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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
O Niall é o catequista responsável pelo crisma, na nossa paróquia. Antes do último encontro que tiveram, vi o Niall muito atarefado em casa com um pedaço de cartão, tesoura e fita-cola. Depois vi-o no santuário, a receber os jovens. Era esta a sua figura:
Com a ajuda do "bispo Niall" e num clima descontraído, os jovens ensaiaram os gestos da cerimónia do crisma, que está aí tão próxima. Depois conversaram sobre o Espírito Santo, capaz de incendiar o mundo inteiro, como fez no dia de Pentecostes, ao descer sobre um punhado de homens simples e rudes.
Poderão os jovens aspirar à santidade, vivendo numa sociedade com tantas solicitações contrárias? Claro que sim. Penso, por exemplo, no Beato Marcel Callo. Conhecem? É o primeiro santo escuteiro. Nasceu em 1921, em França, e morreu em 1945, no Campo de Concentração de Mauthausen...
Marcel nasceu numa família católica de nove filhos e alimentou, desde criança, a sua amizade por Jesus. Se no outro dia vos falei num casal de imperadores, hoje falo-vos de um jovenzinho operário, que aos treze anos já trabalhava numa impressão gráfica. Desejoso de testemunhar a sua fé no mundo do trabalho, ligou-se à Juventude Operária Católica (JOC) e ao Escutismo. Nessa altura, como então, não era fácil ser testemunha de Cristo, e Marcel foi ridicularizado muitas e muitas vezes. Mas nunca desistiu do seu primeiro amor, Jesus. Marcel estava decidido a levar Jesus a todos os jovens trabalhadores, e nas quaresmas ia de porta em porta, com outros Jocistas, convidando as pessoas para a missa da Páscoa.
Aos vinte anos, Marcel apaixonou-se pela jovem Marguerite Derniaux. O seu namoro foi um namoro cheio de Deus: rezavam juntos as mesmas orações e participavam juntos na missa diária. Tencionavam casar-se no mesmo dia em que um dos irmãos de Marcel seria ordenado sacerdote.
Quando a Alemanha invadiu a França em 1940, Marcel decidiu agir. Com alguns amigos, tornou-se "missionário das estações dos comboios", ajudando muita gente a fugir.
Mas em 1943, Marcel é deportado para a Alemanha, onde é forçado a trabalhar onze horas por dia, com fome, frio e desconforto de toda a espécie. Marcel encontra na fábrica o local ideal para evangelizar. Sem se deixar abater, mete mãos à obra e descobre outros jocistas e escuteiros. Depois procura entre os prisioneiros um padre para celebrar a Eucaristia e confessar - um padre alemão. Sem receio, convida outros deportados para participar na Eucaristia, conseguindo converter muitos prisioneiros.
Marcel não sabe que a sua correspondência com a noiva está a ser intercetada, e que os seus gestos católicos estão a ser alvo de suspeita. Em abril de 1944, Marcel é enviado para o Campo de Concentração de Mauthausen. Mesmo aí, no meio dos mais duros trabalhos e das mais horríveis torturas, com fome, sede e frio, Marcel mantém a fé, a esperança e o amor. Procurando imitar os cristãos dos Atos dos Apóstolos, Marcel não deixa que nada destrua a sua felicidade. Todos os dias procura novas formas de testemunhar Jesus e ajudar os companheiros. Assobiando a divisa escuta ou jocista, Marcel dá sinal para todos rezarem, silenciosamente, uma Avé-Maria. Às vezes, um amigo sacerdote também prisioneiro passa-lhe uma caixinha onde está escondida a Eucaristia: eis a sua maior alegria!
Por fim, Marcel cai doente, com tuberculose, e é transferido para uma "enfermaria", tendo direito a uma enxerga onde se amontoam aos cinco por cama. No último dia, Marcel cai nas latrinas. O coronel que o leva nos braços nunca esquecerá a expressão de felicidade pura do seu olhar moribundo. Tem vinte e três anos.
Os jovens que, no domingo, vão ser crismados na nossa paróquia, certamente nunca precisarão de testemunhar a sua fé dando a vida por Jesus. Mas certamente também que não lhes faltarão ocasiões para testemunhar a sua fé como Marcel fez: no trabalho, no namoro, com os amigos, na paróquia. O seu entusiasmo juvenil deverá ser capaz de incendiar o mundo. Como disse Jesus:
"Eu vim trazer o fogo à Terra, e que quero Eu senão que ele se ateie?"
(Lc 12, 49)
- Vou contar-vos uma história verdadeira, que descobri outro dia na net.
Estávamos todos sentados num prado florido, a fazer o nosso piquenique em Fátima. A toda a volta, milhares de flores pequeninas e os sons da primavera.
- Conta, mãe, o que foi?
- A história de um casal de imperadores...
- Imperadores?
- Sim, imperadores santos do século vinte.
- O quê?
- Um deles está sepultado, imaginem, na Ilha da Madeira. Sabiam que havia um imperador já beatificado, Carlos da Áustria, sepultado no nosso país?
- Nunca tal ouvi falar!
- Pois nem eu. Carlos e Zita casaram-se em 1911, e em 1914 eram imperadores do império austro-húngaro. Zita cuidava dos pobres desde pequenina. Clarinha, ela também gostava de costurar, como tu. Quando tinha mais ou menos a tua idade, pediu como presente de anos uma máquina de costura. Imagina para quê? Para fazer roupas para as crianças pobres!
- Que lindo!
- Carlos governou sempre com justiça, empregando todos os esforços para alcançar a paz, antes do rebentar da primeira guerra. Ficou conhecido como "O príncipe da paz". Ele e Zita tiveram oito filhos, que educaram na fé católica todos os dias da sua vida.
- Os imperadores tinham tempo para educar os filhos?
- Tinham. Zita ensinava-lhes o catecismo e preparava-os para os sacramentos; Carlos contava-lhes histórias da Bíblia. Vêem, como nós gostamos de fazer cá em casa! Todos os dias rezavam em família.
- E depois, que aconteceu?
- Depois veio a guerra, a queda do império, e o exílio. Em 1921, Carlos e Zita foram exilados na Madeira, primeiro sem os filhos, depois com permissão de terem os filhos com eles. Juntos, conheceram a pobreza e até alguma fome. Mas tudo aceitaram com alegria e simplicidade. Tinham sido ricos e felizes, agora eram pobres mas continuavam felizes, porque queriam acima de tudo cumprir a vontade de Deus. O povo madeirence levava-lhes leite e ovos para ajudar a alimentar as crianças. Eles aceitavam e sabiam que era Deus a cuidar deles. Entretanto, Zita estava grávida do oitavo filho...
- E depois?
- Carlos apanhou uma pneumonia. Naquele tempo não havia antibióticos, e Carlos ficou de cama, gravemente doente, até morrer. Morreu dois meses antes do nascimento da última menina. Morreu com os olhos fixos no Santíssimo, dizendo ora a Jesus, ora a Zita o seu amor por eles.
- Que triste!
- Durante o seu funeral, o povo aglomerava-se para tocar na urna e prestar a sua homenagem a um príncipe que consideravam santo.
- E Zita? Ficou só?
- Zita cuidou dos filhos sozinha, com coragem, numa vida de oração profunda. Dedicou-se aos pobres e às causas da paz, aos orfãos e aos soldados feridos durante a Segunda Guerra Mundial, e até ao fim da vida esteve envolvida em causas humanitárias. Quando o marido morreu, Zita tinha vinte e oito anos, imaginem! Nunca mais voltou a casar, e pouco antes de morrer alegrava-se com o pensamento de em breve voltar a ver o seu Carlos. Morreu em 1989. Há tão pouco tempo!
- E são santos?
- Carlos já é beato; Zita está em processo de beatificação. Em breve teremos um casal de beatos, queira Deus! Precisamos de muitos casais de santos.
- Porquê?
- Porque eles existem, e é preciso que a Igreja no-los dê a conhecer. Jesus disse:
"Não se acende uma lâmpada para colocar debaixo da mesa, mas sobre o candelabro, e assim iluminar todos os que estão em casa." (Mt 5, 15)
- Em História, nós falamos no Império Austro-Húngaro e na dinastia dos Habsburg, mas ninguém nos fala deste casal!
- Tens, razão, Francisco, e eu lamento imenso que não haja em Portugal um punhado de cristãos capazes de editar livros de História, Português, Inglês, Ciências e todas as disciplinas escolares a partir de uma visão cristã, dando a conhecer os santos e divulgando os valores cristãos. Estes manuais fazem falta nas escolas católicas! Esperemos que surjam um dia, como já surgiram nos E.U.A. e noutros países...
- Eu ia adorar, aprender sobre a vida dos santos nas aulas de História!
- Eu sei, Clarinha. Às vezes, ficamos com a ideia de que os imperadores e reis eram todos corruptos, e afinal havia - e há - santos entre eles. Tenho de investigar mais!
O piquenique estava muito saboroso, o sol brilhava, os sinos de Fátima tocavam as Ave-Marias, e os passarinhos cantavam no céu. A toda a volta, flores e mais flores...
Se quiserem ver um dos vídeos que eu encontrei na net, aqui fica:
- Niall, vem cá depressa ler o mail que recebi da Bruna!
- Da Bruna do Brasil?
- Sim. Ela enviou-me um link com uma grande novidade. Vem ver! Os pais de Santa Teresinha vão ser canonizados durante o Sínodo da Família!
- Uau! que maravilha! O primeiro casal canonizado em conjunto!
- Pois é. Zélia e Luís Martin foram beatificados pelo Papa Bento XVI em outubro de 2008, e agora vão ser canonizados, também em conjunto.
- E são um casal tão perto de nós no tempo! Casaram em em 1858, em França... Foi há cerca de 150 anos atrás! Tu não tens aí um livro sobre eles?
- Tenho. Quer dizer, emprestei-o à Olívia outro dia. Chama-se História de Uma Família. Mas não me faz grande falta, porque o conheço quase de cor!
A família de Zélia e Luís tem sido uma inspiração para nós desde o início do nosso casamento e continuou a ser quando as Famílias de Caná nasceram. Vamos assim, com toda a certeza, adotá-los como nossos santos padroeiros, no dia da sua canonização!
Zélia e Luís tinham defeitos e problemas, como toda a gente. Mas acima de tudo, tinham uma fé imensa no amor do Senhor, e uma vontade enorme de serem santos. Eles sabiam que a santidade é obra de Deus nas nossas vidas, e que basta abrirmo-nos à graça, empenhando nesta tarefa toda a nossa vontade, para que Deus no-la ofereça.
Num tempo em que se escreviam muitas cartas, Zélia deixou-nos um enorme tesouro escrito sobre a vida espiritual da sua família. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - rezava-se o terço e meditava-se na Palavra de Deus todos os dias. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - havia um lugar de oração, encimado pela imagem de Nossa Senhora das Vitórias, a mesma imagem que um dia sorriu à futura Santa Teresinha, curando-a miraculosamente. Na sua casa - como na casa das Famílias de Caná - contavam-se histórias da Bíblia e histórias das vidas dos santos, visitava-se o Santíssimo nas diversas igrejas da cidade, servia-se o próximo com amor.
Zélia e Luís tiveram nove filhos, mas quatro morreram na primeira infância. Eles conheceram bem a dor! Com uma fé imensa, aceitaram prova após prova, sem nunca se revoltarem, plenamente convencidos do amor absoluto e infinito de Deus por eles. Depois destas quatro mortes, Zélia engravidou novamente. Tinha quarenta anos. Estaria louca? Todos a criticaram... Nove meses depois, nascia Santa Teresinha. Imagino a festa que Deus terá feito a Zélia e a Luís quando eles chegaram ao céu... Imagino Jesus a agradecer-lhes não terem recusado o dom que Santa Teresinha representou para a Igreja!
Quatro mortes, pensamos nós, seriam uma cruz suficiente para qualquer família. Mas não foi: quando Teresinha tinha quatro anos, Zélia faleceu com cancro da mama. Viúvo, Luís mudou-se com a família para Lisieux, onde viviam os cunhados, para que as filhas crescessem na companhia dos tios e das primas. Em Lisieux, as meninas conheceram o Carmelo, onde quatro das cinco irmãs se consagrariam totalmente a Deus.
Zélia e Luís tiveram uma vida difícil. Luís era relojoeiro, Zélia era costureira. E embora Zélia trabalhasse em casa, onde tinha uma pequena oficina com trabalhadoras contratadas por ela, o seu horário de trabalho era longo, prolongando-se por vezes até à meia-noite. Mesmo assim, às cinco da manhã, o casal saía de casa e dirigia-se à igreja mais próxima para participar na Eucaristia.
A sua vida familiar conta com alguns episódios bem divertidos, relatados por Teresinha na sua autobiografia e por Zélia nas suas cartas. Foram uma família alegre, que gostava de festas, de rir, de cantar, de passear no campo e de ir à pesca. As suas portas estavam abertas a todos os mendigos que passavam na rua, e os avós foram acolhidos na casa de Alençon no final das suas vidas, cuidados por Zélia e Luís até partirem para o céu. No jardim havia um baloiço onde as pequeninas brincavam. Teresinha e Celina, como os meus filhos, faziam tisanas de brincar com as ervinhas do jardim, para servir às bonecas e aos papás, e sujavam os vestidos na terra. Uma família feliz!
A santidade não é privilégio de alguns, mas vocação do ser humano. Disse Jesus:
"Sede perfeitos, como o vosso Pai que está nos Céus é perfeito."
(Mt 5, 48)
Que Luís e Zélia nos ajudem neste caminho de santidade familiar! Amen.
Num destes domingos passados, na Eucaristia, tivemos uma surpresa: o senhor Martins, irmão salesiano, despediu-se de nós. Irá passar o tempo final da sua vida na casa de repouso que os salesianos têm perto de Lisboa, pois a idade já não lhe permite cumprir a rotina diária da casa de Mogofores.
O senhor Martins tem noventa e dois anos, um sorriso magnífico, e um carinho imenso para partilhar com todos os que dele se acercam. Foram noventa e dois anos ao serviço do Senhor! Nunca o vi triste, desiludido, ou dando mostras do cansaço que deve sentir. Nunca me aproximei do senhor Martins sem regressar mais cheia de Deus. Quando o conheci, há oito anos atrás, lembro-me de pensar: "Este senhor, quando morrer, vai direitinho ao Céu!" E tenho a certeza de que assim será.
Custa-me imaginar o Santuário sem o senhor Martins, sem o seu sorriso tão bonito, sem os seus gestos tão profundos no serviço do altar, sem o carinho que sempre oferecia às crianças e os conselhos que gostava de nos dar. Enquanto o escutava, não consegui evitar que as lágrimas me molhassem os olhos.
Mas o que mais me comoveu no seu discurso de despedida foi a imensa lista de agradecimentos que o senhor Martins nos apresentou. Em vez de nos relembrar a sua obra, feita dia a dia com tanto esmero, o senhor Martins usou o seu "tempo de antena" para nos recordar todas as pessoas, sacerdotes ou leigos, que foram passando pelo Santuário durante a sua vida. Recordou as senhoras da limpeza e os diretores do colégio, as cozinheiras e os professores. De ninguém se esqueceu, e a todos se referiu com imensa gratidão. Lembrei-me do salmo:
"Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios." (Sl 103/102)
A gratidão nasce no solo fértil da humildade. Quem não é humilde, pensa sempre que tudo lhe é devido e queixa-se do que não recebe. A humildade, pelo contrário, torna-nos gratos, porque nos damos conta de que nada merecemos do bem que recebemos.
Senhor, que eu saiba agradecer! Senhor, que eu saiba contemplar o teu amor naqueles que me rodeiam e nos gestos simples de serviço que neles descubro... Senhor, se algum dia eu vier a ter noventa e dois anos, que sejam noventa e dois anos de humilde gratidão! Ámen.
- Niall, acabei de ler uma história fascinante de um casal de santos.
- É do novo livro?
- Sim, do livro que os nossos amigos nos enviaram por correio: Esposos e Santos. Posso contar-te?
- Agora? Não pode ser depois de eu lavar a louça?
- Não. Depois de lavares a louça tens de ir limpar a garagem, que os gatos portaram-se mal, e arrumar os brinquedos do jardim, que esta noite vai chover. E eu tenho de ir passar a ferro e fazer um teste para o nono ano.
- Bem, então conta lá!
Giovanni Gheddo e Rosetta Franzi, que se casaram em 1928, viveram uma vida comum, de esposos e pais, em Itália. Rosetta morreu de parto com 32 anos, deixando três filhos pequeninos, e Giovanni morreu durante a Segunda Guerra Mundial, num acto de heroísmo caridoso, ao oferecer-se para tomar o lugar de um colega condenado.
Em tão pouco tempo de vida em conjunto - seis anos -, como puderam Giovanni e Rosetta alcançar a santidade, que lhes é reconhecida por todos quantos com eles conviveram?
Ambos pertenciam à Acção Católica e ambos trabalharam activamente na sua paróquia e na sua aldeia. O seu curto namoro foi vivido num clima de pureza e simplicidade invulgares. Depois de casarem, iam todos os dias juntos à primeira missa da manhã; e ao serão, rezavam o terço com os filhos e faziam a sua leitura espiritual. Os pobres e infelizes tinham lugar privilegiado nas suas atenções, e são muitas as histórias que as pessoas da aldeia contam sobre isso!
- Niall, o que eu te queria dizer sobre este casal é... Bem, era uma nota de esperança para ti!
- Não te estou a entender.
- Bem, vou ler-te um bocadinho do texto, escrito pelo seu filho sacerdote:
"Giovanni, desenhador técnico, durante o dia trabalhava muito, visitando as quintas e as aldeias vizinhas de bicicleta, mas de manhã acordava-nos às cinco e meia para nos levar à primeira missa na paróquia, que era às seis. E às sete, começava o seu trabalho nas quintas. Nós, os dois mais velhos, ajudavamos à missa, e o Mário ficava com o pai no coro, atrás do altar. Uma recordação maravilhosa daquelas missas de madrugada é que eu fora incumbido pelo pai, se ele não aparecesse, de ir ao coro chamá-lo para a comunhão, pois às vezes, ele adormecia! Vinha imediatamente e, depois da missa, ia a sacristia, pedir desculpa ao sacerdote."
O Niall riu-se, e eu pisquei-lhe o olho.
- Vês, Teresa, não sou só eu que adormeço a rezar! - Disse-me, divertido.
Na verdade, de vez em quando o Niall adormece enquanto rezamos o terço em família, pois tal como Giovanni, também trabalha muitas horas e viaja muito. O cansaço, por vezes, é mais forte... A partir de agora, ele já sabe quem invocar quando todos o atacarmos por se deixar adormecer!
Com demasiada frequência, acusamos as circunstâncias da vida moderna de não nos permitirem uma oração familiar digna do nosso nome de cristãos. O trabalho, as viagens, os horários, as actividades dos filhos, o cansaço e o direito legítimo ao descanso, tudo nos parece desculpa suficiente para não procurarmos, criativamente, formas de nos aproximarmos de Deus em família. É por isso que nos faz bem conhecer os exemplos de santidade do passado mais recente, em que o amor maior tudo tornava possível! E mesmo que passemos pelo sono durante a oração, vencidos pelo cansaço, saibamos que
"aos seus amigos, Deus dá o pão até durante o sono..." (Sl 127/126)
Na quarta-feira, no Colégio dos meninos, foi dia de corta-mato para o terceiro ciclo e o secundário. A Clarinha participou um pouco contrafeita, porque não gosta particularmente de correr, mas o Francisco já vinha a sonhar com este dia há algum tempo. Quando, de manhã, viu o céu azul e o sol a brilhar, ficou cheio de alegria!
No fim do dia, tinha novidades para contar: alcançara o primeiro lugar!
- Nem imaginas, mãe, eu ia a correr à frente, com um grande avanço. Estava quase a chegar ao fim, e faltava uma subida muito difícil. Senti que já não tinha forças para a fazer, pois estava muito cansado, e comecei a afrouxar... Foi quando percebi que alguém me conseguira alcançar e corria ao meu lado: o Manuel!
O Manuel é um dos melhores amigos do Francisco. Juntos, montam a cavalo às quartas-feiras, e juntos exploram o universo da engenharia, fazendo construções complicadíssimas com fios e motores de máquinas avariadas.
- O Manuel a teu lado! Isso deve ter sido giro para ambos, não?
- Foi o máximo! Fiquei super contente de o ter ali, mas percebi que, para vencer, não podia afrouxar de forma alguma! Não sei como me veio a força, o que sei é que de repente deixei de estar cansado e atirei-me de cabeça ao último sprint. E tu já sabes como é quando eu entro em modo sprint!
O Manuel e o Francisco festejaram juntos a sua vitória. Na verdade, o segundo lugar do Manuel foi também um primeiro, porque apesar de estarem os dois no 11º ano, competem em escalões diferentes.
E eu fiquei a pensar... S. Paulo compara frequentemente a vida cristã a uma prova de atletismo, como já várias vezes referi:
"Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um recebe o prémio? Correi, pois, de modo que o conquisteis." (1Cor 9, 24)
Correr à frente sozinho pode ser pouco desafiante, e pode fazer-nos afrouxar, como aconteceu com o Francisco. Sozinhos, as colinas do caminho parecem-nos montanhas intransponíveis, e às vezes sentimos realmente que não conseguimos correr mais. Apetece baixar os braços e desistir, de tão cansados estamos...
Mas se outros cristãos nos desafiarem, numa sã competição, correndo a nosso lado e connosco, puxando por nós, oferecendo-nos o seu sorriso e o seu apoio, então tudo se torna mais fácil, e as forças regressam! De repente, já não apetece desistir; de repente, lançamo-nos num sprint imparável, que nos leva à meta e a uma vitória que partilhamos alegremente com os irmãos na fé.
É o que acontece com as Famílias de Caná... Nos blogues e na vida, no trabalho nas paróquias e no trabalho na família, vamo-nos desafiando umas às outras. Uma família partilha o seu canto de oração, e logo outras decidem contruir um em suas casas; uma família propõe formas de visitação, e logo outras partem à descoberta do serviço; uma família fala em adoração, e logo outras contactam os seus párocos para também nas suas paróquias terem um espaço e um tempo de adoração; uma família partilha a sua experiência com o planeamento familiar, e logo outras se inscrevem em cursos; uma família partilha o seu plano bíblico, e logo outras decidem pegar na Bíblia e ler...
Que assim seja com toda a Igreja de Cristo! Possamos todos nós, cristãos, desafiarmo-nos uns aos outros no caminho da santidade; que o amigo desafie o amigo e o irmão desafie o irmão, que os pais desafiem os filhos e os filhos desafiem os pais, que o marido desafie a mulher e a mulher desafie o marido! É esta "competição" sadia a única que agrada ao Senhor: agora "puxo" eu por ti, depois "puxas" tu por mim, e quando damos conta, estamos juntos na meta... Aleluia!
Hoje é dia de festa: Dia de Todos os Santos, conhecidos e desconhecidos, casados, consagrados, sacerdotes, solteiros, jovens, crianças, idosos… Cá em casa não há "Halloween" (que está cada vez mais associado a cultos satânicos), mas em vez disso, há certamente quem se disfarce do seu santo padroeiro! Depois mostro-vos - claro, noutro post
“São poucos os que se salvam?” Perguntaram um dia os discípulos a Jesus. No Apocalipse, encontramos a resposta:
"Depois disto, apareceu na visão uma multidão imensa que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão..." (Ap 7, 9)
Todos somos chamados à santidade. A Palavra de Deus é antiga:
“Sede santos, como Eu, o Senhor, sou santo.” (Lv 19, 2)
O Niall e eu escolhemos fazer este caminho de santidade através um do outro, pelo sacramento do matrimónio. Da nossa procura da perfeição faz parte esta atribulada história sobre o planeamento familiar. Aqui fica pois o próximo capítulo desta nossa “novela", na sequência deste post:
Eu sei que é costume o casamento acontecer na terra da noiva. Mas nós decidimos antes casar em Fátima, na terra da nossa Mãe comum, Maria. Portanto, na véspera do casamento, tanto eu como o Niall andávamos a passear por Fátima – ele com a sua família, eu com a minha, evitando encontrarmo-nos, para não estragar a surpresa do dia seguinte.
E foi assim que, separadamente e sem combinarmos, ambos nos fomos confessar (apesar de o termos feito há muito pouco tempo em Aveiro), para que o nosso “traje nupcial” fosse realmente uma "túnica branca" diante do "Cordeiro". Em Fátima é tão fácil aceder ao sacramento da reconciliação!
De novo – separadamente e sem combinarmos – ambos fizemos a mesma pergunta ao sacerdote que nos confessou: como podíamos planear a nossa família? E finalmente, sob o olhar maternal de Maria, que sempre nos valeu, a tão procurada resposta chegou:
- O que tu queres saber está na Humanae Vitae, a encíclica do Papa Paulo VI. Podes comprá-la na livraria ali ao lado. E aproveita para comprar também um livro sobre o Método Billings.
- Sobre o quê? - Eu era mesmo ignorante...
- Sobre o Método Billings. O Método da Ovulação, descoberto pelo casal Billings. B-I-L-L-I-N-G-S.
Este sacerdote (terá sido o mesmo para os dois?) estava pois em sintonia com o que, agora, o papa Francisco diz à Igreja: "A única forma de ajudar nesta crise da família é ser claro nas ideias e nos valores." (Homilia do encontro internacional com o movimento de Schoenstatt, 25 de outubro)
Ao sair do confessionário, dirigi-me imediatamente à livraria Verdade e Vida, onde encontrei os dois livros. E nesse mesmo dia, na minha ânsia de obter respostas, li grande parte de ambos! Li pelo menos o suficiente para deitar fora a tal caixinha do medicamento que me fora prescrito; e para deixar de me afligir com o tema.
Durante o dia do nosso casamento, consegui trocar algumas palavras a sós com o Niall (sabem como é difícil falar a sós nesse dia!), e ainda nos rimos com as coincidências da nossa aventura da véspera. Só eu comprara os livros, pois na altura o Niall não conseguia ler bem português.
Os esposos Billings, médicos australianos e católicos, já tinham nove filhos quando a encíclica Humanae Vitae (Paulo VI, 1968) foi publicada, e não tinham qualquer intenção de canalizar a sua inteligência para contestar os ensinamentos papais; mas há algum tempo que a vinham canalizando para auxiliar a Igreja nesta grande e nobre tarefa de acompanhar os casais no seu planeamento familiar. A obediência, como eu disse neste post, é fonte de imensa criatividade! Eles acreditavam que Deus dotara a mulher de sinais evidentes e simples da sua fertilidade. Restava saber: que sinais?
Anos de estudo deram origem ao Método Billings, com uma eficácia (reconhecida pela OMS) igual ou superior à da pílula, e sem qualquer tipo de contra-indicação. Os dois cientistas receberam vários doutoramentos honoris causa e correram o mundo divulgando o seu método junto de todo o tipo de populações, das mais cultas às mais analfabetas, inclusive na China, sempre ao serviço da Igreja e da vida.
(O casal Billings com S. João Paulo II)
Os métodos de planeamento familiar natural, com destaque para o Método da Ovulação, ou Método Billings, são portanto saudáveis e ecológicos, o que não deixa de ser importante numa sociedade cada vez mais preocupada com as questões do ambiente. Mas acima de tudo, estes métodos são compatíveis com a visão de matrimónio que nos é proposta por Jesus no Evangelho.
Dentro do livro sobre o Método Billings, vinha um folheto informativo sobre uma das associações que, em Portugal, promove o planeamento familiar natural: o MDV (Movimento de Defesa da Vida). Durante o nosso primeiro ano de casados, estando eu já grávida pela primeira vez (uma gravidez que terminou num aborto espontâneo), tivemos a oportunidade de fazer este curso, realmente fascinante. Finalmente, alguém me ajudava a contemplar e a entender a beleza do ciclo feminino e da sexualidade humana!
Só muito mais tarde conheci a "Teologia do Corpo", as catequeses de S. João Paulo II que, ao longo de quatro anos de pontificado, aprofundaram o tema do matrimónio. Uma maravilha! Vale a pena comprar livros ou ver vídeos sobre o tema.
Na sequência do post de ontem, vários leitores deste blogue tiveram a gentileza de me informar que nos sábados dia 8 e dia 15 deste mês de novembro vai decorrer em Lisboa novo curso de planeamento familiar natural, promovido pela Associação Família e Sociedade. Este curso tem a grande vantagem de proporcionar aos casais acompanhamento médico na sua aprendizagem do método proposto. A ficha de inscrição vem no site. Nem esta associação, nem o MDV têm qualquer orientação confessional, pelo que todos, sem excepção, estão convidados a fazer estes cursos. Aliás, segundo me informaram, a grande procura não vem de casais católicos, mas de casais... ecologistas!
Foi fácil aprender o planeamento familiar natural? Não. Desengane-se quem achar que o pode conseguir sem capacidade de renúncia, sem grandes doses de paciência e sem um imenso amor!
Valeu a pena aprender o planeamento familiar natural? Sim, absoluta e infinitamente. A liberdade de amar com todo o meu ser e de me sentir amada e respeitada nos momentos de fecundidade e de infecundidade cíclica, a descoberta do poder do desejo e do poder da renúncia são inestimáveis. Nada se lhes compara!
Resulta, o planeamento familiar natural? Connosco, resultou a cem por cento! Aliás, neste momento conheço tão bem o meu corpo, que seria quase impossível engravidar sem querer... Temos o número de filhos que decidimos ter, decisão essa que nunca é definitiva, mas a cada ciclo retomada em clima de oração. Uma das diferenças em relação à pílula é que não decidimos hoje que queremos engravidar daqui a alguns meses, mas decidimos hoje que queremos engravidar... hoje! A contracepção nunca nos permitiria ter tomado algumas das decisões que tomámos, num momento de paixão, e que resultaram em "surpresas" maravilhosas
Este post já vai longo… Deixo-vos ainda dois links: este para o testemunho de um casal cristão durante o recente sínodo dos bispos; e este para o testemunho de casais muito jovens no jornal i. O primeiro fez-me sorrir, porque me revi nos seus argumentos; o segundo deixou-me cheia de santa inveja: quem me dera ter tido esta clareza de pensamento no dia do meu casamento! Boas leituras…
Que a Festa de Todos os Santos seja para as famílias cristãs um verdadeiro desafio à santidade, donde emana a fonte da felicidade. Repetindo as palavras do Papa Francisco no sábado passado, "os únicos que renovaram a Igreja foram os santos." Ámen!
Desde pequena que a Clarinha sonha com ginástica e que pratica na escola, em casa, na praia, no campo, em todo o lado. Finalmente, o ano passado, abriu perto de nós, no Velódromo Nacional de Sangalhos, uma classe de ginástica rítmica, permitindo à Clarinha concretizar o seu grande sonho: praticar para competição!
A Clarinha tem sido um exemplo de determinação! Olhem só como ela faz para estudar para o teste de Físico-Química e não deixar de treinar as suas espargatas diárias ao mesmo tempo:
No sábado, a Clarinha teve a sua primeira exibição, na Feira Social de Anadia, dançando com a sua classe de competição. Estava linda! Reconhecem-na?
Em breve, a Clarinha terá a sua primeira prova. E depois outra, e mais outra... Às vezes, quando chega a casa, a Clarinha tem o corpo todo dorido. Sabem o que a professora lhe diz para fazer quando as costas doem demais? Continuar a dobrá-las, até a dor passar! Ah... O segredo não é desistir, mas insistir.
Quando tem tempo, a Clarinha senta-se em frente do computador para ver exibições das suas ginastas favoritas, as grandes campeãs dos Jogos Olímpicos. E enquanto as observa com atenção, a Clarinha sente-se desafiada a trabalhar o seu corpo para atingir a perfeição que lhe é possível.
Recordo aqui o encontro de Jesus com o jovem rico. Imagino o entusiasmo do jovem rico, ao saber que o grande profeta andava por aquelas paragens! Chegara a sua oportunidade de se deixar desafiar. Quem sabe não estaria a tempo dos "Jogos Olímpicos" do Reino de Deus! O jovem correu ao encontro de Jesus:
"Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?" (Mt 19, 16; Mc 10, 17)
Sabem o resto da história: Jesus desafiou-o a cumprir os mandamentos... Desilusão! Que desafio tão baixinho... Os mandamentos, já ele os cumpria desde a sua juventude! Não poderia saltar mais alto? Não teria Jesus "exercícios" mais difíceis a propor? Diz-nos o evangelho então que
"Jesus olhou para ele com amor e disse: «Se queres ser perfeito, vai vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-Me.»" (Mt 19, 21; Mc 10,21)
De olhos baixos e ombros caídos, o jovem rico foi-se embora. Certamente que continuou a ser rico, mas nunca mais foi feliz: entre felicidade e facilidade, o jovem fez a sua escolha. Os "Jogos Olímpicos" do Reino não foram para ele...
No final desta fase de trabalhos do Sínodo da Família, o Papa fez algumas conclusões e alertou-nos para algumas das mais perigosas tentações dos cristãos: a tentação farisaica de reduzir a relação do homem com Deus a números e gráficos, porque "está escrito"; e a tentação "liberal" e "medrosa" de "enfaixar as feridas antes de as curar", que torna a Igreja mundana. É preciso, diz o Papa, ser misericordioso como Jesus é misericordioso, mas exigente como Jesus é exigente.
As costas doem, a espargata não abre mais? O segredo não é deixar de treinar, nem treinar menos, mas pelo contrário, insistir, insistir, insistir...
Enquanto "treinamos", percamos algum tempo a "ver vídeos" sobre aqueles que alcançaram o "pódio", para não nivelarmos por baixo os nossos esforços. É que, contrariamente ao desporto, no "atletismo divino" todos alcançamos a recompensa pela qual trabalhamos!
Como Pedro, Tiago, João, Zaqueu, Madalena; como Teresa de Ávila, João da Cruz, Clara de Assis, Joana Beretta-Molla, Francisco Xavier, o casal Beltrami, o casal Martin... seremos menos ricos, mais sujos, mais suados, teremos as "costas" mais treinadas, mas ao contrário do Jovem Rico, seremos imensamente felizes!
Bendito seja Deus, que não baixa a fasquia! Ao levantar-me do chão, onde tantas e tantas vezes volto a cair, o Senhor cura as minhas feridas, enfaixa-as em perdão e ternura, e por fim, "olhando-me com amor", lança-me de novo no treino para os "Olímpicos" do Reino...
Que a Clarinha seja para mim exemplo de determinação, esforço, alegria - e vitória, nesta aventura da santidade. Ámen!
Beato Paulo VI, roga por nós! Roga pelas famílias cristãs, que necessitam de tanta misericórdia, tanto cuidado, tanto enfaixar de feridas - mas também tanto desafio à santidade!
Hoje, no Vaticano, Paulo VI foi beatificado, e queremos dar graças a Deus por tão grande dom à sua Igreja. Quanta gratidão para com quem, com sofrimento e coragem, soube acreditar em Deus e na sua criatura, o Homem!
Obrigada, papa querido, por não teres tido medo de desafiar a tua Igreja, em especial as famílias, à santidade, no meio do terramoto em que viveste. Queremos ser herdeiros da tua grande coragem e da tua grande misericórdia... Roga por nós!
(Quando tiver um pouco mais de tempo, dedicarei mais umas palavras a tão grande papa e ao que ele fez - sem o saber - pela nossa família... a sério!)
A Sara tem andado muito atarefada a aprender uma coisa muito importante: fazer chichi e cocó no bacio e deixar a fralda de vez! Esta aprendizagem tem consumido toda a sua concentração e toda a sua energia, e a Sara tem chegado da escola cansada e birrenta. Conscientes da luta que ela tem travado, temos aumentado as doses de paciência e de carinho, aguentando em silêncio os choros intermináveis acompanhados de pontapés e murros no chão, e caminhando pela casa e pelo pátio de esfregona em punho para limpar os vários "acidentes" de percurso.
Mas ontem foi dia de cantar vitória: de repente, a meio da tarde, a Sara foi a correr para a casa de banho, e saiu de lá meia despida, a correr também. Pegando-me na mão, a Sara conduziu-me à casa de banho e apontou para o bacio, com um sorriso triunfante. Ali dentro, transparente, amarelo, mal cheiroso, estava o líquido precioso tão aguardado, fruto de tantos esforços e razão de ser de tanto trabalho: chichi! Chamei os manos, que vieram a correr:
- Mostra, mostra!
- Não despejes sem eu ver!
- Eu também quero ver!
- Boa, Sara!
- Parabéns!
E naquela casa de banho, a Família Power fez uma festa à volta de um bacio!
O Papa Francisco escreveu na sua Carta Encíclica A Alegria do Evangelho, número 44:
"Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correcta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades."
Uma das famílias que fez o último retiro Famílias de Caná escreveu-me para o mail, dizendo que desejava de todo o coração ser Família de Caná, mas que estava consciente de ainda estar muito, muito longe do nosso ideal.
Hoje, a Sara aprendeu a fazer chichi no bacio; amanhã, aprenderá a andar de bicicleta; depois, descobrirá que consegue ler e escrever. As vitórias de hoje são muito pequeninas, mas muito importantes, porque sem elas, não alcançamos as seguintes. Se eu, que sou apenas uma mãe terrena e imperfeita, sou capaz de verdadeiramente saltar de alegria diante do chichi no bacio da Sara, quanto mais Deus, o nosso Pai e Criador, não saltará de alegria diante das nossas mais pequeninas conquistas?
Caminhar na direcção do ideal de santidade que desejamos é cansativo e exige toda a nossa concentração, como aprender a fazer chichi no bacio exigiu da Sara. Vamos fazer birras, vamos ter vontade de nos atirarmos ao chão com muitos pontapés e murros, vamos chorar, vamos sentir a tentação de desistir. Mas um dia, de repente, descobrimos que somos capazes. Diz o salmo 125/126:
"Aqueles que semeiam com lágrimas,
vão recolher com alegria.
À ida vão a chorar,
carregando e lançando as sementes.
No regresso cantam de alegria,
transportando os feixes de espigas."
Ah, que festa faremos então...