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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Hora de oração familiar. Sentados no sofá da sala, o Canto de Oração iluminado, a Porta Santa chamando-nos à conversão. Leio em voz alta a primeira leitura, do Livro do Levítico.
- Que livro é esse, mãe?
- O Livro da Lei do povo de Deus. Os Primeiros cinco livros da Bíblia são também chamados os livros de Moisés, e formavam a Lei de Israel. Neste livro vamos encontrar muitas palavras de Deus, que nos ensinam como nos devemos comportar. Vamos ouvir?
"Assim fala o Senhor: «Sede santos porque Eu, o Senhor, sou santo. Que cada um de vós respeite a sua mãe e o seu pai, e guarde os meus sábados (...) Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.»"
(Lv 19, 1-18)
- O que é vingar-se? - Pergunta a Lúcia.
- É pagar com o mal, o mal que te fazem. Por exemplo, um menino empurra-te, e tu empurra-lo de volta. Um menino estraga-te uma caneta, e tu rasgas-lhe um desenho. Isso é vingança.
A Lúcia fica calada, assente com a cabeça, e continuamos a oração, com a leitura do salmo e do Evangelho e com a recitação do terço. E é precisamente durante o terço que eu reparo num brilho estranho nos seus olhos.
- Lúcia, estás bem? - Pergunto. Ela assente de novo com a cabeça, mas eu percebo que nada está bem, e as lágrimas começam a rolar pela sua face. No final da oração pego-lhe ao colo e, enquanto o pai deita os mais novos, converso com ela.
- O que se passa, Lúcia?
- Mãe, eu não sabia que a vingança era pecado. Eu já fiz isso muitas vezes com os manos, porque eu não sabia. Eu achava que podia fazer se eles me faziam também. E nunca me confessei disso... Achas que agora tenho o coração metade limpo e metade sujo?
- Não, Lúcia, não acho. Acho que tens o coração todo limpo, e sabes porquê? Precisamente por causa dessas tuas lágrimas marotas... Porque tu estás arrependida de teres feito esses pecados. E o que lava o coração é o arrependimento! No preciso instante em que tu ficas triste por teres feito uma coisa feia e pedes perdão a Deus, Ele perdoa-te de imediato.
- E como faço eu para pedir perdão a Deus?
- Queres rezar comigo o Ato de Contrição?
- Sim.
- Então vamos. Dá-me a mão... "Meu Deus, porque sois tão bom, tenho muita pena de Vos ter ofendido. Ajudai-me a não tornar a pecar!"
O rosto da Lúcia abre-se num largo sorriso.
- Agora já estou limpa? Mas eu ainda não me confessei...
- Lúcia, o teu coração está todo limpo. Podes estar descansada. O teu arrependimento, a tua tristeza e o ato de contrição que acabaste de fazer são suficientes para apagar os pecados leves. Jesus abraçou-te de imediato cheio de alegria!
- O meu pecado era pequenino?
- Era porque tu não sabias que o estavas a fazer. A partir de agora já tens de ter mais cuidado, claro, porque já sabes. Tu estás a aprender, Lúcia, e Jesus está felicíssimo contigo esta noite porque aprendeste uma coisa nova. Mas quando fores à confissão da próxima vez, deves confessar-te deste pecado, porque Jesus fica contente quando somos capazes de confessar as nossas culpas sem receio ao sacerdote.
- Quantos anos é que tu tinhas quando descobriste que a vingança era pecado? Eras mais pequena do que eu?
- Oh, não, era bem mais crescida! Lembro-me de ficar sem falar com as minhas amigas durante alguns dias quando me zangava com elas, e olha que era mais velha do que tu. Pouco a pouco fui aprendendo e fui-me esforçando por ser melhor.
- Ah! Agora eu já sei e também vou ensinar às minhas amigas.
Levo-a ao colo para a cama e dou-lhe um beijo de boas noites. O seu rosto ilumina.
- Boa noite, mamã!
- Boa noite, querida!
A Lúcia já dormia há muito tempo, e eu continuava a meditar nesta nossa conversa. Embora pequenina, a Lúcia acabava de experimentar uma das mais duras realidades do pecado: a tomada de consciência de que somos capazes de o cometer, de que não somos as pessoas imaculadas que imaginávamos ser. Foi a descoberta de S. Pedro, naquela noite de lua cheia, em que o galo cantou a sua traição; a descoberta de S. Paulo, caindo do cavalo perante a revelação de que todo o seu zelo tinha sido orientado contra o alvo errado; a descoberta do Rei David, quando o profeta Natã lhe contou uma pequena história sobre a ovelhinha do pobre e David se apercebeu do gravíssimo e duplo pecado cometido contra Urias; e a descoberta de todos nós, que olhando para o nosso passado, nos damos conta da quantidade de erros que cometemos julgando estar a fazer algo sem gravidade.
Que fazer, nestes momentos de revelação? Primeiro, agradecer. É verdadeiramente uma graça imensa que Deus nos faz, sermos confrontados com a nossa miséria antes da hora da nossa morte! Não há caminho mais seguro para uma verdadeira humildade, e sem humildade não é possível ser santo.
Depois, pedir perdão e confessar-se com simplicidade e confiança, acreditando de verdade (e é difícil acreditar...) que não há nenhum pecado que o Senhor não possa lavar por completo.
E finalmente, agradecer de novo outra e outra vez, pois não há nada mais belo sobre a Terra do que experimentar a misericórdia de Deus como uma torrente de vida dentro de nós.
O Jubileu da Misericórdia é o tempo de graça que o Senhor nos oferece para uma profunda e completa revisão de vida. Então experimentaremos a verdadeira alegria, a alegria que nasce das lágrimas...
"Se o pecador renunciar a todos os pecados que cometeu, se observar todas as minhas leis e praticar o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu, e viverá..." (Ez 18, 21-22)