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Ao encontro das periferias

por Teresa Power, em 11.03.15

No dia seguinte ao retiro, o senhor bispo enviou-me um mail. Nele dizia uma frase muito bonita:

"Esta forma de ser família penso que vai de encontro aquilo que o nosso papa Francisco nos pede: sairmos ao encontro de outros casais e propor-lhes a alegria da fé como sentido para a vida."

Na verdade, uma das alegrias do nosso bispo foi a abertura do movimento a todo o tipo de famílias. É engraçado que este ponto, para nós fundamental desde o início, era um dos pontos que eu mais receio tinha de apresentar ao nosso pastor quando nos encontrámos na sua casa. Como iria o senhor bispo reagir à notícia de que, entre as Famílias de Caná, há várias famílias recasadas, mães divorciadas, pessoas casadas com não-crentes, famílias que só têm em comum a imensa vontade de descobrir o amor de Deus e de lhe responder com a vida?

O senhor bispo não podia ter reagido melhor. Em vez de nos censurar, entusiasmou-nos a abrir as portas, porque todos são amados por Deus com amor infinito. O importante não é o ponto de partida, mas o ponto de chegada. O caminho que propomos é exigente, mas acessível a todos os homens, mulheres e crianças de boa vontade...

 

A nossa caminhada para a santidade começa no dia em que cruzamos o nosso olhar com o de Jesus. Se abrirmos os Evangelhos, deparamo-nos com as situações mais variadas: houve quem cruzasse o olhar com o de Jesus em pleno dia de trabalho, sentado na banca dos impostos... Houve quem estivesse a lavar as redes depois de uma noite infrutífera; houve também quem tivesse tocado o fundo, e de rastos no chão, não se atrevesse senão a beijar os pés do Senhor, tal era o seu pecado! Houve quem se encontrasse com Jesus empoleirado no cimo de uma árvore, e até houve alguém que só descobriu o amor de Jesus no momento em que estava a morrer, crucificado a seu lado.

 

Durante o almoço, no retiro, o senhor bispo perguntou-me se estava ali algum casal de divorciados recasados. Respondi-lhe que sim, e chamei este casal para apresentar ao senhor bispo. Depois afastei-me, e os três ficaram a conversar. Enquanto me afastava, ainda escutei:

- O Senhor ama-vos muito. Nunca vos sintais excluídos da Igreja!

 

Cada Família de Caná tem uma história para contar. Algumas têm uma história de vida toda ela feita na Igreja, mas outras têm uma história de vida feita longe, longe da Casa de Deus. E o que acontece, no momento em que Jesus cruza o seu olhar com cada uma destas famílias? Ah, nesse momento, tudo muda! Olhando para Jesus, descobrimos o nosso pecado, pedimos perdão, e mudamos de vida - sim, mudamos de vida! Caminhando sob o olhar de Jesus, em íntima comunhão com Ele ("Nós, Jesus..."), descobrimos a beleza dos ensinamentos da Igreja, e acolhemo-los não como "coletes de forças", mas como asas, que nos transportam na liberdade do amor até ao Céu.

O importante é o que está para a frente, o caminho que se estende até ao infinito. O importante é chegar a Casa... Afinal, todos somos pecadores, e ai de quem se considerar justo, como os fariseus que questionaram Jesus e ouviram d'Ele esta resposta:

 

"Não são os sãos que precisam de médico, mas os doentes.

Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (Lc 5, 31-32)

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publicado às 06:25


10 comentários

De Rogério Ribeiro a 11.03.2015 às 18:49

Olá, Teresa!
Acho que sim, que devemos acolher a todos.
Também o nosso Mestre quando trilhou os caminhos da Palestina, acolheu todos os que eram marginalizados por aqueles que se consideravam perfeitos!
Adeus!

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