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Amor de irmão

por Teresa Power, em 22.05.15

Na viagem de regresso do Retiro Famílias de Caná em Castelo de Neiva, a Lúcia lembrou-me:

- Mãe, amanhã vou a uma visita de estudo!

- É verdade, Lúcia, ainda nos falta essa! Chegar a casa, despejar os restos do piquenique e preparar novo piquenique para ti!

A Lúcia bateu palmas de excitação:

- Vou ao Portugal dos Pequeninos! E vou comer gelado. O gelado é grátis!

Ao chegarmos a casa, como se devem recordar, tínhamos uma ninhada de gatinhos recém-nascidos à nossa espera, e tralha e mais tralha para arrumar. Pouco tempo sobrou para pensar na merenda da Lúcia ou no seu passeio. De vez em quando, contudo, ela lembrava-nos:

- Mamã, não podemos esquecer de levar o banquinho do carro! É obrigatório! E eu quero levar Nuggets. O papá pode ir comprar?

Respondíamos a tudo que sim, e lá continuávamos a arrumar. Até que chegou a hora de deitar. Um a um, deitámos os mais pequeninos, depois foi a vez do David... Fechei as luzes dos quartos e regressei à cozinha, onde continuei a trabalhar.

Foi então que senti passinhos no corredor. Era o David.

- David, não estás a dormir? Passa-se alguma coisa?

Baixinho, para não acordar ninguém, o David murmurou:

- Vim dizer-te para não te esqueceres da visita de estudo da Lúcia... Ela tem de levar uma boa merenda, mamã!

David e Lúcia na gruta do colégio.JPG

Tenho recebido mails e trocado palavras com mães de um ou dois filhos, cansadas e sobressaltadas com todo o trabalho que envolve a maternidade.

Eu lembro-me muito bem da passagem de um para dois filhos, e de como foi difícil gerir uma família a crescer! Lembro-me das crises de ansiedade, do stress, do cansaço, do desânimo. Lembro-me das lágrimas, das dores de cabeça. Lembro-me das noites mal dormidas e das birras longas e difíceis dos mais velhos. Lembro-me de achar que não ia ser capaz... Lembro-me de ver outras famílias com muitos filhos e de me perguntar: "Como é que eles fazem?" Lembro-me de perguntar à minha cunhada, na altura com três filhos, se dava banhos todos os dias ou como fazia para dar de mamar e ao mesmo tempo impedir que o mais velhito não se atirasse de uma escada abaixo. Lembro-me de me sentir incapaz e inútil. Lembro-me...

Mas lembro-me de outras coisas também! Lembro-me das gargalhadas, das festas, dos saltos, da alegria. Lembro-me da primeira vez que o Francisco pegou na Clarinha ao colo. Lembro-me dos abraços que os dois davam ao Tomás. Lembro-me da festa que foi o nascimento do David, três meses depois da morte do Tomás. Lembro-me de como o Francisco, então com sete anos, me repetia vezes sem conta:

- Obrigada, mamã, por me dares este mano!

Custa, dar um irmão - ou dois, ou três, ou quatro... - aos nossos filhos? Custa. Irá ser difícil adaptarmo-nos? Sim. Vão surgir momentos em que nos parece que fizemos asneira? Vão. Os mais velhos irão fazer birras? Certamente que sim, não porque tiveram um irmão (nós é que gostamos de fazer associações...), mas porque todas as crianças fazem birras ao crescer.

Vale a pena dar um irmão - ou dois, ou três, ou quatro... - aos nossos filhos? Dificilmente lhes daremos presente melhor! Oferecer um irmão a uma criança é oferecer-lhe a oportunidade de amar e cuidar de alguém. Os irmãos fazem-nos vencer o nosso egoísmo natural, ensinam-nos a resolver conflitos, forçam-nos a partilhar afetos, tempo e brincadeiras, e despertam em nós a solidariedade e a compaixão.

O David estava cheio de sono, mas na sua cabecinha de criança de oito anos não passavam apenas imagens do passeio do fim-de-semana: na sua cabecinha de criança de oito anos estava bem marcada a imagem da sua querida irmã Lúcia, que corria sérios riscos (segundo ele, claro...) de acordar de manhã e não ter uma merenda digna de visita de estudo. O seu amor fraternal foi mais forte que o cansaço, e o David não hesitou em saltar da cama para me recordar as minhas obrigações maternais...

 

"Que fizestes de teu irmão?" (Gen 4, 10)

 

A voz de Deus ecoa ao longo de toda a Bíblia. Possam os nossos filhos aprender, em família, a fraternidade dos filhos de Deus. Ámen!

DSC01598.JPG

E por falar em irmãos... Já assinaram a Petição pelo Dia dos Irmãos? São precisas quatro mil assinaturas. Assinem e passem palavra!

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 06:25


10 comentários

De Sandra Lourenço a 01.03.2016 às 21:56

Obrigada, de coração! Quem temos nós, senão o Senhor? Em quem esperar, senão em Deus?
Não foi uma experiência boa, de forma alguma...A Teresa, bem melhor que eu o sabe...
Mas, apesar de me sentir um pouco abatida, continuo a saber em Quem creio...Estamos nas Suas mãos! Que as nossas orações nunca cessem! Um grande beijinho e um abraço apertado

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