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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Escrito pelo Francisco:
“Em que é que eu me fui meter???”. Perguntei-me a mim mesmo isto muitas vezes antes e durante o percurso de 350 km de Anadia até Santiago de Compostela que realizei de bicicleta com um grupo de amigos e professores do Colégio. Bem, hoje conto-vos em que é que me meti mesmo.
Há 4 anos um grupo de professores e alunos do Colégio Nossa Senhora da Assunção, onde eu tenho aulas desde o 1º ano, decidiu abraçar a aventura de ir até Santiago de Compostela de bicicleta, desde o Porto, e fazer esse trajeto em 4 dias. Gostaram tanto da experiência que este ano decidiram repetir e eu tive a sorte de poder participar. Muita gente queria participar mas apenas 14 pessoas podiam ir por motivos logísticos. Fomos 7 jovens (entre nós um ex-aluno do colégio) dois encarregados de educação e 5 professores (um dos quais conduzia o carro de apoio). E desta vez decidimos partir de Anadia, fazer mais 100 km no mesmo tempo…
Partimos numa quarta-feira de manhã, às 7 horas, depois de uma oração na capela do colégio:
Começámos a pedalar, seguindo as setas amarelas, que indicam o caminho para Santiago de Compostela. Mas, como era de esperar, os problemas com bicicletas não tardaram a aparecer: logo após 10 km rebentou uma câmara-de-ar de um colega meu. Entrámos todos logo em ação para a substituir o mais depressa possível para não perdermos tempo. Nesse dia houve mais uns três ou quatro problemas com bicicletas e no resto dos dias houve ainda mais… Faz parte!
Chegámos ao final de um dia inteiro a pedalar, 84 km com paragem apenas para o almoço, completamente exaustos, como era de esperar. De facto, o Caminho de Santiago não é um caminho fácil, é um caminho com mais subidas do que descidas, terreno muito mau (maior parte do percurso é feito por trilhos que vão acompanhando a Estrada Nacional e cruzando-a de vez em quando) pelo meio de aldeias e florestas, calçada romana em mau estado, até zonas tão complicadas que nem os melhores ciclistas se atrevem a subir de bicicleta!
O primeiro dia não foi muito mau, excetuando a subida ingreme de 1,5 km de comprimento, que nos matou a todos e mais umas subidas antes e depois. Ao chegar ao albergue só queríamos tomar um bom banho e descansar. Mas havia um problema: o albergue só tinha uma casa de banho minúscula! Fomos todos, um de cada vez, tomar um banho rápido, rezando para que a água se mantivesse quente…
Nos albergues íamos conhecendo outros peregrinos e percebendo os motivos da sua peregrinação. Há pessoas de várias nacionalidades a fazerem o caminho Português: Espanhóis, Brasileiros, Belgas, até Irlandeses! (esses ficaram contentes por me conhecer, por ser semi-Irlandês). Um senhor Belga que conheci estava a fazer o caminho pela 4ª vez! E não era o único. Muitos peregrinos, após fazerem o caminho uma vez, repetem-no várias vezes. É realmente uma experiência fantástica.
Levantávamo-nos todos os dias às 5h30 da manhã e sempre que tínhamos tempo fazíamos uma oração com música, uma passagem do evangelho e a oração do peregrino. Depois começávamos a pedalar e quando chegávamos a um café tomávamos um pequeno-almoço rápido… e recomeçávamos a dar aos pedais.
Durante o caminho, sempre que me isolava para a frente do grupo, aproveitava para rezar um pouco. Numa dessas ocasiões distraí-me de tal maneira a rezar que comecei a avançar demasiado depressa em relação ao resto do grupo sem me aperceber e um professor teve que sprintar para me apanhar e dizer para eu abrandar… A oração é, sem dúvida, o melhor “doping” que pode haver!
A chegada a Santiago é muito bonita. Sentimos uma data de emoções juntas: “Finalmente chegámos”, “nem acredito que já estamos a terminar”, “conseguimos!”, “doem-me as pernas”… Ficámos essa noite num colégio Cluny e no dia seguinte fomos à missa do peregrino na Catedral. Foi uma missa muito bonita, com padres de todo o mundo a concelebrar. Tivemos que nos sentar no chão, mas depois de pedalar 350 km já nada custava. O famoso momento em que se balança o Bota-fumeiro enorme quase até ao teto também é emocionante e toda a gente começa a filmar, com os dois órgãos de tubos lindíssimos a tocar muito alto.
Depois de 4 dias, 350 km, não-sei-quantos problemas de bicicletas, estrada em calçada e terra batida até dizer chega, dezenas de “buen camino” ditos a outros peregrinos, chegámos ao fim da nossa jornada. Mas chegámos diferentes. Chegámos mais unidos como grupo, chegámos com mais experiência, olhando para as coisas de forma diferente. Aprendemos a levar connosco apenas o essencial, para não fazer peso na mochila, deixar os bens materiais que não necessitamos para trás. Já sabemos o que é um terreno difícil de percorrer (de tal modo que já estamos a combinar uma ida à praia de Mira de bicicleta. São só 66 km ida e volta, não é nada!).
Foi uma experiência fantástica e uma experiência que eu quero repetir. Talvez a pé ou a cavalo, para a próxima… quem me acompanha?