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Andorinhas

por Teresa Power, em 05.11.15

- Mãe, mãe, vem cá fora depressa! Olha para o céu!

São oito horas da manhã e é suposto os meus filhos estarem todos sentados dentro do carro, prontos para irem à escola. Contudo, quando corro para o pátio, estão todos a olhar para o céu. Levanto também eu os meus olhos, e eis o que vejo:

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Um após outro, bandos de andorinhas cruzam os ares. São centenas, talvez milhares de aves que deslizam no céu, como um exército em ordem de batalha. Parece que todas as andorinhas do mundo decidiram partir ao mesmo tempo. Ficamos em silêncio diante da grandiosidade do milagre que a manhã nos apresenta.

- Meninos, agora toca a entrar no carro, para não nos atrasarmos! - Digo, interrompendo a contemplação.

Durante a curta viagem para a escola, e depois da nossa oração da manhã, falamos de andorinhas.

- Mamã, para onde vão elas?

- Para longe, para muito longe, António.

- Vão para África, não é mãe?

- Sim, David.

- O professor explicou-nos! Ele disse que a andorinha da frente tem de aguentar com o vento todo, e por isso o seu trabalho é o mais difícil. Assim, elas vão dando a vez umas às outras.

- Ah, eu consegui ver duas andorinhas a trocar de posição!

- Viste mesmo, Lúcia? Uau, tens visão de águia!

- Estás a mentir!

- Não estou nada!

- Pronto, pronto, deixem a Lúcia em paz.

- Mamã, e como é que elas sabem que têm de ir para África? Quer dizer, como é que elas sabem todas ao mesmo tempo?

- Sendo o Criador de todas as coisas, Deus arranjou formas diferentes para que as suas criaturas pudessem conhecer e fazer a sua vontade. Às andorinhas, como a todos os animais, Deus ofereceu uma coisa chamada instinto. Deus inscreveu nos seus genes a sua vontade, e elas não precisam de pensar, nem de estudar, nem de terem lições para aprender o que quer que seja. Nenhuma andorinha precisa de ir à escola pra aprender a fazer um ninho, ou para saber quando são horas de partir. Elas fazem a vontade do seu Criador simplesmente por instinto.

- Que sorte!

- Nós também temos um bocadinho de instinto, não é, mãe?

- Sim, Clarinha, um bocadinho. Temos por exemplo o instinto maternal, que nos faz ter uma ligação imediata ao bebé que nasce, etc. Mas o ser humano tem uma dose muito pequena de instinto.

- Porquê?

- Porque a nós, Deus deu-nos o maior dos dons: a liberdade. Somos livres de cumprir ou não a sua vontade. 

- E podemos saber qual a vontade de Deus?

- Claro! Foi para isso que Deus nos dotou de inteligência e da capacidade de escutar a sua voz.

- Ah!

Chegamos ao colégio. Os meninos saem do carro e correm para as suas aulas, porque são crianças e não andorinhas. Eu continuo viagem até à minha escola e vou pensando nos bandos de passarinhos a cruzar os ares nesta manhã...

Penso na viagem do Povo de Deus através do deserto, e penso na "andorinha da frente", o grande Moisés. Antes de morrer, Moisés falou ao seu povo e deu-lhe as suas últimas instruções. A Bíblia guardou-as nos últimos capítulos do Deuteronómio. Que texto lindo! É, para mim, um dos textos mais belos da Bíblia, e leio-o muitas vezes. Hoje recordo em especial um parágrafo:

 

"Ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua vida e prolongará os teus dias para habitares na terra, que o Senhor jurou que havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob." (Dt 30, 19-20)

 

Estaciono na minha escola. Posso, agora mesmo, escolher a bênção, a alegria, a paz, a vida... Posso, agora mesmo, escutar a voz que me desafia a partir, a não fazer aqui morada permanente, a não me deixar perturbar... É o voo de hoje que começa.

 

 

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publicado às 06:00


1 comentário

De André a 05.11.2015 às 14:14

«Posso, agora mesmo, escutar a voz que me desafia a partir, a não fazer aqui morada permanente...»

...

Talvez não seja - não é por certo!... - uma questão de instinto. A verdade é que, tal qual as andorinhas, muitos de nós, os que escolheram outro lugar para reaprender o ofício dos próprios passos, acabamos por ter necessidade de regressar ao ponto de partida.

Será apenas a saudade? Também, mas não apenas!... Mais cedo ou mais tarde, é como se nos faltasse o rumor do silêncio à beira dos pinhais; o cheiro da terra e o sorriso daqueles com quem aprendemos a crescer. Com quem nos demos conta do que significa sonhar.

A vida, de facto, não é linear. Recordei-me, ao ler este texto - vá lá saber-se porquê!... - das palavras de Roger Martin du Gard: «Para quê mudar?!... Obtemos muito mais de nós próprios, quando nos obstinamos a voltar incessantemente ao ponto de partida. Quando é preciso, de cada vez, recomeçar e ir mais longe no mesmo sentido!...»

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