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A verdadeira alegria e um novo blogue

por Teresa Power, em 19.11.14

Ontem tive um dia de aulas particularmente difícil, distribuído por três escolas diferentes (todas do mesmo agrupamento). Das 15h30 às 17h  dei aulas à turma do Curso Vocacional, a que já me referi várias vezes, composta por alunos muito, muito problemáticos. Entraram na aula extremamente agitados, provocando-se e acusando-se mutuamente, escondendo as mochilas uns dos outros, atirando estojos pelo ar, enfim, uma sequência de atitudes que só quem é professor (sim, só mesmo quem é professor) consegue imaginar. A escalada de mau comportamento foi de tal ordem, que depois de marcar algumas faltas disciplinares vi-me forçada a chamar o Director para controlar a agressividade de alguns destes alunos para com os seus pares. A certa altura, apeteceu-me chorar e fugir, e como não estava em posição de tomar nenhuma dessas atitudes, optei pela única que me restava:

"Nós, Jesus, Tu e eu. Ajuda-me, por favor, a manter a ordem nesta sala. Já falta pouco tempo... Nós, Jesus, Tu e eu."

 

Quando saí da sala, senti a tentação terrível da tristeza. Entrei no carro, respirei fundo e conduzi até ao colégio para recolher os meus seis filhos. Eu sabia que precisava urgentemente de "desligar o botão" de professora e "ligar o botão" de mãe, e que só tinha cinco minutos para o fazer - o tempo que demoro entre a minha escola e o colégio. Rezei uma Avé-Maria muito pausadamente, entregando o fardo pesado a Nossa Senhora, e depois lembrei-me do belíssimo diálogo entre S. Francisco e Frei Leão:

Depois de perguntar a Frei Leão em que consiste a verdadeira alegria, e de sugerir as mais convincentes respostas - a posse de toda a ciência, o perfeito conhecimento das Escrituras, a capacidade de fazer milagres - S. Francisco conclui que a verdadeira alegria está, pelo contrário, na cruz. Deus deu-nos tudo o que possuímos, todos os dons que usamos para O servir; mas a cruz que carregamos é o dom que nós fazemos a Deus. Como diz S. Paulo:

 

"De bom grado prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte." (2Cor 12, 9-10)

crucifixo no Canto de Oração.JPG

 Descobri este texto de S. Francisco num novo blogue de uma Família de Caná, que hoje vos quero apresentar. Visitem-no e leiam o diálogo entre S. Francisco e Frei Leão, que vale mesmo a pena!

Conheço a Lurdes e a Cândida desde que viemos morar para Mogofores, há oito anos. A Cândida tinha então seis anos e pertencia ao meu grupinho de catequese. Com os seus olhos vivos e ouvidos bem atentos, a Cândida esforçava-se por praticar tudo o que aprendia na catequese, e vinha orgulhosamente contar-me as suas conquistas a cada sessão. Alguns anos mais tarde, a sua mãe tornou-se também catequista, e desde então a nossa amizade cresceu. No blogue, elas contam como se deu o seu encontro com as Famílias de Caná, e falam-vos de alegria. Da verdadeira alegria, que a Lurdes e a Cândida descobrem no meio dos espinhos com que muito da sua vida é tecida... Tenho o enorme prazer de vos apresentar Uma Caminhada a Duas. Leiam, que não se vão arrepender!

DSCF1429.JPG

        (A Cândida com a cruz às costas, no reencontro das Famílias de Caná no Buçaco)

 

Ah, quando à alegria... Assim que os meninos entraram no carro, confesso que não tive outro remédio senão oferecer a Jesus o episódio da escola e deixá-lo aí mesmo, nos braços do Senhor! É o que faz ter filhos para criar

 

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publicado às 06:54


4 comentários

De João Miranda Santos a 19.11.2014 às 09:15

Sempre que a Teresa fala das dificuldades com a turma do curso vocacional (que nem sequer o eufemismo do nome eu entendo) eu lembro das teorias do prof. José Pacheco e das partilhas que ele faz das experiências na Escola da Ponte e noutros projectos no Brasil. Imagino que isto já seja um assunto conhecido da Teresa, mas para quem não for há muitas conversas no youtube com ele (a primeira que me deu contacto com ele foi esta http://youtu.be/J2VH_1Jg0O8).
Para mim não é uma realidade próxima porque não estou ligado ao ensino, mas assusta-me pensar o mal, mesmo mal, que se pode estar a fazer a muitas crianças por as encaixar à força num sistema de ensino do qual não tiram nenhum proveito, antes pelo contrário, cria-lhes revolta e desinteresse. A Teresa terá muito mais conhecimento para avaliar isto, pela descrição que faz dessas aulas...
O secretário da Congregação para a Educação Católica tocou um pouco neste assunto nesta entrevista recente (http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=169132):
"O problema toca a questão da autoridade e a questão da liberdade - dois elementos fundamentais no processo educativo. Só que o maior problema está nos adultos e não nos jovens."
"O trabalho de educar as novas gerações passa, na perspectiva de monsenhor Zani, por uma mudança de perspectiva, passando "do ensinamento à aprendizagem, ou seja, do que era o mestre para pôr no centro a pessoa do outro. Este é que deveria ser o método cristão de ensinar: passar do ser autoritário ao ter autoridade, quer dizer, dar testemunho."

O que é que a Teresa acha disto, particularmente das teorias do prof. Pacheco?

De Teresa Power a 19.11.2014 às 10:13

A Escola da Ponte é sem dúvida um ponto de referência de qualquer professor. Não escutei ainda a entrevista que referiu do Monsenhor Zani (estou no intervalo na escola, só a noite o poderei fazer) mas estou cheia de curiosidade. João, quer mesmo saber o que eu penso? Estes adolescentes com quem trabalho - uma turma de vinte alunos, formada exclusivamente pelos dois ou três de cada turma regular que não estudavam nem deixavam estudar - têm mais do que idade para trabalhar... A escola não lhes diz nada, e quanto mais tempo desperdiçarem aqui, mais vícios aprendem. Não concordo com a escolaridade obrigatória até aos 18 anos. Claro que um jovem aos dezasseis anos precisa de ser ajudado no seu trabalho, e talvez acompanhado minimamente a nível escolar, mas não forçado a estar na escola o dia inteiro! Hoje prolongamos a adolescência até muito tarde. Enfim, já vi tanta coisa acontecer no recinto escolar, que cada dia me convenço mais do carácter formativo do trabalho. De certeza que numa oficina de carros ou numa mercearia, estes jovens não se comportariam como se comportam na escola, e aprenderiam os valores que aqui só desaprendem. Liberdade, sim: liberdade para decidir se quer vir à escola ou se quer ser acompanhado num emprego simples e acessível. E olhe que falta de empregos deste tipo não há!

De João Miranda Santos a 19.11.2014 às 17:05

Claro que quero mesmo saber a sua opinião, não sou de perguntar só para provocar ;)
É triste... e deve ser doloroso ter de lidar com isso directamente. A escola, ou pelo menos a escola comum, não é efectivamente para todos. E impô-la a quem dela não beneficia é prejudicial para a pessoa, e uma perversão da igualdade.
Já agora, a entrevista para ouvir penso que não aparece directamente no site mas pode ouvir-se a meio do minuto 12 aqui: http://mediaserver2.rr.pt/newrr/principioefim1611173206a0.mp3

De Teresa Power a 19.11.2014 às 21:56

De tudo o que acabo de ouvir na entrevista, retenho uma frase, que me tem feito pensar muito e desde há muito na escola católica (que como sabe, é a escola que escolhi para os meus filhos): "ainda não fomos ao fundo do que é ser um educador cristão..." Tenho escrito alguma coisa aqui no blogue sobre isso :) Quanto aos meus alunos do vocacional, que na globalidade não têm qualquer religião, continuo a pensar que o trabalho lhes iria fazer tão, mas tão bem... Há coisas que não se aprendem na escola, seja ela católica ou não! Ab

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