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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Oração familiar. Já passava das nove e meia da noite e ainda não tínhamos começado o terço. Insisti para que a Lúcia e o David se fossem deitar.
- Não, por favor, deixa-me rezar o terço até ao fim! - Pediram. Fui cedendo. Um mistério, outro, outro...
- Pronto, agora já rezaram três mistérios. Cama!
- Mas eu quero rezar tudo - Insistiu a Lúcia. O David aceitara a proposta e já estava a caminho do quarto.
- Olha, levas o terço contigo e acabas na cama - Sugeri à Lúcia, um pouco à pressa. - Vamos, deitar! Quando eu acabar de rezar vou dar-te um beijinho.
A Lúcia cedeu e lá se foi deitar. Acabei de rezar com o Niall, o Francisco e a Clarinha, e eis que de repente a Lúcia entrou na sala, de terço na mão e mo entregou.
- Que fazes aqui, Lúcia? - Perguntei - Pensei que te tinha dito para te deitares!
- Disseste para eu rezar na cama, eu rezei e estou a trazer o terço de volta para o cantinho de oração - Explicou-me ela - E queria que me ajudasses a rezar a Salvé-Rainha, porque não estou a conseguir sozinha!
Fiquei sem palavras durante uns instantes.
- Tu rezaste sozinha mesmo? Os dois mistérios?
- Sim, rezei. Contei muito bem as Avé-Marias. Ajudas-me na Salvé-Rainha?
Com a Lúcia ao colo e no meio de muitos beijinhos, fiz o que ela me pedia. Depois deitei-a com ternura. Nunca mais a mando para a cama sem acabar o terço! E fiquei a pensar... Terei eu a sua fidelidade à oração a que me proponho todos os dias? Ou, contrariamente à Lúcia, deito-me e adormeço sem dar a Deus o primeiro lugar?
Segunda-feira estive o dia inteiro a fazer as matrículas da minha direcção de turma, ao mesmo tempo que entregava as avaliações. A maior parte dos pais vieram acompanhados dos filhos, por isso tive oportunidade de conversar com os meus alunos.
- Que tal as férias? - Perguntei a cada um.
Eles encolhiam os ombros e respondiam quase invariavelmente:
- Uma seca!
- Então porquê?
- Não há nada para fazer! Durmo até ao meio-dia, depois vejo televisão, jogo computador, vou ao Face, e pronto! Estou sozinho em casa...
Quando regressei a casa, no final do dia, a Clarinha tinha duas surpresas para mim. A primeira era uma linda bolsa de pano para o meu telemóvel, feita com muito carinho na sua máquina de costura:
A segunda era esta bela dezena de elásticos:
Adorei as minhas prendas, claro! E entusiasmei a Clarinha: porque não fazia ela mais algumas para oferecer e até, quem sabe, vender entre amigos? Ela achou a ideia muito boa. Chamou uma amiga, a Marta, e puseram mãos à obra!
Passaram algumas tardes à volta dos elásticos:
Fizeram muitas dezenas e ainda um belíssimo terço:
Já repararam que cada Pai-Nosso é uma letra do nome Jesus? Jesus é, na verdade, o centro da oração do Rosário, o centro de cada Avé-Maria!
Ontem, as duas amigas descobriram que também podiam fazer terços com missangas e fios, e bolsinhas para os guardar. Os crucifixos são em feltro:
Agora resta pedir ao senhor padre para vir até cá fazer-nos uma visita simpática e abençoar, com os seus super poderes, estes belos auxiliares de oração. Depois, ao serão, iremos passar estas lindas missangas entre os dedos ao som das Avé-Marias... A Clarinha já sabe a quem quer oferecer as suas lindas obras de arte. E no seu coração generoso já decidiu que vai levar algumas para os retiros Famílias de Caná, para as poder vender, e assim ajudar a cobrir alguns pequenos gastos com material. Bem, se quiserem que ela vos ofereça algum terço, peçam para o mail!
As férias não têm de ser "uma seca"! Sim, nas férias é importante começar por nos aborrecermos um bocadinho, com a quebra do ritmo escolar. Mas não nos precipitemos a matar esse aborrecimento com a televisão ou o computador! Utilizemo-lo como espaço de criatividade. Deus dotou-nos a cada um com cerca de cem biliões de neurónios, o que, traduzido da biologia para a engenharia, equivale a mais de quatro mil computadores novinhos em folha. Não nos queixemos de faltas de ideias! A preguiça sempre foi tradicionalmente considerada um dos sete pecados capitais, porque na verdade, ela abre a porta ao Maligno. A Bíblia é muito clara na sua condenação da ociosidade:
"Até quando dormirás tu, ó preguiçoso? Quando te levantarás do teu sono?" (Pr 6, 9)
Férias é tempo de descanso, de quebra de ritmo, de mudança de rotinas, de tirar o relógio do pulso, de divertimento e de aventura; mas férias não é tempo de preguiça! Desafiem os vossos artistas a meter mãos à obra. Neste post já deixei algumas sugestões para a construção de terços artesanais. Hoje ficam mais algumas. Enviem as vossas fotos!
E por falar em Famílias de Caná... De que estão à espera para se inscreverem no retiro?
No fim do retiro, a Olívia tinha um presente para nós: uma dezena do rosário lindíssima, adquirida junto de uma amiga, a Isabel Figueiredo. O que me surpreendeu nesta dezena, mais ainda do que a beleza de cada conta e da forma como estão ligadas, foi o crucifixo. Ora vejam com atenção:
Sim, é uma roseira! A Olívia recordava-se do post sobre a poda das roseiras, que escrevi na quaresma passada, e da reacção dos meninos aos espinhos das rosas. E assim, pediu à sua amiga que rematasse a linda dezena com um crucifixo em forma de roseira. Domingo à noite, antes a procissão de Nossa Senhora Auxiliadora, o senhor padre abençoou esta dezena, e foi com ela entre os dedos que rezei.
Para colhermos as rosas que nesta altura do ano iluminam o nosso jardim, precisamos de não ter medo dos espinhos. Às vezes, eles ferem-nos os dedos e deixam que uma gota de sangue caia na terra. Mas que importa isso diante da beleza de cada rosa? Com um encolher de ombros, limpamos o sangue e concentramo-nos no perfume. No jardim, onde crescem ao sol, ou no Canto de Oração, onde alegram o pequeno altar de Maria, tudo nas rosas nos fala de alegria, de cor e de luz. Quem se lembra dos espinhos então?
Na sua primeira homilia papal, a 14 de março de 2013, o Papa Francisco recordou-nos:
"Quando professamos um Cristo sem cruz não somos discípulos do Senhor"
Na verdade, a cruz onde Jesus nos amou até ao fim tornou-se para nós em Árvore da Vida, e é esse o mistério pascal, que celebramos de forma mais intensa nestes dias. Temos problemas financeiros, profissionais, e até familiares? Custa-nos a rotina diária, o cuidar da família, o cuidar dos outros? Estamos doentes? O teste correu mal? O Pantufa fez um arranhão? O amigo magoou-nos? Dói a cabeça? A mãe ralhou sem razão, e o professor também? O filho fez-nos perder a paciência? Choveu durante todo o piquenique? Que alegria, podermos partilhar alguns dos espinhos que coroaram o nosso Rei! Pois se a sua coroa floriu, a nossa também florirá. Se partilharmos o seu trono (já sabem cantar aquele pequeno refrão sobre a realeza de Jesus?), com Ele reinaremos também. Disse Jesus - e neste tempo pascal já escutámos estas palavras na Eucaristia:
"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por Mim." (Jo 14, 6)
Parece-me importantíssimo ensinarmos os nossos filhos - e vivê-lo nós também - este grande mistério: tudo, tudo, tudo pode ser, na nossa vida, fonte de alegria, desde que realizado com amor e por amor, em íntima união com o Amor, que por nós deu a vida numa cruz. É este o segredo da felicidade cristã, a razão profunda que faz com que os cristãos estejam sempre alegres!
No meu jardim, e no meio de muitos espinhos, as roseiras estão em flor...
É agora que se inspiram para fazer as vossas dezenas ou os vossos terços caseiros?...
No nosso Canto de Oração, temos terços e dezenas (dez contas para rezar a Avé-Maria) de todas as formas e feitios. Alguns foram comprados, outros foram feitos por nós, outros feitos por amigos e oferecidos. Alguns estão partidos, outros ainda inteiros. Tudo depende de quem os segura durante a oração! É que, se alguns de nós passam as contas pelos dedos com calma e cuidado, outros enrolam-nos nas mãos ou deixam-nos cair; e de vez em quando, já me apercebi de que o Francisco treina alguns gestos de "manipulação de objectos" necessários para o seu ilusionismo durante a nossa oração familiar (embora ele jure a pés juntos que nunca tal fez)!
Maio é o mês de Maria e, assim, o mês do terço. Se ainda não experimentaram rezar o terço em família aí em casa, Maio é um bom mês para começar! Foi realmente em Maio que, há muitos anos atrás, nós decidimos rezar o terço com as crianças, na altura apenas o Francisco e a Clarinha. A catequista do Francisco, que frequentava o primeiro ano de catequese, sugeriu aos meninos para rezarem o terço. Ao chegar a casa, o Francisco transmitiu o recado, e nós apercebemo-nos então de que talvez já fosse tempo dele se juntar à nossa oração. E assim foi! A partir daí nunca mais receámos que as crianças fossem demasiado novas para se unirem à oração do terço. Aliás, quando Nossa Senhora pediu aos pastorinhos para rezarem o terço todos os dias, a Jacinta tinha apenas sete anos! Eu confio na sua intuição materna.
Claro que, enquanto eles são pequeninos, não nos preocupamos com o seu grau de atenção ou com as brincadeiras que vão fazendo enquanto rezam. Queremos sobretudo que eles tenham gosto em nos acompanhar na nossa oração e a sintam como importante na sua vida, mesmo sem perceber exactamente o que nela acontece. À medida que crescem, procuramos que se concentrem nos mistérios e nas palavras que rezamos, para que a oração desça dos lábios ao coração. E assim, cheios de imperfeições e de boa vontade, lá vamos caminhando.
Fazer terços ou dezenas com as crianças é uma óptima forma de despertar o seu interesse por esta magnífica oração. The Catholics Next Door ensinam-nos a fazer terços com nós de uma forma muito simples e bonita. Para aprenderem com eles, através de um vídeo ou de instruções escritas e desenhos, podem clicar aqui.
A Vera e a Lurdes, duas magníficas educadoras de infância e catequistas da nossa paróquia, fizeram terços a partir de missangas com as crianças do último retiro para famílias. E quando vieram participar nesse mesmo retiro, a Rute, o Serge e os seus três filhos ofereceram a cada um dos nossos filhos uma dezena feita por eles. Fotografei todas estas dezenas para vos mostrar:
Gosto especialmente da dezena feita com botões. Temos sempre tantos botões perdidos em nossas casas! Esta é uma óptima forma de os reutilizar. A Rute fez os crucifixos a partir de um cinto de cabedal velho, que cortou e trabalhou com arte. Tirei uma foto mais de perto para vos inspirar a fazer as vossas próprias dezenas:
Agarrem o desafio, façam um terço ou uma dezena com as crianças, usando nós, missangas, botões ou o que quer que a vossa criatividade vos sugira, e enviem a foto para o meu mail, que eu encarrego-me de a publicar aqui no blog! Possamos todos, neste mês de Maio, honrar a nossa Mãe e Mãe de Jesus, rezando-lhe com fé e alegria. Ámen!
Oração familiar. Sentados nos banquinhos de cortiça, rezamos em silêncio. Depois peço ao Francisco para distribuir os terços, enquanto vamos partilhando intenções de oração: pela paz, pelos doentes que nos pediram oração, pelos nossos amigos, pelas Famílias de Caná...
- Qual é a história hoje? - Pergunta o David.
- Queres dizer, quais os mistérios que vamos meditar? - Corrijo.
- Sim, é a mesma coisa - Explica ele, encolhendo os ombros.
Rezar o terço é uma das maiores fontes de graças que conheço. E conheço não por ouvir falar, mas por experimentar na minha vida pessoal e na vida da minha família.
Uma dessas graças é aprender a meditar na "história" de Jesus, episódio a episódio, o mesmo é dizer, mistério a mistério. Quando rezamos o terço, desenvolvemos uma relação dinâmica com o Senhor: hoje pensamos em Jesus criança, amanhã meditamos na sua vida adulta, do seu baptismo no Jordão até áquele anoitecer magnífico e terrível de quinta-feira santa em que nasceu a Eucaristia; depois acompanhamos Jesus carregado com a sua e a nossa cruz, e assistimos, de pé, com Maria, à sua morte de amor; por fim, exultamos com a sua ressurreição e, como os apóstolos, damos por nós a olhar para o céu, à espera do seu regresso glorioso. São os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos do rosário.
Quem reza o terço diariamente, no final de cada semana vai dar-se conta de ter passeado por todo o evangelho e de ter feito companhia a Jesus em todos os momentos da sua vida, dos mais bonitos aos mais dramáticos. Sem o terço, corremos o risco de nos centrarmos apenas num ou outro ponto da sua vida e de relegar os outros apenas para os tempos fortes do ano litúrgico. Mas Jesus quer ser amado e adorado em toda a sua existência humana, desde o momento precioso em que incarnou no seio de Maria. Jesus bebé, Jesus menino, Jesus adulto, Jesus glorioso. Jesus.
- Hoje vamos meditar nos mistérios gozosos - Respondo ao David.
- É a história de Maria e de José?
- Sim, essa mesma - Acrescento, sorrindo.
Pegamos nos terços e começamos a rezar.
Tal como combinado, o David lê um pedacinho do Novo Testamento todas as noites, depois do jantar. Ontem leu o Nascimento de Jesus, em Lucas 2, e hoje pediu-me para encontrar a passagem sobre Maria grávida. Coloquei-lha nas mãos e deixei-o sozinho com a Palavra, enquanto fui deitar os três mais pequenos. Quando regressei para junto dele, o David estava muito entusiasmado:
- Mamã, sabes que o anjo já sabia rezar a Avé-Maria? Olha aqui, lê comigo:
"Avé, cheia de graça, o Senhor está contigo!" (Lc 1, 28)
Expliquei-lhe então que, na verdade, o anjo Gabriel foi o primeiro a rezar a Avé-Maria. Em conjunto, descobrimos depois que Isabel, a sua prima, completou as palavras do anjo com o seu cumprimento a Maria:
"Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!" (Lc 1, 42)
O David estava feliz com a sua descoberta. Acho que percebeu por que razão é tão importante rezar a Avé-Maria: se os anjos o fazem, se santa Isabel o fez, quem somos nós para não o fazer? Rezar a Avé-Maria é uma inspiração do Espírito Santo, como S. Lucas nos diz (cf. Lc 1, 41).
Com o seu terço na mão, o David foi repetindo "Avé-Maria" e acompanhando a oração familiar, até serem horas de ir para a cama. E nós lá continuámos, "Avé- Maria..."