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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Só quem é professor imagina as angústias que os professores vivem nestes dias de avaliações. Em cada reunião, analisamos os alunos em risco de retenção até à exaustão, fazemos "futurismo", como dizemos na nossa gíria, imaginando o que irá acontecer caso o aluno passe e caso fique retido, recolhemos os bocadinhos de esforço e os restinhos de trabalho demonstrados por alunos mais problemáticos, refletimos, mudamos notas, voltamos atrás, avaliamos o impacto de uma retenção no contexto familiar, contamos pequenas histórias de cada aluno que ajudam a puxar um sorriso, a criar empatia. Um professor nunca é - embora haje quem o pense - indiferente ao destino dos seus alunos, por muito que estes alunos o tenham desafiado e até insultado. As reuniões de avaliação são sempre, para mim, uma grande lição de humanidade.
E no entanto, apesar de todos os esforços, de toda a boa vontade, somos sempre injustos. Porque o João passou, e o José, numa reunião diferente, com um conselho de turma diferente, ficou retido. Porque conseguimos comparar notas, mas não pessoas, histórias de vida, contextos familiares. E esta sensação de termos sido injustos algures durante o caminho insiste em nos acompanhar pela vida.
Nestes dias de avaliações, lembro-me da jovem beata Chiara Badano. Também ela sofreu muito com a escola! Durante a sua adolescência teve inclusive de repetir um ano. Os colegas de Chiara são unânimes a dizer que a Chiara foi vítima de uma enorme injustiça, chumbada num exame para o qual se preparou muito bem, mas avaliada negativamente por uma professora que não gostava dela, num tempo em que as avaliações não eram sujeitas ao controlo dos tempos atuais.
Terá esta injustiça quebrado a fortaleza de Chiara? Pelo contrário: esta injustiça foi, para a jovem Badano, um trampolim para a santidade. Chiara aproveitou a oportunidade de ter sido injustiçada para crescer no amor fraterno: jamais permitiu que, junto dela, se falasse mal da professora em causa; continuou a cumprimentá-la com o seu sorriso pronto; e ofereceu o o seu sofrimento "a Jesus Abandonado". Chiara entrou na escola, no ano seguinte, de cabeça levantada, tomando lugar na sua nova turma com simplicidade e alegria. A injustiça que sofreu desafiou Chiara a tornar-se santa.
Cá em casa, ouço com alguma frequência os meus filhos a queixar-se de injustiças, quer da parte dos professores, quer dos colegas - porque o trabalho de grupo que não foi bem avaliado, porque o teste que foi demasiado curto ou demasiado extenso, porque o colega fez barulho e não deu para ouvir qual era o trabalho de casa. Que fazer com estas pequenas injustiças (e atenção que não estou a falar de bullying ou de coisas realmente graves)? Ajudemos os nossos filhos a aproveitar estas oportunidades para crescer em perdão, compreensão, auto-controlo, fraternidade. Não os encorajemos a queixar-se por pequenas coisas - geralmente são mais pequenas do que as imaginamos! Ninguém se torna santo sem sofrer contrariedades. Diz Isaías, profetizando sobre Jesus:
"Entreguei as minhas costas aos que me batiam, e as minhas faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o rosto aos ultrajes e às cuspidelas. Conservei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei envergonhado." (Is 50, 6-7)
Ah, vamos ficar tão surpreendidos quando chegarmos ao céu, e descobrirmos quais os trampolins luminosos que nele nos lançaram...