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It's a Wonderful Life

por Teresa Power, em 28.12.14

Uma das coisas que gostamos de fazer nas férias, sobretudo com os mais velhos, é ver filmes de qualidade. Deitamos os mais novos, fazemos um chá quentinho, e ali ficamos, a lareira acesa e o ecrã da televisão a contar-nos histórias que valham a pena escutar.

Hoje, domingo da Sagrada Família, não resisto a sugerir-vos que vejam este filme natalício, a preto e branco, de Frank Capra (1946): "It's a Wonderful Life", em Portugal traduzido como "Do céu caiu uma estrela", e no Brasil "A felicidade não se compra". Vimo-lo sexta-feira à noite, e há muito tempo que não via um filme tão bonito... Vale bem a pena!

DSC00527.JPG

George Bailey tem um sonho que o persegue desde a infância: dar a volta ao mundo, enriquecer, gozar a vida, sair dos muros estreitos da sua cidadezinha e do escritório pequeno do negócio da sua família. Mas a cada oportunidade que a vida lhe dá de realizar o seu sonho, a mesma vida dá-lhe também a oportunidade de renunciar a ele para fazer o que deve ser feito... George vê os amigos partir para longe e realizar aquilo que seriam também os seus sonhos de estudos e viagens, enquanto ele permanece no lugar onde jurara nunca ficar. Fá-lo por dever, e fá-lo por amor. A seu lado, vai crescendo uma família belíssima...

Quando George, num momento de desespero na véspera de Natal, se julga um fracassado, um anjo vem em seu auxílio (o Francisco e a Clarinha riram à gargalhada com o anjo). "Quem me dera nunca ter nascido!" Suspira George. O anjo leva-o então a visitar a sua comunidade como ela teria sido se George nunca tivesse nascido. George vê, como num pesadelo, a tristeza que teriam conhecido aqueles que o seu amor salvara, o seu dinheiro ajudara, a sua renúncia alegrara.

De volta à sua vida, a tempo de celebrar o Natal com a sua linda família, George é um homem novo: afinal, ele sempre fora feliz, e não o soubera! Pela primeira vez, George toma consciência de tudo o que tem, e da felicidade que espalhou à sua volta ao renunciar precisamente à sua ilusão de felicidade. Porque a verdadeira felicidade não nasce da realização dos nossos sonhos, mas do cumprimento honesto e humilde do nosso dever para com o próximo.

 

Qual o nosso maior desejo para os filhos? Hoje, a maior parte dos pais responde: "Que sejam felizes". Há algumas décadas atrás, na altura de Frank Capra, a resposta mais comum seria: "Que tenham carácter" "Que cresçam responsáveis, honestos, bons." Nessa altura, havia a consciência de que a felicidade é uma recompensa, não um fim.

 

"Muitos de nós, apesar das nossas boas intenções, enfatizam demasiado, por formas subtis, a felicidade dos nossos filhos, dando muito pouca atenção à sua responsabilidade pelas outras pessoas. Ao tornarmos as crianças menos morais, também as tornamos, ironicamente, menos felizes." (Richard Weissbourd, "Os Pais que Desejamos Ser")

 

Jesus foi tão claro, no Evangelho!

 

"Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, há-de salvá-la." (Mt 16, 25)

 

A meta de um cristão é o céu. Para o alcançarmos, precisamos muitas vezes de renunciar àquilo que julgamos ser a nossa felicidade... Cuidar de uma família pode impedir-nos de alcançar os nossos objectivos profissionais, acolher um pai ou uma mãe idosos pode roubar-nos o tempo livre, a honestidade pode fazer-nos empobrecer, ter muitos filhos pode impedir-nos de viajar ou fazer férias. Mas então, só então, seremos verdadeiramente felizes. Porque Deus nunca Se deixa vencer em generosidade!

David e papagaio.JPG

PS - Se ainda não sabem do Retiro de Natal, leiam aí na coluna lateral direita! Vamos, não percam tempo...

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publicado às 06:28


2 comentários

De Sara a 28.12.2014 às 22:26

Segui a sugestão: dia de ronha perfeito, quentinho cá dentro, frio lá fora...mantinha, chá e play naquela do "vamos lá ver o que é isto" pois não conhecia. Chorei baba e ranho no final, nem consegui disfarçar!! Vou comprar e oferecer. Obrigada pela dica! Filme 5 estrelas.

De Anónimo a 28.12.2014 às 22:42

Vamos lá ver se algum dia melhoramos estes Natais:



"No Natal sou quase comunista

por Inês Teotónio Pereira, em 17.12.14



O meu artigo no i de sábado



O grande problema do capitalismo é que torna os meus filhos gananciosos. Vivessem eles num sítio onde não fossem bombardeados com anúncios e lojas onde a felicidade se vende a prestações ao preço da pêra-rocha e tínhamos todos uma vida mais calma e mais contemplativa. Em que eu teria mais tempo para contemplar a natureza e a filosofia, e eles menos tempo para pedinchar. Mas a realidade é adversa ao nosso bem-estar e, por isso, à felicidade dos meus filhos. E a culpa é do capitalismo, sem dúvida. Os meus filhos ambicionam o iPhone 6 e querem o seguinte: um cativo em Alvalade, passar pelo menos uma semana na neve ou nove dias e sete noites em Nova Iorque, ir a Madrid conhecer o Cristiano Ronaldo, uma quinta com cavalos e cães, comer pipocas e beber coca--cola às refeições e um cartão multibanco ilimitado para comprarem selvaticamente cromos para a caderneta referente à época 2014/2015 e gomas. Para já, é só. Mas na próxima semana pode ser que tenham outras ideias. Terão certamente. E eles querem tudo isto porque sabem que tudo isto existe. Vêem televisão, assimilam os anúncios, passam pelas montras e navegam na internet, corando de ansiedade e palpitando de desejo de cada vez que encontram uma novidade comercializável.

Para fazer frente a este bezerro de ouro disfarçado de brinquedos, tecnologia e viagens, estou cá eu. Eu, uma força de bloqueio entre eles e o capitalismo que nos entra pelas frechas mais recônditas das nossas vidas e nos polui a alma. Estou cá eu para dizer que não. Por isso, passo os dias a dizer não e já digo não porque sim, sem pensar. "Oh mãe podemos comprar... ?" "Não", respondo prontamente, sem os deixar acabar a frase. E eles, pobres vítimas deste capitalismo cruel, entristecem. Querem ter, mas não podem ter. Vendo- -lhes insistentemente a teoria saudável para o meu bolso que não ter faz crescer. É preciso que as crianças aprendam a lidar com a frustração, dizem os especialistas. Percebo, mas eles não. Se é assim, porque é que os amigos têm coisas que eles ambicionam e porque é que as crianças dos anúncios estão tão felizes? É muito melhor não ser frustrado, concluem com razoável discernimento e bom senso os nossos pequenos gananciosos.

Sim, o capitalismo polui a alma dos meus filhos e não me deixa outra alternativa senão ser contra ele. Justiça a sério, Natal genuíno, só se consegue vivenciar interrompendo o capitalismo por alguns meses. Ou têm todos ou não tem ninguém. A alternativa é deixar esse monstro aguçar a inveja e despertar a ganância das nossas crias ao som de uma melodia natalícia. É maldade haver tanto por onde escolher e mesquinho oferecer tudo isto enquanto toca o "Jingle Bells" nos corredores dos centros comerciais.

Natal são os presentes, as férias e comer bem. E é por isso que o Natal é a festa mais popular de todas. Não houvesse a tradição de darmos presentes uns aos outros, e às crianças em particular, e o 25 de Dezembro tinha entrado na lista de feriados a eliminar: seria razoável questionar a sua pertinência numa sociedade que se quer laica. Natal, meus senhores, é quando o capitalismo revela o seu esplendor máximo: sonso, ganancioso, materialista e financiado pelos bancos. Bancos maus que emprestam aos pais para darem aos filhos, sabendo que são os filhos que acabam a pagar os créditos. Soubessem os Reis Magos o que nós sabemos hoje e não se tinham aventurado atrás de uma estrela para darem presentes ao Menino Jesus. Foi, obviamente, uma má opção.

Por mim, pelos meus filhos, ou se acabava com o Natal ou se acabava com o capitalismo. As duas coisas não funcionam juntas: como é possível conciliar o espírito natalício do anúncio do azeite Galo com o plafond do nosso cartão de crédito e com a pedinchice infantil? Não é. No Natal comungo do anticapitalismo comunista. Não fosse o "pormenor" religioso da data e seria mesmo comunista durante todo o Advento; só vacilo porque não tenho a certeza de que os comunistas não ofereçam, também eles, presentes para festejar o nascimento de Jesus. Enfim, tirando o Papa Francisco, restam-me poucos aliados para enfrentar os meus filhos nesta quadra capitalista."

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