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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Turma de Curso Vocacional. Vinte rapazes e raparigas que não gostam da escola. Entro na sala, e levo quase dez minutos a conseguir que todos se sentem nas carteiras. Depois, mais dez minutos para abrirem os cadernos e a lição. No meio de uma imensa barulheira, procuro encontrar alguma paz interior. Suspiro.
- João, vira-te para a frente.
- Porquê? Tem algum mal eu estar voltado para trás?
- Manuel, abre o caderno!
- Não me apetece mesmo nada, professora. Hoje não vou escrever.
- Maria, vens ao quadro por favor?
- Nem pense, professora! Eu não percebo nada de Inglês.
Eu sei que a turma do vocacional não é uma turma "normal". Mas a crise de obediência não é típica apenas destes alunos! Ela atravessa a escola inteira, as famílias, as instituições e, naturalmente também, a Igreja.
Obedecer tornou-se sinónimo de não ser capaz de pensar por si próprio, e a obediência é vista como antónimo de criatividade ou ousadia. E no entanto, aquilo que Jesus veio fazer à Terra foi nada mais ou nada menos do que um acto de perfeita obediência ao Pai:
"Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice; contudo não se faça como Eu quero, mas como Tu queres!" (Mt 26, 39)
"O mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou." (Jo 14, 31)
E S. Paulo diz-nos, falando de Jesus:
"Tornou-se obediente até à morte, e morte de cruz!" (Fl 2, 8)
Não podemos seguir Jesus sem imitar a sua obediência. Assim fizeram Maria e José, em primeiro lugar, obedecendo sem hesitar às palavras do anjo, antes de Jesus nascer; e assim fizeram os Apóstolos, numa sucessão nunca interrompida, até hoje.
Quando vejo a Igreja em rebeldia, desafiando a Palavra que lhe é oferecida pelo Papa, contestando os seus ensinamentos e propondo aos cristãos doutrinas diferentes, sinto uma tristeza e um desalento semelhantes aos que sinto quando chego àquela turma de Curso Vocacional...
Mas o Papa não se pode enganar? Sim, pode. E desse engano, terá naturalmente de dar contas a Deus. Nós temos a vida facilitada: se não compreendermos bem as palavras de Jesus através dos ensinamentos do Papa, só precisamos de as ler novamente ou de pedir que as repita por favor... Mesmo que o Papa se engane, nós não nos enganamos, obedecendo! É que para Deus, a humildade vale mais que todas as certezas do mundo.
Mas não terão os cristãos o direito de seguir a sua consciência, se ela for oposta aos ensinamentos papais? Claro que sim! Se o cristão estiver convencido de que o seu discernimento, o seu estudo e, sobretudo, a sua oração são mais profundos do que os do Papa; se o cristão sentir que Deus o iluminou mais fortemente do que iluminou o Papa, a quem entregou as chaves do Reino; se o cristão achar que, depois de longas e profundas horas de oração intensa, Deus lhe comunicou uma mensagem diferente da que comunicou ao Papa, aí ele deve agir de acordo com a sua consciência.
Eu dou todos os dias graças a Deus por não estar nessas condições. É tão libertador não ter de "inventar a roda" a cada dia, mas poder confiar na Palavra e na Tradição que me foram entregues no meu baptismo! Em vez de desperdiçar o meu tempo contestando a doutrina, posso dedicar o meu tempo a descobrir formas ousadas, belas, diferentes, criativas e profundas de praticar essa mesma doutrina. Longe de me tolher os movimentos criativos, a obediência liberta-me para aquilo que verdadeiramente importa: procurar, com todo o coração, toda a inteligência, toda a alma, fazer tudo o que Jesus me disser. Ámen!