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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- Que dia é hoje, mamã?
- Sábado. Hoje não há escola.
- E há catequese?
- Sim, há, António. Para os manos, claro!
- Que bom! A Isabel vem cá a casa e faz um bolo!
A Isabel já foi convidada várias vezes pelo nosso pároco para dar catequese. Ela conhece o catecismo e, sobretudo, tem uma grande fé. Mas a Isabel tem recusado, porque aos sábados, na hora da catequese, está muito ocupada: está na casa dos Power a cuidar dos mais pequeninos e a fazer bolo de chocolate! Eu explico:
Lembram-se da forma como comecei a dar catequese, aqui em Mogofores? A falta de catequistas, na altura, era tão grave, que o Niall se viu também na obrigação de colaborar. Afinal, havia um grupo sem catequista! Mas se os dois íamos dar catequese à mesma hora, quem iria cuidar do nosso bebé, o David? A avó adoraria fazer esse serviço, claro, mas vive a trinta quilómetros de distância e tem a seu cargo a sua mãe e minha avó, que sofre de demência e não pode ficar sozinha. Teríamos de levar o David connosco, naturalmente...
Foi então que um pequeno milagre aconteceu: a Isabel, mãe de três meninas, duas das quais iriam ser nossas catequisandas, ofereceu-se para ficar com o David durante essa hora.
- Tens a certeza de que não te importas? - Perguntei várias vezes, antes de aceitar ser catequista. A resposta foi invariável:
- Claro que não me importo! Tu e o Niall dão catequese às minhas filhas, e eu cuido do vosso bebé.
O acordo estava feito. Mas acontece que ao David, se sucedeu a Lúcia, e à Lúcia o António, e ao António a Sara... A Isabel tinha aceite vir à nossa casa sábado à tarde durante uma hora e pouco para cuidar de um bebé, mas não pensara na altura vir a cuidar de mais três! A cada um que nascia, eu perguntava de novo:
- Tens a certeza de que queres continuar a vir aqui sábados à tarde?
E a resposta foi sempre a mesma:
- Claro que sim!
Neste ponto, os meus caros leitores podem pensar que a Isabel se senta confortavelmente no sofá, durante a hora da catequese, e folheia uma revista... Nada disso! Eu acho que nessa hora, a Isabel corre e trabalha mais do que eu o dia inteiro, porque quando chego a casa, tenho a louça arrumada, a roupa passada, a roupa estendida, a sala aspirada, os botões pregados nas batas ou nas camisas e, por fim, um bolo a sair do forno para o lanche. Todos os sábados eu fico maravilhada diante de tanta capacidade de trabalho e de serviço. Nunca pedi à Isabel para fazer mais nada senão cuidar dos meus filhos, o que ela faz com esmero. Mas a Isabel arranja sempre tempo para me prestar mil outros serviços!
O Niall e eu já tentámos todas as estratégias para evitar que a Isabel trabalhasse em nossa casa. Um dia em que não conseguimos de todo lavar a louça do almoço (a catequese é logo depois de almoço), cobrimos a banca com um pano grande e colocámos em cima um papel a dizer: "PROIBIDO MEXER. PERIGO DE MORTE". De nada adiantou... Outro dia, atirámos com a desarrumação toda para dentro do escritório e colámos na porta um letreiro a dizer: "SE ENTRAR POR ESTA PORTA ESTARÁ POR SUA CONTA E RISCO. NÃO NOS RESPONSABILIZAMOS PELOS DANOS." Quando regressámos, o escritório estava imaculadamente arrumado. Ainda hoje não entendo como ela conseguiu!
Os pequeninos, claro, adoram a companhia e o bolo de chocolate, que a mãe nunca tem tempo de fazer, mas que a Isabel faz com tanto amor e tanta rapidez!
Quando a Lúcia nasceu, não hesitámos em convidar a Isabel e o marido para padrinhos, o que eles aceitaram com muita alegria. O estatuto de madrinha da Lúcia, aliado à capacidade milagrosa que a Isabel tem de transformar o caos da nossa casa em ordem, mereceu-lhe entre nós o título de "Fada madrinha"
Embora eu tenha muitas e lindas fotografias da Isabel com os meus filhos, achei que ela não iria gostar de as ver publicadas aqui. Assim, pedi à Lúcia que a desenhasse, para vocês a ficarem a conhecer. A Lúcia desenhou pois a Isabel e assinou o seu nome por cima. Acho que agora já a irão reconhecer quando se cruzarem com ela, não é verdade?
É por tudo isto que a Isabel não dá catequese. Ela está onde Deus lhe pediu para estar, servindo sem que ninguém o saiba, dando sem pedir em troca, fazendo muito mais do que lhe foi pedido. A Isabel vive na perfeição a "quinta pedrinha" das Famílias de Caná, a "Visitação"... Nela se cumprem as palavras de Jesus:
"Quem de entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja o vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão." (Mt 20, 26-28)
Eu não tenho com que lhe agradecer, para além da minha amizade, da minha oração diária, quando a incluo no grupo dos nossos benfeitores, e da bênção diária que peço ao Senhor para ela e a sua família. Mas Deus tem! Deus nunca Se deixa vencer em generosidade. Um dia, no céu, Deus receberá a Isabel na sua alegria, pegar-lhe-á ao colo e dir-lhe-á, cheio de gratidão: "Agora é a Minha vez..."