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Geração Erasmus

por Teresa Power, em 05.12.14

A grande reportagem da SIC deixou os mais novos muito desapontados:

- Porque é que não mostraram nós a jogar à bola?

- Porque é que não mostraram o António a apanhar os ovos no galinheiro?

- Porque é que não mostraram eu a andar de patins?

- Eles filmaram tanto, e não mostraram nada!

- Mas apanharam a Winnie, viste?

- E a Clarinha estava tão nervosa, que trocou as idades todas!

- Não faz mal.

- Também não mostraram a Sara no baloiço, nem o Canto de Oração...

- Não. Só mostraram um bocadinho da nossa conversa na sala!

- Não faz mal.

- Pois não.

O António já não ouviu o final desta nossa conversa, porque dormia profundamente no sofá. Para quem se costuma deitar às oito e meia...

Claro que, em televisão, com tempo contado, não se pode mostrar tudo o que foi filmado. Mas esta reportagem foi, realmente, uma reportagem bastante coerente com os sinais dos tempos actuais, toda ela centrada nas rendas de casa, nas expectativas de emprego, na vida de "borga" de um estudante. Para utilizar uma expressão muito cara do Papa Francisco: uma reportagem mundana. Para trás ficaram as imagens, que certamente foram muitas,  de crianças a brincar. Pelo menos cá em casa, as filmagens foram longas e divertidas, tratando aspectos culturais muito interessantes, como o contacto com a família que vive no estrangeiro e as diferenças de cultura de cada país. Imagino que assim tenha sido nas outras casas também. Mas Portugal está envelhecido, não tenhamos dúvidas. As imagens das brincadeiras infantis de todos estes "bebés Erasmus" teriam dado cor e alegria à reportagem, que ficou, como Portugal, demasiado séria.

 

Olhando para as imagens daqueles jovens estudantes Erasmus, ocorreram-me muitos pensamentos, mais do que irei registar aqui. Mas ficam alguns:

Hoje, a vida de um estudante Erasmus é feita de muitos confortos! Pelo que pude perceber, até há empresas que prestam serviços de cozinha e tratamento da roupa. Ser estudante num país estrangeiro é uma oportunidade tão boa para aprender a cuidar de uma casa e a tomar conta de si, que me parece uma perfeita estupidez não a aproveitar. Eu aprendi a cozinhar quando fui para a Alemanha e estou muito contente por isso! Parabéns à jovem que, na reportagem, também disse estar a aprender a cozinhar!

Durante todo o tempo que esteve na Alemanha, o Niall sempre trabalhou em restaurantes, lavando a louça, para pagar a sua estadia (como referiu nas filmagens, mas não foi publicado). Não, as bolsas não são suficientes, mas quem disse que tinham de ser? Os jovens precisam de se fazer à vida, o mais cedo possível...

Estar longe de casa ou do namorado, mas poder aceder ao Skype 24 sobre 24 horas é um luxo que não consigo imaginar. Continuo grata às cabines de telefone e ao correio, com tempos bem marcados, que nos ajudavam a aprender a arte de saber esperar. Lembram-se da Raposa e do Principezinho?

 

"Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, eu já começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito..."

 

Quando se namora, a arte de saber esperar é extremamente útil, pois é a espera que produz a constância e a fortaleza interior.

Ah, e talvez com menos Skype a jovem retratada na reportagem fosse obrigada, como eu fui, a sair de casa e a lançar-se na grande aventura de fazer amigos...

Finalmente, a questão final: segundo Umberto Eco, "Erasmus" é sinónimo de "orgasmus". Fiquei tão chocada com esta afirmação, que levei alguns segundos mais de reacção do que gostaria, ao ser entrevistada. Eu casei virgem e acredito profundamente no valor da virgindade, não apenas fisica, naturalmente, mas capaz de abarcar a pessoa inteira, com um corpo, uma alma, uma vida.

É muito fácil perder a virgindade e ter todos os orgasmos que se quiser ter quando se é Erasmus, claro: como um dos estudantes entrevistados disse: "Ninguém te conhece, estás por tua conta, os teus amigos e familiares não te podem ver, fazes o que te apetece."

Deixar-se ir na corrente - fazer o que é mais fácil e que, afinal, todos fazem - não tem absolutamente nada de radical; e qual é o jovem que não gosta de ser radical? Um jovem que, quando ninguém o está a ver, continua a agir de acordo com os seus valores e princípios, desses que não se vendem, esse sim, é um jovem radical.

Acredito que seja muito difícil, no actual ambiente universitário, manter-se fiel à doutrina cristã. E sinto a urgência de trabalhar as questões do namoro, da castidade (sim, a palavra ainda existe), da fidelidade, da fortaleza, com casais de namorados e de noivos. Penso que as Famílias de Caná também terão de partir para esse grande apostolado... Deus o dirá. E à medida que os meus filhos vão crescendo e se vão aproximando da descoberta do amor, também estes temas serão tratados aqui no blogue. Àquele jovem, apetecia-me apenas dizer com o salmo 139:

 

"Onde é que eu poderia ocultar-me do teu espírito?

Para onde poderia fugir, longe da tua presença?

Nem as trevas são escuras para Ti,

e a noite seria, para Ti, tão brilhante como o dia..."

 

Mesmo que ninguém te veja, caro jovem, Deus vê-te...

IMG_6159.JPG

 

 

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publicado às 06:17


16 comentários

De claudia a 05.12.2014 às 10:33

Olá Teresa, Nial e queridos Power,
Adorei ver-vos na televisão.. estavam todos maravilhosos como sempre, e muito fieis Às vossas convicções. Gostei particularmente das vossas respostas como família católica. Está descansada Teresa, conseguiste fazer bem passar a vossa índole. Também fui estudante universitária longe de casa, não erasmus , e concordo que é uma experiencia para a vida, cozinhar, gerir dinheiro, conhecer pessoas, orientar a nossa vida. Vivi 7 anos numa residência universitária mista ( existem poucas em Coimbra ) eu vivi numa delas, havia rapazes e raparigas e havia respeito mutuo. Também havia uns engraçadinhos, mas cada um respeitava os pisos. Relativamente À afirmação daquele estudante, é uma pena, mas não é só erasmus que vêem assim a vida académica. Infelizmente alguns estudantes portugueses também vivem assim a sua vida. Não foi o meu caso felizmente. No entanto, gostaria de deixar aqui uma nota, eu fui uma típica estudante de Coimbra , eu fui praxada, eu praxei, eu diverti-me com meu colegas e amigos em festas de residencia. a> e convívios estudantis, saí à noite para discotecas, saí à noite para queima das fitas... eu não bebia álcool , não fumava mas divertia-me muito. Conheci muita gente, ajudei muitos erasmus a integrarem-se cá em Coimbra . Cheguei a ir buscar e ir levar erasmus e colegas à estação rodoviária. Descobri tudo isso aos 18 anos, e coincidiu também com a altura da minha conversão. O facto de fazer tudo isto, deu-me bases para conhecer o mundo, lá fora de casa Eu fiz a minha licenciatura nos anos coretos e trabalhei também para pagar os meus estudos. Todo este percurso fez-me enriquecer a nível pessoas, conheci várias cultura, várias pessoas que ainda hoje comunico. Tudo isso não fez que me "perdesse" nas convicções muito pelo contrario, foi isso mesmo que me fez encontrar. Foi numa praxe que conheci meu marido, foi numa festa de residência a> que me convidaram para um encontro de jovens católicos , foi numa queima que nos encontrámos todos e decidimos fazer grupo de oração na residência a> . Como podem ver a vida académica pode ser vivida com borga, com responsabilidade cívica e moral. Os erasmus têm um lugar especial no meu coração. Era eu que apresentava a residencia. a> aos erasmus , era eu que lhes dizia como chegar à universidade, onde ficava a cantina, era eu que os levava a conhecer a tradição de Coimbra , muitos deles até traje compraram. Fui eu junto com Ana Luís que recebemos muitos erasmus , e muitos deles serão para sempre família. abraço Teresa...

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