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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Mamã, eu queria um robô super mega fixe no Natal.
- E eu queria um carro telecomandado!
- Tanto disparate, meninos! O David já fez anos, e o António vai fazer em Fevereiro, portanto, ambos recebem uma prenda de anos. No Natal, todos receberão um presente mais simples e pequeno, porque há outra pessoa que faz anos, não é verdade?
- Pois, é Jesus...
- Então quem precisa de prendas é Jesus, e não os meus filhos, que têm brinquedos mais do que suficientes. Já prepararam hoje uma prenda para Jesus?
- Uma estrela?
- Sim, uma estrela...
Suspiros.
- Eu dou a Jesus a estrelinha de não pensar mais no robô...
- E eu não vou fazer nenhuma birra hoje. Prometo!
- Isso seria mesmo bom. Um bocadinho de silêncio nesta casa...
- Mamã, queres fazer um sacrifício para também dares uma estrelinha a Jesus?
- Quero, António, quero sim. Tens alguma sugestão?
- Tenho: fazes o sacrifício de nos deixar ver televisão!
- ????????
Educar e educarmo-nos para uma vivência profundamente cristã do Advento exige um trabalho contínuo e sério. Não vale a pena deitarmos mãos ao arado se depois olharmos para trás. Não vale a pena começarmos se tivermos medo das comparações inevitáveis que as crianças vão fazer entre o seu Natal e o Natal dos seus amigos.
O Natal como Jesus o quer não está escondido algures na nossa infância. As nossas memórias de simplicidade não contam toda a verdade, pois as crianças que eramos não tinham como entender tudo o que se passava; e nem sempre a simplicidade que algumas famílias recordam estava impregnada de Deus!
O Natal como Jesus o quer está disponível hoje, aqui e agora, no nosso presente. Talvez possamos ir buscar ideias e inspiração à nossa infância; ou talvez precisemos antes de arriscar e de inventar os nossos próprios rituais familiares!
Saibamos integrar-nos com humildade e em clima de harmonia naquilo que são as tradições das nossas famílias alargadas, sem deixar de dar testemunho da nossa fé. A aprendizagem que resulta do encontro festivo da família, mesmo quando este é difícil, é muito superior aos conflitos que vão surgindo! Se forem à caixa de comentários ao post Tempo de Família em Época de Natal, encontrarão as mais variadas sugestões para simplificar a troca de prendas nas famílias. Na família do Niall (nove irmãos e nove cunhados), no início do Advento um dos irmãos tira à sorte quem vai oferecer um presente a quem, em nome de toda a família. Assim, cada um de nós só precisa de comprar um presente, e não dezasseis.
Dentro das nossas próprias casas, contudo, não estamos dependentes de tradição alguma, e temos liberdade completa para as transformar no presépio onde Deus hoje quer incarnar e habitar. Sim, nós podemos reinventar o Natal! E asseguro-vos de que é fantástico, quando percebemos que estamos a escrever a História da nossa família!
No início do Advento, Jesus aconselhou-nos a estar atentos, para que a sua chegada não nos apanhasse distraídos com os nossos afazeres, mas centrados no essencial:
"Vigiai, portanto, não se dê o caso que, vindo o dono da casa inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: vigiai!" (Mc 13, 37)
Sentemo-nos hoje mesmo, ao serão, em família, e façamos uma "chuva de ideias" em redor do verdadeiro Natal de Jesus. Como vamos celebrar o seu nascimento na nossa pequena família, antes, depois ou durante todas as festas familiares que acompanham esta época? Sejamos ousados, criativos, alegres e simples. E o Senhor virá, e habitará entre nós! Ámen.
PS - Enviem-me por favor, para o mail, fotografias dos vossos céus estrelados, das vossas Árvores de Jessé, ou da forma que descobriram aí em casa de preparar simbolicamente o Natal! Estou a escrever um post com algumas fotografias já recebidas, e teria todo o gosto em publicar as vossas também!
Cá em casa, a partir do início de Dezembro há uma actividade que é proibida: ir às compras em família. Acabaram-se as idas dos mais novos ao Continente no sábado de manhã, para ajudar o pai a encher o carrinho de arroz, massa, leite, iogurtes e carne: a partir de Dezembro, o pai faz isso sozinho.
Os nossos filhos vêem pouquíssima televisão - o Francisco e a Clarinha gostam de ver vídeos do seu interesse no computador, relacionados com os seus hobbies: magia, ginástica, música, ciência; os mais novos vêem meia hora de televisão ao sábado, depois do banho, quando passa o Jake e os Piratas. E é tudo! Assim, a única outra fonte de exposição que os Power junior têm ao consumismo desta época é o Continente. Mas mesmo essa me parece excessiva, quando procuramos preparar o Natal.
Não podemos falar de um Jesus pobre, humilde, sem lugar na hospedaria, quando à nossa volta reluzem as últimas novidades no universo dos brinquedos. E é complicado educar para a renúncia diante de tanta oferta! Para mim, adulta, uma simples ida às compras para encher a despensa cá de casa nesta época festiva é suficiente para perturbar o espírito de oração e de contemplação que tento cultivar. O que não fará às crianças!
Tenho uma amiga em Aveiro que me falou das filas intermináveis, no domingo passado, na variante, por causa dos acessos às grandes superfícies na zona industrial. Eu dei uma gargalhada: ah, o nosso domingo foi tão tranquilo, tão cheio dos louvores do Senhor!
O dia estava lindo, portanto, o Francisco, a Clarinha e o David foram de bicicleta, e nós fomos de carro, transportando as bicicletas dos mais novos. O destino era a Curia, que dista uns dois quilómetros da nossa casa:
Na serenidade da floresta encontrámos um tapete vermelho outonal lindíssimo a cobrir o chão, junto do lago. Foi aí que fizemos o nosso piquenique. Tinhamos levado connosco uma caixa com deliciosas broinhas de Natal, que uma amiga muito querida nos oferecera na véspera. Ah, souberam tão bem!
O Francisco desapareceu logo depois do lanche, montado na sua bicicleta. Encontrámo-lo mais tarde, empoleirado numa árvore...
... e depois noutra...
... e depois noutra e ainda noutra...
Os mais novos brincaram no parque e fizeram castelos de folhas de outono:
O Livro de Neemias conta uma história magnífica: Neemias sentiu o chamamento do Senhor a regressar a Jerusalém e a reconstruir as muralhas da cidade, para que todo o povo pudesse regressar do longo exílio na Babilónia e voltar a viver de acordo com a sua fé. Diz Neemias:
"Estais a ver a triste situação em que nos encontramos: Jerusalém está em ruínas e as suas portas foram devoradas pelo fogo. Vamos! Temos que reconstruir as muralhas de Jerusalém!" (Nee 2, 17)
Dito e feito: as muralhas foram reconstruídas, e os belíssimos rituais judaicos renasceram no seu interior.
Hoje, muitas famílias cristãs estão numa situação muito semelhante à de Jerusalém antiga: as muralhas sólidas dos grandes valores cristãos caíram por terra, e o inimigo atacou a cidade. É urgente reconstruir as muralhas, trabalhando os valores, recriando rituais, indo buscar o cimento aos sacramentos. Não permitamos que o inimigo se infiltre através das brechas do nosso instinto consumista, nesta época em que todo o nosso pensamento e todo o nosso coração se deveriam centrar apenas no Amor...
Com o início do Advento, chegam também as estrelas:
"Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz!" (Gen 15, 5)
Abraão, dizia-nos ontem o símbolo que colocámos na Árvore de Jessé, levantou os olhos para o céu e viu os milhões e milhões de estrelas que brilhavam, sem qualquer interferência das luzes humanas que hoje obscurecem o nosso céu nocturno. Não, Abraão não era capaz de contar as estrelas! Nem nós somos capazes de contar as graças infinitas que todos os dias o Senhor derrama sobre nós. Como podemos então agradecer ao Senhor tanto amor?
Cá em casa, decidimos oferecer-Lhe, em gratidão, as nossas próprias estrelas: pequenos sacrifícios que todos os dias do Advento vamos fazendo, a fim de iluminar o sorriso de Deus. É pouco, claro, mas estrela, com estrela se paga!
Nestes dias, é mais fácil conseguir a obediência dos filhos ou a paz entre os irmãos:
- O primeiro a fazer as pazes pode lançar uma estrela no céu!
- Não vais fazer o que a mãe diz? Preciso de pedir mais vezes? Não te esqueças que, quando custa, então é altura de lançar uma estrela no céu!
Mas eles próprios se lembram das suas estrelas:
- Mãe, vem cá! Olha espreita só o meu quarto: fui eu que arrumei tudo sozinha! Posso oferecer uma estrela a Jesus?
Hora da oração familiar. Depois de cantarmos e agradecermos, escutamos o pequeno texto da Árvore de Jessé, procuramos o símbolo e enfeitamos a Árvore. Em seguida, é hora de lançar as estrelas no céu.
- Todos ganharam uma estrela? - Pergunto.
- Eu sim! Não te lembras, mãe? Não bati na Lúcia, e apetecia-me tanto!
- Eu também! Fui para o banho logo logo quando chamaste!
Todos querem uma estrela. Atarefada, distribuo a fitacola e peço ao Francisco que pegue na Sara ao colo, pois a Sara quer colocar a sua estrela bem lá no alto. A Clarinha ajuda o António, enquanto o David e a Lúcia esperam que eu prepare mais estrelas.
- Eu ponho esta, que é maior - Diz o David muito depressa.
- Não, esta é para mim! A outra está mal cortada - Responde a Lúcia.
- Bem, o que ficar com a que está mal cortada, oferece um sacrifício ainda melhor a Jesus - Respondo. A Lúcia estende imediatamente a mão e oferece a Jesus a estrela mal cortada. O David fica com lágrimas nos olhos:
- Eu é que queria oferecer este sacrifício a Jesus, e agora já não posso!
- Podes, sim. Quando perdemos a oportunidade de fazer o bem, podemos sempre oferecer a Jesus o sacrifício de sorrir, apesar da nossa raiva por não termos sido capazes. Entendes?
É uma lição importante, e quero que o David a compreenda bem. Vai ser-lhe útil muitos dias na sua vida!
O David força um sorriso. Quanta luta!
Que o Senhor nos ajude a cobrir o seu céu de estrelas! Possamos nós, na eternidade, descobrir que espalhámos a luz, com as estrelas do nosso amor!
E já agora... Se puserem esta ideia em prática, ou outra semelhante, oferecendo a Jesus diariamente um símbolo em sinal dos vossos esforços, enviem-me as fotos para o mail pessoal (indicado no fundo de cada post), para eu poder partilhar aqui no blogue!
O primeiro domingo do Advento é um dia muito ocupado e muito divertido aqui em casa, cheio de aventura, sujidade, alegria e trabalho. Senão vejam: foi preciso ir apanhar musgo para fazer o presépio, e os mais novos não cabiam em si de excitação:
É o começo da grande aventura! Entretanto, em casa, eu e a Clarinha passámos e pendurámos a nova cortina no Canto de oração do Advento. Tudo a postos para a construção do presépio!
Depois, foi preciso fazer a Árvore de Natal, a que nós decidimos começar a chamar Árvore de Jessé, como expliquei no post de ontem.
- Esta Árvore parecia-me tão grande há uns anos, mãe! - Dizia-me o Francisco, a sorrir, enquanto a montava. Terá a Árvore diminuído de tamanho? Ou terá o meu rapaz crescido?...
Finalmente, a sala ficou pronta. Podemos celebrar o Advento! Ao almoço e ao jantar de cada domingo do Advento, acendemos uma vela na nossa Coroa de Advento enquanto cantamos "Vem, Senhor". São tradições antigas cá em casa, que despertam em nós a vontade de transformar este tempo em tempo diferente, de conversão do coração. Foi também diante desta Coroa iluminada que rezámos o primeiro dia da novena da Imaculada Conceição:
Ao serão, a nossa oração familiar foi continuamente interrompida por exclamações de pura alegria:
- Está tão lindo, mãe!
- Olha a vela a brilhar junto de Jesus!
A Sara admirou o presépio com muito cuidado, e foi comentando comigo, enquanto apontava:
- Jesus faz ó-ó!
Depois cantámos e dançámos para o Senhor:
E chegou o momento de colocar o símbolo na Árvore de Jessé. Que excitação entre os pequeninos! Contei a história de Adão e Eva, e pedi-lhes que procurassem o símbolo adequado para colocar na Árvore:
A Lúcia já encontrou: é a maçã! Orgulhosa, pendurou-a na Árvore:
Na cortina do Canto de Oração, a Clarinha escreveu uma frase da primeira leitura da missa deste domingo I do Advento:
"Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!" (Is 63, 19)
Oh, Senhor, se rasgasses as trevas da nossa alma, os muros da nossa vida, as núvens do nosso céu, e nos revelasses o teu rosto... Vem, Senhor Jesus!
Hoje é o primeiro dia do Advento. Amanhã vos direi o que fizemos hoje, para transformar o nosso Canto de Oração num Canto de Oração expectante, alerta, esperando o Senhor que vem! Entretanto, proponho-vos uma actividade que nos seduziu imenso e que vamos pela primeira vez realizar: a construção de uma Árvore de Jessé. A ideia partiu deste blogue americano, onde cheguei através do blogue Família Católica.
Os Evangelhos falam da gruta de Belém, mas não referem nenhuma Árvore de Natal. Donde surgiu pois este símbolo natalício? Há quem sugira que a resposta está no início dos Evangelhos de Mateus e Lucas, ocupados com a árvore genealógica de Jesus. Mateus, no capítulo 1, começa a sua genealogia em Abraão, pai dos crentes; Lucas, no capítulo 3, começa em Adão, pai da humanidade.
Da última vez que lemos a leitura da genealogia de Jesus na nossa oração familiar, os meninos desataram à gargalhada perante a estranheza dos nomes. Depois perguntaram-me:
- Mãe, para que serve ler isto tudo? Que me interessa a mim saber que Jesus descende de Malat, Melqui, Levi, Janai, Naum, Esli, Maat, Joanan, Meleá e tantos outros nomes?
Interessa, sim, e muito! A genealogia de Jesus diz-nos algo tão simples e tão magnífico como isto: Jesus não surgiu na História a partir do nada. Através de seus pais - José foi verdadeiramente pai de Jesus, não em virtude da carne, mas em virtude do poder do sacramento do matrimónio - Jesus recebeu uma descendência humana. Da sua genealogia fazem parte grandes santos, mas também, e sobretudo, grandes pecadores, incluindo uma prostituta, Raab. Desde o seu nascimento num estábulo de pastores, na altura considerados os últimos do povo, à sua morte na cruz entre dois ladrões, Jesus viveu rodeado de pecadores, e fez questão que soubéssemos que era esse mesmo o seu desejo:
"Não vim chamar os justos, mas os pecadores." (Lc 5, 32)
José, pai de Jesus, era descendente do rei David, filho de Jessé, e daí o nome de Árvore de Jessé. Durante o Advento, somos convidados a enfeitar a nossa Árvore de Jessé com um símbolo cada dia, percorrendo todos os acontecimentos bíblicos, desde Adão a João Baptista, que anunciaram a salvação trazida por Jesus. Podem encontrar os símbolos no blogue de que vos falei.
Como os textos explicativos que os acompanham estão em inglês, estive ontem algum tempo a escrevê-los em português. Não traduzi exactamente as reflexões propostas, antes as adaptei um pouco de acordo com a minha sensibilidade. Se as desejarem, podem descarregar este PDF: Árvore de Jessé
Cristianizar assim a nossa Árvore de Natal, inserindo o nascimento de Jesus no contexto da grande epopeia bíblica, parece-me uma forma fantástica de evangelização nas nossas casas! Vai ser giro ler os pequenos textos bíblicos e a sua explicação, e depois pedir às crianças que procurem entre os diversos símbolos o mais adequado. Façam também esta actividade connosco e contem-nos como foi!
Entretanto, não se esqueçam: hoje é o primeiro dia da Novena da Imaculada Conceição, disponível aqui: Novena da Imaculada Conceição. Façamos uma magnífica corrente de oração uns pelos outros neste blogue, preparando a festa de Nossa Senhora!
Um feliz início de Advento para todos vós, e que o Senhor vos abençoe!
Como alguns de vós se devem lembrar, temos quatro gatinhas, que foram abandonadas à nossa porta e que nos vimos caridosamente forçados a acolher. São simpáticas, alegres, brincalhonas e bonitas, mas também são bastante inconvenientes, pois não suportam um "não" como resposta. Assim, se um de nós abre uma frestinha da porta ou da janela, logo as quatro saltam para dentro de casa, e num ápice estão na cozinha, em cima da banca, o que me irrita bastante. Já vos mostrei num vídeo engraçado como até a Sara, na altura com vinte e dois meses, aprendeu a enxotar as gatas para o jardim (podem rever o vídeo aqui).
Mas não importa o quanto eu me zangue com elas, a insistência continua. Num destes dias, andava eu em arrumações pela casa, fechando gavetas e apanhando lixo do chão, e olhem só o que eu vi... Decidi pegar na máquina e fotografar, para vocês poderem ver que não estou a exagerar:
Depois ri-me sozinha: uma pequena fresta na porta ou na janela, e as gatas saltam para dentro de casa; uma pequena fresta nas gavetas (os mais novos, em vez de retirar os brinquedos das gavetas, retiram as gavetas dos móveis), e logo se ajeitam, confortáveis, sobre as roupas... Não pedem muito, realmente!
Amanhã começa o Advento. Jesus vai bater à nossa porta com insistência e pedir-nos que abramos, nem que seja apenas uma pequena fresta...
No livro True Life in God, que contém mensagens de Jesus a uma cristã ortodoxa dos nossos tempos e que está disponível online aqui, Jesus diz assim:
"Se ao menos vós soubésseis como Eu estou disposto a perdoar os crimes da vossa era, por um só olhar afetuoso que fosse, dirigido a Mim... um momento de saudade... um suspiro de hesitação... uma ligeira reflexão. Por um só sorriso à Minha Santa Face, Eu perdoarei e esquecerei. Não olharei sequer para as Minhas Chagas. Tirarei da Minha Vista todas as vossas iniquidades e os vossos pecados. Tivésseis vós apenas um momento de pesar, e todo o Céu celebraria esse vosso gesto, uma vez que o vosso sorriso e o vosso olhar afetuoso me seriam agradáveis como incenso e esse pequeno instante de pesar seria por Mim entendido como um novo cântico. (29 de Agosto, 1989)
Acreditemos ou não no carácter sobrenatural destas revelações (ainda não confirmadas ou recusadas pela Igreja), estas palavras são de um consolo infinito. Olhemos para trás, para a nossa história... Quando foi que abrimos uma frestinha na porta? Como foi que Jesus entrou? Como foi que, pouco a pouco, Jesus começou a transformar a nossa vida?
Para alguns, a fresta na porta foi uma leitura apressada de algum texto deste pobre blogue; para outros, uma oração hesitante; para outros ainda, um suspiro de tristeza perante a desarrumação da sua vida... Olhemos para trás: terá sido um convite para um retiro? O desafio de uma simples novena a Nossa Senhora, como o que ontem vos fiz e que foi tão bem acolhido? As palavras de um cristão amigo? Um programa na televisão?
Pouco a pouco, demo-nos conta de que Jesus entrara, e começava a remexer as gavetas da nossa alma, à procura de um lugar confortável onde Se instalar... E quase sem darmos por isso, estávamos a caminhar com passadas de gigante na estrada da santidade!
"Eis que estou à porta e bato. Se alguém abrir, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo." (Ap 3, 20)
Ajuda-me, Senhor, a abrir uma pequena fresta na porta da minha vida e da minha alma! Entra, Senhor, como puderes, e desarruma as ideias, desinstala os medos e os preconceitos, e faz de mim, para Ti, uma nova gruta de Belém. Ámen!
O Livro de Isaías é um dos mais belos livros da literatura universal. No Advento, a liturgia diária recolhe muitas passagens deste livro cheio de esperança e alegria. Hoje lemos uma delas:
"Quem criou as estrelas? Aquele que as conta e as faz marchar como um exército e as chama a todas pelos seus nomes. Tal é a sua força e tão grande é o seu poder, que nenhuma falta à chamada." (Is 40, 26)
O David interrompeu a leitura:
- Ena pá! Isso é bué de fixe! Deus conhece as estrelas todas todas?
- Sim, todas. E são mais que milhões!
- E sabe o seu nome? E faz a chamada todos os dias?
- Imagina tu, faz a chamada todos os dias e elas respondem! Pois se foi Ele quem as criou!
O Francisco chegou a casa com o pai nessa altura. Vinham do hospital, onde tinham ido para o Francisco tirar a tala do dedo da mão direita, que traz há um mês. Partiu um dedo a jogar volley, imagine-se, ele que salta a cavalo e anda de bicicleta na estrada nacional... Vinha desanimado: o ortopedista que o viu decretou mais quinze dias com tala! As férias a começar, e o Francisco sem poder praticar os desportos que adora, sem poder escrever, sem poder fazer magia (terá de cancelar dois espectáculos!) Claro que há coisas muito piores. Ele sabe-o bem, pois perdeu um irmão bebé quando tinha seis anos. E por isso, o Francisco nunca se queixou, desde o primeiro momento. Com o seu costumeiro bom humor, nunca levou muito a sério o seu incómodo. Mas hoje está desanimado. Tantos planos para férias!
Talvez seja preciso sentar-se por uns momentos diante do presépio e ler sozinho as leituras de hoje. E que diz o Senhor nos versículos seguintes do Livro de Isaías?
"Até os adolescentes se cansam e se fadigam e os jovens tropeçam e vacilam. Mas aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer." (Is 40, 30-31)
O Francisco recuperou o seu sorriso:
- Isto é para mim!
- Claro que sim. Hoje és um adolescente cansado... Mas também uma estrela de Deus... E tens de responder à chamada!
É preciso aprender a entregar ao Senhor todos os nossos problemas, os pequenos e os grandes. E de repente, nos braços de Deus descobrimos que temos asas e podemos voar...
A cada dia, o nosso Canto de Oração ganha novas estrelas. Para as lançarem no céu do presépio, os meninos têm de fazer "something beautiful for God" (algo de belo para Deus), como a Madre Teresa nos ensinou a dizer. E eles sabem tirar proveito da situação:
- Não me tires o lego, porque ficas sem estrela!
- Mãe, o António bateu-me, fica sem estrela!
Mas também:
- Mãe, dei o meu desenho à Sara para ela riscar. Posso pôr uma estrela hoje à noite?
Claro que as estrelas ajudam a combater as desgraças familiares cá por casa. Por estes dias, é mais fácil conseguir um abraço entre dois irmãos zangados, fazer o Francisco ajudar a Clarinha com a Matemática ou secar as lágrimas da Lúcia por tudo e por nada. Basta lembrar: "Queres oferecer uma estrelinha a Jesus logo à noite?" Pouco a pouco, as crianças vão percebendo que as estrelas não são algo que se merece ("Hoje portei-me bem!") mas algo que se oferece. São o nosso presente para Jesus que vem.
Os mais velhos já sabem fazer a sua boa acção sem a divulgar. Mas uma mãe consegue adivinhar intenções secretas, quando vê a filha mais velha especialmente solícita durante a refeição, levantando-se para meter os pratos na máquina ou cortando a carne ao irmão sem precisar de ser lembrada. Ou o filho mais velho recusar uma bolacha de chocolate. E é bom ter alguém a servir-nos uma chávena de chá ao serão, quando nos sentamos pela primeira vez no sofá.
Outro dia zanguei-me excessivamente com o António. Depois, como costume nessas ocasiões, pedi-lhe perdão e abracei-o. Ele respondeu com naturalidade:
- Está bem, mamã, hoje já podes pôr uma estrelinha a Jesus.
Fiquei a pensar. Não adianta pedir-lhes o que não fazemos. E o Advento é também a minha oportunidade de me tornar melhor. Ao longo do dia, preciso com urgência encontrar ocasiões para também eu oferecer algo belo ao Senhor. Daqui a pouco é Natal, e eu também preciso de ter o meu céu cheio de estrelas.
Há uns tempos atrás, dei com os meus filhos numa animada conversa sobre racismo. Ao que parece, o David, de seis anos então, não sabia o que era racismo e perguntou aos irmãos mais velhos. O Francisco, de catorze anos, explicou assim:
- Racismo é achar que uma pessoa é mais inteligente que outra por ter uma cor diferente. Por exemplo, racismo é tu achares que a Jenny é mais inteligente que o Jack por ser mais clara que ele.
A Jenny era a nossa cadelinha branca, o Jack, um rafeiro de pêlo castanho escuro. O David ficou admirado:
- Mas isso é uma estupidez!
- Claro que é - concluiu o Francisco. - Infelizmente, há por aí muita gente a acreditar nessa estupidez.
No ano passado, nenhum aluno na minha turma de sétimo ano sabia quem era Nelson Mandela. Procurámos no Google, fizémos alguns trabalhos, conversámos na sala de aula, mas mesmo assim acho que continuaram sem saber. A minha juventude foi marcada por grandes pessoas, como Mandela, Teresa de Calcutá e João Paulo II, capazes de actualizar os sonhos de Deus. Custa-me que os jovens de hoje, tão pouco tempo passado, não falem deles com amizade e carinho.
E no entanto, o racismo continua, na minha escola e um pouco por todo o lado... O sonho de Mandela ainda não se realizou verdadeiramente! Mas é preciso que a juventude de hoje saiba passar pelas portas que ele abriu com a sua vida inteira e entregue.
Durante alguns dias, as televisões vão transmitir mais alguma coisa para além de futebol e da crise. Cá em casa, espero aproveitar tudo o que é documentário sobre a vida deste grande homem, para que os meus filhos não fiquem ignorantes relativamente a uma página tão importante da História da humanidade. O Niall e eu iremos tornar a História viva para eles, contando como nos emocionámos ao assistir em directo à libertação de Mandela, através da TV. Aprender História nos livros é uma coisa; escutá-la da boca dos pais é outra bem diferente.
No Advento, é preciso levantar o olhar das coisas rasteiras e ler nas estrelas o caminho até ao Presépio, como os magos fizeram. Mandela, com defeitos e virtudes como todos nós, é um destes homens que apontam para o alto, elevando a fasquia de valores como a verdade, a igualdade, o perdão. Que o exemplo da sua vida, comentada e contemplada ao redor da mesa de jantar, nos ajude a preparar o Natal!
Hora de jantar...
- Vamos lá decidir o que podemos oferecer a Jesus este Natal. António, já pensaste?
- Vou portar-me bem!
- Isso não chega, isso tens de fazer sempre. O que podes fazer de melhor ainda?
- Deixar a Lúcia sentar-se no baloiço quando eu estou lá?
- Boa, assim já é uma prenda! E tu, Lúcia, que dizes?
- Eu não quero que o António se sente no meu baloiço, nunca!
- Mas podes oferecer essa prenda a Jesus... seres mais generosa com o baloiço. Que dizes?
- Amanhã vou ver.
- OK. E tu, David?
- Eu vou ler a Bíblia. Já sei ler sozinho! Posso ler a história do Natal!
- Bela ideia! E que tal aprendermos de cor alguns versículos da Bíblia ao longo de cada semana?
- E declamarmos os versículos sábado à noite?
- Sim, Francisco, podíamos ter um serão bíblico, uma coisa do género. Que acham os mais velhos, Francisco e Clarinha?
- Tudo bem, vamos a isso.
- Eu também alinho.
- Ótimo.
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