Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Mea culpa

por Teresa Power, em 28.09.15

Enquanto faço a minha cama, pela manhã, dou-me conta de uma enorme mancha de cola na colcha.

- David! António! Lúcia! - Chamo, bem alto.

Os meninos aparecem a correr.

- O que foi, mamã?

Aponto para a colcha:

- Quem fez isto?

Silêncio. Olhares cúmplices. Depois, a costumada resposta:

- Eu não!

- Eu não!

- Eu não!

Finjo que não me importo e encolho os ombros.

- Bem, tínhamos combinado ir juntos à loja. Enquanto não souber a verdade, não vamos sair. Claro que, se demorar muito, eu saio sozinha. Agora vão pensar no assunto, e avisem-me quando souberem alguma coisa.

Os meninos afastam-se em silêncio. Alguns minutos mais tarde, a Sara aparece a correr junto de mim.

- Fui eu! Fui eu! Fui eu! - Cantarola ela, aos saltinhos.

- Foste tu o quê, Sara?

- Não sei! Não sei! Não sei! - Responde, sempre muito feliz.

Disfarço um sorriso e ponho o meu ar mais sério. Lá terei de chamar novamente os três meninos... Aparecem a correr:

- Então, mamã, já descobriste quem foi?

- Não, mas já descobri quem NÃO foi. Não foi a Sara, meus amigos. Por favor pensem melhor e decidam-se, que são horas de sair!

Silêncio. Alguns minutos que parecem uma eternidade. Então o António, sempre muito sério, dá um passo em frente:

- Sabes, mamã, eu estive a pensar... Sabes, parece, acho, bem, acho que se calhar, se calhar mesmo, fui eu... Mas olha, não me consigo lembrar!

 

A confissão atabalhoada do meu filho de cinco anos fez-me pensar na quantidade de vezes que encontramos desculpas e procuramos bodes expiatórios para os nossos pecados. É por isso que é tão, mas tão importante a instituição da confissão individual. E não são apenas os católicos que o afirmam: Martinho Lutero nunca deixou de a fazer durante toda a sua vida, e inúmeros psiquiatras, crentes e não crentes, já atestaram o seu poder.

"Por minha culpa, minha tão grande culpa...", rezamos todos os dias na missa, batendo com a mão no peito. Na verdade, assumirmo-nos culpados dos nossos pecados é o primeiro e mais importante passo para acolhermos a misericórdia infinita de Deus. O Rei David, que foi um grande santo, foi também um grande pecador. A ele devemos o magnífico salmo 50, onde David confessa publicamente a sua culpa e, arrependido, pede perdão:

 

"Lava-me completamente da minha iniquidade,

e purifica-me do meu pecado.

Porque eu conheço as minhas transgressões,

e o meu pecado está sempre diante de mim.

Contra Ti, contra Ti somente pequei,

e fiz o que é mal à Tua vista..."

(Salmo 51/50, 2-4)

 

Querido António, hoje a tua confissão foi suficiente. Mas crescer vai significar também seres capaz de assumir a tua culpa e enfrentar o teu pecado sem hesitações... Que o Senhor e eu te ajudemos neste caminho de perdão!

gatos e peluches.JPG

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:24


3 comentários

De Anónimo a 28.09.2015 às 15:41

Olá Teresa,
Já várias vezes, na sequência dos post's que escreve, me tem ocorrido sempre a mesma pergunta: porque ficam os divorciados privados da confissão? Se a confissão não é negada a ninguém - se um criminoso, assassino ou outra qualquer pessoa que tenha cometido um qualquer acto hediondo não fica privada da confissão, porque fica uma pessoa divorciada? Tantas e tantas vezes os divorciados sentem (eu senti) que é Deus quem os liberta daquele fardo e ilumina de novo a sua vida. Será que o nosso pecado é assim tão grave que nos impeça da confissão? Como não nos sentir discriminados?
Desculpe o desabafo.
Catarina Silva

De Teresa Power a 28.09.2015 às 15:56

Querida Catarina, compreendo-a muito bem! Atenção que os divorciados não estão privados da confissão, mas sim os recasados. E porquê? Pressupõe-se que quem confessa o seu pecado está disposto a não voltar a pecar, a não repetir o seu erro. Ora um divorciado recasado, se confessar que pecou ao casar de novo, está a confessar algo do qual não está propriamente arrependido, não é verdade? Assim, não deve confessar-se, porque na confissão não podemos estar arrependidos de uns pecados e não de outros. A questão que se levanta aqui é outra: o mais certo é a Catarina, e muitas outras pessoas, não entenderem o seu segundo casamento como pecado, porque foi nesse casamento até que descobriram o Senhor! Essa é outra questão, que deve ser conversada com um sacerdote e vista caso a caso. O santo padre está a acelerar as questões da nulidade do sacramento do matrimónio, por exemplo... Catarina, não se angustie por causa disso! Entregue nas mãos do Senhor, porque Ele sabe o que é melhor para cada um! Bj

De Anónimo a 28.09.2015 às 16:26

Sim Teresa, é assim tal e qual como escreve. Não sinto que pequei ao divorciar-me, sinto sim que foi Deus quem me deu coragem para tomar aquela decisão (é precisa muita coragem para enfrentar todos os medos e todas as "culpas") e por isso não posso confessar-me por algo que não me sinto arrependida. No entanto sinto-me arrependida por muitas outras situações que me acontecem e a Teresa não imagina como seria bom poder confessá-las. Como seria bom poder cumungar...
Sabe Teresa, já não fico angustiada, agora já só fico triste. Fico triste quando a minha filha, que fez agora a 1ª comunhão, vai comungar e me pergunta: E tu mamã, não vens porquê?
Obrigada pelas palavras Teresa, que Deus me ajude a entregar tudo nas Suas mãos, sobretudo a tristeza.

Comentar post




subscrever feeds


livros escritos pela mãe

Os Mistérios da Fé
NOVO - Volume III

Volumes I e II



Pesquisa

Pesquisar no Blog  


Arquivos

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2014
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2013
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D