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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No domingo passado fizemos um passeio em família às Grutas da Moeda, a dois quilómetros de Fátima. Naturalmente que antes, cumprimentámos Nossa Senhora no seu Santuário!
A Lúcia e o António iam com algum receio:
- Vamos andar debaixo da terra? E há lá minhocas?
- Não, Lúcia, são buracos muito grandes por isso há lá toupeiras. Há lá toupeiras, mamã?
- Não, António, nem minhocas nem toupeiras!
- Então só há moedas?
- Moedas?
- Não disseste que são grutas de moedas?
- Bem, moedas é capaz de haver. Depois tu vês!
Mas quando o António e a Lúcia chegaram às grutas e descobriram que podiam descer em pé, em túneis iluminados e de mão dada com o pai e a mãe, o medo dissipou-se!
Visitámos uma sala conhecida por "Sala do Presépio", dada a semelhança das figuras do presépio com as estalactites:
E vimos um crocodilo com muitos milhares de anos, ali no meio de um lago subterrâneo, onde realmente não faltavam moedas:
Vimos colunas com trinta mil anos, e descobrimos que cada centímetro de estalactite ou estalagmite leva cem anos a formar...
- Não sabia que debaixo de terra podia haver uma coisa assim! - Exclamava a Lúcia, de mão na minha mão.
- É verdade, Lúcia, lá em cima só vemos chão, e quando descemos um pouco, descobrimos esta maravilha!
Entretanto, o guia explicava-nos:
- Estas grutas foram encontradas por acaso, por dois caçadores em 1970 que perseguiam uma raposa...
Quando Samuel foi ungir David Rei de Israel, Jessé apresentou-lhe os seus sete filhos, antes de finalmente chamar o mais novo, o pastorinho. Enquanto via desfilar diante de si cada um destes filhos, Samuel escutava no seu coração a voz do Senhor:
"Que não te impressione o seu belo aspeto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração." (1Sm 16, 7)
Finalmente, Samuel viu David, ainda com cheiro a ovelha, despenteado e pequeno. E logo o Senhor lhe sussurrou:
"Ei-lo, unge-o: é esse." (1Sm 16, 12)
Dentro de cada um de nós, sob a roupagem do nosso corpo, da nossa vida, das nossas rotinas e ocupações, existe uma gruta que só Deus conhece e só Deus sabe construir.
Dentro da História Universal, sob a roupagem dos acontecimentos, das guerras, dos acordos, das épocas, das artes e das ciências, o Reino de Deus vai crescendo em segredo. E se a História se mede em horas, anos e séculos, o Reino de Deus, como as Grutas da Moeda, mede-se numa unidade cronológica diferente - que nem sequer é uma unidade geológica ou astronómica, mas antes divina...
"Mil anos, diante de Ti, são como o dia de ontem, que passou."
(Sl 90/89)
Quaresma é tempo de desviar um pouco o olhar do exterior e de o concentrar no interior, nas grutas belíssimas que só o Senhor sabe fazer, em nós, nos outros, no mundo e na História. Quaresma é tempo de trabalhar na Catedral divina que Deus quer construir na nossa vida.
Não podemos encontrar estas grutas enquanto não descermos. Quaresma é também tempo de descer... Tempo de nos humilharmos diante do Senhor, descobrindo o nada que somos, o pecado que fizemos, e o Tudo que Ele é. E a escada perfeita para entrar nesta gruta divina é o sacramento do Perdão.
Quaresma é tempo de esperança. Um centímetro a cada cem anos, e as grutas estão aí, belas, imponentes, deslumbrantes. Contra todas as aparências e as previsões, também a nossa história pessoal e a História do mundo serão um dia uma bela gruta, ricamente trabalhada para glória de Deus... Acreditamos nisto?
Gritaria maluca. A Clarinha espreita à porta do quarto:
- Mãe, manda-os calar, que assim não posso estudar!
O David choraminga, olhando para os livros:
- Ainda me falta taaaaaanto TPC!
A Lúcia mostra-me orgulhosamente um desenho, onde escreveu por baixo da gravura:
"Doo Mie"
- O que é que escreveste, Lúcia? - Pergunto, também eu quase aos gritos para me fazer ouvir sobre o gritaria que continua a chegar da sala:
- Não consegues ler? Escrevi: "Vovó Mimé"!
- Ah, voltaste a trocar o D e o V, e também te esqueceste de algumas letras, mas o desenho está lindo. Depois ajudo-te a escrever bem, agora tenho de ir ver o que se passa na sala.
Entro na sala um pouco precipitadamente, a tempo de ver a Sara a sair de debaixo da mesa e o António a saltar do sofá. E depois, para meu grande espanto, a Sara coloca-se em sentido e diz muito depressa:
- Não fui eu!
Uma pronúncia perfeita, e uma expressão de inocência mais perfeita ainda, ambas francamente chocantes (e hilariantes...) numa menina de dois aninhos... No chão, um copo partido.
No primeiro diálogo entre os seres humanos e Deus na Bíblia, já surgem explícitas estas palavras: "Não fui eu." É com elas que Adão se defende, acusando Eva, que por sua vez as volta a usar para acusar a serpente. "Não fui eu." E no entanto, bastava ambos terem admitido o seu pecado, chamá-lo pelo nome e confessá-lo ao Senhor, que os visitava, para tudo ser perdoado...
Ao longo de toda a Bíblia, apercebemo-nos do esforço de Deus para nos ajudar a confessar o nosso pecado. Parece ser este o ponto chave da conversão! A grande maioria dos cristãos ainda está convencida de que a confissão foi inventada pela Igreja Católica. Na verdade, embora o seu carácter sacramental pertença ao catolicismo, o acto de confessar os nossos pecados pertence à mais antiga tradição de Israel. Lemos no Livro do Levítico:
"Quando alguém é culpado de um destes delitos, deve confessar em que pecou; depois, apresentará ao Senhor, como reparação pelo pecado que cometeu, uma femea de gado miúdo, uma ovelha ou uma cabra, em sacrifício pelo pecado; e o sacerdote fará por ele o rito da expiação do seu pecado." (Lv 5, 5-6)
Scott Hahn, um autor católico convertido do protestantismo e com um conhecimento bíblico ímpar, faz esta descrição no seu livro Lord, Have Mercy (tradução minha):
"Imagine-se o leitor, no Antigo Israel, depois de reconhecer que pecou, preparando-se para fazer a sua confissão e o seu sacrifício. Primeiro era preciso preparar a viagem, talvez de alguns dias a pé ou a cavalo, nas ruas poeirentas e acidentadas infestadas de bandidos e animais selvagens, a caminho de Jerusalém. Consigo tinha de levar uma ovelha, uma cabra, ou até um touro. Claro que primeiro tinha de o dominar. A sua penitência estaria apenas no início. Em Jerusalém, teria de levar o animal até ao Templo. Depois, em frente do altar, pegar numa faca e matá-lo - sim, você mesmo. Teria de o cortar e preparar, separando as várias partes, retirando o sangue e oferecer tudo, peça a peça, ao sacerdote. Tudo isto fazia da confissão um gesto que o pecador nunca mais esqueceria. Comparados com estes actos do Antigo Israel, os nossos rituais são bastante monótonos..."
Como em relação a todos os rituais, Jesus simplificou a forma, enquanto elevava o significado do gesto até ao expoente máximo da graça divina. Hoje, como ontem, precisamos de "dominar o animal" que habita em nós, praticando a humildade; precisamos de nos aproximar de um sacerdote, caminhando pelas estradas poeirentas do nosso orgulho e do nosso preconceito; precisamos de nos ajoelhar e de contar, um a um, os nossos pecados, como quem corta um touro em pedaços pequenos; precisamos de os chamar pelo nome, aguentando firmes a vergonha e pedindo por eles perdão. O resto - oh, o resto - é o poder do sangue de Jesus, e já não do sangue de nenhum animal, inundando e transformando toda a nossa vida...
"Não fui eu!" Gritam os nossos instintos mais primitivos. Sim, fui eu. "Pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, actos e omissões. Por minha culpa, minha tão grande culpa..."
Que o Senhor nos ajude a confessar o nosso pecado, para podermos abrir o coração ao seu perdão infinito e transformar a nossa vida! Ámen.
(Dominando um animal...)
Os meus filhos mais novos adoram brincar às escondidas. Mas enquanto o David, a Lúcia e o António procuram lugares onde se esconder, a Sara tem uma técnica muito mais simples: tapando os olhos com as mãos, deixa de me ver, concluindo do alto dos seus dois aninhos que consequentemente, eu também deixo de a ver. Assim, ela grita como os irmãos:
- "Já está!"
E fica calmamente à espera, de olhos bem tapados, enquanto eu percorro o jardim à procura dos irmãos.
Outro dia, durante a brincadeira, recordei-me de Adão e Eva, também eles escondidos de Deus num jardim:
"Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim. Mas o Senhor chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?»" (Gen 3, 8-9)
Adão e Eva eram mais velhos do que a Sara, mas ainda assim, pensaram que Deus não os conseguia ver porque eles não O conseguiam ver a Ele.
O Papa Francisco conta com frequência a história da sua avó, da forma como a sua avó o ensinou a viver na presença de Deus, repetindo-lhe constantemente: "Olha que Deus te vê." E eu penso cá para comigo que, se estivessemos sempre conscientes de que Deus nos vê, não pecaríamos tanto!
Na verdade, Deus contempla-nos continuamente com um olhar de amor, e vigia cada um dos nossos passos. Podemos esconder-nos sob a folhagem da vida, como Adão e Eva, ou simplesmente tapar os olhos, como a Sara, mas mesmo assim, continuamos presentes diante do seu olhar. Aliás, foi neste olhar que começámos a existir e a ser amados, antes ainda da Criação do mundo, é neste olhar que iremos viver até ao fim, e é neste olhar que iremos ser julgados um dia.
Hoje assistimos a uma crescente necessidade das pessoas exporem as suas vidas ao olhar do mundo, através de "reality shows" e concursos, onde se procura brilhar e conquistar a fama à custa do nada, à custa das intrigas da vida, ou à custa dos talentos de cada um. Ao mesmo tempo, cresce o medo deste olhar divino. No entanto, este olhar é o único que nos pode curar e libertar, porque não é um olhar interesseiro, intriguista ou curioso, mas um olhar profundamente amoroso.
Eu não conheço melhor forma de tirar as mãos dos olhos e expor a minha vida e o meu coração ao olhar amoroso do Senhor do que o sacramento da confissão. Ali, sou convidada, como Adão e Eva foram (e recusaram), a confessar um a um os meus pecados, e a fazê-lo na minha individualidade, a sós diante de Deus, representado no sacerdote. Ele já conhece o meu pecado, sim, como eu também sei onde a Sara se esconde... Mas eu preciso de destapar os olhos para enfrentar o seu olhar e acolher o seu amor! Então, como o Rei David cantou no salmo 50, redescubro a alegria da salvação...
Como tinha dito aqui, decidi marcar um dia para o senhor padre nos atender a todos em confissão. Assim, ontem à tarde lá foi a família Power até ao Santuário. Apenas o Niall não esteve presente, pois já está a trabalhar. Terá de marcar outra hora!
Antes de sairmos, recordei com a Lúcia o que estava prestes a acontecer:
- Hoje é um grande dia, não é verdade, Lúcia?
- Sim, vou confessar-me - Respondeu ela solenemente.
- E tu lembras-te de algum disparate que tenhas feito e que tenha causado tristeza a Jesus?
- Acho que Jesus não gostou quando eu espetei as unhas no braço do António. E acho que também não gostou quando eu tirei os legos ao David.
- Sim, não deve ter gostado. Queres que te ajude a lembrar de mais algumas coisas?
- Sim!
- Vamos lá ver... Se calhar já disseste algumas mentiras, não? E nem sempre obedeces à mamã...
- Pois é.
- E então o que é que vai acontecer na confissão?
- Vou falar com o senhor padre, mas não é bem com o senhor padre. É com Jesus!
- Isso mesmo! Durante a confissão, o senhor padre representa Jesus para nós. Porque Jesus quer que a gente escute a sua Palavra de perdão! Ele quer que a gente escute mesmo aquela Palavra tão bonita: "Vai em paz, que os teus pecados estão perdoados."
- É então que acontece a festa?
- Sim, logo que os teus pecados, os teus disparates, ficam perdoados, começa a festa! A tua alma fica mais brilhante do que o sol, tão bonita como no dia do teu baptismo.
- Posso levar o meu vestido mais lindo?
- Claro! Quero que vás muito bonita. E penteia o cabelo!
- Mamã, o Tomás também está na festa?
- Sim, está o Tomás, está o teu anjo da guarda, e estão todos os santos do céu! Quando alguém confessa os seus pecados e pede perdão a Jesus, Jesus fica tão feliz que todo o céu entra em festa! O que Jesus mais gosta de fazer é perdoar os pecados. A confissão é uma das mais belas festas do céu!
A Lúcia sorriu, feliz. Com a ajuda da Clarinha, escolheu o seu vestido, penteou-se e calçou-se. Finalmente, lá fomos todos até ao Santuário.
O senhor padre estava à nossa espera. O Francisco foi o primeiro a confessar-se, seguido da Clarinha e do David. Depois foi a vez da Lúcia. Sorridente, entrou no confessionário...
Quando saiu, trazia um sorriso sereno e vinha feliz...
A Sara e o António não acharam muita graça a ficarem do lado de fora, e fizeram o que puderam para serem admitidos lá dentro também:
E conseguiram! Divertido, o senhor padre abençoou-os e conversou com eles, antes de me confessar a mim.
Regressámos a casa.
- Mamã, a festa no céu já começou?
- Já, Lúcia! Neste momento, os anjos e os santos estão todos à gargalhada...
"Em verdade vos digo: há mais alegria no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão." (Lc 15, 7)
Talvez estejam a pensar: a Lúcia, que ainda não fez seis anos, com pecados? O importante, nesta fase, não é se a Lúcia tem ou não pecados; o importante é a Lúcia interiorizar o gesto, o ajoelhar, o contar, o confiar no sacerdote, o perceber que ele representa Jesus e a Igreja; o importante é a Lúcia não crescer com medo do sacramento, mas descobrir a alegria do perdão; o importante é a Lúcia ser conduzida ao sacramento pela sua família, num ambiente de festa, intimidade, naturalidade e alegria. Como em tudo na vida, aprendemos primeiro o gesto, e com o tempo, enchemo-lo de significado... Quando, um dia, a Lúcia precisar realmente do poder do sacramento, o hábito já estará criado. A rotina sadia da confissão frequente fará com que nada separe a Lúcia do amor de Jesus!
Hoje, a Lúcia cresceu mais um bocadinho...
Uma casa dá muito trabalho! Regressar de férias é também isto:
Lavar os cães, lavar o pátio, lavar a roupa, lavar os peluches. Enquanto o sol seca o pátio e a roupa num instante, os cães se rebolam na relva para se sujarem de novo, e a máquina da roupa gira sem parar, o coração transborda de alegria e de gratidão...
Vamos aproveitar também para lavar a alma. Preciso, para isso, de marcar com o senhor padre uma hora para nos atender a todos (ou quase) em confissão! Assim as limpezas ficarão completas, pelo menos durante alguns dias...
"Senhor, lava-me todo inteiro da minha culpa
E purifica-me do meu pecado!
Purifica-me com o hissope e ficarei limpo!
Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve!
Faz-me ouvir júbilo e alegria..." (Sl 51/50)
João Paulo II declarou um dia que a Árvore de Zaqueu da Igreja é o sacramento da Confissão. O papa Francisco deu na semana passada o exemplo, durante uma celebração penitencial: levantando-se da Presidência, dirigiu-se a um confessionário e, de joelhos, confessou-se. Depois entrou noutro confessionário e preparou-se para oferecer aos irmãos o perdão de Jesus.
Empoleirados na nossa oliveira o melhor que pudémos, cantámos um cântico sobre Zaqueu (Lc 19, 1-10) e várias outras personagens dos evangelhos, que escrevi há algum tempo e que gostamos de cantar na nossa paróquia. Aqui fica o vídeo com a primeira estrofe e o refrão. Deixo também a letra do cântico completo, para poderem aprender e cantar connosco!
CONVERSÃO
Lá Ré Mi Lá Ré
DESCE DEPRESSA! HOJE VOU FICAR EM TUA CASA!
Mi Lá
TAMBÉM PARA TI CHEGOU A SALVAÇÃO! (Lc 19, 5.9)
Lá Ré Mi Lá
1 – Eu ouvi dizer que ias passar
Ré Mi Lá
E fui a correr p’ra ver-Te chegar
Fá#m Sim Mi
Pensava esconder-me no meio da multidão
Lá Fá#m Sim Mi
Mas Tu me chamaste, tocaste o meu coração! (Lc 19, 1-10)
2 – Vieste chamar quem é pecador
Vem pois ao meu lar falar-me de amor.
No Reino de Deus também eu quero entrar!
Dá-me o Teu perdão, ajuda-me a não pecar! (Lc 5, 29-32)
3 – Queria Te ver e encontrei-Te aqui
O meu coração tem sede de Ti
Eu quero chorar o meu pecado, Senhor!
Teus pés vou lavar com lágrimas de amor! (Lc 7, 36-50)
4 – Lembra-Te de mim, ó meu bom Jesus
Quando regressares na glória e na luz
Do mais fundo abismo, Senhor, peço perdão!
E na Tua cruz encontro a salvação! (Lc 23, 40-43)
Há uns meses, um aluno meu teve um gesto muito feio: aproveitando um momento de distracção, em que me dirigi à porta da sala para falar com um pai de uma aluna, foi discretamente à minha secretária e retirou o teste por corrigir de um colega de turma, do cimo da pilha de testes que lá encontrou, rasgou-o e voltou para o seu lugar. Nem o meu pânico ao julgar ter perdido um teste, nem o pânico do colega que ficou sem ele, foram suficientes para que se acusasse. Uma semana mais tarde, depois de alguma investigação, este meu aluno foi desmascarado e castigado. Como ele nunca me pediu desculpa e o castigo lhe foi atribuído pela directora de turma, nunca falei com ele sobre o assunto. E a frieza instalou-se entre nós.
Os meses foram passando. Este aluno, que já era mau estudante, tornou-se péssimo. Deixou de ter caderno diário e de prestar atenção às aulas e mostrava abertamente que não tinha qualquer interesse na disciplina. Preocupada, procurei soluções, em vão. Mas um dia em que me preparava para me confessar, ocorreu-me o óbvio: apesar de já ter o perdoado há muito tempo, nunca lho dissera! Adiei a minha confissão - não posso ir ter com Deus sem antes fazer as pazes com o irmão, disse Jesus (Mt 6, 14-15; 18, 35; 5, 23-24) - e, no dia seguinte, chamei o menino. Ele sentou-se na cadeira à minha frente e olhou-me com medo. Comecei:
- Tens pensado naquilo que fizeste?
- Desculpe, professora! - Foi a sua resposta imediata, quase ao mesmo tempo que eu formulava a pergunta.
- Já te desculpei há muito tempo - Disse-lhe, o mais carinhosamente que pude. - Que tal se agora começasses a trabalhar e a esforçar-te?
Ele sorriu, um sorriso aberto como eu não via há meses.
- Vou esforçar-me! - Prometeu.
E nesse mesmo dia, a sua atitude mudou. De repente, o meu aluno mostrou-se atento nas aulas, começou a fazer os trabalhos de casa e até apresentou trabalhos que não pedi. Os colegas admiraram-se com tanta mudança, mas eu entendi: o perdão abriu as portas fechadas do seu coração e da sua mente. O perdão ofereceu-lhe uma nova oportunidade para ser bom, para ser feliz.
Foi assim com Zaqueu (Lc 19, 1-10). Empoleirado naquela árvore, Zaqueu estava imobilizado pelo seu passado de pecado. De repente, veio Jesus, chamou-o pelo nome e fez-Se convidado para sua casa. Que alegria! O perdão de Jesus ofereceu a Zaqueu uma nova oportunidade para ser bom, para ser feliz. E naquele mesmo dia, a sua vida mudou.
Quando perdoamos os outros, abrimos-lhes portas para a felicidade.
Quando nos vamos confessar, nomeando um a um os nossos pecados, Deus abre-nos portas para a felicidade!
Eu perdoara ao meu aluno, mas não lho dissera. Enquanto ele não escutou as palavras de perdão da minha boca, o meu perdão não fez caminho nele.
Confessarmo-nos é darmos a Deus a oportunidade de nos dizer: "Sim, já te perdoei há muito tempo! Sim, já derramei por ti todo o meu sangue! Sim, desde o início do mundo que espero por ti!"
Enquanto não me disponho a escutar as palavras do sacerdote - "Vai em paz, os teus pecados estão perdoados!" - o perdão de Deus não faz caminho em mim...
Nos meus tempos de jovem animadora dos Convívios Fraternos, costumava escutar com prazer o padre Armando, que já partiu para Casa, falar-nos do perdão. Contava ele, parafraseando a parábola do Filho Pródigo:
Um jovem decidira sair de casa. Depois de gastar todo o seu dinheiro, começou uma vida de indigente, drogado e ladrão. Um dia, por fim, pensou em regressar, mas teve receio da reacção do pai. Então escreveu uma carta, onde dizia: "Pai, lembras-te daquela árvore que plantámos juntos, tantos anos atrás, na entrada da nossa quinta? Lembras-te como eu gostava de nela subir, cheio de alegria? Se tu me perdoaste já o meu pecado, se estás disposto a receber-me de volta, peço-te que ates uma fita branca num ramo, para que eu saiba, ao aproximar-me da nossa quinta, que sou bem-vindo..." E o jovem pôs-se a caminho. Um dia depois, subia nervoso a última encosta do percurso. Estava quase a ver a árvore... E eis que de repente, a mais bela visão da sua vida lhe encheu a alma de gratidão: nos ramos da árvore que plantara com o pai não estavam uma, mas milhares de pequeninas fitas brancas, oscilando à brisa da tarde.
Nestes dias de primavera, sempre que olho para o jardim e vejo as árvores de fruto cobertas de minúsculas flores brancas, recordo-me desta história. Deus plantou connosco cada uma destas árvores para nos falar do seu perdão. Como diz o papa Francisco,
"Deus nunca se cansa de nos perdoar. Não nos cansemos nós de lhe pedir perdão!" (24/3/13)
O salmo 50, escrito pelo Rei David depois de ter cometido dois graves pecados em conjunto - adultério e homicídio - é um hino à misericórdia do Senhor. Cheio de confiança filial, David sabe que Deus tem poder para lavar o seu pecado até ao último grão de poeira:
"Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve!" (Sl 50, 9)
A quaresma, como a primavera, é o tempo das flores novas. E hoje, 21 de março, é Dia da Árvore! Apressemo-nos, com alegria e gratidão, a receber o sacramento do Perdão, e encontraremos a árvore do Senhor coberta de fitas brancas...
(fotografia tirada em Fátima, no jardim da Casa da Jacinta e do Francisco)
Ir a Fátima em retiro familiar e em clima de festa, nos primeiros dias da primavera. Que dia tão feliz na terra de Nossa Senhora!
Começámos o dia na Capela da Reconciliação, acolhendo o perdão de Jesus através do sacramento da confissão dos pecados. Só a Sara, o António e a Lúcia não se confessaram. É uma simbologia tão bonita, descer as escadas para nos confessarmos, e voltar a subir para a Luz, depois de lavados de todas as nossas faltas!
Com o coração cheio de paz, entrámos na Igreja da Santíssima Trindade e participámos na missa. Coincidiu aquela missa ser especialmente dedicada às crianças, pelo que os nossos mais pequenos puderam subir ao altar e receber uma bênção especial!
Depois fomos visitar as casas dos pastorinhos. Foi com toda a certeza a melhor catequese do dia! Entrar naquelas casas tão simples, tão pobres, tão pequeninas, e pensar que nelas couberam famílias tão numerosas...
- Onde dormia a Lúcia? - Perguntou a Lúcia à simpática senhora que nos recebeu na Casa da Lúcia.
- Dormia nesta cama pequenina, com duas outras irmãs...
- Três meninas numa cama tão pequena?
- Sim...
- E onde está a mesa para eles comerem? - Quis saber o David, na Casa da Jacinta e do Francisco.
- Mesa? Não cabia aqui uma mesa para tantos! Sentavam-se em volta do lume, em banquinhos, com a malga na mão...
- Nunca mais me queixo de estar apertada à mesa - murmurou-me a Clarinha ao ouvido. Na verdade, as nossas refeições começam quase sempre com muitos resmungos entre os irmãos, que se sentem apertados na mesa da cozinha. Quando a Sara se sentar numa cadeira como as nossas, não sei como será!
O que estarão os meninos a ver tão atentamente, por detrás da casa da Lúcia?
Ah, já percebi! Olhem só...
- E é a sério, mamã!!!!!
Junto ao muro onde os três pastorinhos tiraram a sua mais célebre foto, tirámos nós também uma foto dos nossos seis. O António está quase tão sério como eles estavam!
E já repararam nesta menina, a descer as escadas da casa da Jacinta e do Francisco?
Visitar as casas dos pastorinhos e ler As Memórias da Irmã Lúcia II, onde Lúcia descreve o dia-a-dia da sua aldeia no tempo das aparições, é uma lição de vida para as famílias de hoje. Temos tanto, e queixamo-nos tanto! As casas dos pastorinhos, onde viviam tantas crianças, cabiam inteiras na minha sala!
Registo aqui apenas dois dos muitos exemplos que a Lúcia dá, nas suas Memórias, sobre o clima de partilha que se vivia então:
"Por vezes, a mãe, quando ia à salgadeira buscar a carne para a refeição da família, trazia um bocadinho mais, metia-o na gaveta da mesa que estava na cozinha, dentro de uma folha de couve, e dizia:
- Isto é para o primeiro pobre que aparecer, a pedir esmola." (Memórias da Irmã Lúcia II, página 15)
"Outras vezes, a mãe preparava um pequeno açafate que havia lá em casa, entre rosas e flores, com pequenas ofertas que me mandava levar a várias pessoas que ela sabia que não tinham. Umas vezes era com carne, quando se matava o porco, outras com filhoses pelo Natal, etc., outras vezes com fruta conforme o que havia no próprio tempo: figos,maçãs, pêras, ou queijinhos dos que ela fazia do leite das nossas ovelhas; e mandava-me ir a casa dessas pessoas para que comessem à ceia com migas de pão." (Memórias da Irmã Lúcia II, página 96)
E agora, em frente da Casa da Lúcia, 3 segundos de oração:
Amanhã descreverei a nossa caminhada, rezando a Via-Sacra, e o piquenique, claro!
Escrito pela Clarinha (12 anos, quase 13)...
Ouvimos muitas vezes pessoas a dizer: "O senhor padre não tem nada que saber os meus pecados!" Ou então: "A confissão não faz diferença!" Mas tudo tem um sentido. Pensando bem e respondendo às dúvidas das pessoas, Jesus Ressuscitado deu a todos os padres o poder para confessar os pecados dos homens em seu nome. Assim, porque é que tanta gente tem vergonha de se confessar, se quem está a falar connosco durante a confissão é o próprio Deus? Bem, se nós não temos vergonha de falar com os nossos pais, também não precisamos de ter vergonha de falar com Deus.
A confissão faz uma grande diferença na nossa vida. Quando eu entro no confessionário, sinto-me feliz por poder desabafar com Deus sobre aquilo que me impede de ser uma pessoa perfeita. E quando saio, sinto-me ainda mais feliz, porque sei que posso começar tudo de novo e voltar a tentar fazer o meu melhor, aperfeiçoando o meu carácter.