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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
No sábado de madrugada, a nossa família rumou até à diocese de Viana do Castelo. O padre Vasco Gonçalves convidara-nos a apresentar as Famílias de Caná às famílias em catequese familiar de toda a diocese, reunidas num convívio de encerramento do ano pastoral. Aceitámos com muita alegria, certos de que o convite vinha da parte de Jesus. Na verdade, Jesus tem-nos desafiado a percorrer o país em família, para testemunhar a sua alegria, o seu amor e o seu perdão às famílias que encontramos.
Assim, lá fomos nós até Santa Marta de Portuzelo, viajando, como costume, em dois carros - que é o que acontece a quem tem um filho a mais :) . E como costume, aproveitámos bem a viagem para rezar e para pôr a conversa em dia sobretudo com os dois mais velhos. Regressamos sempre destas viagens com a certeza de que foram importantes, não sabemos se para os outros, mas pelo menos para nós. É a forma que Deus tem de dizer "Obrigado": derramar graça sobre graça...
Em Santa Marta encontrámos famílias alegres, simpáticas e acolhedoras. O Francisco fez um espetáculo de ilusionismo que fascinou os mais novos, enquanto eu falei com os pais.
Alguns dias antes, eu desafiara a Rita Menezes a dar o seu testemunho neste encontro. A Rita veio, e contou como conheceu o nosso blogue, e como decidira participar em dois retiros connosco - o primeiro, na quaresma, o segundo, em Neiva. A partir daí, a sua vida tem sido um crescendo de felicidade e paz. Foi lindo, escutá-la!
A Eucaristia foi outro grande momento. O David acolitou, e a Sara bateu palmas ao som da música, para grande prazer do magnífico coro juvenil de Neiva.
Depois do almoço partilhado e de muita brincadeira, partimos com a Rita e a sua amiga Isabel para Famalicão. Este era o segundo grande encontro do nosso dia: tínhamos sido convidados por estas duas famílias a estar presentes no nascimento da sua Aldeia de Caná...
O encontro começou com um punhado de crianças a saltar de alegria, desarrumando a casa da Rita de alto a baixo e fazendo com que quase metade da água da piscina insuflável cobrisse o jardim onde os adultos procuravam conversar:
O Francisco aproveitou para fazer alguns truques de magia, enquanto todos partilhávamos um lanche delicioso, que a Rita preparara para festejar este grande dia:
E finalmente, a oração entre famílias. O Canto de Oração da família Menezes estava particularmente festivo, na sala de estar, decorado com muito cuidado por toda a família. Está ou não bonito?
Juntos, cantámos e louvámos o Senhor, partilhando a nossa ação de graças. Depois meditámos na passagem das Bodas de Caná e rezámos o terço. Finalmente, rezámos o Shemá e a Consagração. Antes de terminarmos, cantámos outra e outra vez, com grande alegria. Alguém lembrou que celebrávamos neste dia a Rainha Santa, Isabel de Portugal. Que linda data para o nascimento de uma Aldeia!
A semente estava lançada e regada. Formar uma Aldeia de Caná é um gesto muito simples e familiar... Agora, esta nova Aldeia vai contactar novamente o pároco e oferecer os seus braços, o seu tempo, os seus talentos para "o que Jesus disser", ao jeito das Famílias de Caná. Estamos ansiosos por ver o que o Espírito vai fazer aqui!
Enquanto contemplava as crianças alternando entre a oração e a brincadeira, e observava a alegria das famílias sentadas na sala de estar, no ambiente natural de quem reza a vida, confirmei interiormente que as Aldeias de Caná não podem ser senão obra de Deus. Só mesmo Deus é capaz de tamanha simplicidade! Só mesmo Deus é capaz de pegar num punhado de famílias e congregar pais, filhos e amigos numa mesma oração, numa sala de estar! Se nas origens de uma Aldeia de Caná estivessem encontros pomposos e fórmulas complicadas, eu desconfiaria...
"O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem toma e semeia em sua terra. É a menor de todas as sementes. Mas, quando cresce, é a maior das hortaliças e torna-se uma árvore, de modo que em seus ramos os passarinhos vêm fazer ninhos." (Mt 13, 31-32)
É a simplicidade destes nossos encontros que me faz acreditar que um dia, as Famílias de Caná oferecerão os seus ramos para abrigar famílias no mundo inteiro...
- Mãe, lembras-te daquele dia em que a vovó Mimé bateu à porta, vocês abriram e ela estava vestida de urso? E todos desataram aos gritos? Era carnaval, não era?
- António, como é que tu sabes, se tu não tinhas nascido? Nessa altura eu era o bebé da família.
- Mas sei, David!
- Como? Sabes que todos gritaram? Sabes mesmo?
- Sei! Sei, porque já ouvi esta história muitas vezes!
Sorri, a conduzir o carro por montes e vales para mais um piquenique em família. Nos bancos traseiros, os mais novos continuaram a conversar sobre as recordações de uns e de outros. Apercebi-me de que era difícil distinguir entre os que tinham vivido as diversas situações e os que as tinham meramente escutado vezes sem conta, em viagens como esta. Ambos recordavam os mais curiosos detalhes e os episódios mais divertidos.
As histórias de família passam de geração em geração, de pais para filhos, em passeios como este, ou aos serões de inverno, ao redor de uma lareira. E de história em história, nasce a cumplicidade, criam-se laços, edifica-se sobre alicerces antigos. Uns são os que vêem e contam, outros os que escutam e acolhem. As histórias passam, a tradição fica.
S. João inicia assim a sua primeira carta:
"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e o que as nossas mãos apalparam a respeito da Palavra da vida - porque a vida se manifestou; e nós vimos, testemunhamos e vos anunciamos a vida eterna que estava com o Pai e nos foi manifestada - o que vimos e ouvimos, nós também vos anunciamos, a fim de que também vós vivais em comunhão connosco." (1Jo 1-3)
E S. Paulo afirma:
"A fé vem pela escuta, e a escuta vem da Palavra de Cristo."
(Rm 10, 17)
Nós cremos na Igreja Apostólica, isto é, a Igreja que nasceu do testemunho dos Apóstolos - aqueles que viram e ouviram, tocaram e experimentaram - transmitido de geração em geração pela pregação de uns e a escuta de outros.
Como é na nossa casa? Será que os nossos filhos escutam as histórias de família desta grande Família que é a Igreja? Contaremos nós as histórias da Bíblia e da vida dos santos com o entusiasmo e o ardor das testemunhas oculares? Como o António a contar a história daquele carnaval que não presenciou - falaremos nós dos episódios da vida de Jesus como se os tivéssemos vivido na primeira pessoa? Afinal, foi precisamente para serem vividos por cada um de nós que eles foram escritos...
Na sexta-feira à noite, como tinhamos aqui anunciado, fomos participar no Painel da Vida Consagrada, em Aveiro, a convite do senhor bispo.
O Painel era às nove horas da noite, pelo que foi preciso sair de casa pouco depois das oito horas. O Francisco e a Clarinha ficaram encarregues de deitar os irmãos e fazer as tarefas rotineiras do nosso serão - tratar dos cães e dos gatos, fechar as portadas da casa, etc. Estávamos a chegar a Aveiro quando recebemos um sms da Clarinha: "Os manos pequeninos já estão a dormir. O David, o Francisco e eu estamos a rezar o terço. Adoramo-vos. Bjs." Suspirei, e entreguei-os de novo a Deus, numa breve oração. Também o Niall e eu rezáramos o terço durante a nossa viagem, unidos de coração à família que ficara em casa.
No Salão da Sé de Aveiro esperava-nos uma assembleia de irmãs, a grande maioria já de bastante idade. Olhavam para nós um pouco surpresas: que teria um casal a dizer sobre os votos de pobreza, obediência e castidade? Que percebíamos nós desse assunto? Suspirei novamente... Mas de repente, quatro caras conhecidas: a Lena, a Vera e o casal Menício - quatro belos membros de Famílias de Caná. Não estávamos sós! Logo depois, chegou o senhor bispo. Agora sim, sentimo-nos em casa!
O encontro começou. Os consagrados deram o seu testemunho, que muito nos impressionou, especialmente a história da vocação de uma irmã jovem, da Aliança de Santa Maria, congregação também jovem e bem portuguesa. Que palavras inspiradoras! Tive pena que o Francisco e a Clarinha não pudessem escutar o seu testemunho.
Por fim, tivemos a palavra. Tal como planeáramos, falámos à vez, partilhando a nossa vivência dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, ajudados pelos slides com fotografias da nossa família, para que não houvesse qualquer dúvida da escola que frequentamos: uma família católica.
Podem as famílias viver a sua vida como uma consagração total ao Senhor, seguindo os conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade? Claro! Todos, sem exceção, somos chamados a seguir Jesus deixando tudo para trás - pai, mãe, marido, esposa, filhos, terras, bens, emprego... Deixar tudo para trás? Sim: centrar em Deus o nosso coração. E como Ele prometeu, receberemos a cem por um - receberemos de volta o pai, a mãe, o marido, a esposa, os filhos, as terras, os bens, o emprego... Complicado? S. João Batista, cuja festa hoje celebramos, deixou-nos um lema de vida:
"É preciso que eu diminua para que Ele cresça" (Jo 3, 30)
Por isso celebramos o seu nascimento no solstício do verão, quando os dias começam a diminuir - e o nascimento de Jesus no solstício do inverno, quando os dias começam a crescer...
Na sexta-feira dia dez de abril, fui falar aos pais do Centro Comunitário da Paróquia de S. Pedro de Aradas, em Aveiro. Aos três anos, o Francisco frequentou aquele infantário, antes de optarmos pelo Colégio Nossa Senhora da Assunção, e eu nunca esquecerei o carinho e a dedicação com que foi acolhido ali. Assim, era grande a minha vontade de rever o espaço e as pessoas que, na altura, tanto me marcaram.
Antes de sair de casa, perguntei ao Francisco e à Clarinha se algum deles me queria acompanhar. Ambos se ofereceram. Fiquei feliz! Na viagem de meia hora, como costume, rezámos o terço. Depois conversámos.
- Gosto tanto de te ouvir falar - disse a Clarinha. - Mesmo que já saiba o que vais dizer.
- Não te parece longo demais? - Perguntei. Afinal, os meus ensinamentos costumam demorar três quartos de hora.
- Não. Como dás muitos exemplos e fazes rir no meio, o tempo passa depressa!
A Clarinha confirmou aquilo que eu penso há muito tempo. Os adolescentes e os jovens têm uma capacidade muito superior àquela que nós lhes atribuímos para escutar, em silêncio, ensinamentos sobre a fé. Não precisamos de reduzir os dias de encontros e retiros juvenis a uma sequência de atividades lúdicas, como infelizmente tanto acontece.
- Francisco, parece-me que já estás suficientemente crescido para dares o teu testemunho - Sugeri. - Vais ser um jovem crismado dentro de quinze dias! Achas que, depois de eu falar, podias testemunhar um bocadinho?
O Francisco ficou calado. Não insisti. Alguns minutos depois, respondeu-me:
- Sim, posso dar o meu testemunho. Posso dizer, por exemplo, como a Palavra de Deus está sempre presente na minha mente, ao longo do dia, ajudando-me a relacionar os acontecimentos da vida com o que Jesus nos ensina. Também posso dizer como a oração surge espontaneamente na minha mente. Outro dia estava em cima do cavalo, a meio de um salto, e a perfeição daquele momento fez-me dizer simplesmente: "Obrigado, Jesus!"
- Fantástico, Frankie! É mesmo isso! Um testemunho lindo. Fica então combinado: depois de eu falar, antes de abrir o debate, tu dás o teu testemunho.
E assim foi. O salão do centro paroquial estava cheio de mães e alguns pais sedentos de Deus. A sua adesão simples às minhas palavras e a forma como se questionaram depois de nos escutar fizeram-me perceber o quão importante é esta procura do irmão nas periferias da Igreja. Poucos ali frequentavam os sacramentos com regularidade, mas todos estavam cheios de sede, e ainda não se tinham dado conta. Pareceu-me escutar a voz de Jesus, de braços estendidos:
"Quem tem sede, venha a Mim e beba. E do seu seio jorrarão rios de água viva."
(Jo 7, 37-38)
Quando acabei de falar, convidei, como combinado, o Francisco para dar o seu testemunho. Falou de ilusionismo, falou da oração sobre o cavalo, falou da oração de súplica que o Senhor sempre atende. No final, as pessoas romperam em aplausos. E eu senti-me orgulhosa do meu jovem crismando, capaz de testemunhar Jesus Ressuscitado como os Apóstolos no dia de Pentecostes. Depois, o Francisco cumprimentou as suas antigas educadoras, num momento muito bonito.
Antes de sairem, muitos compraram um ou dois volumes do meu livro Os Mistérios da Fé (também disponíveis online), como introdução à Bíblia, que alguns não possuem, e introdução à meditação católica, que muitos se decidiram ali mesmo começar a fazer.
Regressámos a casa muito felizes. O Senhor, que chama os pecadores e os transforma em pescadores de homens, nunca Se deixa vencer em generosidade, e recompensa-nos sempre a cem por um. O Francisco já está maduro na fé. No dia 26, terá completado a sua iniciação cristã com a receção do sacramento do crisma...
O Niall é o catequista responsável pelo crisma, na nossa paróquia. Antes do último encontro que tiveram, vi o Niall muito atarefado em casa com um pedaço de cartão, tesoura e fita-cola. Depois vi-o no santuário, a receber os jovens. Era esta a sua figura:
Com a ajuda do "bispo Niall" e num clima descontraído, os jovens ensaiaram os gestos da cerimónia do crisma, que está aí tão próxima. Depois conversaram sobre o Espírito Santo, capaz de incendiar o mundo inteiro, como fez no dia de Pentecostes, ao descer sobre um punhado de homens simples e rudes.
Poderão os jovens aspirar à santidade, vivendo numa sociedade com tantas solicitações contrárias? Claro que sim. Penso, por exemplo, no Beato Marcel Callo. Conhecem? É o primeiro santo escuteiro. Nasceu em 1921, em França, e morreu em 1945, no Campo de Concentração de Mauthausen...
Marcel nasceu numa família católica de nove filhos e alimentou, desde criança, a sua amizade por Jesus. Se no outro dia vos falei num casal de imperadores, hoje falo-vos de um jovenzinho operário, que aos treze anos já trabalhava numa impressão gráfica. Desejoso de testemunhar a sua fé no mundo do trabalho, ligou-se à Juventude Operária Católica (JOC) e ao Escutismo. Nessa altura, como então, não era fácil ser testemunha de Cristo, e Marcel foi ridicularizado muitas e muitas vezes. Mas nunca desistiu do seu primeiro amor, Jesus. Marcel estava decidido a levar Jesus a todos os jovens trabalhadores, e nas quaresmas ia de porta em porta, com outros Jocistas, convidando as pessoas para a missa da Páscoa.
Aos vinte anos, Marcel apaixonou-se pela jovem Marguerite Derniaux. O seu namoro foi um namoro cheio de Deus: rezavam juntos as mesmas orações e participavam juntos na missa diária. Tencionavam casar-se no mesmo dia em que um dos irmãos de Marcel seria ordenado sacerdote.
Quando a Alemanha invadiu a França em 1940, Marcel decidiu agir. Com alguns amigos, tornou-se "missionário das estações dos comboios", ajudando muita gente a fugir.
Mas em 1943, Marcel é deportado para a Alemanha, onde é forçado a trabalhar onze horas por dia, com fome, frio e desconforto de toda a espécie. Marcel encontra na fábrica o local ideal para evangelizar. Sem se deixar abater, mete mãos à obra e descobre outros jocistas e escuteiros. Depois procura entre os prisioneiros um padre para celebrar a Eucaristia e confessar - um padre alemão. Sem receio, convida outros deportados para participar na Eucaristia, conseguindo converter muitos prisioneiros.
Marcel não sabe que a sua correspondência com a noiva está a ser intercetada, e que os seus gestos católicos estão a ser alvo de suspeita. Em abril de 1944, Marcel é enviado para o Campo de Concentração de Mauthausen. Mesmo aí, no meio dos mais duros trabalhos e das mais horríveis torturas, com fome, sede e frio, Marcel mantém a fé, a esperança e o amor. Procurando imitar os cristãos dos Atos dos Apóstolos, Marcel não deixa que nada destrua a sua felicidade. Todos os dias procura novas formas de testemunhar Jesus e ajudar os companheiros. Assobiando a divisa escuta ou jocista, Marcel dá sinal para todos rezarem, silenciosamente, uma Avé-Maria. Às vezes, um amigo sacerdote também prisioneiro passa-lhe uma caixinha onde está escondida a Eucaristia: eis a sua maior alegria!
Por fim, Marcel cai doente, com tuberculose, e é transferido para uma "enfermaria", tendo direito a uma enxerga onde se amontoam aos cinco por cama. No último dia, Marcel cai nas latrinas. O coronel que o leva nos braços nunca esquecerá a expressão de felicidade pura do seu olhar moribundo. Tem vinte e três anos.
Os jovens que, no domingo, vão ser crismados na nossa paróquia, certamente nunca precisarão de testemunhar a sua fé dando a vida por Jesus. Mas certamente também que não lhes faltarão ocasiões para testemunhar a sua fé como Marcel fez: no trabalho, no namoro, com os amigos, na paróquia. O seu entusiasmo juvenil deverá ser capaz de incendiar o mundo. Como disse Jesus:
"Eu vim trazer o fogo à Terra, e que quero Eu senão que ele se ateie?"
(Lc 12, 49)
Na maior parte do material didáctico das nossas escolas, o tema religioso foi completamente branqueado. Em nenhum texto do manual de Inglês se lê que as famílias vão à missa, ao culto, à sinagoga ou a qualquer outro acto religioso que não, claro, as festividades paganizadas, como o Natal do Pai Natal ou a Páscoa dos ovos e dos coelhos. No entanto, a America, a Inglaterra e todos os outros países anglófonos estão cheios de cristãos que vivem a sua fé. Porque desapareceram eles da literatura?
Será proselitismo falar de fé? Não é antes a fé religiosa - qualquer que seja a religião - um dos temas da vida? Não poderemos nós, numa escola pública, partilhar os temas da fé do ponto de vista cultural, conversando com naturalidade sobre as realidades que a fé toca? Já tive alunos Adventistas, que sexta-feira ao último tempo, durante o período de inverno, tinham de faltar à minha aula de Inglês, por ela ter lugar depois do pôr-do-sol. Já tive alunos Geová que não estavam autorizados pelos pais a cantar Christmas Carols na minha aula. E os alunos católicos? Poderemos falar de religião?
Turma de sétimo ano. Aproveito o tema da "Rotina Diária", nas aulas de Inglês, para falar um bocadinho de Deus. Como não tenho a ajuda do manual, escrevi eu mesma um texto, que distribuo pelos alunos. Já perto do final, o texto diz assim: "After dinner, they pray the rosary" (depois do jantar, rezam o terço). Na parte inicial, uma outra curta frase: "On Sundays, they go to mass" (Aos domingos, vão à missa).
- A rotina desta família é semelhante à vossa? - Pergunto, depois da leitura do texto.
- Mais ou menos. Eles fazem uma coisa que eu não faço: rezar!
- E vão à missa ao domingo! Eu só vou quando é obrigatório.
- Obrigatório?
- Sim, professora, quando a catequista manda.
- Ah, então tu vais à catequese?
- Vou sempre. Todos os sábados e nunca falto!
- Mas faltas à missa...
- A missa não é assim tão importante, professora. O importante é ir à catequese. A missa é só quando calha! A professora não percebe nada...
- Olha que eu também sou católica, sabes, e acho que não é bem assim!
- A professora vai à missa?
- Vou. Todos os domingos! Para os católicos, a missa é o que existe de mais importante na vida. É melhor faltar à catequese do que à missa!
- Tem a certeza, professora? Mas a missa é uma seca!
- Eu por mim nunca vou.
- E eu também não!
- E alguém aqui reza o terço, como aquele menino do texto?
- Rezei um dia com a minha avó, na igreja. Ena, demorou uma eternidade! Pensei que ia ficar lá para sempre!
- Olha que não. Deve ter sido um terço especial! Sabes, na minha casa o terço demora quinze minutos.
- A professora reza o terço?
- Rezo. Todos os dias! Vocês agora, quando voltarem à catequese, já podem dizer à catequista que sabem dizer "rezar o terço" em inglês!
- Ai, que ela ainda me manda rezar o terço!
No fim da aula, um menino vem ter comigo:
- Eu também vou à missa todos os domingos, professora...
Sorrio, e faço-lhe uma festa na cabeça enquanto saímos, juntos, da sala.
Dar testemunho da nossa fé não é complicado. Fala-se naturalmente de quem se ama, e se verdadeiramente amamos o Senhor, falamos naturalmente d'Ele. Façamo-lo com simplicidade, sem afetações nem imposições, na atitude de quem partilha a vida com tudo o que a compõe, e abertos à partilha do outro. Recordemo-nos da Palavra de Jesus:
"Todo aquele que der testemunho de Mim diante dos homens,
também Eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus."(Mt 10, 32)
Como eu tenho muito pouco tempo livre, costumo ter dois ou três livros de leitura espiritual espalhados pela casa, para poder aproveitar cada dois minutos disponíveis. Tenho geralmente também um livro na pasta da escola, para quando chego mais cedo às aulas ou durante os intervalos. Assim, somando todos os meios minutos aqui e ali, consigo uma boa dose de leitura espiritual diária. E confesso que sem ela, acho difícil rezar sem cessar, isto é, pensar em Deus o tempo todo. A leitura espiritual ajuda-me a manter o pensamento ocupado com as coisas divinas e estimula a minha criatividade para as coisas santas.
As crianças aprendem por imitação, claro! Com quem acham que a Sara aprendeu esta forma construtiva de aproveitar o tempo?
Há uns tempos atrás, ao chegar a casa, tinha na caixa do correio uma bela surpresa: um embrulho muito bonito com o livro "Esposos e Santos", enviado pelos nossos amigos Carmina e Edu, Tirciana e Vitor, com quem estivemos no retiro de Almada. Já contei aqui uma das histórias que li neste livro magnífico, e vou certamente continuar a falar dele. Afinal, a Palavra de Deus é para todos:
"Sede santos, porque Eu, o Senhor, sou Santo."(Lv 19, 2)
Entretanto, pedi à Carmina e ao Edu que me contassem o que descobriram com a leitura deste livro. Deixo-vos aqui o texto que me enviaram, e fica a sugestão deste livro como presente de Natal para toda a família!
"Esposos e Santos
Ser Santo deve ser objectivo de qualquer baptizado independentemente da forma como vive a fé em Deus ou da vocação à qual é chamado. Crescemos a achar que a santidade não está ao nosso alcance por ser o destino de poucos (certamente muito diferentes de nós), por terem uma vida extraordinária, capacidades sobrenaturais ou uma vida pia, orante ou contemplativa da qual não somos capazes.
Apesar dos constantes apelos à santidade que insistimos em ignorar durante toda a nossa vida (por acreditar que ela é apenas para os outros), a santidade não só é possível, como está acessível e é um dever de todo aquele que, como nós, acredita em Cristo.
O amado Santo João Paulo II não só acreditava nisto como, na sua sabedoria, estava certo de que a santidade não é só para indivíduos, mas também para casais que escolham viver plenamente a sua vocação matrimonial, na fidelidade do amor a Deus vivido através da entrega total ao outro todos os dias, no dia-a-dia da sua vida conjugal e na abertura dos dois aos outros. Assim procurou e encontrou casais que pelo seu testemunho de vida vieram confirmar o que já sabia, que os esposos também podem ser santos.
Se as notícias pareciam boas, estão prestes a tornar-se óptimas: não é preciso ser-se um casal especial nem extraordinário para ser santo, basta amar, o resto vem por acréscimo.
Se formos capazes de viver cada dia confiando em Deus, procurando fazer a Sua vontade e aceitando que a vida não nos pertence temos meio caminho andado, independentemente dos tropeços, quedas ou pecados de ambos ou de cada um.
A cada um de nós compete ser o arauto, o guardião e o garante da santidade daquele que Deus nos confiou para connosco ser um. É nessa unidade, na vida em comum, na certeza da pertença um ao outro e dos dois a Deus que a santidade se torna possível.
Curiosamente, é por sermos dois que escolheram (com e em Deus) viver como um só que temos a vida facilitada no nosso caminho rumo à santidade. O outro não é um estorvo, mas uma ajuda preciosa para o caminho. E esse caminho faz-se todos os dias com e por amor ao outro e Àquele que nos une. Amor esse que se manifesta e se concretiza na entrega e no serviço aos filhos de sangue e/ou de coração, à família, aos amigos, aos colegas, à comunidade, à paróquia, aos estranhos, aos pobres…. em suma, ao próximo.
Para ser santos não precisamos mudar de casa, de vida, nem de rotina, basta trazer Deus para a dentro da nossa casa, para viver connosco e fazer parte da nossa rotina.
O livro Esposos e Santos recentemente publicado pelas Edições Paulinas traz-nos dez maravilhosos testemunhos de casais que, como nós, se amavam, amavam a Deus e estavam dispostos a fazer a Sua vontade. São dez vidas diferentes entre si, mas comuns no amor a Deus e à Igreja, na entrega e no serviço aos outros que só um amor que vem de Deus consegue justificar.
Leiam, deliciem-se e atrevam-se a fazer o que o matrimónio nos exige e Cristo nos pede: sede Santos.
Eduardo e Carmina Cardoso"
Teste de Estudo do Meio, do David, terceiro ano:
- Como se chama o local onde vai crescendo o feto?
Resposta do David:
- Ovário.
- ???????
Estas férias, vamos ver juntos um bocadinho do magnífico filme "A Odisseia da Vida - Uma viagem fantástica da concepção ao nascimento", de Nils Tavernier. O Francisco e a Clarinha adoraram, e agora chegou a vez do David. Acho que está a precisar!
Há uns tempos atrás, partilhei aqui no blogue a minha ignorância, quase tão grande como a do David, acerca da maravilha da fecundidade conjugal, antes de descobrir o planeamento familiar natural, em véspera de casar. Podem encontrar estes três posts aqui, aqui e aqui.
Em consequência desse post, vários leitores me contactaram por mail, partilhando as suas experiências. Mas melhor ainda foi a participação de alguns casais no curso de planeamento familiar natural que a Associação Família e Sociedade propôs, e que eu divulguei no blogue.
Um desses casais foram a Olívia e o Álvaro. Com a radicalidade que tem marcado a sua caminhada para o céu, a Olívia deixou de fazer contracepção no exacto dia em que percebeu que ela não fazia sentido no contexto de uma caminhada cristã. E no dia seguinte inscreveu-se no curso! Se quiserem ler o seu testemunho, podem fazê-lo no seu blogue, aqui e aqui.
O outro casal de que tive conhecimento foram a Elsa e o Nelson. Estive com eles no retiro Famílias de Caná em Almada, e desde então temos trocado alguns mails. Deixo-vos aqui o seu testemunho:
"Desde a nossa preparação para o matrimónio que tivemos muita curiosidade sobre os métodos naturais de planeamento familiar. No entanto sentíamo-nos desencorajados na sua utilização porque sempre que se abordava este assunto, o que nos transmitiam era que estes métodos seriam pouco fiáveis para o caso de o casal não querer ter filhos e que ao utilizá-los iríamos de certeza ter uma grande probabilidade de ter muitos.
Através do blog “Uma Família Católica”, tivemos conhecimento que se iria realizar a 08 e 15 de novembro à tarde no auditório da Rádio Renascença em Lisboa, um curso de métodos naturais de planeamento familiar promovido pela Associação Família e Sociedade. Assim após alguma hesitação decidimos inscrever-nos e participar neste curso.
Quando chegámos à receção do auditório da Rádio Renascença foi com grande alegria que também estavam presentes para realizarem o curso, uma médica que tínhamos conhecido no convívio fraterno de casais, bem como a Olívia e o marido.
O curso foi dado de uma forma bastante simples por pessoas (médicas, enfermeiras, farmacêuticas, etc.) que nos mostraram através de vários métodos, que desde que as mulheres estejam atentas ao seu corpo, este indica-nos quais são os períodos férteis em cada ciclo. Além disso também nos foi explicado que estes métodos podem ser usados tanto para conseguir engravidar como para evitar uma gravidez e que mesmo antes da mulher iniciar a sua vida sexual pode detetar sinais de problemas, que eventualmente poderão acontecer mais tarde relacionados com infertilidade, abortos espontâneos e outros.
Houve um casal que foi convidado a dar testemunho, que referiu que apesar das dúvidas e dificuldades iniciais na utilização dos métodos sempre tiveram o acompanhamento dos monitores após o curso, que lhes iam tirando as dúvidas que iam surgindo até conseguirem utilizar os métodos corretamente. Este casal disse-nos “que não deveríamos olhar a fertilidade da mulher como uma doença em que se toma um comprimido para a curar, mas sim como algo que deve ser respeitado e que caso ocorra alguma gravidez, que devemos vê-la como uma dádiva e nunca como um erro”.
Após a parte teórica do curso, tanto para os casais como para os profissionais de saúde que frequentaram o curso há um acompanhamento por monitores que fazem parte da Associação, para apoio, esclarecimento de dúvidas e acompanhamento na utilização prática dos métodos para verificar se os estamos a utilizar corretamente.
Iniciámos logo após o curso a utilização dos métodos naturais, considerando-os uma mais-valia para a nossa relação como casal, tendo a certeza de que são tão ou mais fiáveis que os métodos artificiais sem terem os efeitos secundários destes.
Como casal recomendamos este curso a todos os casais e profissionais de saúde que pretendam saber mais sobre estes métodos naturais. Façam este curso, apliquem os métodos naturais de planeamento familiar e vão ver que ainda serão mais felizes!"
Desafio-vos então a participar num curso de planeamento familiar natural, se ainda o não fizeram, mesmo que não sejam cristãos ou católicos! A descoberta da riqueza da fertilidade conjugal ou da fertilidade feminina é sempre uma descoberta fascinante...
Para os católicos, deixo-vos um site belíssimo sobre todos os temas relacionados com a vida: One More Soul. Aqui encontram com fidelidade os ensinamentos da Igreja sobre contracepção, aborto, castidade, educação sexual, etc. Usem-no para tirar dúvidas, aprofundar o tema, reflectir em casal, trabalhar com jovens... Vale a pena!
A catequista do David veio ter comigo no fim da missa de domingo passado:
- Viste o caderno do teu filho, no final da catequese?
- Não - confessei - Sábados não costumo ter tempo para espreitar cadernos... Mas porquê?
- Na catequese falámos de Maria. Falámos da generosidade de Maria, capaz de dizer "sim" ao Senhor sem reservas.
"Maria disse então: 'Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra.' E o anjo deixou-a." (Lc 1, 38)
E a catequista continuou:
- Seguimos a evangelização que propuseste nos Mistérios da Fé (volume 3) sobre a Anunciação. Assim, fiz com eles a actividade que sugeres: tomar nota de três ocasiões em que cada um se sente chamado a dizer "sim". As respostas foram semelhantes: obediência aos pais ou ao professor, ir à catequese, ajudar os outros... Bem, agora espreita o caderno do teu filho.
Fui espreitar. Fiz o scanner da página para vos mostrar:
No dia 30 de Novembro, o Santo Padre inaugurou o Ano da Vida Consagrada. A entrega total a Deus, na vida religiosa ou no sacerdócio, não está fora de moda, pelo contrário! Nalguns países desenvolvidos no mundo, a tendência é exactamente para o crescimento desta resposta radical a Deus. A insatisfação crescente causada por tanto consumismo, a escravidão da moda e o relativismo moderno faz com que muitos se questionem sobre uma entrega maior da sua vida.
Num retiro que fiz no ano passado em Fátima, quando Vassula visitou Portugal (já falei de True Life in God aqui várias vezes), escutei um testemunho apaixonante de um jovem polaco. Não recordo o seu nome, mas nunca conseguirei esquecer a sua história!
Dizia ele que, a partir da adolescência, e durante toda a sua vida estudantil, descera cada vez mais baixo, praticando todos os pecados que puderem imaginar, consumindo drogas, etc. Um dia, na véspera de um exame, atordoado com a droga e completamente esgotado, fez uma coisa que não fazia há muito tempo: rezou. A sua oração foi apenas isto: "Ó Deus, se Tu existes, ajuda-me a passar neste exame." Depois ligou o computador, e sem saber como nem porquê, viu diante dele aberta uma mensagem lindíssima sobre o amor de Jesus por cada um de nós, no site True Life in God. Começou a ler, e começou a chorar, e decidiu explorar todo o site. Continuou a ler, e continuou a chorar, e quando chegou a madrugada, ainda estava a ler e a chorar. Deitou-se já de manhã, faltando ao exame, e adormeceu por algumas horas. Quando acordou, uma sensação diferente percorria o seu corpo: estava limpo de todas as drogas! Nessa tarde, voltou à universidade, mas não para fazer o exame: decidira mudar de curso e estudar teologia, para descobrir quem era Aquele que o libertara. Quando nos deu o seu testemunho, este jovem estava a um mês de ser ordenado sacerdote.
Só o Senhor chama, e quem somos nós para Lhe dizer onde e como chamar? Mas se Ele quiser vir à nossa casa buscar um sacerdote, tenhamos a porta aberta. À radicalidade da sua entrega por nós só podemos responder com radicalidade também! Ámen.
Há dois anos, recebi um mail com a notícia de um funeral festivo, que atraíra multidões em Itália: o funeral de uma jovem mãe de vinte e oito anos, vítima de cancro. E porque fora o funeral uma festa? Porque Chiara vivera e morrera como testemunha do amor de Deus, deixando na Terra um rasto de santidade.
Chiara espalhava a alegria, a paz e a confiança em Deus por onde passava. Casada com Enrico, vivia a sua fé intensamente. Nos primeiros anos de casada, Chiara dera à luz dois bebés que tinham morrido poucos minutos depois do parto, e fizera-o sempre com uma serenidade invulgar. Em ambos os casos, recusara o aborto proposto pelos médicos, ao tomar consciência das mal-formações dos bebés.
A terceira gravidez fora finalmente de uma criança saudável, mas ao quinto mês de gestação, o cancro atacou Chiara. Caramba, não teria ela já tido uma dose suficiente de dor? Não. Da dor, nasce o amor, e Chiara é a prova disso mesmo: recusando a quimioterapia que a podia salvar, mas que mataria o bebé, Chiara assumiu a sua doença em favor da vida do seu filho. Quando finalmente pôde fazer os tratamentos, depois do bebé nascer, já não foi a tempo. Morreu um ano depois.
A história que, há dois anos, me foi contada por mail, podemos agora lê-la em livro. Melhor: quem vive em Lisboa ou no Porto poderá assistir ao lançamento do livro em português, com a presença do marido e do filho de Chiara! Aqui fica o cartaz que publicita este maravilhoso evento, em Lisboa e no Porto, nos dias 28 e 30, respectivamente: CARTAZ_Chiara.jpg
Vivemos tempos difíceis de relativismo, onde tudo parece depender dos nossos sentimentos e onde as atitudes radicais são apelidadas de fundamentalistas. Chiara parece ter vivido com uma missão: mostrar ao nosso mundo de hoje que é possível ser cristão até ao mais profundo de cada decisão; que podemos acreditar na Palavra de Jesus, quando Ele nos diz: "Não tenhais medo!" E que a verdadeira felicidade só se encontra no cumprimento perfeito da vontade de Deus.
"Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la." (Lc 9, 24)
Neste dia de Cristo Rei, deixo-vos com um vídeo pequenino sobre a vida e a morte de Chiara. Que ela nos ajude a ver a verdade e a seguir o nosso Rei até ao fim!