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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Meninos, estão a bater à porta! Alguém que abra, por favor!
- Mãe, é para ti. É um senhor, e não parece muito simpático.
Enxugo as mãos, pois estou a fazer o jantar, e apresso-me a chegar à porta. O senhor que me aguarda não está, realmente, com ar de grandes amigos.
- Não quero ter problemas com a senhora - Diz-me. Mentalmente e no espaço de dois segundos, revejo a minha vida nos últimos quarenta e três anos à procura de algum crime esquecido.
- Desculpe, não estou a entender...
- Este cão aqui é seu?
Já estou a entender.
- Sim, é. Jack, vem cá!
- Pois há dois minutos atrás, e como acontece todos os dias, ele estava na minha casa. Tal como estava às seis da manhã.
- Seis da manhã? Mas nós só o soltamos quando nos levantamos, pelas seis e meia...
- Então eram seis e meia.
- Na sua casa? A fazer o quê? Nós só o soltamos para eles esticarem as pernas e fazerem as suas necessidades no descampado aqui atrás da nossa casa. Depois eles entram em casa e ficam aqui connosco...
- Não, eles não fazem as necessidades no descampado; eles fazem-nas no meu jardim, que fica duas ruas atrás desta.
- Ah! Desculpe! Não sabia! Como eles não mordem a ninguém, nem se atravessam diante dos carros, costumamos tê-los soltos, à nossa volta... Nunca demos conta de irem para longe!
- Prenda os cães e não vamos ter problemas.
- Pois... Assim farei.
- Muito boa tarde então.
- Boa tarde!
Fecho a porta, volto-me e deparo-me com seis pares de olhos, fixos em mim.
- Que vais fazer agora, mãe?
- Eu? Vocês é que vão fazer! A partir de hoje, meus meninos, começam a levar os cães a passear com trela, como o resto do mundo faz.
- Mas nós só chegamos da escola às cinco horas!
- Bem, vamos fazer uma escala. O pai passeia-os de manhã, ao acordar, eu passeio os cães à hora de almoço, e vocês ao fim da tarde. Combinado?
Chegamos a um acordo, e mais relaxados, deixamo-nos cair no sofá a rir à gargalhada, imaginando um pouco a situação que deu origem às queixas do vizinho. Depois, suspiro. Não sei como vou conseguir encaixar mais esta atividade no meu horário...
Diz a Escritura:
"Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus." (Rm 8, 28)
Nem sempre me recordo deste versículo, ao longo do meu dia. Quantas vezes uma pequena contrariedade é suficiente para me entristecer ou oprimir? Se, pelo contrário, me recordar da Escritura, deixo-me tomar por um sentimento de "santa" curiosidade: que quererá Deus que eu aprenda desta vez? Que planos terá Ele para mim? Tenho procurado fazer assim com tudo, absolutamente tudo - como diz S. Paulo - que me acontece, especialmente os contratempos, sejam eles no trabalho, na escola, na paróquia, com as Famílias de Caná, com os meus filhos... e, claro, com os meus cães.
A Palavra de Deus não mente. Graças a este vizinho pouco simpático mas cheio de razão, teve início, há cerca de dois meses atrás, um dos meus rituais preferidos: levar os cães a passear pelas ruas da minha terra. Quase todas as tardes encontro vinte a trinta minutos para a nossa bela passeata. Há muito tempo que eu sentia a necessidade de fazer caminhadas ou outra forma de exercício físico que não apenas aspirar e arrumar a casa, sem nunca conseguir tempo para tal. Eis que um vizinho rabugento me oferece precisamente a oportunidade procurada!
Juntos, os cães e eu, demos as boas vindas à Primavera, nos campos em redor - eu com os olhos postos nas flores, nas ervas e nas nuvens, eles com os olhos postos nas lagartixas... Juntos, os cães e eu, descobrimos que as ovelhas tinham parido, e que os cordeirinhos se divertiam a saltitar nas quintas... E o engraçado é que continuo a ter tempo para arrumar a casa, tempo para preparar as minhas aulas e tempo (pouco, muito pouco) para escrever neste blogue.
Vinte a trinta minutos de contemplação são naturalmente vinte a trinta minutos de oração. Sozinha com os cães, pelos campos ao redor da minha casa, eu vou conversando com o Senhor, partilhando tudo com Ele - "Nós, Jesus"... Como já referi várias vezes, gosto especialmente de rezar em voz alta, louvando, cantando, rindo ou chorando, suplicando, agradecendo... As ovelhas, as lagartixas, os passarinhos e os cães não parecem achar que seja maluca ao falar assim "sozinha", e por isso aproveito o passeio para dar asas ao meu coração. Regresso a casa saciada, em profunda comunhão com Deus e toda a sua Criação.
Ao fim do dia e ao fim-de-semana, os passeios são feitos em família. Os cães trouxeram-nos novas oportunidades para passearmos juntos, para observar a natureza, para nos divertirmos em conjunto. Que bom!
E até a avó parece ter tomado o gosto pela passeata! Ora digam lá se não lhe fica bem?!
Senhor, Deus das surpresas, Deus que até do mal és capaz de retirar o bem, ensina-me a arte de tudo agradecer, bom e mau, na minha vida! Hoje, pequenos detalhes de falta de tempo ou de excesso de trabalho; amanhã, um problema mesmo a sério... Tudo, tudo concorre para o meu bem, como disse a jovem Chiara Badano: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero!" Ámen.
Uma das maiores alegrias que experimentamos no nosso apostolado é o nascimento de novas Famílias de Caná. Não imaginam como nos pula o coração cá dentro quando recebemos um mail, geralmente depois de um retiro, com a notícia: "Queremos ser Família de Caná..." Nesses dias, fazemos uma verdadeira festa durante a oração familiar! Na verdade, as Famílias de Caná, tal como a Igreja, existem por causa das Palavras de Jesus Ressuscitado:
"Ide e fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado." (Mt 28, 19-20)
Quando alguma destas Famílias de Caná decide começar a escrever um blogue, festejamos a duplicar... Ora ultimamente surgiram dois novos blogues, que temos a alegria de vos dar a conhecer. O primeiro é o blogue da Família Sécio de Almeida, que fez o primeiro retiro Famílias de Caná em Almada, no dia 20 de setembro de 2014. Esta família tem uma linda história para contar, uma história de dor e de alegria, na doença e na saúde... Espreitem, que vale a pena!
O segundo é o blogue da Família Vieira, que fez o retiro Famílias de Caná em Lordelo, no dia 6 de março. Ao longo de todo o retiro, não pude deixar de reparar no brilho nos olhos do pai Marco, que cheio de entusiasmo, cantava, sorria, acenava com a cabeça. Não foi surpresa quando, no dia seguinte, me escreveu contando a sua decisão de se tornarem Família de Caná... A surpresa foi o nascimento deste blogue, que nos encheu de alegria. Visitem-no!
Mas há mais novidades aí do vosso lado: no retiro na Quinta do Conde, no dia 27 de setembro de 2015, conheci uma família linda, de Caldas da Rainha. A Joana já seguia o blogue diariamente quase desde o seu início, e apesar de não ser católica, estava cheia de vontade de nos conhecer. Pouco depois deste nosso encontro, a Joana escreveu-me a dizer que estava a preparar-se para o batismo. Eis a grande novidade: nesta Páscoa, a Joana foi batizada na Vigília Pascal, e no Domingo de Páscoa, recebeu o sacramento do matrimónio antes dos seus dois filhos serem também batizados. Haverá coisa mais bonita, neste Jubileu da Misericórdia? Convido-vos a todos a dar graças ao Senhor com ela, com a sua família, connosco... Afinal, nós e vós, leitores fiéis deste blogue, já formamos uma bela família, não é verdade? Alegremo-nos e rejubilemos juntos!
Ah, antes de terminar o post de hoje... Não, nesta Páscoa não celebrámos com ovos e coelhinhos, mas com... Bem, com... Vejam vocês mesmos:
Aceitam-se encomendas :)
Uma Santa Páscoa para todos! Aleluia! Aleluia!
- Meninos, depressa, saltem da cama! Já se ouvem os sinos! Depressa!
Os mais novos já estão a pé, mas os mais velhos, que vieram da Vigília Pascal de madrugada, ainda esfregam os olhos com sono. Isto da hora adiantar na manhã de Páscoa não está certo!
Ou estará? Afinal, a Páscoa judaica era uma refeição apressada, como nos conta o Livro do Êxodo:
"Comê-la-eis desta maneira: os rins cingidos e o cajado na mão. Comê-la-eis à pressa. É a Páscoa em honra do Senhor." (Ex 12, 11)
Uma das mensagens que me ficou do vídeo-testemunho dos cristãos perseguidos foi mesmo a pressa - a pressa com que os cristãos perseguidos se santificam, sabendo que a morte os espreita a cada esquina; a pressa com que o cristianismo precisa de ser vivido, se o quisermos viver a sério... A pressa que levou Maria a casa de Isabel, a pressa que levou as santas mulheres ao sepulcro ao romper da aurora, a pressa que fez João e Pedro correr ao despique à notícia da ressurreição. A mensagem do Evangelho não espera. Se a quisermos viver, tem de ser agora, tem de ser com intensidade, tem de ser com pressa.
Os meus filhos saltaram da cama, bocejando, vestiram-se rapidamente e correram para a porta da casa. A cruz do Senhor surgiu no horizonte e, juntos, começámos a entoar aleluias jubilosos...
Que a Páscoa do Senhor nos encontre com os rins cingidos e o cajado na mão!
Que a Páscoa do Senhor nos tire da cama dos nossos confortos e nos lance na rua, para cantarmos aleluias junto dos irmãos!
Que a Páscoa do Senhor nos faça partir em missão, jubilosos, cheios de santa pressa, como testemunhas da Vida e do Amor!
Aleluia! Aleluia!
Chegou, finalmente, a noite mais santa do ano! O Senhor Jesus ressuscitou, tal como havia prometido, e precede-nos a caminho de Casa! Cantemos aleluias sem fim, exultemos de alegria e festejemos!
Ao fim da tarde, à lareira, conto aos mais novos as histórias das leituras bíblicas desta noite santa, e que os mais velhos irão escutar pela noite dentro, na Vigília Pascal. Uma pequena Bíblia ilustrada fornece-nos as imagens, e todos recordam as histórias já bem conhecidas: A Criação do Mundo, Abraão, Moisés... Por fim, contamos com entusiasmo a história da ressurreição. Que maravilha!
- Agora conto eu, mamã - Diz-me a Sara, tirando-me a Bíblia ilustrada das mãos e sentando-se num banquinho. É a minha vez de escutar com atenção!
Entretanto, o Canto de Oração vestiu-se de festa: é a Páscoa do Senhor!
Depois de jantar, reunimo-nos para fazer a nossa "vigília pascal caseira", como todos os anos. Os meninos apressam-se a ir buscar as suas velas batismais e acendem-nas à entrada da sala, para a nossa breve procissão.
De pé, cantando aleluias, levantamos bem alto as velas acesas dos nossos batismos. A luz que um dia se acendeu dentro de nós ilumina a noite, ilumina a vida, ilumina o mundo...
Há sempre muita competição para ver quem segura a vela do batismo do Tomás!
Depois, ajoelhados, fazemos a Novena da Divina Misericórdia, com especial empenho neste Ano Santo.
O Niall e os mais velhos saem para a Vigília Pascal. Os quatro mais novos vão para a cama, e em breve dormem a sono solto, cansados das longas noites da Semana Santa e da muita brincadeira com os primos. A casa fica mergulhada em silêncio...
O silêncio do túmulo vazio.
"Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!" (Lc 24, 5)
Amanhã de manhã - muito, muito cedo - acordaremos com o repicar dos sinos, anunciando a visita pascal, que começa às nove horas no início da rua, praticamente em nossa casa. Sim, Ele ressuscitou, não podemos ficar a dormir! Anunciemos por todo o mundo que Ele está vivo, que Ele nos dá a Vida, que n'Ele vivemos para sempre!
Uma Santa Páscoa para todos, todos vós! Aleluia! Aleluia!
Ontem à noite, pela primeira vez desde que vivemos em Mogofores, a Via Sacra começou à porta da nossa casa. Ena, o entusiasmo com que preparámos tudo ao longo do dia! Haverá maior honra do que fazer parte deste Caminho da Cruz, com a nossa família, com a nossa porta santificada pelo Sangue de Cristo?
Durante a tarde, o Francisco pintou de branco o crucifixo das Famílias de Caná, aquele primeiro, feito pelos jovens no dia da Exaltação da Santa Cruz, e que costumamos venerar na nossa Via Sacra "caseira":
Depois de jantar, reunimos ideias e preparámos a rua em frente da nossa casa:
E a Via Sacra começou...
Como é belo caminhar de noite, à luz das velas, pelas ruas da nossa terra, contemplando o ato de amor mais poderoso da História, ao ritmo dos nossos pequenos passos, ao som das nossas simples orações, às portas das nossas pobres casas... portas que Ele vai santificando com o seu Sangue!
Neste Ano Santo da Misericórdia, e por uma coincidência que só Deus consegue fazer acontecer, a morte de Jesus na Cruz celebra-se, no tempo, no dia da sua Encarnação no seio puríssimo da Virgem Maria. Não é magnífico? 25 de março, nove meses exatos para o Natal. A solenidade da Encarnação foi transferida para depois da Páscoa, mas não podemos deixar de celebrar esta feliz coincidência! Na sua misericórdia infinita - e não tenho qualquer dúvida de que não o fez por acaso -, Deus uniu num só os dois mistérios da nossa salvação. Na verdade, a Encarnação nunca teve outro horizonte senão a Paixão, uma e outra culminando na Ressurreição triunfante amanhã, Domingo de Páscoa. Na Encarnação, Maria tornou-se Mãe de Jesus; na Paixão, tornou-se nossa Mãe. Na Encarnação, Jesus assumiu a nossa condição humana; na Paixão, redimiu-a.
S. Paulo também celebra estes dois mistérios num só, fazendo-os culminar na vitória da Ressurreição, no seu hino cristológico na Carta aos Filipenses:
"Cristo, que era de condição divina,
não se valeu da sua igualdade com Deus,
mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo.
Aparecendo como homem,
rebaixou-se ainda mais,
tornando-se obediente até à morte,
e morte de Cruz!
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes
para que ao nome de Jesus
todos se ajoelhem nos céus, na terra e nos infernos
e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor
para glória de Deus Pai!"
(Fl 3, 6-11)
Se cada uma destas celebrações - a Encarnação e a Paixão - nos abre de par em par a Porta Santa do Céu, imagine-se as duas unidas! A mim, nesta noite santíssima em que, pelas ruas da minha terra, acompanhámos Jesus ao Calvário, pareceu-me que o céu inteiro se derramava em bênçãos sobre nós...
Estes dias são dias de silêncio, do grande silêncio da contemplação da Cruz. Uma contemplação amorosa, apaixonada, cheia de gratidão.
Permitam-me contudo que partilhe convosco um vídeo-testemunho. Não quero quebrar o vosso silêncio - apenas perturbá-lo um pouco... Meditar na Cruz do Senhor é também meditar na Cruz dos nossos irmãos cristãos perseguidos no mundo inteiro, especialmente na Síria; e meditar na forma como nós, cristãos ocidentais, vivemos ou não a radicalidade do Evangelho.
Este vídeo-testemunho tem a duração de quarenta e cinco minutos. Ora eu nunca tenho quarenta e cinco minutos seguidos para fazer o que quer que seja, pelo que adiei a visionamento deste vídeo até ao serão de ontem, apesar de mo ter sido enviado pela Paula Lopes, de Barcelos, há já algum tempo. Finalmente decidi vê-lo enquanto passava a ferro, depois dos mais novos estarem a dormir. Mais ou menos a meio do vídeo, desliguei o ferro e perdi a noção do que se passava à minha volta...
Aconselho-vos vivamente a encontrar quarenta e cinco minutos, nestes dias de contemplação da Cruz. Vejam até ao fim, pois a irmã Guadalupe não vai falar apenas de quem vive lá longe - longe da vista e infelizmente longe do coração - na Síria, mas de cada um de nós, cristãos, que vivemos de uma forma paradoxal: vivemos com pacatez aquilo que só se pode viver com radicalidade. Porque o Evangelho, como bem diz a irmã, é o mesmo ontem, hoje e amanhã, o mesmo na Síria e o mesmo em Portugal; e o que os nossos irmãos vivem na Síria é uma realidade bem velhinha, profetizada e realizada por Jesus:
"Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós."
(Jo 15, 20)
Vejam o vídeo como quem reza, como quem contempla a Cruz do Senhor, essa Cruz que só nos salva se nos ajoelharmos diante dela e nos deixarmos salpicar pelos rios de sangue que dela correm...
Amanhã, Sexta-feira Santa, tem início a Novena da Divina Misericórdia. Façam-na connosco!
- Sabes, mãe, uma coisa que me acontece? Não suporto filmes violentos, e à vista de sangue quase que desmaio. Mas quando é o sangue de Jesus, parece que é diferente... Não me custa contemplar!
- Sim, Clarinha, é natural... O sangue de Jesus é a nossa salvação, não é verdade?
- Comigo também acontece assim! Quando penso no sangue de Jesus sinto-me bem, e não tenho medo.
- Claro, David... Jesus deu a vida por nós, e contemplar a sua entrega na Cruz traz-nos paz, não agitação.
- Na catequese, o João e a Isabel levaram uma coroa de espinhos. Os espinhos são os pecados.
- A coroa estava linda, Lúcia!
- Coitadinho de Jesus! Com uma coroa assim na cabeça!
- E pensar que continuamos a magoar Jesus, todos os dias, com os nossos pecados...
- Achamos que são espinhos pequenos, que não valem nada, mas ai! Os espinhos magoam tanto! Mesmo os pequenos!
- Quando nos picamos num pequeno pico ficamos logo aflitos. O que o nosso pecado faz a Jesus...
"Foi ferido por causa dos nossos pecados. O castigo que nos salva caiu sobre Ele. Pelas suas chagas fomos curados." (Is 53, 5)
- Já ouviste a canção da Danielle Rose "Crown of Thorns"?
- Tu estás sempre a cantá-la e a tocá-la na guitarra, Clarinha! Acho que já todos ouvimos cá em casa!
- A primeira vez que a escutei fartei-me de chorar...
Deixo-vos com a canção da Danielle Rose, esta maravilhosa cantora católica norte-americana:
- Acordem, meninos, depressa! Já está na hora! Temos de ir para Braga!
Não é fácil, ao sábado, acordar às seis e um quarto da manhã... Os meninos esfregam os olhos e voltam-se na cama:
- Só mais cinco minutos!
Uma hora mais tarde, no carro, rezamos o terço, e pedimos a intercessão de S. José, nesta sua solenidade, para o dia que temos diante de nós. Será a nossa primeira Missão Stop, e precisamos que todos os anjos e os santos nos acompanhem!
A ideia desta missão surgiu no dia em que o padre Pedro Boléo Tomé, sacerdote da Opus Dei, em Braga, foi convidado para orientar um retiro para jovens crismandos de duas paróquias da região. Há já algum tempo que nós partilhávamos com o padre Pedro a vontade de realizar uma Missão Stop, onde pudéssemos dar testemunho da nossa vocação conjugal e familiar a partir de uma abordagem da Teologia do Corpo, que S. João Paulo II tão bem desenvolveu e que o padre Pedro conhece em profundidade. Assim, o padre Pedro lembrou-se de convidar a Família Power para o ajudar neste retiro, e nós aceitámos com imensa alegria.
- Quem consegue ver primeiro o Sameiro?
- Onde? Onde?
- No cimo do monte? Ah, já estou a ver!
- É aquela cúpula? Que lindo!
O retiro tem lugar na Casa das Irmãs da Sagrada Família, no Sameiro, mesmo por detrás da Basílica. Quando Nossa Senhora escolhe assim lugares privilegiados para os nossos retiros, não consigo evitar a comoção. Que ternura maternal para connosco, chamar-nos à sua Casa na montanha! A chuva cai em abundância quando chegamos ao Sameiro, mas decidimos ali mesmo visitar a Basílica, atravessando a sua Porta Santa, no final do dia, de regresso a casa.
E o retiro começa...
Quarenta jovens. Alguns receios. Alguma resistência. Alguns telemóveis bastante ocupados com trocas de mensagens...
Quarenta pares de olhos que, pouco a pouco, se vão iluminando. Quarenta rostos que, pouco a pouco, se vão abrindo em sorrisos partilhados. Quarenta pares de mãos que, pouco a pouco, vão abandonando os telemóveis para se erguerem em cânticos de louvor e para aplaudir o Senhor...
O padre Pedro fala-nos ao coração e, com uma humildade e uma simplicidade cativantes, explica-nos como a Lei que Deus inscreveu nos nossos genes é perfeitamente inteligível à razão daqueles que buscam a felicidade. Com vídeos e histórias, desafia-nos a buscar o belo amor, o amor que, como o de Jesus, dá a vida pelo outro.
O Niall e eu partilhamos a nossa história desde os tempos de namoro. Foi engraçado, para mim, vasculhar nos albuns antigos, nos meus diários espirituais, na caixa em que guardo as cartas diárias do Niall durante os três anos de namoro... Ena, tantas memórias recuperadas! É giro partilhar histórias e memórias, lágrimas e gargalhadas...
O Francisco, com a sua magia evangelizadora, e o Niall, com os seus jogos divertidos, animam os momentos entre ensinamentos, permitindo a todos libertar a tensão e criar laços.
A Eucaristia é de festa: hoje, solenidade de S. José, Dia do Pai, partilhamos o testemunho grandioso de alguém que soube amar até dar a vida, em cada dia, por Maria e Jesus.
A adoração, os cânticos, o terço que vamos meditando, tudo nos ajuda a baixar as defesas e a aproximar-nos uns dos outros.
"Escrevo-vos, jovens, porque sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno." (1Jo 2, 14)
(Reparem ao fundo... Parece que anda alguém a subir aos telhados...)
(Ilusionismo... e Bíblia?)
(Que se passa com os sapatos de toda a gente? Será algum jogo maluco?...)
O retiro chega ao fim. Os jovens estão contentes e trauteiam as canções aprendidas. Chegou a hora de irmos visitar a Mãe, na sua Casa do Sameiro, como prometido. O padre Pedro acompanha-nos.
A chuva cai de mansinho, as cores do poente espreitam por entre as gotas de chuva, os sinos tocam a repique enchendo o ar de som. Tocam tão alto, que quase temos de gritar para nos fazermos ouvir. É estonteante.
De repente, os sinos calam-se. E a majestade silenciosa da montanha domina sobre tudo.
Como é bom contemplar a Criação ali, na Casa da Mãe! Felizes, os meninos sobem e descem a grandiosa escadaria. Depois entramos juntos na Basílica e saudamos Maria, que nos acolhe com o seu sorriso materno...
- Mãe, tens de me ajudar a desenhar coelhos.
- Sim, Lúcia, ajudo, mas para quê?
Estamos no carro, a caminho de casa, e os meninos atropelam-se para falar e contar as novidades do seu dia de escola.
- Porque o trabalho de casa é fazer um desenho sobre a Páscoa.
- E o que é que a Páscoa tem a ver com os coelhos? Não entendo, Lúcia! - Digo, fingindo-me realmente surpreendida.
- Ora, na Páscoa há coelhinhos que põem ovos de chocolate!
- Que tolice! Tu não sabes que os coelhos são mamíferos? - Pergunta o David, abanando a cabeça em jeito de censura.
- Lúcia, a Páscoa é a maior festa dos cristãos, a festa da morte e da ressurreição de Jesus. Por que não fazes tu um desenho lindo sobre a Cruz de Jesus?
- Tenho vergonha.
- Vergonha? Mas vergonha de quê?
- Vergonha que os meus amigos se riam quando eu apresentar o desenho à turma. Eles vão todos desenhar coelhos...
- Isso é que é tolice! A cruz de Jesus é muito mais bonita - Atalha a Clarinha, divertida com a conversa. - Os teus amigos fazem coelhos e ovos porque se estão a referir à festa da Primavera, não à festa da Páscoa. Como a Páscoa se celebra na Primavera, às vezes as pessoas confundem as duas coisas.
- Ah!
- Lúcia, a vida passa muito depressa, sabes? - O David parece um pequeno padre pregador, e nós escutamo-lo com gosto - O que conta mesmo é a vida eterna. E a vida eterna demora muito, muito! Nunca acaba. Se desenhares coelhos, isso não vai valer nada para a tua vida eterna. E nessa altura nem te vais lembrar de teres passado ou não vergonha! Jesus disse qualquer coisa sobre sermos capazes de falar dele... Como é mesmo a frase, mãe?
- A frase é do Evangelho. Diz assim:
"Todo aquele que se declarar por Mim, diante dos homens, também Me declararei por ele diante de meu Pai que está no céu. Mas aquele que Me negar diante dos homens, também o hei de negar diante de meu Pai que está no céu." (Mt 10, 32-33)
Chegamos a casa. A Lúcia dá-me um grande abraço e senta-se na mesa da sala, a fazer o seu desenho enquanto eu, a seu lado, escrevo este mesmo post. Terminamos quase ao mesmo tempo.
- Lúcia, não guardes sem antes eu fazer uma digitalização, sim? Vou mostrar o teu desenho no blogue...
Guardamos as duas o nosso trabalho. Amanhã, a Lúcia dará testemunho da Cruz do Senhor. Agora, se nos permitem, vamos brincar para o jardim!
- Niall, estive a fazer uma pesquisa na net sobre a Meriam Ibrahim. O livro que me ofereceste não conta senão os detalhes que já conhecia dela, e deixou-me bastante intrigada.
- E que descobriste tu? Adivinho que encontraste a resposta que procuravas. Anda, conta lá!
- Adivinhaste bem. Descobri que a Meriam está muito desgostosa com a pressa que todos têm em escrever sobre ela. Diz que não entende como é que jornalistas e produtores de cinema querem escrever e, inclusive, fazer um filme sobre a sua história, quando ela ainda a não contou...
- Não contou?
- Não. Ela diz que 75 por cento da história ainda está escondida no seu coração, e que portanto, quem escreve a história antes dela a contar, está a escrever baseado nos 25 por cento de informação que passou nos meios de comunicação social.
- Imagino... Imagino a dor que sente!
- A traição. Perceber que falam e escrevem do que não sabem para serem os primeiros a ganhar com a história... A jornalista que escreveu o livro que tu me ofereceste soube dar a volta à questão, porque essa jornalista não narra a história de Meriam Ibrahim, mas a sua própria participação em todo o processo de libertação. Mas Meriam insiste que tem o direito a contar a sua própria história.
- Tem toda a razão!
- Ela diz que no Sudão foi condenada à morte com base em falsas informações, sem nunca ter sido ouvida; e agora, nos E.U.A., sente-se de novo como que condenada à morte, ao ver livros e filmes surgirem sobre ela - sem nunca ter sido ouvida! É quase irónico...
Ficamos um bocado em silêncio. Depois o Niall continua:
- Sabes, Teresa, tudo isto faz-me pensar na forma como as pessoas falam umas das outras. Com que facilidade julgamos os outros a partir de informação que ouvimos, que lemos por alto, que outros inventaram e espalharam...
- Sim, é um perigo enorme. Tenho para mim que os pecados de maledicência e murmuração são dos pecados mais graves que podemos cometer. E tenho sempre muito receio de cair neles!
- É fácil cair neles. Quantas vezes, no meio de uma conversa, insinuamos alguma coisa sobre alguém, por meias palavras... O nosso interlocutor, por sua vez, irá contar essa nossa impressão a outra pessoa, e talvez use palavras que não usámos... Ás vezes basta uma troca de olhares, um sorriso malicioso, um acenar com a cabeça, e pecamos gravemente.
- A Palavra de Deus é muito clara. Quantas advertências, na Bíblia, contra a maledicência e a murmuração! S. Tiago dedica um capítulo inteiro da sua carta ao assunto. Nós costumamos pensar que os primeiros cristãos eram comunidades modelo, mas a única comunidade modelo foi a casa de Jesus, Maria e José. As primeiras comunidades tinham os seus problemas, e segundo S. Tiago, a maledicência era um deles.
- Tal como as nossas comunidades paroquiais hoje em dia... Em todos os tempos! É tão fácil falar dos que se expõem um bocadinho mais, dos que têm maior visibilidade... Jesus é muito paciente, mas deve ficar muito triste.
- Escuta o que diz S. Tiago:
"Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta! Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que contamina todo o corpo e, inflamada pelo inferno, incendeia o curso da nossa existência." (Tg 3, 5-6)
- Bem, a verdade é que nós próprios já fomos vítimas destas labaredas destruidoras... Uma pessoa acende um pequeno fósforo, e quando damos conta, o incêndio já não é controlável. Era bom se a vida tivesse, como os blogues, uma aplicação para "moderação de comentários"!
- Mas não tem. Não foi assim com Jesus também? Não foi Ele condenado à morte com base em falsos testemunhos? E traído de morte por um dos seus amigos?
- De facto, o discípulo não é maior que o Mestre... Meriam Ibrahim sobreviveu à forca, sobreviverá também a esta guerra de palavras, que tanto a procuram exaltar, como humilhar, tanto inventam para o mal, como para o bem. Vou continuar a esperar que conte a sua história, ela mesma, e nos maravilhe com o seu testemunho. Todos temos a aprender com ela.
- Aguardemos então pelo seu próprio livro!
- Olha, queres ver o vídeo que eu encontrei de uma entrevista com a Meriam? Ela é lindíssima, e as suas palavras são verdadeiramente tocantes. Explica na entrevista que a parte conhecida da sua história são apenas os últimos minutos... Diz que vai dedicar o resto da vida a ajudar cristãos perseguidos, e simplesmente a cumprir a vontade de Deus. Se Ele quiser, voltará ao Sudão. O sofrimento, diz ela, fortaleceu a sua fé em Jesus. Nunca se perguntou: "Porquê eu?" Sabe que a dor é um teste, e que Deus nunca, nunca nos deixa sós. E agora a sua vida é uma verdadeira missão. Vê! Vou mostrar-te...
Vejam vocês também connosco, ou leiam a reportagem aqui! O inglês utilizado é simples e acessível. Reconhecemos uma testemunha de Cristo quando nos cruzamos com ela. Meriam é, sem qualquer dúvida, uma testemunha de Cristo, luminosa e bela...