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Cabelo bem lavado

por Teresa Power, em 26.08.15

- Hoje é praia ou missa, mamã?

- Hoje é missa, Sara. Tu gostas da missa?

- Gosto. Mas olha, diz ao senhor padre que eu não quero que ele me lave o cabelo!

- ?????

 

Levei alguns segundos a compreender o problema da Sara: durante todos os domingos de agosto, no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora, a missa paroquial inclui a celebração de um ou mais batismos. E o batismo significa, - como é que eu nunca pensara nisto? - lavar a cabeça aos mais novos, claro! A Sara, que detesta lavar o cabelo, deve ter sofrido um pouco nas últimas missas, à espera que o tormento diário da água a escorrer sobre a sua cabeça pudesse também acontecer na igreja, onde julgava estar em segurança. Ai como é difícil ter-se quase três anos!

 

- Sara - continuei eu - Não tenhas medo, porque o senhor padre já lavou o teu cabelo uma vez, e não vai lavar mais nenhuma!

- Ai já?

- Já. Queres ver? - Fui buscar um album de fotografias - Olha, vês? O senhor padre lavou-te o cabelo com esta conchinha da praia, que os manos encontraram enquanto tu estavas na minha barriga e guardaram especialmente para a ocasião!

batismo 2.JPG

- Sabes, Sara, o senhor padre não lava o cabelo com shampô... Não! Não entra nada nos olhos. O senhor padre não está a tentar tirar a terra do jardim ou a areia da praia ou os restos de comida ou os bocados de cola do teu cabelo... Está a lavar o teu coração!

- O coração?

- Sim, o coração...

Enquanto eu explicava à Sara, com palavras muito simples, o sacramento do batismo, fiquei a pensar... Será que os pais que, aproveitando este mês de férias e encontro familiar, levam os seus filhos a ser batizados, experimentam dentro de si a urgência do sacramento? Ou será que simplesmente aproveitam a ocasião do batismo para festejar com a família e os amigos o nascimento do seu filho?

Apercebo-me de que, mesmo entre os católicos mais empenhados, existe uma vaga ideia de que o batismo é um símbolo, um gesto belo, mas incapaz de causar uma alteração profunda na natureza do ser humano. "Todos somos filhos de Deus", ouve-se dizer. Para quê a pressa então? Por que não esperar por uma reunião familiar, por uma situação financeira mais estável ou por umas férias para batizar os nossos filhos?

É verdade que todos os seres humanos são amados por Deus com amor infinito, antes ainda de serem concebidos; e que Deus tem milhares de formas diferentes de oferecer a sua salvação, a cristãos, a budistas, a ateus, pois como diz o Catecismo da Igreja Católica, "Deus não está prisioneiro dos seus sacramentos" (CIC nº1257). Mas também é verdade que o Evangelho diz:

 

"Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus." (Jo 3, 5)

 

Se o batismo não nos traz nada de novo; se não altera em nada a nossa própria natureza humana; se não tem poder para nos abrir o Céu, então não vale a pena perdermos tempo.

Mas se o batismo opera em nós um milagre - um milagre imenso, infinito e impossível de abarcar com a nossa pobre inteligência; se o batismo faz de nós participantes da vida do próprio Deus, realmente filhos no único Filho; se o batismo apaga em nós, definitivamente, a marca herdada do pecado; se o batismo faz jorrar para dentro de nós uma abundância de graça nunca antes vista, completamente absurda e totalmente gratuita - então eu vou ter imensa pressa em batizar os meus filhos. Diz o Catecismo da Igreja Católica: "A Igreja e os pais privariam a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o batismo pouco depois do seu nascimento." (CIC nº 1250)

Cá em casa, batizei todos os meus filhos com um, dois ou três meses de vida. Se hoje tivesse outro bebé, batiza-lo-ia na semana seguinte a sair da maternidade...

 

- O senhor padre não vai lavar-me o cabelo!

 

"« Senhor, Tu não vais lavar-me os pés!» Disse-lhe Jesus: «Se não te lavar os pés, não terás parte comigo.» Disse-Lhe então Simão Pedro: «Nesse caso, Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!»" (Jo 13, 6-10)

tanque 8.JPG

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publicado às 06:27


7 comentários

De Olívia a 26.08.2015 às 09:55

Não é fácil compreender todo este mistério contido no sacramento do batismo, muito menos para quem anda mais afastado da religião... Eu penso muitas vezes que se acontecesse alguma coisa e a Lúcia nascesse antes do tempo e com problemas, o batismo era a minha prioridade.

Nem imaginas a cara de espanto das pessoas, muitas delas mulheres grávidas, quando falo na data do batismo da Lúcia... ora ela ainda nem nasceu... e o curioso é que as grávidas que mais se espantam já inscreveram os bebés na creche e acham normal!

Vamos falando nisso, vamos fazendo diferente... um dia... nunca se sabe!

De Catarina a 26.08.2015 às 12:24

O meu primeiro filho foi batizado na véspera de fazer 3 meses; Era para ter sido antes dos dois meses, mas um problema de doença familiar assim impediu... Agora, a minha segunda filha será batizada ainda antes dos dois meses, assim espero!
O espanto desta 'urgência' é muito, mesmo no meio de amigos católicos.
Eu cá vou explicando esta urgência e levando os meus filhos ao Sacramento do Batismo assim que posso :)

De Bruxa Mimi a 26.08.2015 às 15:48

A primeira foi batizada com 1 mês e 8 dias, a segunda com 1 mês e 5 dias, o terceiro com 1 mês e 3 dias... também me parece que se tivesse mais uns tantos, o sétimo ou oitavo seria batizado uma semana depois de sair da maternidade! :-)

Mas tenho de assumir que foi por influência do Rogério que os batizámos com um mês e pouco, pois eu, em solteira, estava habituada a ver muitos bebés - muitos mesmo - a serem batizados na Vigília Pascal, pela noite dentro, ou às vezes, para não esperarem tanto tempo (quando nasciam pouco depois do Domingo de Páscoa), na Vigília do Pentecostes.

Mas agora não quereria de outra forma!

De FEM a 26.08.2015 às 20:57

Estimados, todos.
Não sei responder à pergunta. É um nim. Se uns sabem o que fazem, outros não. Entendo que para muitos casais seja apenas uma espécie de ritual social.
Há dias findava a missa dominical e o barulho fora da igreja era notório. Eram os convidados de um baptismo. Perguntei-me por que não teriam entrado na missa? Não. Para eles, pais e padrinhos o local certo era no átrio da igreja e depois, mais à frente, haveria obras ritual. E que o padre se despache porque a larica aperta.
Em tempos, demos um curso para padrinhos e pais, prévio ao baptismo de duas crianças. Sentimos na altura que estavam a "cumprir calendário".
Também nessa altura nos questionámos sobre o sentido do mesmo, pois sentimos que o sentido de quem dava e de quem recebia não era semelhante.
Esta é a cultura dominante, parece-me. Mais ritual social que sacramento sendo que na realidade é sacramento e zero de ritual.
PC

De Teresa A. a 27.08.2015 às 08:24

Infelizmente eu também conheco quase só casos como refere a FEM.
Lembro-me do baptizado da sobrinha do meu marido, em que os convidados que estavam dentro da igreja (muitos deles nem entraram, ficaram na rua a fumar), inclusive os pais da crianca (!) nem sequer sabiam quando se sentar, levantar ou ajoelhar. E claro que nem o Pai Nosso sabiam... Que tristeza...

A minha filha foi baptizada tarde, com 9 meses, porque eu queria que ela fosse baptizada em Portugal e foi difícil tratar dos papéis à distância. Devo dizer que fiquei decepcionada com a igreja católica portuguesa: nao me deixaram baptizar a miúda na capela da aldeia nem deixaram a minha sobrinha de 14 anos ser madrinha (juntamente com uma madrinha adulta e um "padrinho" protestante). Na Alemanha deixam um menor de idade ser padrinho/madrinha desde que haja outro padrinho/madrinha adulto. A minha sobrinha é que queria MESMO ser madrinha, o irmao mais velho foi padrinho de uma das primas quando tinha a mesma idade e é um padrinho muito responsável!
A minha filha acabou por ser baptizada em Fátima, pelo meu "tio" padre, que nesse dia fazia 50 anos de sacerdócio. Foi uma cerimónia muito simples mas cheia de significado, preparada ao pormenor pela madrinha, por mim e pelo avô.
Só lá esteve a família directa. Foi em 2010 e pouco depois perdemos três das pessoas que lá estavam... a minha avó, o meu pai e o "tio" padre.
Estao ao pé do Pai e sao os nossos anjos da guarda.

De João Miranda Santos a 27.08.2015 às 10:41

É isto mesmo. O Baptismo é uma urgência, não há razão nenhuma para ser adiado! É claro que o sacramento em si é uma grande festa, uma festa que justifica comemoração apropriada e partilha com amigos e família, e por isso se compreende que haja algum preparo e escolha da melhor oportunidade. Mas na maioria das vezes a comemoração sobrepõe-se à causa da festa e a escolha do momento é feita só em função da comemoração e não da urgência do Baptismo.

De Anónimo a 04.09.2015 às 14:35

Poquê o Baptismo? - pergunto eu, frequentemente a quem me rodia.
Se nao rezam, nao vao à missa, não falam de Jesus em casa, porque baptizar? Gastar tanto dinheiro para quê? Afinal nao estamos em tempo de crise?
As pessoas ficam a olhar para mim. Depois encolhem os ombros e respondem: porque sim!

Mas e porque não? Se pensarem nesta pergunta talvez descobram o segredo do amor e da vida....

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