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Arregaçando as mangas

por Teresa Power, em 06.12.14

Durante todo o tempo que esteve na Alemanha - bem como, depois, na França - o Niall trabalhou duramente em restaurantes, lavando a louça e preparando as refeições da noite, para poder pagar o seu alojamento. Assim, os nossos encontros ao serão eram raros, e eu ficava sempre cheia de pena por não podermos aproveitar todos os minutos do dia para namorar.

Um belo dia, e apesar de a minha família nunca tal me ter sequer sugerido, decidi que também era capaz de trabalhar. Afinal, iria precisar de juntar algum dinheiro, se queria visitar o Niall na Irlanda, no verão! E foi assim que me dirigi ao mesmo restaurante onde o Niall lavava a louça.

O dono do restaurante foi muito simpático comigo. Apresentou-me o pessoal da casa e depois conduziu-me à sala de jantar. O meu trabalho não seria na cozinha, mas na sala, servindo refeições. Apressado, mostrou-me os armários dos pratos e as gavetas dos talheres, explicando tudo a uma velocidade relâmpago - em alemão; ensinou-me a segurar a bandeja e a fazer o pedido, e deu-me um bloco de notas para eu fazer os registos necessários - em alemão. Depois, lançou-me ao trabalho "como cordeiro no meio dos lobos": acabava de entrar um grupo barulhento de treze pessoas, que se sentaram, a rir, à volta de duas mesas. Era preciso ir servir!

Treze pessoas a fazer os seus pedidos, todos em alemão, a caneta a voar no bloco de notas, a cabeça a andar à roda... Cheguei ao bar para buscar as bebidas, e vi o olhar sério do patrão, que seguira todos os meus movimentos. Sem falar, ajudou-me a colocar tudo num tabuleiro. Depois dirigi-me à mesa, e com o meu melhor sorriso, coloquei o tabuleiro no centro, explicando em alemão:

- Não consigo lembrar-me de quem pediu o quê: façam favor de se servir!

Quando os clientes, bem dispostos, acabaram de se servir, e eu retirei o tabuleiro da mesa, reparei que todos os empregados do restaurante olhavam para mim com ar de caso e um sorriso disfarçado nos lábios. Então o patrão chamou-me, dirigiu-se ao balcão, pagou-me uma hora de trabalho e... despediu-me!

Saí do restaurante, onde o Niall continuou a lavar a louça, e corri à primeira cabine telefónica que encontrei, para telefonar à minha mãe. A chorar, contei-lhe que fora despedida do primeiro emprego da minha vida. Ela deu uma sonora gargalhada, enquanto respirava de alívio: as minhas lágrimas tinham-na feito pensar que algo de grave se passara mesmo!

erasmus.jpg

(Reconhecem-nos, ao Niall e a mim, num dos muitos jantares numa residência com amigos Erasmus?)

 

Esta foi uma das histórias que partilhámos com a equipa de reportagem que nos entrevistou. Ainda hoje me sinto a corar quando penso que fui despedida por não saber servir a uma mesa... O Niall, pelo contrário, ganhou um treino muito jeitoso a lavar quantidades industriais de louça. Hoje, como devem imaginar, este treino dá imenso jeito na nossa casa! É quase sempre o Niall quem arruma a cozinha ao jantar, alternando com o Francisco e a Clarinha alguns dias por semana.

Trabalhar também tornou o Niall mais realista, mais consciente do valor do dinheiro e do preço das coisas, mais sóbrio nos gastos. E trabalhar não impediu o Niall de se divertir ou de arranjar namorada...

 

Já referi aqui a frase do psicólogo italiano Andrea Fiorenza, perito em educação:

"Oxalá o teu filho tenha uma dificuldade por dia para enfrentar. E se a não tem, oferece-lhe tu uma diariamente."

 

A Bíblia diz exactamente o mesmo:

 

"Aquele que ama o seu filho, corrige-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde. (...) Educa o teu filho, esforça-te por formá-lo, para que não te aborreças com a sua vida vergonhosa." (Sir 30, 1.13)

 

Eduquemos portanto homens e mulheres fortes e corajosos, capazes de enfrentar as agruras da vida com a cabeça erguida e as mangas arregaçadas. Eles agradecer-nos-ão mais tarde!

 

 

 

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publicado às 06:21


2 comentários

De Patrícia C. a 06.12.2014 às 17:43

Olá Teresa,

Vi agora na internet a reportagem (ainda não tinha tido oportunidade de ver). Eu também fui estudante Erasmus na Holanda e é curioso que acho que foi essa experiência que me permitiu ter o casamento que tenho hoje, mas não por ter conhecido lá o meu marido.

Quando fui, namorávamos há 1-2 anos. Eu fui, ele ficou. Também conheci de perto as cabines telefónicas, e foi difícil esse namoro à distância, em que tanta coisa acontecia comigo, e menos com ele (que ficou na nossa cidade, na vida "normal"). Acabámos por terminar a relação quando eu cheguei, por um ano. E foi dessa "dificuldade" que, penso, nos permitiu perceber o que efectivamente queríamos, e que passava por uma vida a dois :)

Bjs!

De Teresa Power a 06.12.2014 às 18:11

Obrigada pela partilha! Sim, é bom haver momentos fortes de decisão para nos ajudar a perceber o que realmente queremos. O "deixar andar" não conduz a muita coisa! Bjs

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