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Na crista da montanha

por Teresa Power, em 18.08.15

Escrito pela Clarinha:

 

Houve um dia durante as férias na serra do Gerês em que eu me senti um pouco assustada, nervosa e ansiosa. Foi o que eu chamei "o momento do cavalo".

No dia anterior, ouvi os meus pais a falarem em me inscreverem a mim e ao Francisco num passeio a cavalo, com monitores, no Centro de Atividades da Montanha, que víamos todos os dias na estrada da barragem de Vilarinho das Furnas. Quando eu era mais nova, eu também montava a cavalo, mas um dia caí do cavalo, e alguns dias mais tarde desisti. Depois apaixonei-me pela ginástica e já nem me passava pela cabeça montar outra vez. Portanto, quando soube que ia voltar a montar um cavalo, senti-me assutada. O meu irmão procurava acalmar-me. Ele estaria sempre a meu lado.

Chegou a hora...

"Mãe, dói-me a barriga!"

"Como é que eu subo?"

"Será que me lembro do que tenho de fazer?"

Mas em poucos minutos, já todos os movimentos me eram familiares e relaxei.cavalos 2.JPG

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 Partimos! Que bom! Atravessámos a estrada. O cavalo da frente começou a descer por um trilho  pequeno, mas inclinado. O meu coração desatou aos saltos, mas fui acalmando à medida que avançávamos em terreno de terra batida e floresta e pedras e buracos. 

Valeu a pena! Chegámos à crista da montanha e tudo o que víamos à nossa volta era montanha. Ao longe víamos a aldeia onde ficámos. Era tudo tão belo! Apetecia montar umas tendas e passar ali a noite!

Por fim, regressámos ao Centro de Atividades da Montanha. Tinha passado uma hora! Não podia ser, pareciam apenas uns minutos!

Todo aquele medo inicial para quê? Ao ver o belo que me rodeava tudo desapareceu. Fiquei eu, o cavalo e Deus. Não posso esperar por uma aventura igual!

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publicado às 06:20

Deus nunca Se deixa vencer em generosidade

por Teresa Power, em 23.07.15

Quando o Senhor nos chama para orientarmos um Retiro Famílias de Caná, eu fico sempre cheia de curiosidade. Sim, curiosidade ante as surpresas que o Senhor nos reserva! Esta vida de missão tem-me revelado um Deus que nunca Se deixa vencer em generosidade. No Evangelho, Jesus disse:

 

"Quem der um copo de água fresca a um destes pequeninos por ele ser meu discípulo, não ficará sem recompensa." (Mt 10, 42)

 

Jesus não estava a brincar quando disse isto! Ele falava a sério. Na verdade, nos Retiros Famílias de Caná nós oferecemos aos pequeninos do Reino um pouco de água fresca, nas bilhas singelas da nossa vida; e que nos oferece Deus em troca? Amigos em todo o país e doses extra de felicidade!

É realmente giro escutar os mais novos a falar dos amigos que têm em Viana e na Raposa, em Almada e em Cascais, em Coimbra e em Proença; ou escutar o Francisco a conversar sobre cavalos com cavaleiros a sério, daqueles que o Francisco só via em filmes... e que agora são Famílias de Caná!

Bem, escutem então a surpresa deste nosso retiro:

 

A Clarinha foi para o Retiro de Proença a coxear, como se devem lembrar. Uma lesão nos ligamentos impedira-a de participar no espetáculo final do ano do clube de ginástica, arrancando à Clarinha muitas lágrimas e um sorriso de aceitação. Em vez de sessões de ginástica, a Clarinha passara a ter sessões de fisioterapia, mas a dor no joelho não cedia. E foi assim que chegámos ao retiro.

Ora quis a Providência Divina que uma das famílias participantes neste retiro - e que já conhecíamos do Retiro de Natal e do Retiro de Quaresma - fosse um casal de fisioterapeutas. O Tiago tem uma vasta experiência no trabalho com atletas de alta competição, bem como uma vasta experiência de ensino de fisioterapia como professor universitário. Enquanto caminhávamos da igreja paroquial para o seminário, depois da missa, fomos conversando, e lembrei-me de lhes falar da Clarinha.

- Terei todo o gosto em ver o que se passa com o seu joelho - Disse o Tiago, como se uma sessão de fisioterapia de alta qualidade, gratuita, no meio de um retiro fosse a coisa mais natural deste mundo.

Agradeci-lhe a generosidade, e depois do almoço, a Clarinha, de calças de ganga, deitou-se num dos bancos compridos do seminário. O Tiago manipulou o joelho da Clarinha através da ganga, durante algum tempo, sem recorrer a qualquer tipo de instrumento. Meia hora mais tarde, a Clarinha apareceu ao meu lado, com um sorriso de orelha a orelha:

- Mãe, estou curada!

Olhei para a minha filha sem conseguir falar. Como podia ser isso? Depois sorri, piscando interiormente o olho a Jesus, capaz de me surpreender a cada dia com a sua generosidade. E lembrei-me que o grande objetivo do retiro era encontrarmo-nos pessoalmente com o mesmo Cristo que passou na Galileia fazendo o bem e curando todas as doenças... Naquela tarde de domingo, como há dois mil anos atrás, Jesus passou e tocou a minha filha, devolvendo-lhe a saúde.  Fê-lo através da generosidade e do talento de um outro seu filho muito amado, porque acima de tudo, Deus gosta de fazer os seus milagres através uns dos outros!

 

Ontem, a Clarinha regressou aos treinos de ginástica e às piruetas na praia. A sua felicidade transbordante encheu o meu coração de gratidão. Que o Senhor abençoe quem assim nos ajudou! E que o nosso coração seja sempre um coração agradecido. Ámen!

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publicado às 06:13

As férias da Clarinha

por Teresa Power, em 14.07.15

Escrito pela Clarinha:

 

Na primeira semana de férias sinto-me sempre um pouco perdida. Tudo acaba ao mesmo tempo - os horários, os estudos, os TPC's, as aulas mais cansativas... Nesses dias vou deitar-me cedo e acordo tarde (8h30 em minha casa é "tarde"), e durante o dia parece que tudo passa muito devagar e que não há nada para fazer. Após esta semana de adaptação às férias começo a ter ideias para fazer coisas.

Geralmente, vamos todas as manhãs que a mãe tem livre à praia. Chegámos lá pelas nove e meia e regressamos ao meio-dia. Divertimo-nos imenso porque não paramos. Corremos e saltamos, gritamos e mergulhamos, uns perfeitos doidinhos. Mas divertimo-nos e na viagem para casa, o carro vem muito silencioso, excetuando o ressonar dos mais novos!

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 Quando os meus pais precisam, ajudo-os a tomar conta dos manos ou a arrumar a cozinha. Às vezes estendo uma máquina de roupa ou passo a ferro.

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Gosto imenso de ler e faço-o bastante nas férias. Faço alguns trabalhos manuais como esta gruta - o túmulo de Jesus - que estou a preparar para a Páscoa. Durante as férias temos mais tempo para preparar coisas que, durante o ano, vamos querer ter feitas!

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 Também faço alguns trabalhos de costura, como almofadas para as minhas irmãs:

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 Gostam desta bonequinha e do vestidinho que lhe fiz com a minha máquina de costura? Ainda lhe falta o cabelo. Foi um presente para a Sara:

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Também costumo fazer os presentes de aniversário das minhas amigas, como este saco e estes cadernos personalizados:

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No verão há tempo para fazer estes presentes para o ano inteiro!

 

Adoro dançar e fazer ginástica. Gosto tanto de fazer novos exercícios que na semana passada me magoei no joelho ao fazer a roda sem mãos. Uns dias antes tinha chegado a casa muito contente porque tinha feito a roda sem mãos. O meu pai filmou-me quando me foi buscar ao Velódromo. Querem ver?

 

Quando cheguei a casa, tentei fazer outra vez no jardim, e foi um desastre. Caí sem fletir o joelho e a partir daí não tentei fazer de novo. De facto, mesmo que quisesse não conseguia. Agora é uma pena, porque dia 11 tinha um espetáculo que há muito andava a preparar, e não pude ir. Em vez de aulas de ginástica tenho sessões de fisioterapia. E tenho aproveitado para aprender a tocar novas músicas na guitarra.

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Apesar disso, tenho tido umas férias muito boas e divertidas!

 

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publicado às 06:12

Uma dor e um sorriso

por Teresa Power, em 13.07.15

Há cerca de duas semanas, a Clarinha caiu mal durante um exercício de ginástica (em casa...), ficando com uma dor persistente no joelho.  Durante vários dias, a Clarinha continuou a sua vida normal, embora com dor. Mas como não melhorasse, antes se sentisse cada vez pior, teve de ir a uma consulta de fisiatria. A resposta foi clara: a Clarinha tinha uma rotura de ligamentos e não podia fazer ginástica durante, pelo menos, três semanas. Estávamos em vésperas do grande espetáculo de final de ano, que há meses a fazia sonhar...

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 Na noite em que chegou a casa, depois da primeira avaliação do seu problema, a Clarinha chorou, e nós sentimos o coração partido. Sabíamos que ela precisava de deitar cá para fora toda a frustração de não poder participar no espetáculo da Menina do Mar, onde iria dançar como uma alga agitando-se nas ondas azuis.

Mas algumas horas depois, quando se foi deitar, as lágrimas já tinham dado lugar a um sorriso. Não terá sido um sorriso espontâneo, antes o sorriso treinado de quem está habituado a sofrer alguma dor para conseguir os resultados de beleza e ritmo de cada exercício. O sorriso que nasce na dor é certamente bem mais precioso do que o que nasce na alegria... Como Chiara Badano, em situação bem mais grave, também a nossa Clarinha precisava de aprender a dizer: "Tu queres, Jesus? Então eu também quero."

A ginástica foi substituída pela fisioterapia, os treinos por consultas de fisiatria e, para a semana, ortopedia. As férias da Clarinha prometem ser bem mais calmas do que esperávamos, ou pelo menos, com menos saltos e piruetas! A "bilha" do "Nós, Jesus" vai sendo cheia da água dos seus pequenos sacrifícios.

A vida, como o desporto, oferece-nos oportunidades contínuas de lidar com a frustração. Podemos desperdiçá-las, queixando-nos da sorte e resmungando de tudo e de todos; ou podemos agarrá-las com ambas as mãos, forçando um sorriso, oferecendo a Jesus a nossa dor e avançando, com humildade nova, no caminho que se nos abre.

Nestes dias, temos vindo a escutar, na primeira leitura da missa diária, a história de José, filho de Jacob, traído pelos irmãos e vendido como escravo para o Egito, e finalmente tornado poderoso administrador do faraó. Perdoando de coração aos seus irmãos, José faz esta afirmação:

 

"Vós planeastes fazer o mal contra mim. Deus, porém, teve em mente com isso um bem." (Gn 50, 20)

 

Na tarde do espetáculo, em vez de dançar no palco, a Clarinha tocou guitarra sentada no sofá da sala, enquanto os irmãos mais novos dançavam e batiam palmas. Escutando a sua voz alegre e forte, capaz de afastar para longe todos os fantasmas, eu pensava...

Educar os filhos é também ajudá-los a gerir o seu desapontamento e a sua frustração, acreditando que não há mal que Deus não possa transformar em bem, se lho entregarmos com confiança e humildade.  Na vida, nem sempre os ventos nos são favoráveis - e ainda bem, pois o que faríamos nós com ventos favoráveis o tempo todo? Os aviões descolam sempre contra o vento...

 

 

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publicado às 06:10

Adoração e Via Sacra

por Teresa Power, em 16.03.15

Escrito pela Clarinha:

 

A pedido do Papa Francisco, todas as igrejas tiveram o Santíssimo exposto vinte e quatro horas seguidas, de sexta para sábado. Também no Santuário se adorou o Senhor.

O Francisco e eu assegurámos uma hora de adoração das dez às onze da manhã de sábado. Fomos os dois de bicicleta até ao Santuário e entrámos silenciosamente na capelinha onde Jesus estava exposto. Ajoelhámo-nos e falámos em silêncio com Jesus. Agradeci-Lhe o dom da vida, pois era o dia dos meus catorze anos: "Obrigada, meu Deus, porque me criaste!"

Depois pegámos no texto da Via Sacra que a minha mãe escreveu para as Famílias de Caná e começámos a ler cada estação, à vez e em voz alta, pois não estava ninguém mais na capela. Entre cada estação rezámos uma dezena. Foi muito bom termos ido os dois, porque rezámos juntos, e na meditação eu compreendi e pensei em muitas coisas que nunca antes me tinham ocorrido. Também foi bom poder estar uma hora inteira em frente a Jesus, a falar com Ele. Foi um belo começo de dia de anos!

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No domingo à tarde fomos todos até ao Santuário e rezámos a Via Sacra meditando nas estações com palavras da Bíblia. Enquanto isso, olhávamos para uns quadros que estão na parede do Santuário com as estações em relevo. Foi mais barulhento do que no sábado, mas eu gostei muito.

 

 

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 Passei um fim-de-semana de anos "recheado" de Jesus! Obrigada, meu Deus!

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publicado às 06:28

A maior honra

por Teresa Power, em 14.03.15

- Bom dia, meninas! Acordar!

Como todas as manhãs, entro no quarto das meninas e abro as janelas. A Lúcia está ainda a dormir, bem agarrada aos seus dois ou três peluches. A cama da Sara está vazia.

- Sara! Onde está a Sara?

Uma gargalhada vinda da cama da Clarinha, lá em cima. Duas cabeças a espreitar sob o edredão:

- Sara, que fazes tu na cama da tua irmã? Clarinha, o que aconteceu?

A Clarinha espreguiça-se, dá mais um beijinho à Sara e explica:

- A Sara chorou durante a noite. Antes que tu ouvisses, decidi puxá-la para a minha cama. Eu sei que andas muito cansada, e não queria que ela te acordasse!

 

Hoje a Clarinha faz catorze anos. Olho para ela e vejo uma adolescente bonita, inteligente e equilibrada. Tem alguns defeitos e muitas qualidades. A maior, sem qualquer dúvida, é a sua disponibilidade constante para servir. Esteja a estudar, a ouvir música, a dançar, a fazer ginástica ou, como ontem, a dormir, a Clarinha está sempre disponível para ajudar quem mais precisa. Fá-lo por temperamento (e nesse caso, esta qualidade é claramente herdada do pai), mas fá-lo também por virtude, emprestando à sua maneira de ser o esforço que o Evangelho nos pede.

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Li há tempos o livro "Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos", escrito por uma mãe espanhola que tem, imaginem, dezoito filhos, Rosa Roca, num apartamento em Barcelona. Impressionou-me um pormenor: todos os períodos, esta mãe vai à escola, conversar com os professores ou diretores de turma de cada filho. Escreve ela:

"As notas não são a primeira coisa de que falamos, mas sim o comportamento, quer na sala de aula, quer com os colegas. Se se preocupa com os outros, ou se só pensa nele. Se é generoso e partilha os apontamentos, se ajuda o amigo que vai mais atrasado em alguma disciplina... E no final do encontro falamos sobre as notas, sobre se ele se esforçou ou não, sobre o professor de inglês, que parece não engraçar com ele, e sobre a matemática, pois parece que ele não percebe as frações..."

 

É curioso como, ao longo da minha vida de professora, poucos pais me têm questionado sobre a disponibilidade dos filhos para ajudar os colegas. Apercebo-me de que a capacidade de serviço não é um dos valores mais apreciados pela maioria das famílias, sejam ou não famílias cristãs. Precisamos de reler os Evangelhos e de perceber o que é mais importante para Jesus. S. João, o seu amigo mais próximo, narra-nos o que Jesus fez durante a sua última páscoa. O texto começa com um crescendo magnífico:

 

"Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo Lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa..."

 

Será que é agora que Jesus vai manifestar o seu poder divino, auto-proclamando-se Rei de Israel?

 

"...tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura." (Jo 13, 3-5)

 

Que desilusão! Tanto suspense para isto! Ou então... Ou então - e essa é a única hipótese que nos resta - servir é a maior honra que nos é oferecida aqui na Terra.

 

Parabéns, Clarinha, pelos teus catorze anos de vida ao serviço dos outros!

 

 

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publicado às 06:32

O cubo e Palavra

por Teresa Power, em 05.03.15

Um dos passatempos do Francisco é resolver o Rubik's Cube (cubo mágico). Recebeu o seu primeiro cubo num aniversário, ainda em criança. Durante alguns anos, pouco lhe tocou. Um dia, encontrou na net um PDF com dicas de resolução, imprimiu-o e decidiu experimentar. Primeiro com as indicações à frente, depois já sem papel, aprendeu a resolver o cubo todo, e a fazê-lo cada vez mais depressa. De alguns minutos, foi diminuindo o tempo de resolução, até conseguir fazer o cubo em cinquenta segundos.

No verão passado, um dos projetos do Francisco foi aprender a resolver o cubo em menos de vinte segundos. Para o conseguir, precisou de memorizar vinte algoritmos diferentes. A cada dia, o Francisco memorizava dois ou três.

Num destes fins de tarde, em que eu pensava que o Francisco estava calmamente no quarto a estudar, vi o meu filho aos saltos de alegria.

- Que se passa, Francisco?

O Francisco tinha o cubo numa mão e, na outra, o relógio de pulso, com cronómetro:

- Consegui bater o meu record pessoal! Resolvi o cubo em quinze segundos!

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Outro dia, no grupo de oração, a Clarinha viu-se bastante aflita para encontrar na sua Bíblia a passagem enunciada. Ela escutara as palavras: Carta aos Filipenses, capítulo 3, versículo 1 a 12. Mas depois... Como traduzir estas indicações em Palavra? A seu lado, ajudei-a a procurar. Lembrei-me então do cubo mágico...

Dá jeito conhecer os "algoritmos" que nos permitem procurar na Bíblia a Palavra de Deus. E quanto maior a nossa prática, mais depressa encontramos as passagens que nos falam ao coração. Há algumas que é bom  conhecer "de cor", "de coração", para estarem mais acessíveis na memória quando delas precisamos. No meio de uma aula complicada, ou de um engarrafamento de trânsito, ou numa cama de hospital, sabe tão bem deixar a Palavra de Deus descer à nossa memória para nos apaziguar! Eu gosto de repetir baixinho o salmo do Bom Pastor (Sl 22/23) antes de entrar em algumas aulas ou reuniões, ou o Hino da Caridade (1Cor 13) quando estou prestes a perder a paciência, por exemplo.

Por onde começar? O ideal seria por um curso bíblico, mas na sua falta (e eu nunca fiz nenhum) podemos sempre começar por ler o índice da Bíblia, perceber um pouco como estão agrupados os livros, ler as introduções, que nos situam no tempo e no espaço. Depois, podemos seguir a sugestão de Bento XVI e ler, do princípio ao fim, um livro inteiro da Bíblia. Podemos repetir este gesto até termos lido por inteiro todos os livros da Bíblia, mesmo sem compreender tudo. Os cartões bíblicos vão-nos oferecendo pequenos versículos para memorizar, meditar, viver. Finalmente, há imensos jogos que podemos fazer em família: "Quem encontra mais depressa uma passagem na Bíblia sobre pastores?" "Quem é o primeiro a abrir em Ex 2, 10?" "Quem sabe em que livro vem a história do Rei David?"

Tal como o cubo mágico, a Palavra só é enigmática para quem não tem tempo ou vontade de praticar e memorizar algumas coisas... Chamemos-lhe "os algoritmos da Palavra"!

Se tiverem sugestões para que todos possamos aprender os "algoritmos da Palavra", venham elas daí :)

 

"Trarás no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás muitas vezes e delas falarás, quando estiveres sentado em casa ou a caminhar, quando estiveres deitado ou andando pelos caminhos..." (Deut 6, 6-7)

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PS - Já recebi algumas fotografias de alguns Cantos de Oração quaresmais. Querem enviar-me as vossas, para depois eu as mostrar num post?

 

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publicado às 06:25

Fios de luz

por Teresa Power, em 27.02.15

Francisco:

 

"Eu e a Clarinha nunca fazemos trabalhos em conjunto na escola. Primeiro porque temos dois anos e meio de diferença, mas essencialmente porque temos gostos e talentos muito diversos. No entanto, nas Jornadas Culturais do nosso colégio este ano, tivemos a oportunidade rara de trabalharmos em conjunto no mesmo projeto, cada um a fazer coisas completamente diferentes mas de tal modo que, sem um, o trabalho do outro não faria sentido: juntos e com mais uma colega do 9º ano, preparámos uma dança executada pelas duas, com efeitos especiais feitos por mim e projetados nelas. A inspiração veio de um vídeo do Youtube, que procurámos imitar e adaptar.

Fazer isto não foi fácil. Foi necessário uma sincronização perfeita (ou quase!) entre as bailarinas e o vídeo com os efeitos especiais. Isso foi possível filmando as bailarinas, contruindo os efeitos nesse vídeo, removendo o fundo e adicionando outro. Uma complicação! Eu tive de seguir as mãos das bailarinas com pontos a cada segundo do vídeo, o que deu uma trabalheira enorme. Só assim pude, por exemplo, unir as bailarinas com raios de luz.

Depois de dois dias a fazer o vídeo sem parar, chegou a vez da Clarinha e a amiga começarem a treinar os movimentos todos de modo a sincronizarem com o vídeo que foi feito sincronizado com elas (sim, eu também fiquei confuso!). Isso requereu prática, mais uns ajustes da minha parte, umas improvisações da parte delas, mas creio que no final tudo ficou bem, como podem avaliar pelo vídeo.

Foi muito interessante trabalhar em conjunto com a minha irmã. Primeiro porque podia ir consultando uma das bailarinas para ver se ela “aprovava” o meu trabalho, segundo porque ela podia ir vendo e imaginando na sua mente o que teria de fazer em palco, no dia das Jornadas, por último porque… bem, é minha irmã e é raro fazermos este tipo de trabalhos! Foi divertido, valeu a pena!"

 

Clarinha:

 

"Este ano participei de uma forma diferente nas Jornadas Culturais. Um grupo de professores desafiou-me a mim, a uma amiga e ao meu irmão a construir uma "dança das estrelas".

A primeira vez que experimentámos dançar com a projeção foi no ensaio geral, e por vezes não conseguimos fazer a dança sincronizadas com os efeitos especiais. Tivemos de encontrar estratégias, contar os passos, etc.

Depois de muito praticar com a minha colega, entrámos em palco. Foi engraçado como, sem ver, tínhamos de "agarrar as estrelas" sem nos enganarmos.

Quando terminámos a apresentação, saímos do palco e demos saltos de alegria por termos conseguido trabalhar em equipa e lançar estrelinhas!"

 

Foi preciso concentrar toda a sua atenção no outro, no trabalho do outro, nos movimentos do outro, no talento do outro...

Foi preciso ser generoso e oferecer o seu tempo livre...

Foi preciso ter fé para acreditar que os gestos e movimentos no ar, aparentemente vazios, lançaram estrelas no palco.

Alguns santos receberam de Deus dons especiais, permitindo-lhes ver a luz ou as trevas que iluminam ou escurecem o interior de cada pessoa. Deus ofereceu-lhes a oportunidade de ver os homens como Ele os vê. S. João, na sua primeira Carta, diz-nos:

 

"Deus é Luz e n'Ele não há nenhuma espécie de trevas. Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros..." (1Jo 1, 5-7)

 

O Francisco, a Matilde e a Clarinha descobriram que estavam unidos por fios de luz; e que, mesmo sem verem nem sentirem, podiam agarrar as estrelas.

Seremos nós capazes, ao cruzarmos todos os dias a nossa vida com a dos irmãos, ao rezarmos no silêncio de uma igreja vazia... de fazer a mesma descoberta?

 

 

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publicado às 06:24

Um bocadinho mais

por Teresa Power, em 24.02.15

Como já contei, a Clarinha praticou ginástica artística no Colégio, como desporto escolar, até ao ano passado, altura em que finalmente abriu um clube de ginástica rítmica perto de nós, no Velódromo Nacional de Sangalhos. A Clarinha pôde assim concretizar o seu sonho e iniciar a competição em ginástica rítmica. Desde então, de aula em aula, de competição em competição, a Clarinha tem crescido como atleta e como pessoa. E com ela, todos temos crescido também!

 

Quando entrou para a ginástica rítmica, a Clarinha já fazia a espargata com muita facilidade. No entanto, um ângulo de 180º é pouco na ginástica rítmica. Assim, a professora ensinou a Clarinha a treinar a espargata apoiada num banquinho primeiro, depois em duas cadeiras. O treino é duro, mas eficaz: um bocadinho mais de cada vez, durante cinco ou dez minutos, aguentando alguma dor ou até limpando alguma lágrima fortuita, enquanto se põe a conversa em dia com as amigas, e a espargata vai abrindo...

 

- Eu nunca seria capaz de fazer a espargata - Digo-lhe eu muitas vezes.

- Eras, se treinasses - Responde-me a Clarinha. - Na ginástica estão algumas meninas que não conseguiam fazer espargata alguma, e agora já treinam com um banquinho. Um bocadinho mais de cada vez!

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Um bocadinho mais de cada vez. Não apenas na ginástica, claro... "Um bocadinho mais" tornou-se o nosso lema no treino da santidade. É preciso treinar a generosidade, a oração, a renúncia, a vontade, a gratidão...? Um bocadinho mais de cada vez:

Hoje, fazemos quinze minutos de oração; amanhã, podemos fazer dezoito, e depois de amanhã, já conseguiremos fazer vinte minutos...

Hoje, rezamos um mistério do terço em família; amanhã, podemos rezar dois; em breve rezaremos o terço inteiro...

Hoje, levantamos a mesa sem que nos peçam; amanhã, levantamos a mesa e colocamos a louça na máquina; em poucos dias, somos capazes de arrumar a cozinha sozinhos...

Hoje, mordemos o lábio quando queremos responder a alguém que nos insulta; amanhã, um suspiro será suficiente; em breve seremos capazes de sorrir de volta a quem nos insultar...

Hoje, gerimos com facilidade dois filhos; amanhã seremos capazes de arriscar um terceiro; em breve deixaremos de ter medo de uma família numerosa... 

Doi? Um bocadinho. Como a espargata. Nada que não se aguente...

Jesus deixou-nos este conselho no Evangelho:

 

"Se alguém te tirar a túnica, dá-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas." (Mt 5, 40-41)

 

No domingo, a Clarinha competiu nas distritais. A sua alegria, às seis da manhã, antes de sair de casa, era imensa! As distritais foram o culminar de um treino longo e intensivo, e a recompensa do seu esforço. Também nós vivemos um tempo de treino intensivo: a quaresma. Um bocadinho mais cada dia, e a Páscoa despontará finalmente, bela e luminosa, na nossa vida...

 

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publicado às 06:29

Por amor

por Teresa Power, em 03.02.15

No sábado, a Clarinha teve a sua segunda competição de ginástica rítmica (a primeira, com vídeo, está aqui).

- Desta vez, adorava que tu me pudesses ver! - Disse-me. - O papá já viu, agora adorava que visses tu!

- Bem, eu também adorava ir. Onde é?

- Em Cacia. Achas que o papá pode dar a tua catequese e tomar conta dos manos durante a tarde?

- Claro que sim. Eu falo com ele!

Mas não foi preciso. O Niall já tinha decidido isso mesmo! Assim, no sábado, a Clarinha e eu almoçámos às onze da manhã, e ao meio-dia estávamos no pavilhão desportivo de Cacia.

Fazia muito, muito frio. O termómetro do carro marcava seis graus, e chovia. Dentro do pavilhão estava ainda mais frio; e também chovia em alguns lugares...Todos os pais comentavam a falta de condições, mas as atletas não pareciam minimamente preocupadas: com caras felizes, saltavam e repetiam os exercícios da prova. Eu regressei ao carro, onde pude ligar o ar condicionado e aquecer um pouco os pés, e fiquei a corrigir testes até à uma e meia, hora do desfile inicial. Depois regressei ao pavilhão, para me emocionar diante do milagre que estava diante de mim: a minha filha estava novamente a pisar o chão dos seus sonhos, indiferente ao frio que se fazia sentir, indiferente à certeza que tinha de não conseguir obter uma classificação muito alta (afinal ia competir com meninas que faziam ginástica há anos e anos...), indiferente ao júri sentado diante dela. Quando chamaram o seu nome e ela fez o movimento de resposta apropriado, senti as lágrimas a toldar-me a vista:

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Depois do desfile, começou a competição. As meninas mais novas foram as primeiras a actuar. Uma a uma, música a música, deslizavam sobre o praticável, com sorrisos felizes. Olhei para o relógio: três horas... A tremer de frio, procurei encontrar um espacinho na bancada para colocar os meus testes, e continuei a corrigir. Uma turma de testes terminada, e a Clarinha continuava aos saltos no praticável de treino. Arrumei a turma de testes e retirei outra da minha mala. Sempre a tremer de frio, corrigi a segunda turma por completo, enquanto no praticável as meninas se sucediam, ao ritmo da música. Bolas, arcos, fitas, e muita beleza. Suspirei. Quando seria a vez da Clarinha? Duas turmas arrumadas, horas de abrir o computador e começar a escrever retiros, ensinamentos... E a Clarinha sem actuar. Seis horas...

De repente, alguém me faz um gesto: é preciso preparar a máquina fotográfica! A Clarinha já está a tirar a camisola, mostrando o seu fatinho azul... Levanto-me. É agora! Com um sorriso, a minha filha faz a sua prova com corda, e meia hora e muitas meninas mais tarde, fará novamente a prova de maças (uma espécie de pinos usados em ginástica). Para mim, pareceu-me perfeito, claro; para o júri, teve falhas; para a Clarinha, foi um momento de pura magia.

 

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Quando terminou as provas, pensei que ia sentar-se um bocadinho e descansar: qual quê! "Vai treinar os exercícios que falhaste, Clarinha" Disse-lhe a professora, sorridente. E a Clarinha regressou ao praticável de treino para repetir, repetir, repetir... Olho para o relógio: será possível? Sete horas da tarde! Sinto os pés, as mãos e até o pensamento congelados.

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Por fim, o dia termina. Há bolos e croissants para o lanche. A Clarinha suspira, feliz. Fez novas amigas, reviu caras já conhecidas da primeira competição, conversou, trocou ideias e descobriu novos movimentos. Eu também aprendi algumas coisas: conversando com as outras mães, já depois da actuação da Clarinha, descobri que há uma forma de saber a que horas as nossas filhas vão competir; e essa forma é... consultar o site! Viva, Teresa, descobriste o óbvio, mas mais vale tarde do que nunca!

 

A caminho de casa, no carro quentinho, a Clarinha a dormitar a meu lado, vou pensando... Estar ao frio durante sete horas, para ver duas actuações de um minuto e meio cada, foi o preço a pagar pelo imenso amor que tenho à minha menina. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! É normal fazer isto por um filho? Normalíssimo! Não tem nada de mais...

Por sua vez, a Clarinha também teve um preço a pagar pelo seu imenso amor à ginástica: trabalhou durante sete horas no duro, repetindo e repetindo, e tornando a repetir os mesmos gestos. Foi difícil? Foi... Voltava a fazê-lo? Claro! Foi a única? Não: todas treinavam com o mesmo afinco. Não tem nada de mais...

 

E quando chega a hora de trabalhar pelo Senhor? Custa, levantar cedo para ir à missa ou para rezar? Custa, perder uma tarde de sábado para visitar os velhinhos ou os doentes, ou ir à catequese? Custa, enfrentar o confessionário? Custa, dar um pouco de tempo para servir os outros, na paróquia ou no bairro? Claro que sim! É normal fazer isto pelo Senhor a quem amamos? Normalíssimo! Não tem nada de mais...

Diz-nos o Senhor no Evangelho:

 

"Quando fizerdes tudo o que vos foi mandado, dizei:

'Somos servos inúteis. Fizemos apenas o que tínhamos de fazer.'"

(Lc 17, 10)

 

 

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publicado às 06:36



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