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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
- David, vem tomar o pequeno-almoço!
- Espera!
- Agora!
- Espera!
O David costuma sentar-se a ler um livro na sala assim que acorda, e confesso que às vezes, na confusão dos pequenos-almoços - para mim, é a refeição mais difícil de gerir no dia inteiro - até me esqueço dele, tal é o seu silêncio à volta do livro.
- Não tenho o tempo todo! Os manos já foram brincar e tu ainda sem comer!
Zangado, o David apareceu na cozinha. Ao entrar, tropeçou e bateu com a cabeça na porta, o que o irritou ainda mais. Começou a chorar.
- Eu só queria acabar o capítulo!
- Bom dia, David - Disse o pai, tentando ser simpático.
- Calem-se todos! Estão a enervar-me! EU NÃO QUERO COMER!
- Ok, vamos fazer outra coisa - Atalhou o Niall, sem perder a calma - Vais voltar ao teu quarto, sentas-te na cama e fazes de conta que estás outra vez a acordar. Depois vens direitinho à cozinha e dás-nos os bons dias com um sorriso. Esquecemos tudo o que se passou até agora e fazemos de conta que o dia vai começar!
O David gostou da ideia. Alguns minutos depois entrou na cozinha com um sorriso bonito e deu-nos os bons dias muito bem disposto. Depois, finalmente, sentou-se para tomar o seu pequeno-almoço.
Escreveu Hannah Arendt, uma filósofa alemã de origem judaica (1906-1975):
"Se não fôssemos perdoados, eximidos das consequências daquilo que fizemos, a nossa capacidade de agir ficaria por assim dizer limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos; seríamos para sempre as vítimas das suas consequências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço." (citado pelo Correio do Vouga, 3 de setembro de 2014)
Esta oportunidade de começar de novo, esta possibilidade de desfazermos o feitiço do mal sempre que necessário é na verdade uma das maiores graças que Deus nos concede. Que seria de nós sem o perdão contínuo de Deus? Que seria de nós sem o perdão contínuo uns dos outros?
"Não te digo para perdoares até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18, 21-22)
O sorriso feliz do David, ao entrar na cozinha pela segunda vez, deu-me um vislumbre da razão pela qual Deus ainda não destruiu o mundo...