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Irmãos na alegria - e na dor também!

por Teresa Power, em 17.05.14

Na semana passada, quando cheguei ao Centro Social S. José de Cluny para buscar os três mais novos, a educadora do António tinha uma história para contar:

 

Nessa tarde, no refeitório à hora do lanche, a Sara demorara um pouco mais de tempo a comer o pão, e consequentemente, ficara sentadinha na sua cadeira já depois dos seus pequenos amigos terem ido brincar. Da sua mesa, o António observava a irmã, e ao vê-la sozinha na "mesa dos bebés", a inquietação começou a crescer dentro dele. Quando a educadora levou os meninos da sala do António para o recreio, o António recusou-se a brincar, pois a sua maninha estava sozinha a lanchar! E, sentado num canto, ali ficou muito triste. Passaram-se uns dez minutos, e por fim, a educadora lembrou-se de pedir à educadora da Sara que viesse por favor mostrar ao António a sua mana. A Sara, sorridente, já tinha acabado o lanche há algum tempo e estava bem mais feliz do que o António! Só então ele se decidiu ir brincar.

 

Escutando aquela história do António, pensei na imagem do Corpo Místico que S. Paulo nos dá:

 

"Pois como o corpo é só um e tem muitos membros, assim também Cristo.

Se o pé dissesse: "Uma vez que não sou mão, não faço parte do corpo", nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: "Não tenho necessidade de ti"..." (1Cor 12)

 

Seguindo esta mesma imagem, quando qualquer parte do nosso corpo está magoada, é o corpo inteiro que sofre. Um só espinho cravado no dedo mindinho é suficiente para que o mal-estar seja geral!

Se a Sara está triste, a alegria do António não pode ser completa, pois são membros de um mesmo corpo: a família.

 

No início do mês, as estradas de Portugal encheram-se de gente que caminhava até Fátima, cantando, rezando - e fazendo bolhas e feridas nos pés e nas pernas. Para quê tanto sacrifício, perguntam alguns. Deus não exige o sofrimento! Que razões apontam os cristãos para a dor desnecessária, isto é, aquela que não advém da doença, da vida, da morte, mas que é escolhida propositadamente para ser oferecida?

 

Em Fátima, o Anjo de Portugal falou assim aos pastorinhos:

 

"Orai, orai muito. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

- Como nos havemos de sacrificar?

- De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa pátria, a paz. Sobretudo, aceitai o sofrimento que o Senhor vos enviar."

(Memórias da Irmã Lúcia I, p. 57)

 

A partir desse dia, conta-nos a Lúcia, os pastorinhos aproveitavam todas as ocasiões para oferecer uma linda prenda ao Senhor: privavam-se de alimento, adiavam a água nos dias de calor, ajoelhavam nas pedras duras. 

Somos membros do mesmo corpo: a família humana, a família de Deus. E se o meu irmão sofre de fome, ou está doente, ou é agredido, ou vive no meio da guerra, ou é escravo do vício e de toda a espécie de maldade, então eu preciso de partilhar um pouquinho da sua dor. Como o António em relação à Sara, preciso de experimentar um pouquinho de desconforto para que me possa sentir solidário com quem quero amar.

 

Mas o mais belo disto tudo é a imensa generosidade de Deus: nada do que eu Lhe oferecer, nada do que eu sofrer, é em vão. Se eu entregar a Deus a dor dos meus pés caminhantes; se eu Lhe oferecer o chocolate que não comi; se eu Lhe der o copo de água que adiei, se Lhe entregar a minha dor de cabeça, a minha desilusão, o meu fracasso, a minha falta de dinheiro, a minha doença, Deus pegará carinhosamente nestas pequenas prendas e, com elas, aliviará a dor de algum irmão que não conheço. A minha pequena renúncia converter-se-á para ele em salvação. A oração e o sacrifício de três crianças pode atraír a paz sobre um país? O Anjo de Portugal assegurou-nos que sim. O que não fará a oração e o sacrifício de todo o povo cristão!

 

Que mistério imenso esconde Deus, para assim querer necessitar da nossa solidariedade espiritual? Esse mistério chama-se gratidão: como um bom pai de família, Deus quer que os seus filhos estejam ligados por laços de gratidão uns para com os outros, para assim se amarem de verdade. No céu, vou encontrar-me com todos aqueles que, pela sua oração e sacrifício - sem disso terem consciência - me permitiram conhecer e amar Jesus. Que surpresas iremos ter, ao descobrir a quem devemos a nossa felicidade! E que grande festa faremos então!

 

 

 

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publicado às 07:30


1 comentário

De Cátia Soares a 17.05.2014 às 11:14

Bom dia família Power! :)

Faço parte do grupinho do Norte que esteve aí a semana passada. Sou agora leitora assídua do vosso blog. É extraordinária a simplicidade e claridade com que escrevem... Como a vida e a Bíblia, para vocês, são mesmo membros de um só corpo!

Espero que estejam todos bem!
Beijinhos para todos aqui do Norte

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