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Com o dedo na areia

por Teresa Power, em 29.02.16

Grande agitação na minha turma do Curso Vocacional.

- Meninos, por favor, sentem-se! Mas que se passa? O que aconteceu?

- Foi a J. Ela colocou umas fotos no Facebook sobre uns assuntos que já se espalharam por todo o lado.

J. chora a um canto.

- Pronto, meninos, párem com essa conversa. De certeza de que J. já está arrependida do que fez. Vamos esquecer!

- Esquecer como, professora? Todo o mundo pode ver! A professora não sabe que já não dá para apagar? O que está online está online!

- Sim, e não adianta ela dizer que não é verdade, porque todos o podemos provar!

- E agora está cheia de problemas, e por isso é que está a chorar. Se desse para voltar atrás...

A conversa prolonga-se por toda a aula, sem que eu tenha a capacidade (ou o jeito) para a interromper e para ensinar algum Inglês. J. sai para apanhar um pouco de ar, e regressa com grande tristeza. Uns choram com ela, outros riem, outros encolhem os ombros, outros lançam mais achas para a fogueira.

 

J. precisa de aprender a lidar com a internet, e creio que o susto que apanhou lhe servirá de lição, a ela e aos colegas. Mas as novas gerações, que vivem no mundo real e no mundo virtual quase indistintamente, que assistem aos grandes "reality shows" modernos e que se comprazem na descoberta dos pecados alheios também precisam de aprender algo sobre o perdão.

Lembro-me da história do Evangelho, em que uma mulher, apanhada em flagrante delito de adultério, é conduzida à presença de Jesus. O evangelista recorda um pormenor curioso, aparentemente sem qualquer importância:

 

"Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra." (Jo 8, 6)

 

É difícil, hoje, um jovem recuperar de um pecado grave passado, pois a internet e os telemóveis não perdoam, e no espaço virtual não há absolvição. Deus, pelo contrário, não coloca os nossos pecados online, não os revela ao mundo inteiro num grande Big Brother televisivo, nem os escreve na pedra ou no bronze: inclinando-Se para o chão, Deus escreve os nossos pecados sobre a areia... E uma única onda do seu amor misericordioso apaga-os de uma vez.

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publicado às 06:00

Não fiques triste...

por Teresa Power, em 26.02.16

-Meninos, nem imaginam a bela notícia que li hoje no blog da Olívia.

- O que é? É sobre a bebé Lúcia?

- Não, é sobre a Maria.

- A minha amiga?

- Sim, Lúcia, a tua amiga. Imagina tu! Este ano, a mãe está a dar-lhe a catequese em casa, porque na sua aldeia há poucas crianças e ela não tinha oportunidade de caminhar com um grupo. Outro dia, o senhor padre foi lá a casa e disse... Esta é a boa notícia: disse que a Maria estava muito bem preparada, e portanto podia fazer a sua primeira comunhão já no domingo de Páscoa. Não é lindo?

- Que maravilha! Ela deve estar muito feliz!

- Ah, o senhor padre reconheceu o trabalho da Olívia!

- Vai ser um domingo de Páscoa muito bonito!

- E tu, Lúcia? Não dizes nada?

Mas a Lúcia não diz nada. Aliás, de repente, e como acontece com alguma frequência, os seus olhos enchem-se de lágrimas.

- Que se passa? Não ficaste feliz pela Maria?

A Lúcia diz que sim com a cabeça.

- Então...

- Mãe - Desabafa finalmente - Por que é que eu não posso fazer a primeira comunhão também na Páscoa? Não estou tão preparada como a Maria?

A Lúcia senta-se ao meu colo e conversamos um bocadinho.

- Lúcia, tu vais fazer a tua primeira comunhão com o teu grupo de amigos. Não é maravilhoso? E tens dois catequistas tão bons! Vai ser uma festa muito bonita. Não fiques triste!

A Lúcia limpa os olhos com as costas da mão.

- Mas eu queria tanto receber Jesus... Queria ter Jesus no meu coração!

- Já falta pouco, Lúcia! Vais ver...

 

À noite, sentada ao computador, contei à Olívia a reação da Lúcia. E na quarta-feira passada, ao abrir a caixa do correio, tive uma surpresa.

- Lúcia, olha só o que chegou para ti! Uma carta! - Chamei, entusiasmada. 

A Lúcia veio a correr. Com os olhos iluminados, pegou na carta, sentiu o seu peso, cheirou-a, revirou-a entre os dedos.

- É da Maria! - Disse, por fim.

- Não vais abrir?

- Vou. - Com gestos decididos, a Lúcia abriu a carta. Lá dentro, estava este lindo desenho:

 

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O entusiasmo destas duas crianças perante Jesus-Eucaristia emocionou-me. Durante muito tempo, fiquei a pensar na forma relaxada, pouco entusiasmada, frequentemente indiferente com que recebemos Jesus em cada missa. Quando foi que os nossos corações se tornaram dormentes, frios, de pedra? Quando foi que perdemos a fé límpida que o batismo nos deu? Por que permitimos nós que a rotina mate o amor? Teremos realmente fome? Teremos realmente sede? Recordei-me da promessa de Deus, ecoando desde os confins da Bíblia:

 

"Tirarei do teu peito o coração de pedra e dar-te-ei um coração de carne..." (Ez 11, 19)

 

Senhor, cumpre hoje de novo a tua promessa, a promessa de transformares os nossos corações de pedra em corações de carne, corações capazes de sentir fome, capazes de sentir sede, capazes de sofrer a tua ausência, capazes de Te desejar loucamente, capazes de pulsar apenas por Ti...  Ámen!

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publicado às 06:00

Retiro em Lordelo, Guimarães

por Teresa Power, em 24.02.16

Sim, é isso mesmo: no dia 6 de março, domingo, a Família Power estará na paróquia de Lordelo, Guimarães, para mais um Retiro Famílias de Caná! Inscrevam-se aqui:

Programa e inscrições do retiro de Lordelo-Guimarães

Fomos desafiados a fazer este retiro por uma catequista muito dedicada, que com o seu entusiasmo tem atraído a Jesus as famílias de Lordelo em Catequese Familiar. Depois de participar no E-vangelizar no Porto, onde eu costumo dinamizar um workshop sobre catequese e oração familiares, a Emília convidou-me a ir à sua paróquia.

Iremos com muita alegria, e naturalmente que alargamos as inscrições a todas as famílias que nos seguem e que vivam perto. Sei que temos muitos leitores no Porto e em várias localidades no norte... Está na hora de participar no retiro! Venham com ou sem a família, venham com ou sem fé, venham de coração aberto e dispostos a um encontro profundo e sincero com Jesus. O resto é trabalho d'Ele!

Tragam uma merenda para partilharmos ao almoço e aos lanches, a Bíblia e o terço se tiverem, um bloco para tirar notas se acharem importante.

Para trabalhar com as crianças, ao longo de todo o dia, teremos a Aldeia de Caná da Rainha Santa Isabel, de Famalicão, e a família da Sónia e do Paulo, que fizeram o último retiro de Coimbra. São três famílias muito alegres, muito vivas e com uma fé profunda. Os vossos filhos ficam bem entregues! Quanto ao Niall, e como costume, ficará com os jovens participantes.

Já falta pouco para dia 6. Não hesitem! Inscrevam-se ainda hoje...

 

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publicado às 23:04

Via Sacra caseira

por Teresa Power, em 23.02.16

Todas as quaresmas rezamos a Via Sacra em família, uma vez por semana. Podemos fazê-lo na igreja, podemos fazê-lo em Fátima (esperemos que sim também este ano) e, claro, podemos fazê-lo em casa. No sábado fizemos a Via Sacra em casa, diante do Canto de Oração. No chão deitámos a cruz de madeira que os jovens construíram no Primeiro Retiro das Famílias de Caná, naquele magnífico dia da Exaltação da Santa Cruz de 2013. Este crucifixo tem pois para nós um significado muito especial...

 

"Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor te conduziu..." (Deut 8, 2)

 

Assim nos diz o Senhor de cada vez que contemplamos esta tosca cruz. Nela encontramos a obra da salvação de Jesus, que por nós deu a vida; mas também encontramos o chamamento para reunir as primeiras Famílias de Caná e todo o caminho percorrido desde então, caminho de Cruz e de Ressurreição como todos os caminhos do amor. Olhando, pois, para a cruz deitada no chão, nós recordamos as graças que Deus derramou sobre nós, perdoando-nos os pecados, curando-nos as feridas, libertando-nos do poder do mal, fazendo de nós suas testemunhas e enviando-nos em missão pelo país inteiro, congregando as Famílias de Caná. Ena, tantas bênçãos!

 

Assim, no domingo depois do almoço, acendemos as velas, preparámos as meditações (as mesmas que os ofereci no ano passado e que disponibilizo novamente: Via Sacra.pdf ) e espalhámos pelo chão as imagens da Via Sacra que os meninos recortaram, pintaram e colaram em corações de cartolina, também no ano passado. Depois cantámos um cântico e iniciámos o Caminho da Cruz. À vez, cada menino procurava entre os corações a estação correspondente, e colava-a sobre a cruz. No final, foi diante de uma cruz iluminada e cheia de corações que concluímos a nossa oração da tarde. Dentro de nós, um silêncio contemplativo calava os pensamentos mundanos e subia até Deus como incenso...

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publicado às 06:00

Eu não sabia...

por Teresa Power, em 22.02.16

Hora de oração familiar. Sentados no sofá da sala, o Canto de Oração iluminado, a Porta Santa chamando-nos à conversão. Leio em voz alta a primeira leitura, do Livro do Levítico.

- Que livro é esse, mãe?

- O Livro da Lei do povo de Deus. Os Primeiros cinco livros da Bíblia são também chamados os livros de Moisés, e formavam a Lei de Israel. Neste livro vamos encontrar muitas palavras de Deus, que nos ensinam como nos devemos comportar. Vamos ouvir?

 

"Assim fala o Senhor: «Sede santos porque Eu, o Senhor, sou santo. Que cada um de vós respeite a sua mãe e o seu pai, e guarde os meus sábados (...) Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.»"

(Lv 19, 1-18)

 

- O que é vingar-se? - Pergunta a Lúcia.

- É pagar com o mal, o mal que te fazem. Por exemplo, um menino empurra-te, e tu empurra-lo de volta. Um menino estraga-te uma caneta, e tu rasgas-lhe um desenho. Isso é vingança.

A Lúcia fica calada, assente com a cabeça, e continuamos a oração, com a leitura do salmo e do Evangelho e com a recitação do terço. E é precisamente durante o terço que eu reparo num brilho estranho nos seus olhos.

- Lúcia, estás bem? - Pergunto. Ela assente de novo com a cabeça, mas eu percebo que nada está bem, e as lágrimas começam a rolar pela sua face. No final da oração pego-lhe ao colo e, enquanto o pai deita os mais novos, converso com ela.

- O que se passa, Lúcia?

- Mãe, eu não sabia que a vingança era pecado. Eu já fiz isso muitas vezes com os manos, porque eu não sabia. Eu achava que podia fazer se eles me faziam também. E nunca me confessei disso... Achas que agora tenho o coração metade limpo e metade sujo?

- Não, Lúcia, não acho. Acho que tens o coração todo limpo, e sabes porquê? Precisamente por causa dessas tuas lágrimas marotas... Porque tu estás arrependida de teres feito esses pecados. E o que lava o coração é o arrependimento! No preciso instante em que tu ficas triste por teres feito uma coisa feia e pedes perdão a Deus, Ele perdoa-te de imediato.

- E como faço eu para pedir perdão a Deus?

- Queres rezar comigo o Ato de Contrição?

- Sim.

- Então vamos. Dá-me a mão... "Meu Deus, porque sois tão bom, tenho muita pena de Vos ter ofendido. Ajudai-me a não tornar a pecar!"

O rosto da Lúcia abre-se num largo sorriso.

- Agora já estou limpa? Mas eu ainda não me confessei...

- Lúcia, o teu coração está todo limpo. Podes estar descansada. O teu arrependimento, a tua tristeza e o ato de contrição que acabaste de fazer são suficientes para apagar os pecados leves. Jesus abraçou-te de imediato cheio de alegria!

- O meu pecado era pequenino?

- Era porque tu não sabias que o estavas a fazer. A partir de agora já tens de ter mais cuidado, claro, porque já sabes. Tu estás a aprender, Lúcia, e Jesus está felicíssimo contigo esta noite porque aprendeste uma coisa nova. Mas quando fores à confissão da próxima vez, deves confessar-te deste pecado, porque Jesus fica contente quando somos capazes de confessar as nossas culpas sem receio ao sacerdote.

- Quantos anos é que tu tinhas quando descobriste que a vingança era pecado? Eras mais pequena do que eu?

- Oh, não, era bem mais crescida! Lembro-me de ficar sem falar com as minhas amigas durante alguns dias quando me zangava com elas, e olha que era mais velha do que tu. Pouco a pouco fui aprendendo e fui-me esforçando por ser melhor.

- Ah! Agora eu já sei e também vou ensinar às minhas amigas.

Levo-a ao colo para a cama e dou-lhe um beijo de boas noites. O seu rosto ilumina.

- Boa noite, mamã!

- Boa noite, querida!

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A Lúcia já dormia há muito tempo, e eu continuava a meditar nesta nossa conversa. Embora pequenina, a Lúcia acabava de experimentar uma das mais duras realidades do pecado: a tomada de consciência de que somos capazes de o cometer, de que não somos as pessoas imaculadas que imaginávamos ser. Foi a descoberta de S. Pedro, naquela noite de lua cheia, em que o galo cantou a sua traição; a descoberta de S. Paulo, caindo do cavalo perante a revelação de que todo o seu zelo tinha sido orientado contra o alvo errado; a descoberta do Rei David, quando o profeta Natã lhe contou uma pequena história sobre a ovelhinha do pobre e David se apercebeu do gravíssimo e duplo pecado cometido contra Urias; e a descoberta de todos nós, que olhando para o nosso passado, nos damos conta da quantidade de erros que cometemos julgando estar a fazer algo sem gravidade.

Que fazer, nestes momentos de revelação? Primeiro, agradecer. É verdadeiramente uma graça imensa que Deus nos faz, sermos confrontados com a nossa miséria antes da hora da nossa morte! Não há caminho mais seguro para uma verdadeira humildade, e sem humildade não é possível ser santo.

Depois, pedir perdão e confessar-se com simplicidade e confiança, acreditando de verdade (e é difícil acreditar...) que não há nenhum pecado que o Senhor não possa lavar por completo.

E finalmente, agradecer de novo outra e outra vez, pois não há nada mais belo sobre a Terra do que experimentar a misericórdia de Deus como uma torrente de vida dentro de nós. 

O Jubileu da Misericórdia é o tempo de graça que o Senhor nos oferece para uma profunda e completa revisão de vida. Então experimentaremos a verdadeira alegria, a alegria que nasce das lágrimas...

 

"Se o pecador renunciar a todos os pecados que cometeu, se observar todas as minhas leis e praticar o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu, e viverá..." (Ez 18, 21-22)

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O Evangelho dos Cinco Dedos

por Teresa Power, em 18.02.16

Hora de oração familiar. Com grande entusiasmo, pego no evangelho do dia, que nos faz mergulhar de cabeça na grande passagem das obras de misericórdia, no capítulo 25 de S. Mateus, 31-46.

- Meninos, vejam se conseguem completar as frases da parábola de Jesus:

 

"Vinde, benditos de meu Pai, receber o Reino que está preparado para vós desde o início do mundo; porque tive fome...

- e destes-Me de comer!

"porque tive sede...

- e destes-Me de beber!

"estava nu...

- e destes-Me roupa!

"estava doente ou na prisão...

- e fostes visitar-Me!"

 

A leitura terminou com um coro perfeito de vozes infantis. Já todos sabem a leitura de cor, o que é o primeiro passo para que ela passe da mente ao coração.

- Lembram-se de que forma a Madre Teresa ensinava esta passagem às pessoas?

- Eu lembro! Nas mãos!

- Precisamente! Quando perguntavam à Madre Teresa por que razão ela se dedicava tanto aos mais pobres dos pobres, ela pegava na mão do seu interlocutor e, tocando em cada um dos dedos à vez, soletrava: "You did it to Me".

- Posso fazer na tua mão?

- Faz lá, António!

- "You did it to Me."

- E podemos também fazer em português?

- Sim. Podemos dizer assim: "Foi a Mim que fizeste."

- Agora faço eu!

- E eu também!

- "Foi a Mim que fizeste!"

- Ah, agora o importante é não esquecer... Tudo o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Jesus. E tudo o que deixamos de fazer, deixamos de fazer a Jesus.

- Eu hoje ajudei os manos a arrumar os legos. E olha que eu não tinha brincado com eles! Posso pôr uma flor no Canto de Oração.

- Eu também fiz uma coisa boa a Jesus. Na escola, com um amigo... Vou pôr uma flor.

Sorrio. O Canto de Oração está a ficar muito primaveril...

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A chuva de graças

por Teresa Power, em 16.02.16

O Retiro em Coimbra foi das experiências mais belas que temos tido. Digo-o de coração cheio, e de coração profundamente grato pela partilha de vida com famílias verdadeiramente fantásticas. Deus nunca Se deixa vencer em generosidade, e dá-nos sempre muito, muito mais do que ousamos pedir...

Tinhamos oito famílias inscritas - três de Coimbra, duas do Porto, uma de Tomar, uma de Lisboa e outra de Cantanhede. Mas ao longo de todo o sábado, no meio da chuva torrencial que alagou o nosso país, cortou estradas, fechou barras, espalhou viroses e a todos encerrou nas suas casas, as desistências foram chegando. Ficámos com apenas cinco famílias.

- Achas que vale a pena continuar a pensar em fazer retiro? - Perguntava-me o Niall, quase à noite, quando a querida Lilian nos comunicou que estava de cama cheia de febre e, portanto, não podia ir.

- O quê? Desistir agora? Depois do trabalho todo que a Cláudia e o Cristóvão, o João e a Sónia têm tido? E como vais dizer aos teus filhos mais pequenos que já não vão brincar com os seus queridos amigos? Eles estão ansiosos por encontrar a Alice, a Leonor, a Madalena, o Gaspar, o António e o bebé Matias... Não, não podemos fazer uma desfeita dessas!

- Bem, então se não aparecer nenhuma família, ficamos nós e as famílias da Cláudia e da Sónia em amena cavaqueira de Caná.

- Assim é que se fala!

O domingo acordou cheio de chuva, e Coimbra encontrava-se no centro da tempestade. Onde nos iríamos nós meter? Mas as crianças acordaram felizes: era dia de retiro! Sorrimos um para o outro: a Sara nunca conheceu a vida sem retiros Famílias de Caná, e para ela, ir a um retiro é tão natural como ir à escola ou a casa da avó.

-Uum, que cheirinho! - Diziam os meninos, ao acordar. - Bifes panados?

- Sim, estamos a preparar o piquenique - Respondi, da cozinha. Eles riram:

- Piquenique com esta chuva toda? Vai ser divertido!

- Não se preocupem, porque vamos estar sempre dentro do Centro Paroquial. E lá não chove!

Mas durante a viagem choveu. E quando saímos do carro, em Coimbra, caía granizo... Nada que pudesse perturbar o sentimento de felicidade ao sermos acolhidos pelas duas Famílias de Caná com quem já partilhamos tão grande amizade. O Cristóvão, a Cláudia, o João e a Sónia tinham tudo preparado para um dia em cheio, e um abraço amigo para nos receber.

E num instante, o salão encheu-se com as cinco famílias que vieram. Ena, que grande festa! Pudemos finalmente conhecer ao vivo - porque virtualmente já nos conhecíamos e já nos tratávamos por amigos - a família da Sónia e do Tiago , com os seus três lindos filhos, e a família da Marta e do António. Já ouviram falar no projeto que este casal - divertidíssimo, alegre e transbordante de simplicidade - desenvolve? Chama-se  datesCatólicos.org  e promove o encontro entre pessoas católicas solteiras, que gostariam de encontrar o seu futuro marido ou mulher num ambiente católico. Um projeto bem adequado ao dia de S. Valentim!

Conhecemos também mais algumas famílias, que nos encantaram pela sua simplicidade e disposição de coração, revemos os nossos amigos de Tomar, que com a família da Olívia, dinamizam a Aldeia de S. João Batista, e fomos maravilhosamente acolhidos pelo senhor padre Carlos Pinho na sua paróquia. Quanta profundidade e quanto amor nas suas palavras e nos seus gestos! "Façam boa viagem para lá e para cá!" Disse-nos o senhor padre à despedida, com uma gargalhada simpática. Claro que voltaremos!

Deixo-vos as fotos do dia - o espaço acolhedor, os corações de S. Valentim (ou os nossos corações misericordiosos...) a sorrir e a fazer cara feia, acolhendo ou rejeitando o amor do Senhor, as brincadeiras dos mais novos e os trabalhos dos mais crescidos, a oração, o terço, a adoração, os ensinamentos, a magia, a música, a alegria... Deixo-vos as fotos mas o resto, o essencial, terão de imaginar. Ou, se quiserem, terão de vir experimentar um dia!

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 - Mamã, quando é o próximo retiro? - Perguntava uma simpática menina loira.

- Oh, temos de ir já embora? - Refilava um rapazinho.

- Só podemos ir embora quando eu encontrar as chaves do carro grande - Respondia eu, já aflita, depois de todo o salão varrido, lavado e arrumado, e do Niall ter carregado o nosso carro mais pequeno. - Niall, ajuda-me! Não encontro as chaves do carrro! - Começávamos a ficar bastante nervosos, os amigos reviraram novamente os caixotes e os restos dos piqueniques, quando o Niall decidiu ir procurar... ao próprio carro. E descobriu que eu deixara as chaves na ignição o dia inteiro

Nos testemunhos finais, antes da última oração, as famílias partilharam a sua perceção do dia e os seus sentimentos. Procurando encontrar uma frase que exprima o sentimento comum manifestado, ocorre-me esta passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos:

 

"Os primeiros cristãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum..." (At 2, 42-44)

 

 

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O Perdão e a Festa do Céu

por Teresa Power, em 15.02.16

- Sara, quantas vezes te disse que não se pode escrever na parede? E tu sempre a escrever! Ainda ontem limpei tudo, com tanto trabalho, e agora chego aqui e tenho a parede toda riscada!

A Sara não parece muito importada com a minha conversa. Aliás, fica até bastante ofendida, e reage de imediato:

- Já não te convido para a minha festa de anos!

Abafo uma gargalhada, mas decido entrar no jogo:

- Oh, Sara, que pena! E a tua festa de anos é em setembro, deixa lá ver, daqui a oito meses... Tens a certeza de que não me vais convidar?

- Não vou! - Continua ela, de mãos na cintura e a fazer beicinho.

- Bem, e se eu te preparar a festinha? Por exemplo, eu podia fazer o lanche, escrever os convites, pôr a mesa para os meninos, e até, imagina, arrumar tudo no fim...

Mas a decisão está tomada:

- Não convido!

Já não consigo evitar a gargalhada:

- Ainda tens tempo para mudar de ideias. E agora desaparece daqui, que tenho uma parede inteira para limpar!

A Sara vai então pregar para outra freguesia (e muito provavelmente pintar outras paredes):

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 Durante todo o dia diverti-me com esta ameaça da minha filha mais nova, tão segura do alto dos seus três anos. Mas à noite, já deitada, enquanto fazia o meu exame de consciência, assaltou-me um terrível pensamento: e se Deus não nos perdoasse os nossos pecados? E se, de cada vez que eu pecasse, eu fosse imediata e definitivamente excluída da festa eterna, essa festa em que espero viver daqui a muitos, muitos anos? E se de nada valesse oferecer-me para, ao menos, limpar os vestígios da festa, porque o meu pecado era imperdoável? Um pensamento destes é mais assustador que o pior dos pesadelos...

Será que já nos demos conta do que significa sermos perdoados? Num único instante, Deus apaga por completo o mal que fizémos e derruba o muro que construímos à nossa frente, abrindo-nos de par em par a Porta Santa da eternidade. E faz isto à custa do Sangue precioso de Jesus! Talvez estejamos tão habituados à ideia de que Deus perdoa, que nos esquecemos da imensa graça que significa essa simples afirmação. Diz S. Pedro:

 

"Fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, como prata e ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha." (1Pe 1, 18-19)

 

O Cardeal Kasper explica o que significa "graça barata", essa falta de gratidão e de gestos correspondentes a que todos nós estamos sujeitos, se não meditarmos o suficiente neste mistério do perdão que Deus nos obteve na cruz:

"A palavra misericórdia pode ser mal entendida quando a misericórdia se confunde com uma débil indulgência e uma atitude de laissez faire. Surge então o perigo de fazer da graça divina - "comprada" e "merecida" por Deus na cruz a troco do seu próprio sangue - uma graça barata (...), isto é, o anúncio do perdão sem penitência, do batismo sem disciplina comunitária, da Ceia sem reconhecimento dos pecados, da absolvição sem confissão pessoal." (in: Misericórdia, Walter Kasper)

Que esta quaresma nos encha de gratidão perante o dom maravilhoso que o Senhor nos faz em cada dia, ao perdoar o nosso pecado, abrindo com o seu Sangue a Porta Santa que nos lança na festa eterna do céu! E que nenhuma penitência, nenhuma obra de misericórdia, nenhum sacrifício nos pareça excessivo perante este dom que supera todos os dons - este per dom, este perdão. Ámen!

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As flores da misericórdia

por Teresa Power, em 12.02.16

- Mãe, faz um sacrifício e deixa-nos fazer tintas!

Estou quase a responder que não, quando me dou conta de que é mesmo um sacrifício deixá-los trabalhar com tintas, brilhantes, pinceis, papeis, colas e afins, tudo espalhado na toalha de plástico sobre a mesa da cozinha, sobre o chão, sobre as paredes, sobre o teto; e finalmente, quando se cansam e se vão embora, depois de distribuirem os desenhos molhados por todas as superfícies planas para que sequem, sobra para mim...

- Bem, eu deixo, porque está a chover lá fora e há poucas alternativas... Mas depois arrumam tudo!

Arrumam, claro, embora não "tudo", nem sequer "quase tudo". Suspiro e tento um sorriso. Tenho direito a oferecer uma flor no Canto de Oração. E eles sabem disso.

Com o início da Quaresma, duplicam os nossos esforços por oferecer ao Senhor pequenos sacrifícios, pequenos gestos de generosidade e, neste ano especialmente, pequenas obras de misericórdia.

- Mãe, eu consolei a Sara que estava a chorar - Diz-me o António, triunfante, com uma Sara sorridente pela mão.

- Mãe, eu barrei o pão da Sara porque ela não conseguia. Dei de comer a quem tinha fome! - Afirma a Lúcia.

- Eu deixei o António escolher o jogo, e fiquei a contar em vez de me esconder, como preferia - Proclama o David.

- E eu cortei as flores todas em papel para vocês oferecerem - Diz a Clarinha, assertiva.

- Eu, bem, eu evitei entrar na cozinha durante toda a tarde em que a Clarinha fez os bolos para a festa do António, para não cair na tentação da gulodice em quarta-feira de cinzas - Sorri o Francisco, piscando o olho à irmã.

Todos multiplicam "coisas bonitas para Deus" (something beautiful for God), como a Madre Teresa gostava de dizer. Depois, ao serão, durante a nossa oração familiar, os mais novos colam no Canto de Oração uma pequena flor de papel de lustro. Quando chegar a Páscoa, os nossos desertos estarão plenamente floridos.

 

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  "Então o deserto e a terra árida alegrar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio, ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. A glória do Líbano ser-lhe-á dada, o esplendor do Carmelo e de Saron..." (Is 35, 1-2)

 

Ah, a primavera depois do inverno, a alegria depois do sacrifício, a felicidade depois do sofrimento, a Ressurreição depois da Cruz... Que belo final para o caminho de renúncia, generosidade e penitência que a Quaresma nos oferece!

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O António e a graça divina

por Teresa Power, em 11.02.16

Hoje o António faz seis anos. Ena, é difícil acreditar que já passaram seis anos desde aquele dia em que o tomei nos meus braços pela primeira vez, bebé pequenino mas tão cheio de força, de doces olhos castanhos... Seis anos!

- Há quanto tempo não escrevo um post sobre as birras do António! - Comentei eu outro dia com o Niall.

- É verdade! Até nos esquecemos de que ele fazia tantas, tantas birras! Quando foi a última vez que fez uma?

- Nem consigo lembrar-me...

O António cresceu. Um crescimento cheio de desafios e lutas interiores, que ele, apesar da sua tenra idade, tão bem tem sabido gerir. Birra após birra, o António foi tomando consciência de como o seu comportamento precisava de afinação. Rezou, com a sua confiança infantil, pedindo a Jesus que o ajudasse a ser bom.

- Todos os dias peço ao Jesus para ser bom, sabes, mãe? Quando me deito, antes de adormecer...

E Jesus atendeu a sua oração pura. Já vão longe, as birras que duravam uma manhã inteira, ou que deixavam o António especado no chão, imóvel e inamovível, a gritar, perante os olhares surpresos de quem passava e a minha triste impotência. Já vão longe, as birras que nos faziam perder a paciência e reagir com palavras ou gestos violentos, de tão cansados ficávamos. Agora, as birras do António duram apenas alguns segundos, o suficiente para ele se dominar e acalmar. E nós suspiramos de alívio.

O mesmo carácter forte que se manifestava em birras sucessivas, revela-se agora numa força interior invejável. De todos os nossos filhos, nenhum supera o António em fortaleza! Confiante e seguro de si, o António adora novos desafios e não tem medo de nada. Se o Francisco encontrar uma salamandra no jardim, é o primeiro a ter coragem para pegar nela, antes de a devolver à natureza:

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  Se é preciso cuidar da horta, levar os cães a passear, limpar o galinheiro, ajudar o pai a montar qualquer coisa ou simplesmente varrer o chão da garagem, o António é o primeiro (ou o único...) a oferecer-se. Assim, teve direito, no ano passado, a considerar suas as flores que nasceram no nosso jardim, pois foi ele quem as semeou e quem as acompanhou, desde a terra à jarra no Canto de Oração:

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Patins, bicicletas, bolas, árvores, nada o assusta e tudo ele gosta de dominar com mestria.

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As lágrimas sempre prontas deram lugar a gargalhadas também sempre prontas, e o António enche a casa de felicidade.

O António mostrou-me que lá onde residem as nossas maiores fraquezas podem também residir as nossas maiores virtudes, se nos abrirmos à graça divina; porque a teimosia pode ser transformada em fortaleza, a mesma vontade insistente que nos faz persistir na birra pode ser transformada na vontade insistente que nos torna santos. Não foi assim que S. Paulo passou de perseguidor dos cristãos para o seu maior apóstolo, e que Pedro passou de pescador de peixes a pescador de homens?

Aprendi com o António a pedir o auxílio da graça divina na construção do meu caráter. Como ele, também eu peço ao Senhor todos os dias que me faça boa, e que transforme os meus maiores defeitos nas minhas maiores virtudes. Disse o Papa Francisco:

"Se levantarmos o olhar humilde do nosso pecado e das nossas feridas para o Senhor, e deixarmos pelo menos uma abertura à acção da sua graça, Jesus faz milagres também com o nosso pecado, com aquilo que somos, com o nosso nada, com a nossa miséria." (in O Nome de Deus é Misericórdia). Como diz S. Paulo:

 

"Onde abundou o pecado, superabundou a graça." (Rm 5, 20)

 

Bem hajas por tudo o que me ensinas a cada dia, querido filho. Parabéns, António!

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publicado às 06:00

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