Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Felicidade

por Teresa Power, em 24.04.14

Nos primeiros dias depois das férias escolares, passo quase todo o tempo "livre" que tenho a arrumar a desarrumação que eles causaram cá em casa. A esta tarefa já por si bastante aborrecida, junta-se a necessidade de trocar a roupa de inverno pela roupa de verão, se bem que este ano ainda não seja uma tarefa tão urgente quanto desejável. Foi no meio desta minha azáfama que o Niall e eu nos cruzámos no corredor, eu com os braços cheios de roupa, ele com os braços cheios de brinquedos, e ficámos alguns minutos a conversar. Ter seis filhos tem-nos ensinado muita coisa, e uma das mais importantes é a aproveitar qualquer meio minuto para conversar. É que a soma de todos estes meios minutos traduz-se numa intimidade cada vez mais profunda entre nós, e naturalmente, na maioria dos tópicos destes posts. Sim, embora seja eu a "escritora", a reflexão é sempre conjunta e feita aos bocadinhos soltos durante o dia!

Voltemos então à nossa conversa:

- Devias ter visto a fotografia do interior de uma casa que encontrei num blog! Tudo tão arrumado, tudo tão moderno! E eu aqui, com os bolsos cheios de lixo...

O Niall riu-se:

- Ai sim? E tu devias ter ouvido um grupo de pessoas que encontrei, a falar das noites fabulosas que passaram a dançar durante as férias!

Rimo-nos juntos. À noite, depois de todos se deitarem, continuámos a conversar:

- Sabes, um dos problemas da nossa sociedade é a crença de que, para sermos modernos e felizes, temos de ser pais e mães bem vestidos, com casas de capa de revista, com vida social digna dos VIP, e com uma profissão de sucesso. Quanta frustração as revistas e os programas de televisão criam nas pessoas!

- Uma das grandes maravilhas de se ser cristão é aprendermos a valorizar o que realmente importa - continuei. - No limiar da vida, seremos julgados pelo amor.

- Claro! Deus não vai perguntar: "De que tamanho era a tua casa?" Mas sim: "Quantos acolheste lá dentro?"

- Nem vai perguntar: "Realizaste-te? Tiveste sucesso? Tornaste-te famoso?" Mas antes: "Aprendeste a esquecer os teus projectos pessoais para valorizar os da tua mulher, do teu marido, dos teus filhos?"

- Deus não perguntará: "Compraste roupas bonitas e caras? Andaste sempre bem vestido? Perdeste tempo com o supérfluo, a televisão, a moda, as compras, o mundo?" Mas antes: "Ofereceste-Me o teu tempo servindo os outros?"

- Deus não perguntará: "Descansaste muito nas férias?" Mas perguntará de certeza: "Encontraste tempo para Mim nas férias?"

- Tudo aquilo que o mundo valoriza, não tem valor nenhum para Deus... Tudo aquilo que para nós parece importante - títulos académicos, lugares sociais, bens e aparências - não valem absolutamente nada na eternidade! Diz o Senhor:

 

"Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os vossos caminhos não são os meus caminhos - oráculo do Senhor! Tanto quanto os céus estão acima da terra, assim os meus caminhos são mais altos que os vossos, e os meus pensamentos, mais altos que os vossos pensamentos." (Is 55, 6.8-9)

 

- Sim, mas o mais giro é que, com a prática, começamos a encontrar verdadeiro prazer nos caminhos de Deus, e deixamos de achar graça áquilo que antes valorizávamos tanto!

- Deus quer que amemos a vida de verdade e tenhamos gosto nela. Por isso, quando O procuramos a sério, Ele ajuda-nos a desejar o que nos quer dar.

- E faz-nos perder o interesse no que não serve para a nossa santificação... É por isso que os santos são sempre tão felizes!

- Lembras-te de como tu gostavas de ver telenovelas?

- Lembro. E hoje, seria incapaz de as ver! Ninguém mo proíbe, mas deixei de sentir prazer nisso. E descobri que me dá imenso prazer estar simplesmente aqui, agora, a conversar contigo; ou lá fora a empurrar a Sara no baloiço, por muito monótono que isso seja! Acho que é isto a felicidade.

- Pois é. Já reparaste que somos mais felizes quanto menos procuramos a nossa própria felicidade? Quando procuramos simplesmente o amor? Afinal, a grande mensagem da Páscoa é esta:

 

"Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de Mim, há-de salvá-la." (Mt 10, 39)

 

Ficámos em silêncio um bom bocado, já deitados. No silêncio, saboreámos este dom gratuito do amor de Deus, a felicidade que Ele dá de graça a quem Lhe entrega a vida...

 

 (... e na nossa macieira, as flores continuam a brotar...)

    

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 09:00


4 comentários

De Diana a 05.11.2014 às 16:54

Olá família Power.
À uns dias que ando a ler este blog. É-me tão fascinante, que o tempo passa e eu nem dou conta, de tão motivada a lê-lo. Ainda não o acabei de ler todo, mas mais dois ou três dias e já está.
Neste post, fez-me lembrar a família do meu marido. Um casal (ela cozinheira e ele motorista) com quatro filhos. os recursos económicos não são muitos, mas o suficiente para todos andarem minimamente bem vestidos, não faltar comida na mesa (não há vitela mas há frango; não há salmão mas há verdinhos), estudarem o máximo possivel (o meu marido fez até o 12ºano mais um nível 4 e agora enquanto trabalha está a tirar outro, a minha cunhada é engenheira civil, o meu cunhado está a tirar engenharia mecânica e a minha cunhada mais nova a estudar música numa escola profissional especializada longe de casa). Os meus sogros têm galinhas, porcos, cabras, coelhos... têm uma grande terra que está sempre cultivada com a maior variedade de legumes para não faltar na mesa. A casa é grande, mas está sempre caótica. Pilhas infindáveis de roupa por lavar e passar. Imensa loiça por lavar. Camas por fazer. Uns sapatos num canto, uns chinelos no outro. A gata a brincar na carpete da sala. Os cães cá fora à espera de umas festinhas.
Mas uma coisa posso garantir. No meio de tanta desorganização e tanta coisa por fazer, todos são felizes (ainda no domingo fizemos o magusto com caruma no quintal da casa). São pessoas realizadas. Os meus cunhados, o meu marido e eu, andam no grupo de jovens. o meu cunhado é catequista. Os meus cunhados, o meu marido e eu andamos na Banda filarmónica aqui da terra.
E é assim que se vive a vida. E somos felizes. ao domingo, é dia de ir almoçar a casa dos meus sogros. Frango assado no forno com batatas e arroz. Um bolinho para sobremesa.
Falta muita coisa, mas não falta amor e união.

Um grande beijinho, Diana :)

De Teresa Power a 05.11.2014 às 17:24

Bem vinda, Diana! Que Deus vos abençoe! E que possam daqui a uns tempos ter uma família vossa assim também! Um abraço, Teresa

De Dia a 05.11.2014 às 18:31

Muito obrigada. Tudo de bom para vocês também.
Pode ser que daqui a uns meses a minha grande caminhada finalmente comece. Sonhada já há muito, mas as dificuldades da vida são tantas...

De Teresa Power a 05.11.2014 às 18:47

Encontramo-nos possivelmente num futuro encontro Famílias de Caná?... Esteja atenta... Bj

Comentar post




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds


livros escritos pela mãe

Os Mistérios da Fé
NOVO - Volume III

Volumes I e II



Pesquisa

Pesquisar no Blog  


Arquivos

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D