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Filhos rebeldes, portas de vidro e o convite a subir

por Teresa Power, em 06.10.15

Primeiro dia de aulas. Estamos numa escola nova, moderna, bonita e muito, muito grande. Vou conhecer uma nova turma do Vocacional. São vinte e poucos alunos com um percurso escolar feito de fracassos, repetências, ordens de saída da sala de aula, recados na caderneta, faltas. Em casa, a grande maioria encontra ruinas em vez de castelos, gritos em vez de palavras de amor.

"Nós, Jesus", rezo, antes de entrar na sala de aula. Não tenho tempo para muito mais: enquanto abro a porta, sou empurrada por uma avalanche humana sem delicadeza, que tenta passar.

- Bom dia, meninos! - Cumprimento.

- Espero que seja para si, professora! Para mim já é mau. Escola, rrrrrrr!

- Isto é o quê, malta? Inglês? Ah, está ali a teacher! Olá teacher!

- No ano passado vim para a rua em todas as aulas de Inglês, sabia?

- E eu nem chegava a entrar! - Gargalhadas.

- Bem, sentem-se nos lugares destinados pelo Diretor de Turma. Tu és o...

- João!

- João, senta-te aqui.

Gargalhadas - Professora, ele não é nada o João! Está a brincar consigo!

- E tu, por favor, és o...?

- Ah, tem de adivinhar que também não vou dizer!

- OK. Têm caderno, caneta...?

- Para quê, teacher? Eu nunca aprendi inglês e não é agora que vou aprender!

- Professora, mande-os para a rua! Tanto barulho! Eu quero aprender!

Gargalhadas - Ele quer aprender, teacher! Podemos ir embora nós? Pode dar-lhe a aula só a ele?

Enquanto escuto, sinto nascer dentro de mim uma enorme empatia. Também a mim me apetece sair da sala antes mesmo de entrar, ser expulsa da turma, fingir que não vou conseguir ser professora destes meninos, desistir ainda antes de tentar, trocar de nome para que não desconfiem que sou cristã. Como eu os compreendo! Involuntariamente, começo a sorrir.

Noventa minutos e muito cansaço mais tarde, toca para saída. A escola nova tem as portas da sala todas envidraçadas, o que vai tornar difícil, ao longo do ano, um gesto que eu costumava fazer no final de muitas aulas do Vocacional: fechar a porta, deitar a cabeça nos braços sobre a mesa, e chorar. Terei de controlar melhor as minhas emoções no final destas aulas... "Nós, Jesus!" Repito.

Mas hoje não tenho vontade de chorar. Hoje não consigo deixar de pensar no trabalho que também eu dou a Deus... Chego a casa, abro o Livro do Profeta Oseias:

 

"Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egito o meu filho. Mas quanto mais os chamei, mais eles se afastaram; ofereceram sacrifícios aos ídolos de Baal e queimaram oferendas a estátuas. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como o que levanta uma criancinha contra o seu rosto (...) O meu povo é inclinado a afastar-se de Mim; quando se convida a subir ao que está no alto, ninguém procura elevar-se. Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Como poderia entregar-te, ó Israel?" " (Os 11, 1-8)

 

Senhor, que eu não desista de elevar, chamar, trazer nos braços, cuidar, amar cada um dos meus alunos, por mais rebeldes que eles sejam... tal como Tu nunca desistes de me convidar a subir ao que está alto - e sou bem mais rebelde do que eles...

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publicado às 06:00


2 comentários

De Carla a 06.10.2015 às 17:34

E porque ontem foi o dia do professor, acho eu vem mesmo a calhar com o teu post.... não deixes de ir....
https://oduilio.wordpress.com/2015/10/05/dia-do-professor/
Beijinhos,

De Teresa A. a 15.10.2015 às 08:41

Até parece mal eu comentar (quase) todos os posts, mas é que parece mesmo que os escreves (só) para mim!


Queria hoje agradecer-te este post, que ontem ao fim da tarde me ajudou tanto, mas tanto!
A minha pestinha de 5 anos (biológicos), que acha que tem 19 anos (mentais) deu-me ontem, para variar, cabo do juízo. Eu, que nao queria perder a cabeca e dar-lhe um par de tabefes, acabei por usar a minha última -desesperada - alternativa (pedagogicamente muito incorrecta, eu sei..) de fingir que me vou embora. O resto da história é muito comprido, o importante da questao é que eu, escondida na cave e desesperada por nao saber o que fazer com a minha garota, fui repetindo "Nós, Jesus", "Nós, Jesus", "Nós, Jesus" e rezando Avé Marias e Pai Nossos.
E Ele ajudou, assim como Maria, que é MAE. Assim como tu, que também és Mae!

Obrigada, Teresa

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