Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Bom dia, meninas! Acordar!
Como todas as manhãs, entro no quarto das meninas e abro as janelas. A Lúcia está ainda a dormir, bem agarrada aos seus dois ou três peluches. A cama da Sara está vazia.
- Sara! Onde está a Sara?
Uma gargalhada vinda da cama da Clarinha, lá em cima. Duas cabeças a espreitar sob o edredão:
- Sara, que fazes tu na cama da tua irmã? Clarinha, o que aconteceu?
A Clarinha espreguiça-se, dá mais um beijinho à Sara e explica:
- A Sara chorou durante a noite. Antes que tu ouvisses, decidi puxá-la para a minha cama. Eu sei que andas muito cansada, e não queria que ela te acordasse!
Hoje a Clarinha faz catorze anos. Olho para ela e vejo uma adolescente bonita, inteligente e equilibrada. Tem alguns defeitos e muitas qualidades. A maior, sem qualquer dúvida, é a sua disponibilidade constante para servir. Esteja a estudar, a ouvir música, a dançar, a fazer ginástica ou, como ontem, a dormir, a Clarinha está sempre disponível para ajudar quem mais precisa. Fá-lo por temperamento (e nesse caso, esta qualidade é claramente herdada do pai), mas fá-lo também por virtude, emprestando à sua maneira de ser o esforço que o Evangelho nos pede.
Li há tempos o livro "Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos", escrito por uma mãe espanhola que tem, imaginem, dezoito filhos, Rosa Roca, num apartamento em Barcelona. Impressionou-me um pormenor: todos os períodos, esta mãe vai à escola, conversar com os professores ou diretores de turma de cada filho. Escreve ela:
"As notas não são a primeira coisa de que falamos, mas sim o comportamento, quer na sala de aula, quer com os colegas. Se se preocupa com os outros, ou se só pensa nele. Se é generoso e partilha os apontamentos, se ajuda o amigo que vai mais atrasado em alguma disciplina... E no final do encontro falamos sobre as notas, sobre se ele se esforçou ou não, sobre o professor de inglês, que parece não engraçar com ele, e sobre a matemática, pois parece que ele não percebe as frações..."
É curioso como, ao longo da minha vida de professora, poucos pais me têm questionado sobre a disponibilidade dos filhos para ajudar os colegas. Apercebo-me de que a capacidade de serviço não é um dos valores mais apreciados pela maioria das famílias, sejam ou não famílias cristãs. Precisamos de reler os Evangelhos e de perceber o que é mais importante para Jesus. S. João, o seu amigo mais próximo, narra-nos o que Jesus fez durante a sua última páscoa. O texto começa com um crescendo magnífico:
"Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo Lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa..."
Será que é agora que Jesus vai manifestar o seu poder divino, auto-proclamando-se Rei de Israel?
"...tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura." (Jo 13, 3-5)
Que desilusão! Tanto suspense para isto! Ou então... Ou então - e essa é a única hipótese que nos resta - servir é a maior honra que nos é oferecida aqui na Terra.
Parabéns, Clarinha, pelos teus catorze anos de vida ao serviço dos outros!