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Somos uma família católica, abençoada com seis filhos na Terra e um no Céu. Procuramos viver a fé com simplicidade e generosidade. Queremos partilhar com outras famílias a alegria de sermos Igreja Doméstica na grande família da Igreja Católica.
Gritaria maluca. A Clarinha espreita à porta do quarto:
- Mãe, manda-os calar, que assim não posso estudar!
O David choraminga, olhando para os livros:
- Ainda me falta taaaaaanto TPC!
A Lúcia mostra-me orgulhosamente um desenho, onde escreveu por baixo da gravura:
"Doo Mie"
- O que é que escreveste, Lúcia? - Pergunto, também eu quase aos gritos para me fazer ouvir sobre o gritaria que continua a chegar da sala:
- Não consegues ler? Escrevi: "Vovó Mimé"!
- Ah, voltaste a trocar o D e o V, e também te esqueceste de algumas letras, mas o desenho está lindo. Depois ajudo-te a escrever bem, agora tenho de ir ver o que se passa na sala.
Entro na sala um pouco precipitadamente, a tempo de ver a Sara a sair de debaixo da mesa e o António a saltar do sofá. E depois, para meu grande espanto, a Sara coloca-se em sentido e diz muito depressa:
- Não fui eu!
Uma pronúncia perfeita, e uma expressão de inocência mais perfeita ainda, ambas francamente chocantes (e hilariantes...) numa menina de dois aninhos... No chão, um copo partido.
No primeiro diálogo entre os seres humanos e Deus na Bíblia, já surgem explícitas estas palavras: "Não fui eu." É com elas que Adão se defende, acusando Eva, que por sua vez as volta a usar para acusar a serpente. "Não fui eu." E no entanto, bastava ambos terem admitido o seu pecado, chamá-lo pelo nome e confessá-lo ao Senhor, que os visitava, para tudo ser perdoado...
Ao longo de toda a Bíblia, apercebemo-nos do esforço de Deus para nos ajudar a confessar o nosso pecado. Parece ser este o ponto chave da conversão! A grande maioria dos cristãos ainda está convencida de que a confissão foi inventada pela Igreja Católica. Na verdade, embora o seu carácter sacramental pertença ao catolicismo, o acto de confessar os nossos pecados pertence à mais antiga tradição de Israel. Lemos no Livro do Levítico:
"Quando alguém é culpado de um destes delitos, deve confessar em que pecou; depois, apresentará ao Senhor, como reparação pelo pecado que cometeu, uma femea de gado miúdo, uma ovelha ou uma cabra, em sacrifício pelo pecado; e o sacerdote fará por ele o rito da expiação do seu pecado." (Lv 5, 5-6)
Scott Hahn, um autor católico convertido do protestantismo e com um conhecimento bíblico ímpar, faz esta descrição no seu livro Lord, Have Mercy (tradução minha):
"Imagine-se o leitor, no Antigo Israel, depois de reconhecer que pecou, preparando-se para fazer a sua confissão e o seu sacrifício. Primeiro era preciso preparar a viagem, talvez de alguns dias a pé ou a cavalo, nas ruas poeirentas e acidentadas infestadas de bandidos e animais selvagens, a caminho de Jerusalém. Consigo tinha de levar uma ovelha, uma cabra, ou até um touro. Claro que primeiro tinha de o dominar. A sua penitência estaria apenas no início. Em Jerusalém, teria de levar o animal até ao Templo. Depois, em frente do altar, pegar numa faca e matá-lo - sim, você mesmo. Teria de o cortar e preparar, separando as várias partes, retirando o sangue e oferecer tudo, peça a peça, ao sacerdote. Tudo isto fazia da confissão um gesto que o pecador nunca mais esqueceria. Comparados com estes actos do Antigo Israel, os nossos rituais são bastante monótonos..."
Como em relação a todos os rituais, Jesus simplificou a forma, enquanto elevava o significado do gesto até ao expoente máximo da graça divina. Hoje, como ontem, precisamos de "dominar o animal" que habita em nós, praticando a humildade; precisamos de nos aproximar de um sacerdote, caminhando pelas estradas poeirentas do nosso orgulho e do nosso preconceito; precisamos de nos ajoelhar e de contar, um a um, os nossos pecados, como quem corta um touro em pedaços pequenos; precisamos de os chamar pelo nome, aguentando firmes a vergonha e pedindo por eles perdão. O resto - oh, o resto - é o poder do sangue de Jesus, e já não do sangue de nenhum animal, inundando e transformando toda a nossa vida...
"Não fui eu!" Gritam os nossos instintos mais primitivos. Sim, fui eu. "Pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, actos e omissões. Por minha culpa, minha tão grande culpa..."
Que o Senhor nos ajude a confessar o nosso pecado, para podermos abrir o coração ao seu perdão infinito e transformar a nossa vida! Ámen.
(Dominando um animal...)