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"Não chores, se me amas"

por Teresa Power, em 19.05.14

Faz hoje oito anos que o Tomás partiu para o céu, com dezassete meses apenas.

Uma semana antes, no hospital, a Dra Alice dera-me a terrível notícia: a quimioterapia e a operação à cabeça não tinham resultado. O tumor não parava de crescer. Não havia mais nada a fazer senão esperar pela morte. Decidi então tirar de imediato o Tomás do hospital e levá-lo para casa, onde ele poderia morrer no aconchego da sua família. As enfermeiras ensinaram-nos, ao Niall e a mim, a administrar os soros e a medicação ao Tomás, e no dia 13 de Maio, a nossa pequena família teve a alegria de se reunir de novo sob o mesmo tecto - mesmo que apenas por poucos dias.

Durante aquela semana, perguntava-me com frequência: "Como será quando ele morrer? Terei medo? Serei capaz de aguentar?" Nessa noite, deitado na sua caminha de grades, o Tomás tinha estado muito inquieto, como sempre. O Niall cuidara dele a noite inteira, pois eu, grávida de cinco meses, tinha dificuldade em me levantar para o acarinhar. Mesmo assim, ainda lhe aplicara um supositório de ben-u-ron pelas cinco horas da manhã. E depois, ele acalmara. Quando acordei, por volta das sete horas, estranhei ter estado duas horas seguidas a dormir, e dirigi-me imediatamente para a sua caminha. Ele estava imóvel, de barriga para cima, com um rosto sereno. Coloquei suavemente a minha mão no seu rosto, afagando-o com jeitinho para não o acordar. Mas não havia perigo de o fazer... Nesse instante, o Francisco, com sete anos, entrou no nosso quarto e dirigiu-se também para o berço:

- Mamã, o Tomás dormiu bem? - Perguntou.

- Sim, Frankie, o Tomás está bem... - Respondi.

- Ele ainda está a dormir?

- Não, Frankie... Acho que... Parece-me que não está a respirar...

Coloquei a cabeça sobre o seu peito, para sentir a sua respiração. Depois levantei-me de novo:

- Acho que o Tomás já está no céu!

 

A morte tornou-se de repente tão simples, tão fácil, tão serena! O medo desfez-se como uma bola de sabão e os gestos que se seguiram - retirar os tubos e as agulhas, desligar as máquinas, lavar, vestir o Tomás - surgiram espontâneos. Nem as lágrimas, nem as explicações dadas aos pequeninos, nem os abraços, nem as visitas perturbaram a paz daquele momento belíssimo. Na minha mente, imaginava o alívio que o Tomás deve ter experimentado ao sentir o seu espírito elevar-se devagarinho do seu corpo ferido... Terá olhado para trás, para o pai e a mãe que dormitavam ao lado da sua caminha? Creio que sim. Mas Deus chamava-o com um amor impossível de resistir. Como a borboleta abandonando o casulo, o Tomás apressou-se a voar para os braços do Pai.

 

O corpinho do Tomás permaneceu na sua caminha, ao lado da nossa, durante todo aquele dia e durante a noite seguinte. Na manhã do dia 20, levantámo-lo finalmente do seu berço e colocámo-lo dentro de um caixão pequenino e branco, com o seu peluche. Depois fomos juntos até à igreja onde o Tomás fora baptizado, na Praia da Barra, que já estava cheia de crianças. Eram os amiguinhos do Francisco e da Clarinha que não os quiseram abandonar nesse dia tão difícil. A seu lado, vários professores, educadoras e irmãs do Colégio e do Centro Social S. José de Cluny. E a catequista do Francisco. E os nossos familiares, amigos e colegas. Em acção de graças, no fim do funeral, pedi à Isabel que lesse o texto belíssimo de Santo Agostinho, que ainda hoje trago sempre na carteira para me amparar quando tenho saudades:

 

"Se conhecesses o mistério imenso do Céu onde agora vivo, este horizonte sem fim, esta luz que tudo reveste e penetra, não chorarias, se me amas!

Estou já absorvido no encanto de Deus, na sua infindável beleza.

Permanece em mim o teu amor, uma enorme ternura que nem tu consegues imaginar.

Vivo numa alegria puríssima.

Nas angústias do tempo, pensa nesta Casa onde um dia estaremos reunidos para além da morte, matando a sede na fonte inesgotável da alegria e do amor infinito.

Não chores, se verdadeiramente me amas!"

 

E S. Paulo acrescenta:

"Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem o coração do homem pressentiu, isso que Deus preparou para aqueles que O amam!" (1Cor 2, 9)

 

No final da missa, largámos balões...

 

Querido Tomás, tu partiste, mas não foste para longe... A cada domingo, na missa, sei que estás diante do altar, ajoelhado em adoração com uma multidão de anjos e santos, no momento em que o sacerdote consagra o pão e o vinho e Jesus Se torna presente entre nós, trazendo consigo todo o céu. Estás ao meu lado quando todos os teus irmãos se vão embora para a escola e para as suas actividades, e continuarás a meu lado quando eles saírem de casa para construírem as suas vidas. Estás ao lado do Francisco quando ele salta obstáculos com o cavalo e ao lado da Clarinha quando ela faz um mortal em ginástica artística. Sorris para os teus manos mais novos, que nunca chegaste a conhecer na Terra, mas que aguardas com expectativa no céu para uma brincadeira que não terá fim.

Tomás, reza por nós! Ámen.

 

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publicado às 07:11


12 comentários

De Ana Raquel a 19.05.2014 às 10:32

olá!

sou mãe há 3 meses e este post tocou-me fundo no coração. mas o que mais me impressionou foi a serenidade com que falam do Tomás e da sua morte. obrigado mais uma vez por este testemunho! um beijinho para todos

Ana Raquel Evaristo

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