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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Na cozinha, a Clarinha aproveita a tarde livre para fazer queques de chocolate...
... que ao jantar serviu num... prato também de chocolate, e também feito por ela! Vejam lá quem é artista?
Os queques e o prato desapareceram num instante...
Parabéns, Tomás!
- Quem gosta dos bolinhos em honra do Tomás?
- Eu!
- Eu!
- Eu!
Depois da refeição, a oração familiar. A vela do Tomás ilumina o Canto de Oração, e todos lhe querem pegar...
A festa na Terra terminou, mas no céu nunca terminará! No terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria, o Papa Francisco lembrou-nos que, aos cristãos, não é consentida a tristeza, pois já fomos salvos por Jesus, como anunciou o profeta Sofonias:
"Não desfaleçam as tuas mãos, Jerusalém: o Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele alegra-se, renova-te com o seu amor, exulta de alegria como nos dias de festa." (Sof 3, 14-18)
Um dia não haverá mais choro, nem mais tristeza, nem mais dor, nem mais morte. Um dia... Mas esse dia já começou, há dois mil e quinze anos atrás! E o nosso menino do Natal aponta-nos para um outro Menino, de um Natal que nunca terá fim. Afinal foi esse mesmo Menino que nos inspirou a dar ao Tomás o segundo nome de Emanuel, que quer dizer Deus-Connosco... Nem nós imaginávamos o quanto!...
Alegremo-nos e façamos festa, porque o Senhor está connosco! Ámen.
Foi há cinco ou seis anos atrás, não me lembro bem. No Colégio, iria haver uma vigília de oração, e o Francisco, acompanhado pelo Niall, iria participar pela primeira vez, enquanto eu ficava em casa com os outros meninos.
Passava das onze da noite quando o Niall e o Francisco chegaram a casa. Vinham contentes, mas cansados.
- Então, Francisco, rezaste muito? - Perguntei, enquanto lhe aquecia um copo de leite achocolatado.
- Nem por isso - Respondeu-me.
Fiquei confusa:
- Como assim, nem por isso? Então estiveste mais de duas horas numa vigília de oração, e não rezaste muito?
O Francisco suspirou, e respondeu com simplicidade e sem qualquer malícia:
- Mamã, eu explico: a vigília foi muito bonita, mas havia tanto para ler, tanto para dizer, que não sobrava tempo para falar com Jesus!
Quando perguntaram a Santa Teresinha como gastava ela o seu tempo de oração, Santa Teresinha respondeu: "Excetuando o Ofício Divino, não tenho ânimo para procurar nos livros belas orações. Isso cansa-me a cabeça, pois são tantas, e cada uma mais bonita do que a outra! Não poderia recitá-las todas e, não sabendo qual delas escolher, faço como as crianças que não sabem ler. Digo simplesmente a Jesus o que Lhe quero dizer, sem procurar belas frases, e Ele sempre me entende."
Faz-me pensar em Moisés, o maior dos profetas, exaltado pela Bíblia como nenhum outro, e porquê? Diz o Livro do Êxodo:
"Moisés falava com Deus face a face, como um amigo com o seu amigo." (Ex 33, 11)
O Menino de Belém é o rosto mais perfeito da ternura e da simplicidade. Diante de um recém-nascido, todos os nossos pensamentos elevados se derretem como cera, e as palavras complicadas ficam desconfortáveis. Quantas palavras tolas, quantas canções trauteadas improvisamos nós quando temos o nosso bebé ao colo?
Rezar em família ou rezar em grupo não precisa de ser complicado, nem precisa de nos pôr nervosos, tímidos ou aflitos, como tantas vezes acontece. Diante do Senhor que nos reúne, podemos meditar, lendo a Bíblia, o Catecismo, os escritos dos santos. A Via Stellae é uma proposta de meditação que vos ofereço neste tempo de Advento e Natal, e os meus livros Os Mistérios da Fé contêm meditações curtas baseadas na Palavra de Deus para todas as épocas litúrgicas, podendo ser trabalhadas individualmente, em família ou em grupo.
Mas depois de meditarmos nos mistérios do amor de Deus, encontremos tempo de silêncio, para que todos possam falar com o Senhor como um amigo com o seu amigo, no íntimo do coração, como o Francisco teria gostado de fazer naquela longa vigília. Na família ou em grupos familiares, em que nos sentimos à vontade uns com os outros, estas palavras soltas e breves podem ser partilhadas em voz alta, com simplicidade, entrecortadas por silêncios orantes.
Cá em casa, durante a oração familiar, meditamos na Palavra e nos ensinamentos da Igreja, rezamos algumas - muito poucas - orações vocais, cuidadosamente selecionadas e todas elas bíblicas, como o Shemá e a Consagração à Mãe de Caná, ou as orações do terço. Mas o tempo forte de oração é feito de palavras simples e espontâneas, que agradecem, que intercedem, que louvam, que adoram, que pedem, que exprimem o amor... Como um amigo com o seu amigo.
No back office dos blogues, os autores dos blogues têm acesso a a algumas das palavras que conduziram as pessoas (anónimas) ao seu blogue. No nosso caso, costumamos encontrar palavras como "oração", "oração familiar", "família católica", mas por vezes temos palavras mais engraçadas como "quaresma" - não o tempo litúrgico, calculo, mas o jogador -, "poda da oliveira", e outro dia, para minha grande surpresa, esta expressão: "oração para vizinho barulhento".
Calculo que não seja difícil entrar no nosso blogue através da palavra "barulhento", pois se há coisa que nós fazemos de melhor, é mesmo barulho. Quando contei ao Niall, ele deu uma gargalhada e respondeu-me:
- Espero que essa busca na net não tenha sido feita por um dos nossos vizinhos, desesperado com o barulho que daqui vem!
Mas depois ficou mais sério e continuou:
- Sabes, Teresa, essa busca de uma oração para calar um vizinho barulhento parece-me uma busca de uma poção mágica, uma espécie de responso, de feitiço. Há muita gente que confunde oração com fórmulas mágicas, achando que, se disser as palavras certas, forçará Deus a agir de acordo com os seus interesses.
Fiquei pensativa. Lembrei-me da conversa que escutei entre vários dos meus alunos do curso vocacional. Falavam de bruxarias e das palavras certas para cada feitiço, que viam realizado por um familiar próximo. E são católicos... O Judaísmo, muito antes do catolicismo, proibia já por completo tudo o que se relacionasse com feitiçaria:
"Ninguém no teu meio se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à invocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas." (Dt 18, 10-12)
E depois de Jesus, os apóstolos foram incansáveis na sua luta contra todas as práticas de ocultismo. O último livro da Bíblia, o Apocalipse, diz assim:
"Fora os cães, os feiticeiros, os luxuriosos, os assassinos, os idólatras e todos os que praticam a fraude..." (Ap 22, 15)
Mas as tradições ancestrais não se erradicam de um dia para o outro. Não é só na África profunda que a Igreja Católica tem de lutar contra a feitiçaria! Tem de o fazer aqui e agora, na minha rua (literalmente), na minha escola, na minha terra.Tem de o fazer também na net, onde continuamente somos bombardeados por mails aparentemente muito piedosos, que terminam desta forma agoirenta, tão anti-cristã: "Se não passares esta mensagem a dez pessoas, algo de mal te acontecerá..." ou "esta cadeia de oração ainda não foi interrompida, e se a interromperes és inimigo de Deus..."
A confusão, em alguns meios, é tão grande, que escandaliza os nossos irmãos de outras confissões cristãs. Numa das minhas turmas, uma aluna evangélica dizia-me:
- Professora, na nossa igreja nós não fazemos rezas nem promessas; nós oramos!
A Igreja Católica tem um reportório vastíssimo de orações belíssimas e profundas. O Pai-Nosso, a Avé-Maria, o Credo, o Glória, a Consagração a Nossa Senhora, as orações de adoração do Santíssimo Sacramento, a oferta dos atos do dia, orações para pedir a intercessão dos santos e dos anjos, novenas, e muitas, muitas outras. Mas nenhuma delas se destina a silenciar um vizinho barulhento. Ao contrário dos feitiços e das artes mágicas, que procuram a todo o custo realizar a vontade de quem os pratica, a grande oração da Igreja atua sobre o nosso interior e procura converter o nosso coração e o mundo inteiro à vontade de Deus. Quando nos ensinou a rezar, Jesus ensinou-nos a pedir:
"Seja feita a Vossa vontade, na Terra como é no Céu!" (Mt 6, 10)
Que o Senhor venha, neste advento, e liberte a sua Igreja de todas as impurezas, de todo o escândalo, de tudo aquilo que estorva... Que o Senhor leve as "rezas" e nos traga a oração! Ámen.
O dia amanheceu luminoso. Os meninos saltaram da cama com grande entusiasmo: é advento! E isso significa o início de um novo ano litúrgico e uma grande azáfama em nossa casa.
Depois da missa e do almoço, o pai foi com os quatro mais novos apanhar musgo.
- Descobri um sítio perfeito - Disse o Niall, antes de partirem. - Vamos de carro para podermos transportar todo o musgo.
Parece que o sítio era mesmo perfeito! Ora vejam as fotos:
Entretanto, em casa, a Clarinha, o Francisco e eu estávamos muito ocupados a preparar o Canto de Oração. Enquanto eu e a Clarinha passávamos a ferro e procurávamos os panos mais bonitos, o Francisco martelava, cortava e colava, porque a cabana do Presépio sofreu um pequeno acidente durante o ano em que esteve guardada...
- Vejam, tanto musgo! - Gritaram os mais novos, entrando de rompante em casa e deixando um trilho de terra e ervas atrás de si.
Abrimos as caixas dos enfeites, a Árvore de Jessé, as caixas com o presépio, e a sala encheu-se de exclamações e risos felizes.
- O que fazemos aos reis magos?
- Fazemos, como?
- Eles só chegaram ao presépio no dia 6 de janeiro, não é?
- Tens razão, David! Vamos fazer assim: vamos colocar um rei em cada quarto. A cada domingo, vamos aproximá-los um bocadinho... Podem passar dos quartos para o escritório, do escritório para a cozinha, até chegarem ao presépio.
- Boa!
E lá fomos nós...
Quando o presépio e a árvore de Natal ficaram prontos, a sala parecia uma cidade arrasada por um terramoto. Era preciso varrer, aspirar, limpar, arrumar. Para facilitar a tarefa, os mais novos tiveram autorização para patinar à luz das estrelas, enchendo a noite de gargalhadas, enquanto o Francisco, a Clarinha, o Niall e eu fazíamos o que tinha de ser feito. Por fim, a nossa casa brilhava à luz do Advento.
- Meninos, depressa, vamos cantar à volta do presépio!
- É para rezar agora?
- Já podemos entrar?
- Está tudo pronto?
- Vamos, vou contar a primeira história da Árvore de Jessé!
Reunidos na sala, acendemos as velinhas no presépio e ligámos as luzes da Árvore de Jessé. Depois, e porque era domingo, o António acendeu a primeira vela da nossa Coroa de Advento. Para a semana, a Lúcia acenderá duas velas, e no terceiro domingo será a vez do David acender três velas...
- Que lindo que está tudo, mãe!
- Olha, este pastorinho está à procura do caminho...
- E esta ovelhinha está mesmo ao lado do Jesus!
Vamos rezando de olhos fixos no presépio. Bem, olhos, mãos, e se nos distraímos, até pés...
- E agora, chegou o momento de colocarmos o primeiro símbolo na Árvore de Jessé.
- Eu!
- Eu!
- Não: o primeiro é para a Sara. Eu leio a frase, e a Sara encontra o símbolo. Podem ajudar, mas ela é que o coloca na Árvore! Ouçam então...
Com um sorriso escancarado, a Sara pegou no símbolo da pomba e colocou-o na Árvore, triunfante.
Por sobre o presépio, eu escrevi a Palavra que este ano nos vai iluminar. É a Palavra que os habitantes de Belém não conseguiram escutar, naquela noite de Natal em que Maria e José procuravam desesperadamente um lugar para Jesus; é a Palavra que o mundo ainda não conseguiu compreender, dois mil e quinze anos passados; é a Palavra do Ano Santo, a Palavra que abrirá a grande Porta da Misericórdia, no próximo dia 8, e que abrirá a porta dos nossos corações...
"Eis que estou à porta e bato. Se alguém abrir, entrarei e cearei com ele, e ele comigo." (Apo 3, 20)
Para todos, um feliz ano novo!
Um pequeno post apenas com uma palavra: oração.
A bebé da nossa querida Olívia (Adotar Amar Viver) nasceu, mas o parto foi difícil e a bebé teve uma paragem cardio-respiratória. Está na incubadora, com o coração muito fraquinho, a lutar pela vida. Deus conta com as nossas orações! A bebé Lúcia é uma Bebé de Caná, concebida desde o início no espírito de Caná, onde a vida é a grande festa do amor de Deus. Rezemos por ela e pela sua família! Ofereçamos por ela todos os nossos sacrifícios e orações de hoje! Vejam lá se não é bonita...
Senhor, enche a pequena Lúcia da tua luz! Toca-a com o teu toque de amor e cura-a agora! Ámen.
Quintas-feiras, os meus quinze minutos de oração são passados na igreja da Moita, perto da minha escola, onde o Santíssimo está exposto o dia inteiro. Ontem não foi exceção.
Cheguei à igreja cansada, com uma mala cheia de testes por corrigir, no intervalo entre uma aula e uma reunião. Vinha cheia de pressa, desejosa de aproveitar bem este tempo privilegiado diante do meu Senhor.
Entretanto, no banco da frente, duas pessoas passavam o turno: a senhora de cabelos brancos levantou-se, benzeu-se com água benta e saiu da igreja, enquanto o senhor também idoso se ajoelhou no seu lugar, apoiou a cabeça entre as mãos e ficou imóvel, a rezar. Que bonito, pensei... Fez-me lembrar a passagem de turno das guardas de honra dos monumentos nacionais. Com que solenidade os membros do exército executam a sua tarefa! Mas haverá maior honra do que guardar o Senhor sacramentado? Haverá monumento nacional que iguale em honra o mais tosco dos altares do Senhor? Sorri diante desta "guarda de honra" humilde e pobre, na simplicidade da igreja paroquial. Senti-me também eu como um "soldado de Cristo", por breves momentos contratado para este cargo maravilhoso de vigilante... No íntimo do meu coração assomaram as palavras do salmo 131:
"A minha alma anseia pelo Senhor,
mais do que a sentinela pela aurora..."
Olhei para o relógio: só me restava cerca de um minuto de oração, ou corria o risco de chegar atrasada à reunião. Um minuto! Levantei os olhos e disse a Jesus tudo o que Lhe queria dizer, muito depressa, para não faltar nada. Depois, também eu me benzi com a água abençoada, fiz uma genuflexão profunda e lenta e saí da igreja. De novo me assaltou a grandeza do milagre que acabava de acontecer: ali estava eu, simples mortal, com acesso direto e ilimitado à mais alta realeza do universo, com direito a dizer tudo o que quisesse ao Rei dos Reis, sem necessidade de marcação de audiências ou qualquer outra burocracia... Quem, senão o Senhor?
Ah, fazemos tão pouco uso dos nossos privilégios de Filhos de Deus...
Hora de oração familiar. Juntos, lemos o Evangelho do dia. É a minha vez de ler em voz alta, e leio assim:
"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «A todo aquele que Me tiver reconhecido diante dos homens também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos Anjos de Deus. Mas quem Me tiver negado diante dos homens será negado diante dos Anjos de Deus." (Lc 12, 8-9)
- Que significa negar? - Pergunta a Lúcia, atenta.
- Alguém quer explicar?
- Eu explico - Diz a Clarinha - Imagina que um amigo te pergunta se vais à missa, e tu dizes que não. Isso é negar Jesus.
Silêncio.
- Às vezes tenho vergonha de dizer que quero ser padre - Diz o David, hesitante. - Mas depois ganho coragem e consigo dizer. Não estou a negar Jesus, pois não?
- Ainda bem que tens coragem - Sorrio - Assim não estás a negar Jesus! Cada um é livre de dizer o que pensa vir a ser, quando crescer. E, claro, és livre para mudar de ideias e vires a ser outra coisa qualquer. Mas se agora achas que queres ser padre, então ainda bem que tens coragem de o dizer.
- Sabes o que é que os meus amigos me respondem logo?
- Não faço ideia! O que é?
- Eles dizem que os padres não ganham dinheiro!
Ficamos todos em silêncio. Por onde andam os sonhos infantis de heroismo, os desejos de ser bombeiro, enfermeiro do INEM, piloto aviador? Por onde anda a infância dos nossos filhos? Que fizemos dela? Aos nove anos já não têm direito a sonhar? Lembrei-me do Principezinho, daquela passagem em que Saint-Exupéry fala da diferença entre os adultos e as crianças:
"As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: «Como é a voz dele? A que é que ele gosta mais de brincar? Faz coleção de borboletas?» Em vez disso, perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa? Quanto ganha o pai dele?» Só então julgam ficar a saber quem é o vosso amigo. Se contarem às pessoas crescidas: «Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado...», as pessoas crescidas não conseguem imaginá-la. Precisam de lhes dizer: «Hoje vi uma casa que custou quinhentos mil euros.» Então já são capazes de a admirar: «Mas que linda casa!»
"O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males" (1Tm 6, 10)
Assim escreveu S. Paulo a Timóteo.
Talvez seja um bom exercício verificarmos a frequência com que falamos de dinheiro na nossa casa, em brincadeiras, em comentários mais ou menos maledicentes sobre a roupa e o carro dos outros, em discussões sobre poupanças e gastos, em ralhetes, em... É que pela frequência com que falamos de um assunto pode medir-se a importância que esse assunto tem para nós. Os nossos filhos observam atentamente todos os nossos gestos e escutam até as palavras que calamos. Que mensagens lhes transmitimos sobre o dinheiro?
Ah, a Palavra de Deus a identificar as nossas feridas antes de as poder curar...
- Lara, a tua terra tem uma igreja muito bonita!
- Conhece, professora?
- Fui lá ontem pela primeira vez. Era quinta-feira, e disseram-me que às quintas há adoração ao Santíssimo todo o dia. Como fica aqui perto da escola, fui lá rezar.
- Ah, tem lá umas cenas assim, tem... Já tinha ouvido falar!
- E tu não costumas ir?
- Acha, professora?
- Isso não é para velhotes? - Atalha a Ana, curiosa.
- O quê - adorar Jesus? Ana, tu vais à catequese?
- Vou, estou quase a fazer o crisma. Pensei que essa cena era para velhotes!
- Eh, malta, estão a falar das cenas da igreja? Eu até já vi a professora numa missa ou coisa assim. Estava a cantar!
Sorri - Sim, costumo cantar no coro.
- Eu até ia à missa quando era miúdo, e andei na catequese, mas agora já sou homem!
- E os homens não vão à igreja, Mateus?
- Os homens não precisam de lamechices! Já viu algum homem a sério na igreja?
- Olha, o meu marido vai sempre à missa. E é um homem a sério!
- Que estranho...
Sorrio, enquanto procuro retomar a aula de Inglês nesta turma barulhenta do Curso Vocacional. É, na verdade, bastante comum ver os homens sentados nos bancos de trás da igreja, ou até lá fora à espera, enquanto as mulheres se aproximam do altar. Parece que a religião é coisa de mulheres... E segundo a percepção dos meus alunos, coisa de "velhotas"! O que há de lamechas na capacidade de dar a vida por outro? Lembro-me da passagem do Livro de Josué, em que este grande líder, bem masculino, afirma a sua fé em nome pessoal e em nome da sua família, perante os perigos do paganismo à sua volta:
"Escolhei hoje a quem quereis servir: quereis adorar os deuses cananeus? Quereis antes adorar os deuses egípcios, donde Moisés vos foi buscar? Ou quereis adorar o Senhor nosso Deus, o único Senhor, que vos tirou do Egipto e vos conduziu pelo deserto? Eu e a minha família serviremos o Senhor.” (Js 24, 15)
Uma mãe de joelhos a rezar é uma imagem poderosa numa casa; mas um pai de joelhos a rezar, no mundo de hoje, é-o muito mais. No debate da Renascença no dia 4 de outubro, do qual participei, o padre Rui Pedro Trigo Carvalho, que esteve no recente encontro mundial de famílias em Filadélfia, falou num estudo curioso apresentado ao papa: quando procuramos evangelizar a família começando pela criança, como acontece com a catequese, alcançamos 5% das famílias; quando começamos pela mãe, cerca de 20%; mas se for o pai o primeiro a converter o seu coração, o sucesso é de 90%.
Uma criança, um adolescente, um jovem que vê o pai de joelhos, em oração, jamais o esquecerá. "Ena, Deus deve ser mesmo importante, para até o meu pai, que não tem tempo para nada, se ajoelhar diante d'Ele!" Rezar em família não pode ser adiado para quando formos "velhotes". Tem de ser aqui e agora, no meio da agitação da vida moderna, quando os filhos estão em crescimento.
Todas as noites, na nossa casa, o chefe da família ajoelha-se para rezar. É ele quem começa e termina a oração "em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". É ele quem traz para a oração o que acontece pelo mundo fora, depois de escutar o relato das notícias na rádio, durante os três quartos de hora de viagem até casa, ao fim do dia. E muitas vezes, é ele quem segura nos braços os mais pequeninos, enquanto passa nos dedos as contas do terço. Haverá maior conforto do que adormecer ao colo do pai, ao som das avé-marias?
Ontem, pela primeira vez na História, o Papa canonizou um casal em conjunto: os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus. Sobre o seu pai, escreveu Teresinha: "Bastava olhar para ele, durante a oração familiar, para ver como rezam os santos."
Não, Mateus, a oração não é coisa de mulheres; não, Ana, "essas cenas" da Igreja não são coisa de "velhotes". Ontem, no Vaticano, o Papa deu um sinal magnífico ao mundo inteiro, oferecendo-nos a imagem de uma família que reza como modelo de santidade. Imitemo-los...
Estandarte no Vaticano, durante a missa de canonização
Este início de ano letivo tem sido absolutamente galopante para mim. Na escola, tenho sete turmas novas, o que implica um enorme esforço de conhecimento dos alunos, das suas dificuldades e dos seus talentos; de todos os lados têm vindo solicitações para testemunharmos a alegria das Famílias de Caná; continuo com um grupo de catequese e o coro da missa paroquial; há também a lida da casa, o cuidado de seis filhos e, claro, a escrita deste blogue e o e-mail. Como fazer?
A tentação é correr de um lado para o outro, arriscando multas por excesso de velocidade (120 euros já lá foram...) e descurando a atenção carinhosa que os outros merecem. Como é fácil, no fim do dia, sentirmo-nos exaustos, mas cheios de vaidade, ao fazermos mentalmente a lista de tudo o que realizámos! Ena, que importantes somos!
Mas depois, no Canto de Oração, rezando em família as leituras da missa do dia, surgem leituras como esta:
"Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia; e uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se disse: «Senhor, não Te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»" (Lc 10, 38-42)
Afinal, o meu sucesso não se mede pela quantidade de coisas que consigo enfiar em 24 horas... O meu sucesso, nem sequer eu o posso medir. Ele pertence apenas e totalmente ao Senhor do tempo. Quando chegarmos ao céu teremos tantas surpresas!
Como Marta, facilmente me deixo angustiar e ocupar por muita coisa... Se não me apressar a imitar Maria, sentando-me aos pés do Senhor para simplesmente O amar, de nada me vale tanta correria.
Hoje mesmo, como já fiz também ontem, e como pretendo fazer amanhã, irei encontrar no meu horário quinze minutos livres. Talvez tenha de os roubar ao cesto de roupa para passar a ferro, à leitura apressada de um blogue, ao meu direito ao descanso, à minha hora de almoço. Talvez nem sequer tenha quinze minutos livres no meu dia, e portanto, talvez não tenha sequer onde os ir roubar - mas vou pedi-los ao Senhor, e Ele, como Senhor do tempo, não mos negará!
Então, nesses quinze minutos, entrarei na igreja mais próxima da minha casa, da minha escola ou do colégio dos meninos. A luzinha vermelha diante do sacrário será para mim sinal de uma outra Presença, de um outro Amor, de um outro Olhar. Ajoelhar-me-ei o mais perto possível, e suspirando profundamente, descansarei no Senhor.
Outrora, na Galileia, as pessoas percorriam quilómetros a pé, algumas a rastejar, outras feridas e doentes, apenas para tocar na orla do manto de Jesus ou, pelo menos, pisar o chão que a sua sombra cobria... Hoje Ele está aqui tão perto, escondido em cada igreja paroquial. Que me impede de correr ao seu encontro?
Quinze minutos. E de repente, as minhas aulas, os meus encontros, a lida da casa, o cuidado dos filhos, a escrita deste blogue, o meu descanso e o meu cansaço, tudo estará ganho, porque tudo terá sido devolvido a Quem tudo me confiou. E depois de assim O encontrar, a minha mão na mão do Senhor da Galileia, "Nós, Jesus" sempre juntos, irei fazer uma coisa de cada vez, porque "uma só é necessária" agora.
Ah, Senhor, que eu saiba "escolher a melhor parte", como Maria, como tantos santos ao longo da História, como Santa Teresa de Jesus, a grande carmelita que hoje a Igreja celebra! Ámen.
- Mãe, não tenho meias!
- Já viste no cesto da roupa lavada?
- Já, e na gaveta também.
- Vai buscar um par à gaveta do mano... SARA! Que estás a fazer?
Um frasco de pomada aberto sobre o tampo da sanita, a Sara besuntada de alto a baixo.
- Quero creme...
- Sara, estavas tão bem vestida para ir à escolinha! E agora? Clarinha, mudas-me a Sara por favor?
- Assina este papel, mamã, se faz favor!
- Que papel, David? A esta hora da manhã? Não podias ter-me dado isso ontem? Hã? Diz aqui que precisas de levar dois euros... Dois euros! Niall, tens aí alguma moeda? Ai, onde vou eu encontrar dois euros agora?
- Bem, com tanta confusão eu vou indo de bicicleta. Até logo!
- Até logo, Francisco! Meninos, despachem-se, estamos atrasados!
- Mãe, diz à Sara para me obedecer! Não consigo penteá-la!
- Mas, Clarinha, também não é preciso fazeres uma trança tão bem feita a esta hora. Despachem-se! António, que estás tu à procura?
- O meu carrinho! QUERO LEVAR O MEU CARRINHO PARA A ESCOLINHA!
- Levas amanhã. Anda, vem para o carro! Por favor não chores, António...
Entramos no carro a correr. Já passa das oito horas.
- Todos têm mochilas? Lanches? Casacos? Sapatos? Vejam se está alguém de pantufas... Não? Ótimo. Vamos então... Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen!
A caminho do colégio, é hora de rezar. Mas primeiro, é preciso acalmar um bocadinho, pedir desculpa pelo tom mais elevado ou por aquele puxão no braço para controlar uma birra.
- "... Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte!"
Agora. A-GO-RA. Agora, eis a única realidade que me é dado viver. O ontem já lá vai, confiado à misericórdia do Senhor; o amanhã pode nunca chegar. Agora é hora de ser santo, de ser santa. Agora é hora de trabalhar o meu carácter, dominar a irritação, sorrir, perdoar, pedir desculpa, dizer obrigado. Agora, mesmo com pressa, mesmo que não venha nada a propósito, mesmo que apeteça dizer - agora não, depois! - porque o agora não espera, e muitas vezes não vem a propósito, e geralmente não apetece... Agora, e não quando os filhos crescerem; agora, e não quando tiver tempo; agora, e não quando a minha rotina for mais fácil; agora... Respiro fundo, e o meu pensamento descansa na repetição desta palavra: "Agora... agora... agora..." Ao serão, durante a oração familiar, irei repeti-la cinquenta vezes. Por cinquenta vezes pedirei a Nossa Senhora que reze por mim ao seu filho Jesus, e que o faça AGORA.
Chegamos ao Colégio. Já estamos todos calmos e sorridentes, depois da correria da manhã. Abro as portas do carro, e à medida que saltam para o pátio, dou-lhes um beijo e desenho-lhes uma cruz na testa. Depois, sigo viagem até à minha escola. Como será o nosso dia? Difícil, fácil, luminoso, aborrecido...? Que importa, afinal? A-GO-RA. Um momento de cada vez. Se começar já a pensar na aula que vou ter às onze horas, talvez entre em modo de angústia; e se me lembrar que hoje o Niall não vem jantar e terei de me ver sem a sua ajuda, sinto-me imediatamente cansada. Mas agora estou simplesmente a conduzir no meio do trânsito...
"Não vos preocupeis com o dia de amanhã. Amanhã terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu cuidado!" (Mt 6, 34)
Basta a cada agora o seu cuidado... De agora em agora, chegará um dia o momento da minha morte. Então, de mãos dadas com Maria, estarei pronta para a festa da eternidade.
Obrigada, Senhora mais brilhante do que o Sol, por em Fátima nos teres pedido que rezássemos o terço todos os dias. Que seria eu sem esta oração? Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen!