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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Refeição familiar. Tempo de família por excelência, se bem que geralmente, bastante atribulado.
- Hoje na escola os meus amigos foram maus para mim...
- E que te fizeram eles, António?
- Mãe, sabes que há galáxias que se afastam da nossa mais depressa do que a luz?
- Sei, Francisco, quer dizer, não fazia ideia, mas diz lá, António, o que aconteceu?
- Esqueceste-te de assinar o meu teste de Inglês, mãe, e por isso levei falta.
- Eu é que me esqueci, Clarinha, ou foste tu que não mo deste para assinar?
- ... As galáxias não deveriam ser visíveis porque a luz não as alcança, mas são. E aí é que está o mistério. Queres saber porquê?
- Quero, queria, até devia querer, mas agora, Francisco... Sara, a comida é para meter na boca e não nos olhos! Saaaaara!
- Eu até te dei o teste, mas tu estavas a dar banho à Sara e disseste que depois assinavas.
- ...
- Diz, Lúcia?
-...
- Não podes falar mais alto, Lúcia?
- Shiu! Calem-se todos, que assim não consigo ouvir a Lúcia!
- Shiu!
Silêncio.
- Já podes falar, Lúcia. Diz lá!
A Lúcia tem uma estratégia muito eficaz para se fazer ouvir no meio da algazarra dos irmãos: em vez de falar mais alto do que todos, fala mais baixo do que todos. Consequentemente, todos se calam para a ouvir! E ao conseguir a atenção da família, a Lúcia exprime-se então, feliz.
Fico a pensar no barulho que fazemos na nossa vida. Quanto ruído! Em muitas casas, a televisão está sempre ligada, mesmo que ninguém esteja interessado nela. Entramos no carro, e ligamos de imediato o rádio... Na Net, lemos tanta coisa sem interesse, por mera curiosidade. E são cada vez mais os jovens que passam o dia de auscultadores nos ouvidos.
Acontece que Deus usa a mesma técnica da Lúcia... e fala muito baixinho! Quando Elias se pôs à escuta de Deus, na caverna do monte Horeb -
"...passou um vento violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna." (1Rs 19, 11-13) Tinha reconhecido a voz de Deus!
Na nossa casa, de nada adianta pedir às crianças: "Calem-se!" Mas se lhes dissermos "Escutem a Lúcia!" conseguimos o desejado silêncio. Disse Christine Ponsard em A Fé em Família, Edições Paulinas:
"Ensinar o silêncio a uma criança não é dizer-lhe: «Cala-te», mas sim: «Escuta»."
Precisamos urgentemente de baixar o volume da nossa própria voz e das vozes que nos enchem os ouvidos. Não o façamos apenas para saborearmos o silêncio ou o vazio da mente ("cala-te!"), segunda tantas propostas válidas de relaxamento ou meditação, pois não é esse o "alvo" do cristão: façamo-lo para podermos ouvir a voz de Deus ("escuta!"). Só assim cumpriremos o mandamento de "rezar sem cessar" (1Ts 5, 17)...
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