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Brincando às lojas

por Teresa Power, em 22.04.14

- Quando fores à loja trazes-me uma coisa, papá?

- O quê, António?

- Sei lá, o que tu quiseres! Uma coisa!

- Pode ser pasta de dentes? Eu vou à loja porque se acabou a pasta de dentes.

- Não! Uma coisa para brincar!

- Mas na loja só há coisas para comer ou pasta de dentes. Queres pão então?

- Não! Já te disse que quero uma coisa para brincar!

- Não é o teu dia de anos, não é Natal... Não entendo!

- Por favor, papá! Por favor! Uma coisa para brincar!!!!!!!

 

Esta conversa acontece várias vezes cá em casa, e geralmente termina com muitas lágrimas. É que "coisas para brincar" só se compram nos aniversários, no Natal, ou então quando o pai viaja, o que é cada vez mais frequente. Quando o pai foi à Índia, trazia para cada um um brinquedo muito pequeno, que se partiu naquele mesmo dia, o que causou muitas lágrimas. O Niall explicou-nos que na Índia não encontrou sequer lojas dignas desse nome! Lá viu crianças a dormir na rua, bebés a chorar ao colo de mães a pedir esmola, vacas e cães a passear na autoestrada, mas não encontrou lojas. Os meninos entenderam e durante uns tempos o António comentava:

- Coitados dos meninos na Índia! Não têm lojas!

Um mês depois, o pai foi à Dinamarca, onde encontrou o problema oposto: na Dinamarca há muitas lojas, só que nós não temos dinheiro para comprar o que por lá se vende! E de novo, o pai regressou de mãos (quase) vazias. O António suspirou durante uma semana:

- Coitados dos meninos da Dinamarca! Há lá muitas lojas, mas não se podem comprar coisas, porque custam muitas moedas!

Agora o pai vai voltar a viajar. O António quer saber se, lá para onde ele vai, há ou não há lojas, e se nós somos ou não somos ricos o suficiente para entrar nelas.

 

Confesso que fico contente quando vejo os meus filhos desapontados com as "coisas" que se compram nas lojas; porque se partem, porque não têm a cor certa, porque se perdem, porque não fazem o que deviam fazer, porque a pilha se gasta depressa demais, porque... porque as "coisas" não podem preencher a nossa sede de Absoluto e de Eternidade! E quanto mais cedo nós percebermos isto, melhor! Como disse noutro post, citando S. Paulo:

 

"Por causa de Cristo, tudo considero como esterco" (Fl 3, 8).

 

Na verdade, quantos mais presentes oferecemos ao António - ou a qualquer outra criança - mais presentes ele exige; e nunca está satisfeito, nem pode estar: é que, como diz Santo Agostinho:

 

"Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Vós!"

 

O jejum quaresmal foi um bom treino de libertação do domínio das "coisas" na nossa vida. Agora é preciso continuar vigilantes, para que a abundância de presentes e doces na Páscoa não mate em nós a sede de Deus...

 

Já que não podem ir à loja comprar coisas, o António e a Lúcia decidiram montar uma loja cá em casa. Ontem "fui às compras" no meu escritório:

 

 

 

 

 

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publicado às 08:09


1 comentário

De Carla Mariz a 22.04.2014 às 23:23

Em todas as casas devia um membro da familia ir à India.... Muita coisa mudaria com toda a certeza.... O António ficou a saber que as crianças na india não tinhas lojas.... Aqui em casa, ficaram a saber que as crianças da índia nem sopa tinham....
O "não gosto desta sopa" "não queo esta cominda" acabou de vez aqui em casa, porque os meninos da índia não dizem "não quero e nao gosto". Só dizem "quero e não tenho". Pois se eu tenho, é proibido dizer que não gosto e não quero....

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