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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Quando éramos namorados, o Niall e eu sonhávamos com uma quinta enorme onde os nossos filhos pudessem brincar em segurança, mexendo na terra e subindo às árvores. No entanto, o nosso orçamento nunca nos possibilitou a compra da dita quinta, nem de nada que se lhe parecesse. O tempo foi passando, e percebemos que só nos restava enterrar o nosso sonho...
Até que, um ano depois da morte do Tomás, nos mudámos para a casinha cor-de-rosa onde agora vivemos. Não, não fica no meio de uma quinta, mas fica no meio de um descampado cheio de silvas, canas e pedras, urtigas e flores selvagens, arbustos e eucaliptos - e lixo.
Assim que nos mudámos para aqui, o Francisco e a Clarinha adotaram este terreno como o seu quintal e batizaram-no de Náturia, inspirados nas Crónicas de Nárnia, que o pai lhes lia religiosamente todas as noites antes de se deitarem. Veio o David, depois a Lúcia, o António e, por fim, a Sara, e Náturia cresceu com eles. Neste post do ano passado descrevi uma visita guiada a Náturia, para que façam uma ideia do que estou a falar!
De dois em dois anos, Náturia muda de forma, pois o dono envia alguém com um trator para limpar o terreno, de acordo com a lei. A "limpeza" consiste basicamente em levantar grandes bocados de terra cheios de silvas e amontoá-los um pouco adiante, para de novo se cobrirem de silvas. Assim, de dois em dois anos, o descampado torna-se novamente excitante, com novas "montanhas" e novos "esconderijos", novos "túneis" de silvas e novas "piscinas" de água da chuva.
Férias significa tempo extra para brincar em Náturia. Da janela da sala ou da cozinha, vou vigiando as suas brincadeiras e escutando os seus gritos de alegria. Que felicidade!
Esta fotografia foi tirada pelo Francisco:
Sim, é o que estão a pensar: ele estava empoleirado no cimo de um eucalipto, contemplando o seu reino de Náturia e a nossa casa... Só descobri quando vi a fotografia.
Os mais novos têm brincadeiras mais pacatas:
- Já viste como Deus foi bom para connosco? - Disse-me outro dia o Niall, enquanto observava comigo os meninos a brincar.
- Como assim?
- Nós sonhávamos com um espaço grande para os nossos filhos brincarem. No entanto, se o tivéssemos, podias esquecer as Famílias de Caná e todo o trabalho que temos em mãos para o Reino de Deus, pois eu passaria os meus fins-de-semana empoleirado num trator, ou de enxada na mão. Assim, Deus ofereceu-nos uma terra que não precisamos de plantar, mas que torna possível aquilo que mais desejávamos: o espaço de brincadeira familiar!
- Tens razão. O que estás a dizer recorda-me as palavras de Moisés no Livro do Deuteronómio:
"Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó, dar a ti, com cidades grandes e belas que não edificaste, casas cheias de toda a espécie de bens que não ajuntaste, cisternas já escavadas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; e quando comeres e te fartares, cuida para não esquecer o Senhor que te libertou do Egito, lugar de escravidão." (Deut 6, 10-12)
- Se pensarmos bem, colhemos tantas coisas que não plantámos. A começar pelo dom da vida!
- Sim, e a graça, totalmente imerecida, de vivermos em países sem guerras e com elevados níveis de conforto...
- E a graça de nascermos cristãos e não termos de lutar ou morrer pela nossa fé!
- A graça de termos escolas para os nossos filhos, e podermos partilhar com os seus professores a belíssima tarefa da educação...
- Na verdade, a nossa vida não é apenas fruto do nosso trabalho ou do nosso esforço. É engraçado pensar nisso! A nossa vida é acima de tudo presente do Senhor. Nem sempre nos damos conta de todos os frutos que colhemos como família, e que não plantámos.
Depois, o Niall deu uma gargalhada:
- Bem, nem toda a gente se lembraria de ver este monte de silvas como um substituto vantajoso para uma bela quinta! É preciso ter o olhar treinado para reconhecer os dons de Deus...
- E para perceber quando Ele responde às nossas orações. É que frequentemente, a sua resposta é diferente do que imaginávamos! Primeiro parece-nos uma resposta fraquinha e ficamos desapontados, mas depois descobrimos que foi a resposta perfeita.
Náturia tornou-se, na nossa casa, símbolo da gratuidade do amor divino, e símbolo da simplicidade de que precisamos para aceitar este amor. A terra que não plantámos ajuda-nos a reconhecer que o Senhor nos libertou da escravidão do "Egito" (e do "querer sempre mais", e do "controlar toda a vida", e da "autosuficiência") para a felicidade do Reino...
(Vista romântica de Náturia)