das suas grandes paixões. Ora reparem só na mesa de trabalho do Francisco durante as férias de verão:
O Francisco aceitou a mudança algures entre um encolher de ombros e uma dor de estômago, mas adaptou-se rapidamente. A escola nova é também a oportunidade de conhecer novos amigos, novos professores, novas formas de aprender e ensinar, novos desafios - e não há nada que ele mais aprecie que um desafio novinho em folha! Quanto aos amigos do Colégio, estão apenas à distância de um passeio de bicicleta...
No seu canal do Youtube, o Francisco tem partilhado magia, aventuras, desafios, gargalhadas. Visitem-no online e comuniquem o link aos vossos filhos e jovens amigos!
Na semana passada, o Francisco dirigiu-se à porta para atender o carteiro. Era a sua prenda de anos que chegava, uma encomenda da Amazon. Recebeu a encomenda e, contendo a curiosidade, escondeu-a no armário do meu quarto. Hoje o Francisco faz dezassete anos. Quando acordar, irá abrir a prenda que ele próprio escolheu, recebeu e escondeu... Já lá vai o tempo em que acordava a meio da noite para abrir as suas prendas, incapaz de controlar a ansiedade. Aprender a esperar assim é também crescer!
Parabéns, Francisco, e bem-hajas pelo privilégio de partilhar contigo estes dezassete anos de vida! Como S. Paulo a Timóteo, também eu te digo hoje:
"Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade. Não descures o carisma que há em ti!" (1Tm 4, 12.14)
Ámen.
Lembram-se do dia de anos da Lúcia? Pois bem, nessa noite, véspera do dia 2 de outubro, o Niall e eu acordámos com barulhos estranhos na casa. O Niall levantou-se, saiu do quarto e encontrou as luzes todas acesas entre o quarto das meninas e a sala. Seguindo o rasto de luz, encontrou finalmente a Lúcia sentada no chão da sala, rodeada de papel de embrulho rasgado e montando calmamente um puzzle novinho em folha.
- Lúcia, que fazes aqui? - Perguntou-lhe carinhosamente. - Ainda não é o teu dia de anos! Faltam algumas horas...
- Ai não?
- Não. São duas e meia da manhã... Vamos dormir?
Em silêncio, a Lúcia levantou-se, deu a mão ao pai e aceitou regressar ao quarto.
Seis e meia da manhã. O António e a Sara aparecem ao nosso lado, excitadíssimos:
- Mamã, mamã, uma coisa muito estranha! A Lúcia ainda está a dormir, mas as prendas dela estão todas desembrulhadas na sala! Quem será que veio cá durante a noite?
É tão difícil, para uma criança, aguentar uma noite inteira, quando sabe que um belo presente a aguarda pela manhã! Como fazer para chamar o sono e esperar, de olhos fechados, que o dia amanheça, os pais acordem e as luzes se acendam?
Ah, como somos infantis! Deus tem belas prendas para cada um de nós, e tudo o que nos pede é que sejamos pacientes durante a escuridão da noite... Logo logo, o dia despontará também para nós, e então poderemos abrir as belas prendas que o seu amor preparou. Mas agora - quando as horas custam a passar, quando a tarefa parece interminável, quando chove sem parar, quando tudo é sombrio e doloroso na nossa vida - agora é tempo de esperança...
"A minha alma espera no Senhor
Mais do que a sentinela espera pela aurora.
Mais do que a sentinela espera pela aurora,
Israel espera pelo Senhor,
porque nele há misericórdia
e com Ele é abundante a redenção."
(Sl 130, 6-7)