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Crescer

por Teresa Power, em 02.04.14

1 de abril. Sentados à mesa de jantar, conversamos e rimos alegremente. Os mais pequenos partilham anedotas e inventam mentiras, porque afinal o 1 de abril é o dia das mentiras. De repente, o António desata a chorar.

- Que se passa, António? Estavas tão contente! O que aconteceu agora?

- Todos sabem dizer mentiras menos eeeeeeuu! Eu não sei dizer mentiiiiiiiiras!

E diante de tão grande problema, o António soluça a bom soluçar!

 

A birra que ontem o António fez à mesa de jantar foi uma excepção a uma regra muito, muito recente: é que há quase uma semana que o António não faz birras! Um record digno do Guiness Book, como concordarão todos os que conhecem as birras do António.

Depois de o ajudar a secar as lágrimas e, já agora, a inventar uma pequena mentira para contar aos irmãos, decidi elogiá-lo diante de todos:

- Já viram, filhos? O António porta-se agora sempre tão bem! Por isso tem oferecido tantas flores a Jesus. Que maravilha!

- A mamã ensinou-me - explicou o António, escondendo a cara na minha camisola, cheio de vergonha - e eu aprendi! Já tenho quatro anos...

 

No belíssimo capítulo 13 da sua Primeira Carta aos Coríntios, S. Paulo diz assim:

 

"Quando eu era criança, falava como criança, raciocinava como criança, pensava como criança; mas quando me tornei homem, abandonei as coisas de criança." (1Cor 13, 11)

 

Uma afirmação tão óbvia, e no entanto... Quantas vezes me comporto como uma criança birrenta com a minha família ou até no meu trabalho? Quantas vezes causo problemas em casa com atitudes semelhantes às do António?

Há uns anos, discuti com o Niall à mesa, porque o arroz que ele fizera tinha demasiada água. Ele respondeu-me que o meu era demasiado seco, e eu resmunguei qualquer coisa de volta. E assim continuámos durante um bom bocado. Enquanto discutíamos, os nossos filhos olhavam uns para os outros, perplexos. Por fim, desataram a rir.

- Querem que nós decidamos quem faz melhor o arroz? - Perguntou o Francisco, divertido.

Olhámos um para o outro e apercebemo-nos do ridículo da situação. Decidimos rir também. Ainda hoje, quando nos vêem discutir, o Francisco e a Clarinha aproximam-se sorrateiramente e dizem num tom provocador:

- É por causa do arroz?

 

Crescer é deixar para trás as birras infantis. Os nossos primeiros anos de casados estavam recheados deste tipo de discussões, altamente desgastantes e perfeitamente ridículas.  Hoje rimo-nos a bom rir daquilo que há alguns anos nos enervava tanto. E perguntamo-nos onde encontrávamos nós o tempo e a energia para discutir assim! Crescemos. Como o António. Mas como ele, ainda temos muito para crescer!

Naquela mesma carta, S. Paulo conta-nos o segredo para podermos vencer as nossas birras e crescer até à estatura de filhos de Deus:

 

 "O amor é paciente, o amor é bondoso, o amor não é invejoso, não é orgulhoso, não se envaidece, não é descortês, não é interesseiro, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. No presente permanecem estas três coisas: fé, esperança e amor. Mas a maior delas é o amor." (1Cor 13, 4-7.13)

 

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publicado às 08:43

Tempo para plantar

por Teresa Power, em 28.03.14

Chegou a primavera. Continua a chover, continua a fazer frio, mas para lá das aparências de inverno, tudo está diferente: os campos transbordam de cor, a brisa espalha aromas pelo ar, o dia e a noite enchem-se de sons, os corações estão mais leves. 

Diz o Eclesiastes que há um tempo para tudo...

 

"Tempo para nascer e tempo para morrer

Tempo para plantar e tempo para colher

Tempo para matar e tempo para curar

Tempo para destruir e tempo para construir

Tempo para chorar e tempo para rir

Tempo para abraçar e tempo para separar

Tempo para guardar e tempo para deitar fora

Tempo para rasgar e tempo para costurar

Tempo para calar e tempo para falar..." (Ecl 3, 1-8)

 

Pois bem, agora é tempo para plantar!

 

Primeiro é preciso convencer as galinhas a regressar de vez ao galinheiro, que já não está inundado. Enquanto passearem pelo jardim como se tudo lhes pertencesse, não há horta que resista!

Depois é preciso trabalhar a terra. E isso faz-se com a enxada na mão e com força muscular! Há que suar, há que perder tempo, há que dar o litro para que a terra fique macia e pronta a acolher a semente...

 

 

- Que flores tão lindas estas, Niall!

- Flores? Então não sabes que são ervas daninhas?

- Ervas daninhas? Mas são tão bonitas! Não as arranques!

- Se as não arrancar, elas vão alastrar por toda a horta, e não terás uma única couve. O que é que tu queres afinal?

 

A Sara é a melhor ajudante do Niall, claro. Enquanto houver terra para cavar, ei-la disponível! A Lúcia prefere a bicicleta, e o António já se cansou de cavar. É divertido durante um bocadinho, mas depois dói nos braços...

 

O Francisco vai a Náturia (se alguém por acaso ainda não sabe onde fica Náturia, pode ler este post) buscar canas para plantar o tomate. Também ele tem de trabalhar, cortando e limpando as canas!

 

Finalmente, a terra está preparada. Agora sim, podemos começar a semear e a plantar! Ao longo de todo o inverno, o Niall e eu conversámos e tomámos decisões sobre a disposição e o conteúdo da nossa horta este ano. Está na hora de pôr em prática o que decidimos fazer.

Vejam como está bonito o primeiro carreirinho da nossa horta primaveril!

 

Quaresma. É a primavera da Igreja que regressa! No nosso Canto de Oração, multiplicam-se as flores. A cada novo dia, novos gestos de amor brotam no deserto...

Quaresma. Tempo para cavar, suar, trabalhar com coragem e determinação a "terra" do nosso coração. É preciso revolvê-la sem medo da "enxada", trabalhar com persistência sem medo que doa, até ela ficar macia. Diz o Senhor através do profeta Ezequiel:

 

"Eu extrairei do seu corpo o coração de pedra e lhes darei um coração de carne, de modo que andem segundo as minhas leis..." (Ez 11, 19-20)

 

As "ervas daninhas" são atraentes, fáceis, cómodas, mas perigosas. Com que rapidez e eficiência elas alastram na "horta" da nossa vida e da nossa família! Se as colhermos apenas superficialmente, em breve regressarão, e com mais força ainda. É preciso ir ao fundo, cavar a terra com as mãos e arrancar a raíz.

 

Finalmente, podemos plantar.

Quantas conversas em família sobre os frutos que desejamos para este ano! Quantos sonhos, quantas ambições! A quaresma chegou e a Páscoa está quase aí. É preciso pôr em prática tudo o que decidimos mudar, semear, fazer crescer cá em casa...

 

Diz S. Paulo:

"Não vos enganeis. O que uma pessoa semear, também há-de colher. Não nos cansemos de fazer o bem, pois no momento certo havemos de colher, se não desanimarmos." (Gl 6, 7.9)

 

 A primavera chegou também para nós. Mãos à obra!

 

 

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publicado às 08:42

Festa

por Teresa Power, em 01.03.14

O António já coloriu as nove imagens do menino a rezar, na sua "página de esforço" (para quem não sabe o que se passou, ler aqui). Chegou a altura de festejar! A gripe e a chuva não nos deixam fazer a oração lá fora, como ele pedira, de lanterna acesa. Mas diante do Senhor, como o Rei David diante da Arca da Aliança, cantamos e dançamos demoradamente. O António, no centro, escolhe as canções.

 

Celebrar as pequenas vitórias de uma criança é uma exigência da educação. Contudo, poucos se sentem seguros na forma de o fazer.

Como professora e como mãe, apercebo-me de uma cultura da recompensa e do castigo baseada em aspectos materiais. O meu filho mais velho tem colegas que, por cada Excelente obtido nos testes, recebem entre cinco a vinte euros. A rir, o Francisco costuma dizer-me que, se cá em casa adoptássemos a mesma estratégia, ele já nos teria levado à ruina. Na verdade, os nossos filhos mais velhos (os outros ainda estão a começar!) têm muitos Excelentes e nunca receberam qualquer recompensa por causa disso. E porquê? Simplesmente porque não vem a propósito. O Francisco não tem boas notas para receber dinheiro; o António não aprendeu a portar-se bem na hora de rezar para receber um presente. Oferecer-lhes algo material seria comprar o seu esforço, chantagear o seu crescimento e enganar o seu sentimento de felicidade.

 

E no entanto, apesar da falta de recompensas materiais, qualquer um dos meus filhos se sente extremamente recompensado! Quando, cá em casa, se obtém sucesso em alguma área da vida, do desporto ao estudo, da magia ao trabalho de voluntariado, da oração à capacidade de ajudar em casa - e nenhuma destas áreas é mais ou menos importante que as outras - , celebramos na hora da oração familiar. Partilhando a oração em voz alta, agradecemos ao Senhor a prontidão do Francisco em arrumar a cozinha, a rapidez com que a Lúcia seca as lágrimas depois de uma birra, a postura do António a rezar, a nova capacidade da Clarinha para passar a ferro, o resultado do David na Matemática, as primeiras palavras da Sara.

 

É a Deus que é devido todo o louvor e toda a gratidão. Deus presenteou-nos com muitos e variados talentos; não fazemos mais do que a nossa obrigação se os colocarmos a render! Como o servo da parábola de Jesus, precisamos de correr ao seu encontro e de Lhe devolver o seu presente, multiplicado segundo a nossa capacidade (Mt 25, 14-30). E o Senhor, que recompensa um simples copo de água oferecido com amor (cf Mt 10, 42), não deixará de nos preparar, no dia feliz do nosso encontro face a face, uma festa de arromba!

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publicado às 09:18

O mal que não quero

por Teresa Power, em 18.02.14

Numa noite da semana passada, como já vinha a acontecer demasiadas vezes, o António portou-se muito mal durante os dez minutos da oração familiar. Enquanto cantávamos e rezávamos, ele voava para o sofá e de lá mergulhava na carpete, corria atrás dos gatinhos, metia-se com a Sara e brincava com carrinhos no chão. Perdendo a paciência, puxei-o por um braço e fi-lo sentar no banquinho de cortiça, onde muito contrafeito, o António permaneceu nos poucos segundos que faltavam para acabarmos a oração.

Depois, já na cama, foram horas de conversar.

- António, já tens quatro anos, por isso a partir de agora tens que te portar bem a rezar. Nenhum menino de quatro anos se porta assim!

- Ai não?

- Não.

- Mas eu ainda não gosto de sopa quente, mesmo com quatro anos.

- Agora não estamos a falar da sopa, esse é outro assunto também bastante complicado. Uma coisa de cada vez! Agora estamos a falar da oração.

O António hesitou por um instante. Depois continuou:

- Eu bem tento!

- Então tens de tentar melhor.

- MAS EU NÃO CONSIIIIIIIGO!

 

A confissão do António acertou-me como um soco na cara. Quantas vezes eu me esforço por ser melhor mãe, melhor esposa, melhor filha, melhor professora, melhor cristã, e simplesmente esbarro com a minha impotência? Quantas vezes prometo a mim mesma: "Agora vou mudar", e instantes depois, repito as mesmas faltas e caio nos mesmos defeitos e vícios?

Uma das minhas palavras preferidas de S. Paulo - preferida porque tão humana, tão verdadeira, tão humilde - é esta:

 

"Eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. Que homem miserável eu sou!" (Rm 7, 19.24)

 

Decidi assim ajudar o António a vencer o seu pequeno defeito. Procurei na Net uma imagem para colorir com um menino em oração, imprimi uma página com várias cópias da imagem e coloquei-a em destaque no Canto de Oração. Depois combinei com o António: cada vez que ele se portar devidamente durante o tempo de oração familiar, poderá colorir uma das imagens. Quando a página estiver cheia, festejaremos e, com fita-cola, colocaremos a página na cortina do nosso Canto de Oração, em acção de graças ao Senhor.

Ele adorou a ideia e deu logo uma sugestão para a "festa":

- Podemos ir lá fora de noite com as lanternas acesas!

Pois...

 

A ideia resultou maravilhosamente. Todas as noites, antes de rezarmos, relembro ao António o nosso compromisso. Ele olha com orgulho para a sua folha já meio pintada e porta-se à altura durante todo o tempo da oração. No final, munido de lápis de cor, pinta mais um menino a rezar. Já falta pouco para a nossa "festa"!

 

Olhando para a felicidade do António, decidi fazer uma página também para mim e trazê-la no bolso. Em vez de imagens, escrevi nela a palavra de Deus que me convida a vencer o meu maior defeito. Como o António, anoto as vitórias: de cada vez que consigo agir positivamente sobre esse defeito, coloco um pequeno traço à frente...

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publicado às 08:59

O dado

por Teresa Power, em 10.01.14

A Clarinha tem um dado entre as suas coisas pessoais. Fê-lo na catequese e lança-o muitas vezes de manhã. É assim:

 

 

Amar é um verbo e, portanto, uma acção. Amar é uma decisão. Amar não é sentir qualquer coisa, mas fazer qualquer coisa. Eu não amo o meu irmão se sinto simpatia, paixão ou qualquer outra coisa por ele; amo-o se tenho para com ele gestos concretos de amor. Disse Jesus:

 

"Nem todo aquele que diz "Senhor! Senhor!" entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai" (Mt 7, 21)

 

Hoje vivemos a "ditadura do sentimento". Alguém me falava, num comentário, sobre a triste realidade do divórcio na nossa sociedade. Há naturalmente histórias terríveis de pessoas que são atiradas para o divórcio porque não lhes resta outra alternativa, mas também há muitas pessoas que simplesmente "deixaram de sentir amor". O sentimento enfraqueceu, e erradamente julgaram que o amor morrera.

Mas amar é uma decisão! Eu decido cuidar dos meus filhos, decido ajudar os outros, decido ir à missa ao domingo, decido fazer gestos que me aproximam do meu marido ou da minha esposa, apeteça-me ou não. Insistindo na nossa decisão, um dia descobriremos que o deserto se cobriu de flores: os nossos gestos acordaram em nós o sentimento feliz que procurávamos.

 

Assim, é uma óptima ideia começar o dia com uma decisão concreta sobre gestos de amor. Dizer apenas "Hoje vou amar" é demasiado vago. Decidir, logo pela manhã: "Hoje não me vou zangar com os meus manos", ou "Hoje vou ajudar os meus pais sem eles me chamarem", ou "Hoje vou rezar um salmo", ou "Hoje vou sorrir ao meu marido quando ele chegar a casa cansado", ou "Hoje vou arrancar-me da cama e vou à missa porque Deus me espera lá", ou qualquer outro gesto de amor a Deus e ao próximo, ajuda-nos a centrar o nosso pensamento e o nosso desejo num gesto bem concreto. E gestos concretos são amor.

 

Quando vejo a Clarinha muito zangada com os irmãos, participando nas brigas dos mais pequenos com ímpeto infantil, recordo-a do dado. Mas geralmente não preciso de o fazer. Observando os seus gestos - muito mais frequentes - de atenção para comigo, para com o pai e para com os irmãos, sei que ela o lançou...

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publicado às 08:53



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